quinta-feira, 31 de maio de 2012

Chegaram e tomaram conta do parque - dia 4

Foto Hernâni Von Doellinger
Foto Hernâni Von Doellinger
Foto Hernâni Von Doellinger
Foto Hernâni Von Doellinger

Anfíbio?

Foto Hernâni Von Doellinger

E ninguém vai preso?

É a notícia do dia: o Estado saiu a perder com a introdução das portagens nas ex-SCUT. E eu também. De acordo com as conclusões de uma auditoria do Tribunal de Contas, hoje tornada pública, quem ficou a ganhar foram as concessionárias e os bancos. Pergunto: e ninguém vai preso?

A parábola da caixa de correio

Foi uma quarta-feira quase corriqueira na minha caixa de correio. Na caixa de correio, mesmo: naquela que já existia antes dos computadores e da internet terem sido inventados. Deixaram-me o desdobrável da Media Markt com um Stallone de papelone que é a cara chapada do Gene Simmons, um convite para a Feira do Mundo Rural, na Quinta da Bonjóia, as "7 vantagens" do "cartão de saúde" de uma rede nacional de lojas de óculos, com "especialidades médicas para toda a família", e o folheto como-quem-não-quer-a-coisa de uns desses novos compradores de "ouro, prata, jóias, novo, usado, em mau estado" que tomaram de assalto as nossas ruas e gavetas. Lixo.
O extraordinário é que alguém também lá meteu um exemplar da Voz da Verdade, publicação que até ontem me tinha passado completamente ao lado. E nem admira. Tanto quanto percebi, a Voz da Verdade é a voz do patriarcado de Lisboa e eu moro em Matosinhos. Matosinhos Sul, confesso, mas não creio que seja sul bastante para que já nos tivéssemos encontrado. Mais extraordinário ainda é que as notícias e o jornal têm a data de "domingo-20 de Novembro-2005".


Não sei que mensagem me estão a querer enviar. Nem quem. Nem porquê. Mas se é por causa de eu pensar e ter escrito que a Igreja (a Hierarquia, mais precisamente) anda muito devagar em relação ao Mundo e à História, esclareço já que não era a isto que me estava a referir. Não era às notícias. Embora esta história dos seis anos e meio de atraso até pudesse ser o princípio de uma excelente parábola para explicar o resto.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Chegaram e tomaram conta do parque - dia 3

Foto Hernâni Von Doellinger
Foto Hernâni Von Doellinger
Foto Hernâni Von Doellinger

Óculos com a bateria em baixo são uma chatice

É desagradável. Pousar os óculos e depois não saber onde. E precisar deles para os procurar. E pegar no telemóvel para lhes ligar, obrigando-os a darem sinal de si. E então lembrar-me que nunca os pus a carregar.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Chegaram e tomaram conta do parque - dia 2

Foto Hernâni Von Doellinger
Foto Hernâni Von Doellinger

Às vezes apetece-me gostar

Foto Hernâni Von Doellinger

A caminho do Níger

Mais de 27 por cento das crianças portuguesas vivem em situação de carência económica, de acordo com o relatório "Medir a Pobreza Infantil", que é hoje apresentado pela Unicef e que coloca Portugal em 25.º lugar numa lista de 29 países da OCDE. Abaixo de nós, só a Letónia, a Hungria, a Bulgária e a Roménia.
Mas atenção: as conclusões do estudo baseiam-se em dados de 2009. Seriam bem piores se já reflectissem o impacto da crise em que nos enfiaram. É. As crianças portuguesas ainda não estão tão mal como aquelas da "pequena aldeia no Níger que têm duas horas de aulas por dia e têm de dividir uma cadeira por três", e que tanto comovem Christine Lagarde, a directora do FMI que ganha 380 mil euros por ano, livres de impostos. Mas para lá caminham.

domingo, 27 de maio de 2012

Infelizmente cheira


O professor Marcelo diz que Miguel Relvas é um semimorto político no Governo de Passos Coelho. Finalmente compreendo Cavaco Silva, que segue o caso "de longe".

Já me tinhas dito 7

O jornal escreve que "Rui Patrício só quer pensar no Euro 2012 e deixa o futuro para mais tarde". Rui Patrício, guarda-redes e bom rapaz, tem toda a razão: o futuro deve deixar-se sempre para mais tarde, para o futuro. Por uma questão de princípio.

Matosinhos, os votos e os devotos

Foto Hernâni Von Doellinger

O Senhor do Padrão, em Matosinhos, é um monumento. Um monumento nacional ao desmazelo municipal. Um monumento à irresponsabilidade, à ignorância, à incultura, aos desrespeito, ao lixo, ao abandono, um convite descarado ao vandalismo. Obra da  autarquia e não só. A cretinagem não se fez rogada e destruiu a porta do belíssimo fontanário que encosta ao Porto de Leixões. Mostrei aqui o triste espectáculo que era no dia 13 de Março de 2012.

Foto Hernâni Von Doellinger

Mas a coisa não ficou assim. Aproveitando a noite de 24 para 25 de Março, alguém rebentou de vez o gradeamento que rodeia o conjunto monumental e roubou o aloquete que aparentemente também não servia para nada (cadeado que aparentemente também não servia para nada, se for lido em Lisboa). Denunciei.

Foto Hernâni Von Doellinger

Dois dias depois - e sinceramente não sei se o Tarrenego! ajudou -, a Câmara decidiu assumir responsabilidades e fazer alguma coisa. Foi competente e drástica: recolheu os destroços da porta do fontanário.

