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segunda-feira, 8 de setembro de 2025

O casal Carter e o Casal Garcia

Homem de famílias
O casamento, para ele, era tudo. Aliás, tinha dois. Ao mesmo tempo.

Os americanos têm muito orgulho no casal Carter, Jimmy e Rosalynn, que estiveram casados durante 77 anos. Jimmy Carter e Rosalynn Smith Carter protagonizaram o matrimónio mais duradouro de toda a história presidencial dos Estados Unidos. E os americanos estão todos contentes, porque acham sempre que são os maiores. Os americanos nunca vieram a Fafe, ao Peludo, no tempo do Sr. Avelino, o nosso "Hoss". Eles não sabem que, em Portugal, temos o Casal Garcia, since 1939, é só fazer as contas, já lá vão 86 anos...

(Versão revista e actualizada, publicada no meu blogue Mistérios de Fafe)

domingo, 30 de março de 2025

Proibições que são convites

Foto Hernâni Von Doellinger

Embora já andassem de Mercedes e/ou BMW, aqui há uns anos os senhores empreiteiros viam-se à rasca para perceberem onde podiam despejar o lixo que faziam nas demolições ou esburacamentos de início de obra. Não havia sítios de lei, largavam-no onde calhava, à noite, e fugiam. Atentas à insustentável situação e superpreocupadas com a defesa do ambiente e o bem-estar das populações, as autarquias portuguesas correram a criar uma rede de locais apropriados para o efeito nos montes à roda das vilas e cidades, de norte a sul do País. Em cada um desses locais jeitosos, os nossos preclaros autarcas mandaram colocar uma placa que avisava mais ou menos assim: "Proibido lançar entulho neste local - Coima até duzentos contos". E, pronto, os senhores empreiteiros ficaram a saber que era ali mesmo que podiam deitar o lixo.

O que é porreiro, porque, como se sabe, os senhores empreiteiros são muito amigos das autarquias e as autarquias são muito amigas dos senhores empreiteiros, e assim é que está bem, porque, já dizia o inventor das orgias, com respeito da palavra, isto temos de ser uns para os outros.

Agora. Os meus amigos que batem umas cartas ali em baixo, naquela cantinho abrigado à beira-mar, têm uma preocupação naftalínica que eu compreendo. Arriscar bisca com cheiro a mijo deve ser uma merda. Por isso puseram um letreiro novo, melhoramento infelizmente sem inauguração pela senhora presidenta da Câmara de Matosinhos, mas sinalética em material nobre, upgrade como manda a sapatilha, passando do cartão canelado para a esferovite, e com uma mensagem indubitavelmente mais assertiva e acutilante. E no entanto, como na história dos senhores empreiteiros, "Atenção - Não urinar neste local - Obrigado", se formos a ver, só quer dizer, pelo contrário, WC...

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Resíduo Zero.

sábado, 29 de março de 2025

À hora ou há ora?

À hora ou há ora? - perguntou o gramático, manhoso, como se os agás e os acentos, agudos ou graves, fossem visíveis nas conversas. - Há ora - respondeu o discípulo, mais convencido era impossível. - Há ora?!... - exaltou-se o gramático - Há ora?!?!... - ameaçou o gramático, entremeando os pontos de interrogação e de espantação, e insistindo perdigotamente nas velhas reticências. - Há ora, mestre - perseverou o discípulo, humilde porém seguro. - Há ora, mas e além disso...

P.S. - Logo à noite muda a hora.

quarta-feira, 19 de março de 2025

Quem sai aos seus

Deixe de ser parvo, disse o palerma. E você deixe de ser palerma, disse o parvo. Palerma é melhor que parvo, disse o palerma. Parvo é que é melhor que palerma, disse o parvo. Quem disse, perguntou o palerma. O meu pai, respondeu o parvo. O seu pai é parvo, disse o palerma. E o seu é palerma, disse o parvo. Mas o meu pai é mais palerma que o seu, disse o palerma. E o meu é mais parvo que o seu, disse o parvo. Mas não é palerma, disse o palerma. Nem o seu é parvo, disse o parvo. Dah!, disse o palerma. Dah!, disse o parvo.

P.S. - Hoje é Dia do Pai.

domingo, 16 de março de 2025

Levantamento das Caldas

O Levantamento das Caldas, tentativa de golpe militar contra o Estado Novo caetanista, ocorreu no dia 16 de Março de 1974, faz hoje anos, e, apesar de falhado, serviu de rastilho para a Revolução de 25 de Abril. É também chamado Intentona das Caldas, Revolta das Caldas ou Golpe das Caldas - tudo nomes bem menos sugestivos e mais ajuizados. É. Deixem-se de malandrices! Levantamento e Caldas, as duas palavras juntas na mesma expressão, trazem logo à conversa fradinhos malacuecos...