Foto Hernâni Von Doellinger

Fiquei à espera do restauro, do asseio, do interesse, da dignidade. Esperei sentado e de boné na cabeça, por causa do sol. Fiz bem. Passaram-se dois meses.
Ontem, finalmente, tudo estava mudado. Aleluia! Aleluia! Encontrei o Senhor do Padrão de cara lavada, ervas arrancadas, varrido, num brinco, e até tinha um aloquete novo (cadeado novo, se lido em Lisboa). Um aloquete made in China (cadeado made in China, se lido em Lisboa).

Foto Hernâni Von Doellinger

Melhor ainda: o problema da porta do fontanário foi resolvido de vez. Agora não há porta propriamente dita, mas os especialistas do património taparam o buraco com algo que pelo menos imita muito bem o cimento. De mestre!

Foto Hernâni Von Doellinger

Ah!, já me esquecia: hoje é dia da procissão do Senhor de Matosinhos, que, como manda a tradição, faz a sua visita anual ao Senhor do Padrão. Uma "grandiosa procissão", diz a autarquia, uma procissão habitualmente frequentada por milhares de votos. De devotos, queria eu dizer.

sábado, 26 de maio de 2012

Pst! Queres saber a última dos serviços secretos?

Telemóveis, escutas, sms, jantares, algarves, cafezinhos, envelopes, conspirações, constipações, poderes, foderes, oposições, indisposições, listas, jornalistas, ex-jornalistas, adjuntos, assessores, ascensores, manobradores, espiões, ex-espiões (espiões para toda a vida), ministros, futuros ex-ministros, mentirosos, escândalos, silêncios, sacudidores de capotes, capados, bodes expiatórios "a título pessoal", telefonemas, ameaças, pressões, depressões, chantagens, garagens, cobardias, mordomias, comissões, comichões, gravatas, carlos mínimos, maçonarias, mercearias, demissões (de conveniência), desculpas, culpas, negócios, bancos, hotéis, bordéis, restaurantes, cachorros. Mas isto que não saia daqui.

Pronto, já começou

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A oportunidade australiana

Em Camberra, Cavaco Silva plantou um sobreiro, lembrou a importância económica da cortiça e pediu-nos atenção para as oportunidades de negócio na Austrália. Muito obrigado pela dica, Senhor Presidente: vou já lá investir o dinheiro todo que ganhei no BPN.

Madressilva, a mãe de todas as curas

Foto Hernâni Von Doellinger

Duas mulheres com feições e conversa orientais. Provavelmente chinesas e aparentemente mãe e filha. Ouço-as antes de as ver. Estão agachadas entre os arbustos do Parque da Cidade. Desolho num relâmpago, cheio de vergonha e culpa por ter olhado, e fujo dali para fora aos solavancos o mais depressa que posso. As sapatilhas que herdei do meu filho fazem-me bolhas. Mancam-me. Já é o terceiro par que recebo assim, começo a desconfiar que estou de castigo.
Dia seguinte à mesma hora lá estão elas outra vez. As duas outra vez aninhadas, movendo-se de cócoras pelo meio do restolho e, alto e pára o baile, isso já me autoriza a não desviar o olhar. Isso de se moverem, digo bem, mais o facto de cada uma delas arrastar consigo de vez em quando uma daquelas enormes sacas de supermercado que custam 50 cêntimos nos dias em que não são dadas. Aproximo-me. "É pala chá. Só pala chá. Só chá!", diz-me a mulher mais velha, incomodada e, parece-me, receosa da minha curiosidade.
Percebo. As duas mulheres com feições e conversa orientais catam flores de madressilva, que já esbordam das sacas de supermercado. Voltam lá todos os dias, vejo-as pelas cinco da tarde, às vezes com reforços, na zona do parque mais junto ao mar.
Consulto o dr. Google, que me explica tudo. A flor da madressilva é altamente valorizada na medicina tradicional chinesa, que lhe reconhece propriedades adstringente, antibacteriana, antifúngica, anti-séptica, antiespasmódica, antitumor, diaforética, diurética, expectorante, febrífuga, hipoglicémica, laxante e refrigerante. Usa-se para tratar a asma, o colesterol alto, a congestão linfática, a diarreia, a disenteria, a dor de cabeça, a dor de garganta, erupções cutâneas, febre, gripe, inchaços, infecção bacteriana, intoxicação gastrintestinal, laringite, queimadura do sol, sumagre-venenoso, tosse e úlceras. Se lhe conseguirmos acrescentar as unhas encravadas, estaremos então na presença de uma panaceia ao nível da nossa famosa banha da cobra, misteriosamente desaparecida das feiras mas ainda à venda, que eu bem sei.
Por outro lado: a avaliar pela posição em que é apanhada, o mais certo é que a flor da madressilva faça mal às costas.
Não sou dado a chás, tirando o chá de parreira. A mulher mais velha, sem que eu lhe tivesse perguntado, fez questão de dizer-me, como se estivesse a defender-se de uma acusação, que era "só pala chá". Mas porquê? A coisa também se fuma, será? Hummm!... Vim-me embora com essa pedra no sapato. E era escusado. As putas das sapatilhas já me dão mau andar que chegue.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Lula da Silva, Lisboa e o resto

"Quero ver se vou a Lisboa este ano, alugar um carro e conhecer o país todo", diz Lula da Silva, ex-presidente do Brasil. Até o bom do Lula faz a confusão do costume. Há quanto tempo é que já não somos Portugal?

Estilos. Ele há cada um!

Foto MANUEL FLÓRIDO
Foto MANUEL FLÓRIDO
Foto MANUEL FLÓRIDO
Foto MANUEL FLÓRIDO

Paris dita a moda. E eu, pelas amostras que o amigo Manuel Flórido acaba de me mandar, começo a ficar apreensivo.

O Relvas tem razão: o Público abusa

"Tiranossauro vendido por mais de um milhão de dólares, no meio de polémica", dizia o título. Saltei da cadeira e bati com a cabeça no tecto, fui insultado pela vizinha de cima, como de costume, caí no chão desamparado e ali fiquei sem me poder mexer da cinta para baixo, mas feliz da vida. Peguei em mim da cinta para cima, marquei com o nariz o número da minha mulher e gritei-lhe no melhor sussurro que consegui arranjar: "Estás a ver? Estão vivos! Eu não te disse que o Parque Jurássico era mesmo verdade. É sempre a mesma merda, tens a mania"...
Só soube na cama do hospital, depois da operação: a notícia falava, nas letras pequeninas, de um "esqueleto", de "fósseis", de um "fóssil quase completo". É. Miguel Relvas - líder do PSD, ministro nas horas vagas, primeiro-ministro de facto e doutor honoris causa em jornalismo interpretativo - está salvo da encrenca em que se meteu quando "prometeu" à jornalista do Público colocar-lhe a lingerie ao léu. O jornal não se cansa de o ilibar, a ERC está no bolso e ninguém se lembra que o caso é de polícia. Toquei a campainha e pedi que me trouxessem o 24horas.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Amor em cadeado ou bunga-bunga à la française?

Os franceses são uns exagerados. Os parisienses abusam. E se o assunto for o amor, l'amour, então é que ninguém os atura. Compreende-se: os parisienses são os únicos que realmente têm sempre Paris. "Casablanca" é omisso quanto a aloquetes (cadeados, se lido em Lisboa). Não se sabe, por isso, se Rick e Ilsa se juraram aferrolhadamente um ao outro numa qualquer ponte da Cidade Luz e deitaram a chave ao rio, como agora se usa, mas vamos admitir que sim. Era bonito ter começado dessa maneira, no Sena, a moda que por acaso até já chegou , graças a Deus temperada com recato e parcimónia, como convém a um país de brandos costumes.
Agora olhem-me estes parisienses (parisienses de todo o mundo) e vejam o que é que eles fizeram a uma pequena ponte pedonal, entre Notre-Dame e o Louvre. Isto já não é sexo em grupo para aloquetes. Isto é um pesadelo, bunga-bunga à la française, bacanal de cadeados em nome do amor eterno enquanto dura. Um dia a ponte vem abaixo e depois admiram-se com os divórcios...

Foto MANUEL FLÓRIDO
Foto MANUEL FLÓRIDO

Bingo: morrer da cura e da falta de remédios

Entrei na farmácia e perguntei - O tempo é o melhor remédio?
- É. Mas já não há - respondeu-me o boticário, armado em ministro das Finanças.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Praticamente de acordo (ortográfico)

Qual é a diferença entre um espetador e um espetador? Numa tourada, por exemplo, o que é que distingue os espetadores dos espetadores? Uns pagam bilhete e os outros fazem os touros pagá-las, é isso? E espetadores de gelo: são adereços muito jeitosos para filmes de suspense ou uma audiência que não reage, por melhor ou pior que a fita seja? O que devo pensar quando leio um título de jornal que me diz que "Acidente em rali francês provoca a morte a dois espetadores"? E, já agora, no voyeurismo, quem é o verdadeiro espetador: o que fica a ver ou o que copula?

Na passagem do primeiro meio aniversário

22 de Novembro de 2011. Cinco dias depois da bronca, o procurador-geral da República ordenou um "inquérito urgente" para apurar responsabilidades na fuga de informação no caso das detenções de Duarte Lima e do seu filho. Pinto Monteiro disse ao País que queria descobrir a fonte interna que avisou a SIC e colocou os jornalistas à porta da casa de Pedro Lima antes mesmo da chegada dos inspectores da Polícia Judiciária. "É uma vergonha para a justiça em Portugal a maneira como as buscas se fizeram, com uma publicidade mediática tremenda” e com a comunicação social no local das diligências antes de estas começarem, declarou então o PGR, avisando, no entanto, serem "raros" os inquéritos desta natureza que produzem resultados.
Entretanto, Duarte Lima foi ouvido pelo juiz, ficou preso preventivamente, teve tempo para pensar na vida, pôs a boca no trombone mas tocou piano, denunciou três ou quatro dos seus comparsas, modestos operacionais, pôs os amigos da alta-roda a não lhes caber um feijão no cu e, por ter sido bom rapaz, mandaram-no para casa com uma pulseira electrónica. Ah!, e Emídio Rangel, fundador da TSF e da SIC, foi condenado em tribunal por acusar juízes e magistrados do Ministério Público de passarem aos jornalistas informação em segredo de justiça. "Nos cafés, às escâncaras".
22 de Maio de 2012. O inquérito do Senhor Procurador-Geral faz hoje seis meses. O "inquérito urgente". Já se sabe alguma coisa? O que é que se descobriu? Se calhar, nada. Realmente é raro os inquéritos desta natureza produzirem resultados. Pinto Monteiro avisou logo.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um quarto de hora três vezes por dia

Fui à farmácia e perguntei - O tempo é o melhor remédio?
- Com efeito, meu caro senhor - respondeu-me o solícito farmacêutico, sem sequer pestanejar.
- E o efeito é garantido? - insisti, pestanejando.
- Cinco anos ou 150 mil quilómetros.
- E tem genérico?

domingo, 20 de maio de 2012

Lá vem a "mudança de paradigma"