quinta-feira, 13 de março de 2025

Falar pouco e bem, é raro quem

"Atenção: devido a um erro de sinalização, o metro foi obrigado a fazer uma paragem brusca. Se alguém se magoou, é favor entrar em contacto com o agente de condução". O "agente de condução" da Metro do Porto que assim falava pelos altifalantes internos para os passageiros da viagem Matosinhos Sul-Estádio do Dragão, aqui atrasado, era uma mulher, e não cuide o Sr. Arroja que eu estou no gozo. Não estou.
Em trinta palavras exactas, a senhora condutora disse tudo o que era necessário ser dito naquele momento, com objectividade, sem eufemismos nem semânticas, num português escorreito, directo, universalmente compreensível, eficaz. Responsável. A assunção do "erro de sinalização" e da "paragem brusca", a preocupação imediata com os passageiros. Mas ninguém se magoou.
Pensei: que exemplo extraordinário para os nossos comunicadores da treta, em tempos de crise política - governantes, ex-governantes, candidatos a governantes, candidatos a candidatos a governantes, políticos de uma forma geral, altos irresponsáveis, baixos responsáveis, autoridades civis, militares e religiosas, minhas senhoras e meus senhores, telecomentadores, radiofloricultores, trolhas conversadores, politólogos, peritos encartados, periquitos amestrados, vendedores de retroescavadoras com luzinhas, taxistas, barbeiros, enchedores de chouriços, especialistas em sarrabulho e fumeiro, jornalistas tremendistas e endrominadores para todo o serviço, que falam, falam, falam, não fazem nada (como diria o Ricardo Araújo Pereira), e eu percebo tudo o que eles dizem, mas nunca sei do que é que falam...

P.S. - No dia 13 de Março de 2004 decorreu a viagem experimental do Metro do Porto entre as estações da Trindade e Campanhã.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

A cueca para a queca

Foto Hernâni Von Doellinger

Entrava o mês de Março e o carnaval já tinha sido. Um bando de moças desce as escadas que levam até aos bares do Molhe, na Foz, Porto fino. São seis ou sete, modernas, todas moças do sexo feminino, bem vestidas, galhofeiras. Uma das raparigas, guapa sim senhor, despe a gabardina e exibe-se com um vestido de "espanhola". Vermelho e preto, por supuesto, e com um letreiro ao peito que sai ao pai. Penso: coitadinhas, chegaram atrasadas ao carnaval; ou então são palerminhas das praxes; ou então são palerminhas das praxes que chegaram atrasadinhas ao carnaval.
Aproximo-me para proceder à competente desambiguação. O letreiro diz: "Felicita-me ou não. Vou-me casar". Percebo logo tudo, oh juventude irreverente e criativa! É um novo ritual de despedida de solteira. Só pode ser. Ou publicidade ao viagra; ou uma partida para os apanhados.
Comovem-me a simpatia e a originalidade da ideia. Esta espécie de performance, teatro de rua, em vez do tradicional striptease masculino em recinto fechado. Que coisa bem sacada! A "espanhola" apercebe-se de que eu estou na onda, aproxima-se de mim, toda gaiteira, com umas cuequinhas verdes na mão direita e umas cuequinhas cor-de-rosa na mão esquerda. Que giro! Fala em castelhano, e eu preferia que fosse em galego, nosso, mas que se há-de fazer?...
- Olá. Vou casar amanhã. Podes dizer-me que cuecas devo usar? Estas ou estas?
- Nem umas nem outras, minha senhora. Sem cuecas é que vai bem - respondo eu, sumariamente ponderado o assunto em questão.
As "amigas" riem e tiram fotografias. Eu fico no retrato.
Vermelha-e-preta e radiante, la novia insiste:
- Ningunas?
- É como lhe digo, minha senhora. Se o caso é casamento, primeiro noite e tudo, sem cuecas é que usted vai bem.
A rapariga parece-me ter ficado algo desconsolada com a minha resposta. Eu, que só quero ajudar, dou-lhe uma segunda oportunidade:
- Olhe, espere lá. Arregace aí as saias e experimente os dois pares, um de cada vez, devagarinho, muito devagarinho, posso pôr música?, a ver se eu mudo de ideias.
- ...
E desejei-lhe muitas felicidades e vivam as noivas.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

O melhor amigo da mulher

O cão é o melhor amigo do homem. Da mulher, há quem diga que é o gato.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Gato ou Dia Internacional do Gato. Que também é na próxima quinta-feira, 20 de Fevereiro, no dia 8 de Agosto e no dia 29 de Outubro...

sábado, 15 de fevereiro de 2025

E hoje é o quê?...

Ontem foi o Dia dos Namorados. E hoje? Com a velocidade a que os tempos correm e mudam as vontades, nunca sei como é que se diz: se hoje é o ex-Dia dos Namorados ou o Dia dos ex-Namorados.

P.S. - Para que conste, hoje é Dia Internacional da Criança com Cancro.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Fazendo pela vida

O médico deu-lhe dois anos. Ele pediu seis. O médico contrapôs três e que não podia dar mais. Ele exigiu cinco, senão nada feito. O médico disse quatro e não se fala mais nisso. Ele, negócio fechado.
 