Ontem jogaram os alemães e no fim ganharam os ingleses. O prélio de Munique era uma bagatela desportiva, um evento turístico, folclore, bebedeira de cerveja e televisão: toda a gente sabe que o futebol a sério terminou fez exactamente ontem oito dias, em cima de um autocarro descapotável, na portuense Avenida dos Aliados. Todavia, porque o Bayern jogou e o Chelsea ganhou, aposto um emprego em como, hoje, jornais e outros comentadores encartados vão fartar-se de descobrir que houve uma "mudança de paradigma" no futebol europeu. Como já aqui dei a entender, "mudança de paradigma", sendo uma expressão pletórica de concomitância e mais na moda era impossível, não quer dizer absolutamente nada. Não interessa para rigorosamente nada. Mas

faz-me lembrar pecados velhos. Recua-me à década de oitenta do século passado, ao cimo da Rua de 31 de Janeiro, onde havia uma casa de jogos de máquinas de flippers e afins que tinha uma cave com um altifalante fanhoso que, de uns quantos em quantos minutos, gritava cá para fora a curiosa frase "Mudança de modelo". Lá em baixo parece que havia umas raparigas muito jeitosas e nuas a fazerem não sei o quê e umas cabinas individuais e sebentas com ranhura para a clientela meter a moeda como nos flippers e espreitar por um vidro e fazer também não sei o quê. Sei muito pouco do assunto porque, palavra de honra, nunca lá pus os pés. E, agora que penso nisso, nem me lembro sequer porquê. Mas estou arrependido.
Informei-me. "Mudança de modelo", logo a seguir ao ding-dong de uma campainha de aeroporto, queria dizer, por exemplo, que a morena mamuda passava a pasta à loura pernalta e ia para os bastidores ler a Corín Tellado, e assim sucessivamente e vice-versa, mas decerto queria dizer também que os clientes tinham que fechar a braguilha o mais rapidamente possível e dar a vez a outros, que eram mais que as mães, sobretudo no intervalo de almoço. O speaker de serviço dizia "Mudaaaança de modeloooo" com um garbo só comparável ao do mestre-de-cerimónias do Circo Merito quando anunciava a sensacional "Maribelaaaa no seu rrrrrola-rolaaaa". Eu gostava: "Mudaaaança de modeloooo"! Parava em frente para ouvir, uma e outra vez, até à hora de voltar ao trabalho. E ria-me. Quase trinta anos depois, leio e ouço a "mudança de paradigma". E também me faz rir, confesso, mas não me arrebita. Falta-lhe sustância.

O tempo para hoje

Foto Hernâni Von Doellinger

Os especialistas do tempo prevêem para hoje um dia com 24 horas.

sábado, 19 de maio de 2012

Um "quase" estudo

O Governo de Passos Coelho encomendou um estudo ao Instituto Superior Técnico (IST) para avaliar as Novas Oportunidades. E o IST concluiu, como lhe competia, que aquele programa, um dos emblemas dos executivos de José Sócrates, "quase" não criou mais emprego. As Novas Oportunidades são assim elevadas ao nível das nossas universidades, que, nos intervalos das encomendas, "quase" criam mais emprego.

E se fossem normalizar a puta que os pariu?

O bacalhau, tal qual o conhecemos, pode estar em vias de extinção. A vida ou morte do nosso bacalhau, do bacalhau português, do bacalhau do nosso contentamento, está nas mãos da Comissão Europeia, que, empurrada pelo lóbi nórdico, discute por estes dias uma proposta que visa normalizar o processo de cura, introduzindo químicos (fosfatos) para alegadamente evitar a oxidação do produto. Do produto...
A sanha normalizadora da Comissão Europeia chegou à seca. Que seca. Querem roubar-nos o nosso mais fiel amigo. Querem acabar com a indústria portuguesa do bacalhau, que conta com 83 empresas e emprega 1.800 pessoas. Querem obrigar-nos a comer bacalhau à la Noruega, que não serve para fazer alguns dos nossos mais tradicionais e emblemáticos pratos, a começar logo pela punheta.
As colheres de pau não lhes chegavam. Tinham que nos foder também o bacalhau. Com licença de José Saramago, e se fossem normalizar mas é a puta que os pariu?

(Isto foi no passado dia 10 de Fevereiro. A primeira página do semanário Expresso fala hoje do assunto. Também está bem.)

Ó pra mim todo admirado! 2

Escreve a Direcção Editorial do Público: "Num telefonema à editora de política do jornal, na quarta-feira, [o ministro] Miguel Relvas ameaçou fazer um blackout noticioso do Governo contra o jornal e divulgar detalhes da vida privada da jornalista Maria José Oliveira, de quem tinha recebido nesses dias um conjunto de perguntas relativas a contradições nas declarações que prestara, no dia anterior, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias."
Parece impossível! O nosso Miguel Relvas? Quem havia de dizer? Estou varado. Nem sei se deva acreditar. O ministro Miguel Relvas entalado e a fazer ameaças? Não, acho que não. Há aqui uma confusão qualquer.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Em memória da burra do Reigrilo