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Doente.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Cantei os Antunes aos Reis

Ando desencontrado com os dias. Ontem acordei outra vez com uma daquelas dúvidas tolas que me perseguem há que tempos, coisas da idade: seria dia de ir cantar os Reis aos Antunes ou dia de ir cantar os Antunes aos Reis? Atirei a moeda ao ar. Fui cantar os Antunes aos Reis.

Como um camelo

Dizer-se que ele bebia como um camelo, era um abuso. Ele bebia realmente muito, mas todos os dias. 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Quantos eram os três reis magos?

Os três reis magos eram não se sabe quantos, e na verdade nem eram reis nem eram Magos. Provavelmente inexistiram. Ou então seriam Moët & Chandon. Mas isso não interessa. O certo é que, depois de terem adorado o Menino Jesus, em Belém, e de lhe terem oferecido ouro, incenso, mirra, um tambor, uma playstation e um carrinho de bombeiros, dedicaram-se à bola: Gaspar brilhou no Rio Ave, Baltasar fez seis épocas no Sporting e Belchior jogou na selecção de futebol de praia.

Por outro lado, que raio de ideia foi aquela de oferecer mirra a alguém? Mirra!? Mas isso é algum presente?...

domingo, 29 de dezembro de 2024

No meu tempo havia respeito

As crianças hoje em dia só aprendem porcarias. É a televisão, é o computador, é a internet, é o face, é o tablet, é o android, é o ipod tudo. Mas só aprendem porcarias, é uma pouca-vergonha. Não há educação, não há respeito, não há tabuada, não há catequese nem mocidade portuguesa. No meu tempo, em Fafe, era outra louça, vinho de outra pipa: jogávamos à macaca, ao moche e ao mamã-dá-licença, brincávamos ao esconde-esconde e aos médicos, íamos às uvas, matávamos pardais, corríamos à coiada os moços das outras ruas, íamos para a porta do hospital ver chegar a ambulância, levávamos umas reguadas, rezávamos padre-nossos, cantávamos os reis de porta em porta, os mais velhos ensinavam-nos coisas bonitas, apresentáveis, lengalengas e versinhos didácticos, alguns até com música, para ficarem no ouvido, e ficaram. Lembro-me, por exemplo:

- Preta, mulata, nariz de batata, rouba galinhas e mete prà saca.
- Ruço de mau pêlo, quer casar, não tem cabelo.
- Viva quem tem pêlos na barriga, e quem os abaixo tem que viva também.
- Enganei-te, enganei-te, com uma pinga de leite, à porta da missa, a comer uma chouriça.
- Três vezes nove, vinte e sete, quem morreu foi o valete, enterrado na retrete.
- Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu, encontrei um burro morto a cagar e a mijar prò primeiro que falar.
- Pipa nova, pipa velha, foi ao mar, não afogou, com licença, meus senhores, aqui está quem se cagou.
- O Manel e a Maria foram ambos passear, o Manel deu um peido e mandou a Maria ao ar.
- Vinho na pipa, couves na horta, se não nos der nada, cagamos na porta.
- Cagarim, cagarou-se, há dois modos de cagar, se o cagalhoto foi grosso, fica o cu o fumegar.
- Ó Mila, o teu pai tem pila; se não fosse a pila, não havia a Mila.
- Sanica o cu, sanica a gaita; sanica o cu e a serigaita.
- Afina a guitarra, a viola toca, afina a guitarra e também a piroca.
- Quem te fosse ao cu e não te pagasse.
- Sexta-feira, sexta-feira, tararam tararam, sexta-feira da paixão, tararam tararam, foram dar com os padres todos, tararam tararam, a ir ao cu ao sacristão. Tararam tararam. Eram sete matulões, tararam tararam, com bigodes no colhões. Tararam tararam. Pontapés e bofetadas, tararam tararam, nas parrecas das criadas. Tararam tararam.
- A puta da minha amiga não tinha que pôr na mesa, cortou as beiças da cona, fez cozido à portuguesa.

Isto, sim, é cultura. É tradição. Antigamente é que era. Era tudo muito bonito. Pérolas como as supracitadas deviam ser aprendidas pelos novos fafenses desde os bancos da escola, para que não se percam. Deviam constar de um mais ou menos opúsculo a disponibilizar gratuitamente aos mais velhos e aos forasteiros de todas as idades no Posto de Turismo, na Casa da Cultura, na Biblioteca Municipal e em todos os balcões da especialidade, mas quê, a Câmara não quer saber...
Ai que saudades, rapaziada! No meu tempo havia respeito, instrução. Brincavam-se brincadeiras educativas, respeitosas e saudáveis. Quer-se dizer: brincava-se A Bem da Nação e conforme manda a Santa Madre Igreja.

P.S. - Este meu texto, deplorável a todos os títulos, ocupa o quarto lugar entre os mais lidos neste blogue durante o ano de 2024.