Vou directo ao assunto: a corrida de jericos faz falta. Olho para o programa das Feiras Francas de Fafe, que começaram ontem, e o que vejo, marcada para a tarde de hoje, é a "corrida de cavalos a passo travado". Apenasmente e, ainda por cima, estigmatizada por essa denominação assaz amaricada, "passo travado", só faltava mesmo dizer-se que as cavalgaduras também vão de salto alto. Mas burros é que nada, e logo nos tempos que correm. Parece impossível.
Lembro-me muito bem como era. Havia a corrida de cavalos, sim senhor, coisa amadora, com montadores e montadas da terra e arredores, que mediam forças por entre um mar de gente cheia de entusiasmo, chapéus e vinho, na mais nobre rua da vila. No empedrado onde costuma terminar a etapa da Volta a Portugal em Bicicleta. Partiam em frente ao Café Império e iam dar a volta na Cafelândia, ainda não havia rotunda, com as ferraduras novas a chisparem por todos os lados e alguns animais, de travões bloqueados, a espargatarem contra vontade para um 10 de nota artística nos Jogos Olímpicos e os donos de focinho no chão. Ao Império regressavam apenas três ou quatro conjuntos completos e o pódio era discutido já depois de cortada a meta, à força de varapau, ameaças de tiros e polícia, com a multidão a tomar diferentes partidos, de cabeça e chapéus perdidos, mortinha por também molhar a sopa. Isto eram as pessoas, os cavalos não se metiam. Mesmo os cavalos que tinham terminado a prova sozinhos, apesar de um tudo-nada desorientados, mantinham o fair play, viravam as costas à confusão e iam procurar os donos mercurocromados para pedirem desculpa pelo mau jeito. Quanto ao júri, ponderava criteriosa e responsavelmente todos os argumentos em discussão, sobretudo os argumentos que metiam pistola, e depois entregava a taça às primeiras mãos que a agarrassem.
O melhor vinha a seguir. Era a corrida de burros, que não era bem uma corrida, porque os burros recusavam-se terminantemente a correr. Davam uns passos, nem sempre no sentido correcto, e se calhar às vezes não havia vencedor. Mas o povo ria-se. É preciso que se note, porém, que os burros portavam-se assim não por serem burros mas por serem ignorantes. Na verdade, naquele tempo eles ainda não sabiam do estudo da Universidade de Londres que acaba de descobrir que os burros não são animais estúpidos nem teimosos. Serão surdos ou não compreendem inglês, quando muito, mas agora já sou eu a extrapolar.
O Reigrilo tinha uma burra que se chamava a burra do Reigrilo. O Reigrilo era tão teimoso como a burra, portuguesa e analfabeta, mas bebia muito mais. Eu nunca na vida vi o Reigrilo sóbrio. A sorte dele, quando saía do tasco do Paredes em adiantado estado de fermentação, era exactamente a burra, que o levava a casa, submissa e em piloto automático, debaixo de um chorrilho de insultos e chibatadas absolutamente imerecidas. Eu tinha medo do vinho do Reigrilo e a burra parecia que também.
Creio não cometer nenhum erro histórico se afirmar que a burra do Reigrilo só fazia frente ao dono pelos "16 de Maio", na corrida que nunca era. O Reigrilo, altamente decilitrado, aparecia sempre, para incómodo da organização e gáudio da populaça. Podiam dar a partida quantas vezes quisessem: a burra do Reigrilo não saía do sítio, apesar das bordoadas impiedosas que apanhava, e se se mexia era apenas para deitar o dono de cangalhas, uma e outra vez, numa vingança anual e certamente bem amadurecida, ali mesmo onde a humilhação do homem podia ser maior.
Por falar em humilhação. Soube-se ontem que a sorte grande do desemprego já sorri a mais de um milhão de portugueses, números oficiais. Não sendo tão bom como uma corrida de jericos, é, no entanto, uma alegre notícia para todos os felizes contemplados, provavelmente a melhor do ano - no disléxico léxico de Pedro Passos Coelho. Quem sabe até se não estará aqui a oportunidade de que o povo carece para resolver enfim atirar com a albarda ao ar.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O tempo é o melhor remédio

Foto Hernâni Von Doellinger

"Céu geralmente muito nublado por nuvens altas. Vento fraco (inferior a 15 km/h), soprando temporariamente moderado (20 a 30 km/h) do quadrante sul no litoral a sul do Cabo Carvoeiro. Nas terras altas, vento moderado (20 a 30 km/h) do quadrante sul, tornando-se forte (35 a 45 km/h) a partir do final da tarde. Pequena subida da temperatura mínima. Subida da temperatura máxima, em especial no litoral Norte e Centro" - de acordo com a previsão do Instituto de Meteorologia para hoje. E pronto: é dinheiro que poupo na farmácia.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Feiras Francas animam Fafe


As Feiras Francas de Fafe e a ExpoRural arrancam depois de amanhã. Detalhes e programa completo podem ser consultados aqui.

domingo, 13 de maio de 2012

Dois mundos e um muro, num domingo de manhã

Foto Hernâni Von Doellinger

O beijo de narciso no sinal-da-cruz

Quem viu o Sporting-Braga na TVI deve ter reparado: depois de apitar para dar início ao jogo, o árbitro Marco Ferreira benzeu-se. Fez o sinal-da-cruz, versão resumida, "Em nome do Pai", mão direita na testa, "do Filho", mão no peito ou barriga, "e do Espírito", mão no ombro esquerdo, "Santo. Amém", mão no ombro direito. Tudo mais ou menos como manda a Santa Madre Igreja. Mas depois acrescentou-lhe o beijinho na mão propriamente dita, em seu nome pessoal, numa espécie de auto-adoração canonicamente desautorizada, para não lhe chamar outra coisa. Coisa feia.
São os árbitros, são os jogadores, são os treinadores. Não passam sem a chupadelazinha no dedo, que - perdoem-me que lhes diga - vale tanto no Céu como a entrada em campo com o pé direito. Deus está realmente à coca, mas vê pouco futebol e também é Pai do pé esquerdo.
E não é só no futebol. Nas nossas igrejas, com cada vez menos fregueses, esta entorse litúrgica vem passando de geração em geração e os fiéis de hoje até acreditam que foi sempre assim, que é assim. Mas não é: o beijo em mão própria está a mais, não faz parte do sinal-da-cruz.
Eu acho que sei como é que isto tudo começou. No tempo em que a missa era em latim e o povo, que já se via à rasca para perceber o português, aproveitava para ir rezando terços atrás de terços enquanto o padre, de costas voltadas para o mundo, se ocupava naqueles Dominus vobiscum que eram lá um assunto entre ele e o pobre do sacristão, que ajudava o melhor que sabia sem saber muito bem a quê.
Parece que ainda ouço. (As igrejas ecoam, sabiam?) O terço era sonoramente ciciado por mulheres enfiadas em bigodes e lenços pretos, bzzz, bzzz, bzzz, num cochicho ao despique remetido directamente a Nosso Senhor, embora devesse levar Nossa Senhora no endereço. O comendador Santos da Cunha, que era governador civil de Braga e ia a Fafe aos casamentos e funerais dos ricos do regime, também fazia bzzz, bzzz, bzzz, mas com voz de trombone, de terço na mão ostensiva, durante a missa inteira, e já ela era praticamente toda em português. E se o senhor comendador fazia e fazia que se soubesse é porque era a Bem da Nação - naquele tempo não havia dúvidas a esse respeito.
Ora bem. No fim da reza, e independentemente do que o padre estivesse a fazer lá à frente e do ponto em que a missa fosse, as pessoas benziam-se e beijavam respeitosamente o crucifixo do terço, que levavam aos lábios entre o dedo polegar e o indicador. Beijavam a cruz, não a mão, fiz-me explicar? Mas estão a ver a confusão que dali saiu? E por falar em Braga: narcisismos, só se meterem bacalhau, está bem?

sábado, 12 de maio de 2012

Ó Pedro, vai à merda outra vez, que eu já fui

O alegado primeiro-ministro disse, à entrada para um almoço, que mantém as suas afirmações sobre a sorte grande que é o desemprego em Portugal e que "o País está um bocadinho cansado das crises artificiais e desta tentativa de distorcer e de aproveitar qualquer coisa para querer fazer uma tensão enorme". E a seguir espalhou-se ao comprido a distorcer tudo o que tinha afirmado na véspera. A distorcer, ele. A descontextualizar, ele. A falar em nome de um país que não conhece de lado nenhum, ele. A criar uma crise artificial, ele, que não faz a mínima ideia do que anda a fazer e se calhar até agradece que o ponham no olho da rua, a ele, que nos desgoverna mas já está governado.
Eu bem não quero dar parte de fraco, mas estas canalhices ofendem-me. Primeiro, Passos Coelho chamou-nos piegas, ontem chamou-nos calões e desempregados mal agradecidos, hoje quer chamar-nos burros. O que é que lhe fizeram em pequenino? O que é que esta gajo tem contra as pessoas? O que é que o representante da troika em Portugal tem contra os Portugueses?

Em defesa do alargamento

"Tempos difíceis estes os que vivemos", acabou por largar Quitério num longo suspiro, enfastiado com o raio da vida. Do outro lado do cimbalino mal tirado, Silveira, o chato, viu ali pé de conversa para dar e vender. E, sem contemplações, passou ao ataque:
- Exactamente, pá! Esta crise que nos sufoca, a ditadura da troika, o desemprego galopante, a falta de perspectivas de futuro...
- Nada disso...
- Eu percebo-te, pá! Crise de valores, queres tu dizer. Tens toda a razão, já não há valores, o que aí temos agora é uma juventude sem educação e sem respeito pelos mais velhos. No nosso tempo é que...
- Ó valha-me Deus...
- Sei aonde queres chegar, pá! Lá acima, estou a ver. É claro, já não há gente séria como antigamente. Saiu-nos na rifa esta cáfila de banqueiros arrivistas e políticos onzeneiros e trafulhas. É isso, não é?
- Não, pá! É o defeso, pá! O defeso! É este tempo todo sem futebolzinho! O defeso é uma seca...

(Publiquei este texto no dia 14 de Junho de 2011, ainda ninguém falava em alargamentos)

É preciso ter cuidado com os olhos, lá isso é

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Ó Pedro, vai à merda!

O alegado primeiro-ministro de Portugal disse hoje, entre outras bardinices da pior espécie, que "estar desempregado não pode ser um sinal negativo". Pois não, pá, é até um sinal bastantíssimo positivíssimo. Os filhos-da-puta dos desempregados é que não sabem a sorte que têm.

Sexta-feira da compaixão

Passa das sete e meia da manhã e a Queima das Fitas ainda está a desfazer a tenda. Na Praia de Matosinhos e na Praia Internacional do Porto, dorme-se, mergulha-se, fuma-se, bebe-se, vomita-se e fornica-se. As esplanadas do Edifício Transparente, pejadas de garrafas em cacos e cadeiras partidas, parecem um campo de batalha sem sobreviventes. Na rotunda da Anémona, uma pequena multidão de ressacados espera de orelha caída pelo autocarro. Têm tratamento de claque de futebol: estão enjaulados e vigiados à distância de um dedo pela polícia de choque.
Três miúdas cambaleiam pela Avenida de Montevideu, aparentemente em direcção à Foz. Nos intervalos entre cabeçadas contra painéis publicitários e tropeções nos mecos de delimitação do passeio, pedem boleia aos carros que passam. São mesmo miúdas, caloiras da vida, naquela idade e naqueles corpinhos que o sacana do arguido aproveita sempre para se defender, dizendo: "Senhor Doutor Juiz, ponha-se no meu lugar".
Uma delas salta para a estrada, faz sinais ostensivos, quase desesperados, para que os carros parem e as levem dali. Só as buzinas lhe dão troco. E os trolhas das carrinhas cheias de pressa e juízo mandam-lhe a boca da ordem, "Ó filha, és toda boa", mas boleia é que nada. "Foda-se! Ninguém tem compaixão", lamenta-se a miúda, mais para si mesma do que para as outras, num desgosto que só visto.
Ela é nova e não sabe. Às vezes há quem tenha "compaixão", "compaixão" até demais. E é aí que o tribunal entra na história...

Isaltino, o meu herói

Está escrito no semanário Sol. Isaltino Morais já não pode ser condenado por corrupção no processo das contas da Suíça, apesar de este crime ter ficado provado quando foi julgado. O Tribunal da Relação de Lisboa mandou repetir parte do julgamento e entretanto, de recurso em recurso, o crime acabou por prescrever. Isaltino nem precisou de fugir para se se safar, foi para fora cá dentro. Bem diz a ministra Paula Teixeira da Cruz que "neste momento em Portugal há uma justiça para ricos e outra justiça para pobres". Mas chamar-lhe "justiça" parece-me um bocadinho exagerado.

Uma Queima com muita protecção

Foto Hernâni Von Doellinger

Beira-mar Matosinhos/Porto, entre a Anémona e o Edifício Transparente. Há momentos. Não são caixas de chiclas, são de preservativos, e ainda bem.

A crise salva vidas na estrada. O perigo é à mesa.

Segundo números oficiais, nos primeiros três meses de 2012 morreram nas estradas portuguesas menos 50 pessoas do que em igual período de 2011. Especialistas contactados pelo jornal Público explicam que esta diminuição não representa uma maior consciencialização dos automobilistas, mas é uma consequência da crise financeira, que tirou ao pé-rapado dinheiro para a gasolina. De acordo com as últimas informações, o Governo de Passos Coelho e Vítor Gaspar continua a dar o seu melhor para reduzir a mortalidade rodoviária a zero. Infelizmente, o lado bom da crise também tem um lado mau: com as estradas tão seguras e às moscas, vamos morrer à mesa.

Jorge Mendes: comer e colar

O cidadão português Jorge Paulo Agostinho Mendes vai ser agraciado com o Colar de Honra ao Mérito Desportivo pelo ministro Miguel Relvas. Jorge Mendes é praticante da modalidade de empresarismo de jogadores de futebol. O mais rico do mundo, diz o Governo. A medalha é por isso.

Desafectos ao Estado Novo

A terceira edição do livro "Desafectos ao Estado Novo - Episódios da Resistência ao Fascismo em Fafe", de Artur Ferreira Coimbra, é apresentada esta noite, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal de Fafe. A obra, publicada pela primeira vez em 2003, resulta de uma iniciativa da Junta de Freguesia local.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Já pensou no próximo fim-de-semana?

Não? Então perdoe-me o abuso e permita-me que o aconselhe: meta-se pelo Alto Minho dentro e dê um salto a Paredes de Coura. Olhe que é mais perto e melhor caminho, belo caminho por sinal, do que lhe poderá parecer à primeira vista. Vá, que é fim-de-semana gastronómico, peça que o apresentem à truta, rainha da festa, às mil e uma maneiras de cozinhar truta - truta "do Coura", porque chamar-lhe "do rio" já comporta uma subtil e escusada imprecisão, mas isto que fique cá entre nós. Não gosta de truta? Coma feijoada, cozido ou cabrito. Não gosta de comer? Tem bombos e concertinas. Incomoda-o o barulho? Dê dois passos ao lado, não são precisos mais, ouça esse silêncio, sinta esse ar, feche os olhos e veja o paraíso inteiro à sua volta. Depois guarde tudo - o silêncio, o ar e o paraíso -, meta no carro, com cuidado para não partir, e leve para casa. As autoridades não implicam e a mala bem atestada costuma dar para uma semana.
Deixo-lhe uma dica final, e esta é como quem me arranca os dentes: procure o Restaurante Conselheiro, mesmo em frente à Câmara, ouça com atenção o Sr. Vilaça, dono da casa, aproveite e aprenda, coma e delicie-se, beba mas não abuse. Boa viagem e bom proveito!

Ó pra mim todo admirado!

Está escrito no jornal Público. "Algum tempo depois das eleições legislativas de 2011, Jorge Silva Carvalho, então quadro da Ongoing, enviou, por correio electrónico, ao ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, um relatório detalhado com um plano para reformar os serviços de informação, propondo para directores do SIS (Serviço de Informações de Segurança) e do SIED (Serviço de Informações Estratégicas de Defesa) funcionários da sua confiança e apontando ainda os nomes daqueles que não deveriam assumir cargos dirigentes."
Parece impossível! O Silva Carvalho e o Relvas? Estou varado! Quem havia de dizer? Nem sei se deva acreditar. Cambalacho nas secretas? O Relvas e o Silva Carvalho? Não, acho que não. Há aqui um engano qualquer.

Quando os Tonys eram de Matos

Foto RICARDO CASTELO

Os lisboetas vão regressar amanhã às suas raízes mais profundas. Às berças. Aos campos do Minho, de Trás-os-Montes, das Beiras, do Alentejo ou dos Algarves de onde partiram há duas ou três gerações, de cajado ao ombro e saca com a merenda. Quer-se dizer: embora o ignorem, os lisboetas são tão parolos como os outros parolos todos. Lisboa já não diferencia. Faz cada vez mais parte do resto que é paisagem neste país que não existe.
Vai ser servido aos lisboetas, amanhã, um megapiquenique a que o analfabetismo chama "Mega Pic Nic". Um arraial dos antigos que promete recriar, em plena Avenida da Liberdade, o "espírito do campo", o "ambiente de uma grande quinta", com o objectivo - acrescentam os organizadores - de "chamar a atenção dos portugueses para a importância do apoio à produção nacional".
Os lisboetas, que são parolos mas não se lembram, vão poder (re)aprender, por exemplo, que o leite não nasce em pacotes, que as galinhas estão vivas antes de estarem mortas (a senhora dona Lili Caneças poderá explicar o fenómeno), que os ovos só podem ser produzidos com aquele feitio ou que o bife não é um animal, pelo menos um animal completo.
O anúncio televisivo do evento promete tudo isto e muito mais. Garante uma espécie de circo rural onde não vão faltar as vacas e os cavalos, os patos e os gansos, as ovelhas e os porcos, os frangos do Roberto e até

macacos de imitação. Exactamente. Está o trânsito todo escangalhado no Porto e em Matosinhos, este fim-de-semana, por causa das corridas de carrinhos do menino Rui Rio, e logo Lisboa resolve também semear o caos no seu centro mais central. (A parolice é mesmo assim, contagia, multiplica-se. Lisboa sofre de um acelerado processo de parolização.)

Nada, no entanto, que desmobilize os lisboetas, tenho a certeza. Lá estarão amanhã, milhares e milhares deles, entusiasmados até mais não com a novidade, fresquinha e ao vivo, das cores, dos sabores e dos aromas do campo. Mas sobretudo o que eles vão é ao cheiro do concerto do Tony Carreira. À borla. Tony Carreira apresentado aos lisboetas como "o melhor da música portuguesa"...
Ora bem. Honra lhe seja, Tony Carreira é um profissionalão, provavelmente o melhor do seu ofício, mas não é "o melhor da música portuguesa". Entendamo-nos: por mais multidões que congregue, por mais corações que despedace, Tony Carreira é apenas um cantor romântico com imeeeeeenso sucesso. Mas a música portuguesa é... outra coisa.
Apesar de tudo, que diferente era Lisboa no tempo em que os Tonys eram de Matos.

(Escrevi este texto no dia 17 de Junho de 2011. Republico-o hoje, com a mais-valia do trabalho do fotojornalista Ricardo Castelo.)

Fui às primas e gostei

                                                                                                      Foto PAULO SILVA

Há que tempos que eu não estava com elas! Almas caridosas levaram-me a casa das primas, ricas primas, e as raparigas continuam boas como o trigo. Estou farto de dizer: a família devia dar-se mais.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Peter of the Chickens, of course

Foto Hernâni Von Doellinger

Já me tinhas dito 6

Eram um casal e o filho, a rondar os onze anos, e saíam do restaurante depois de jantar.
- Queres ir? - pergunta a mãe, urbana e meiga?
- Aonde? - diz o miúdo.
- Não se diz aonde. É onde. Estou farta de te dizer - corrige a mamã, instantaneamente ríspida, e a conversa acaba logo ali, por baixo da minha varanda.
É. A ignorância envernizada cuida que o aonde é um regionalismo, um parolismo. E os doutores da mula ruça, como não sabem por onde lhe devem pegar, pegaram nele e enfiaram-no no baú dos falsos arcaísmos. Mas o menino falou bem. E a mãe corrigiu mal. Depois entraram no Mercedes.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

É de um homem desconfiar

Ontem. Dei os maiores parabéns que soube e pude à minha mulher, por ser mãe. Dei dois beijos e um abraço cheio de coração ao meu filho, por ser quem é: filho da mãe, razão da coisa. A mim ninguém me disse nada. Mau...

Vagamente relacionado: vi no jornal Público um título bem esgalhado e todo prafrentex. Dizia: "Ser mãe não é obrigatório". Pois não. A não ser que se tenha filhos.

domingo, 6 de maio de 2012

Vê-se logo que não têm família

"Passos e Seguro escrevem a Hollande". Passos é Pedro Passos Coelho, o alegado primeiro-ministro de Portugal, e Seguro é António José Seguro, o desautorizado líder da oposição em Portugal. Hollande, embora seja um nome que dá para os dois lados, é François Hollande, o novo presidente da República francês. Mal se soube da desfeita esperada que os franciús acabavam de fazer ao Sarkozy mai-là sua, os nossos dois apressaram-se a epistolarem vassalagem (não sei quem ganhou) ao próximo inquilino do Eliseu. Estou informado de que é da etiqueta diplomática, mas vê-se logo que não têm mais ninguém a quem escrever. E aos que cuidam que isto agora vai melhorar com Hollande, só peço que se lembrem de José Sócrates, que está lá fora a lutar pela vida e também era socialista. Alegadamente.

Com certos alegados, todo o cuidado é pouco

A notícia conta que a "GNR de Loulé deteve ontem em flagrante um suspeito de tráfico de droga numa povoação rural daquele concelho algarvio, apreendendo 2700 doses individuais de heroína". O jornal informa ainda que "a detenção ocorreu cerca das 15h, no sítio de Ribeira do Algibre, quando o suspeito, com 33 anos, estaria a vender produto estupefaciente a duas pessoas, que foram identificadas". E acrescenta que, segundo a polícia, o "suspeito", para além da droga, "tinha na sua posse 1200 euros em dinheiro e vários telemóveis" e já fora "detido há alguns anos no mesmo local". O título é: "GNR detém alegado traficante com 2700 doses de heroína em Loulé". Exactamente, alegado, porque pode ser que seja engano. Isto não é política.

Entre ele e ela, resolvi ir a pé

Foto Hernâni Von Doellinger

Este tipo faz-me rir

Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Club de Portugal (ACP), apresentou uma queixa-crime contra antigos governantes do PS, acusando-os de gestão danosa, com dolo, na negociação e renegociação dos contratos das SCUT.
Uma vez Carlos Barbosa foi vice-presidente do Sporting e disse: "Daqui a um ano, um ano e tal, o FC Porto já não fará parte do nosso campeonato. O campeonato do Sporting daqui a um ano ou dois será o Barcelona, o Ajax, o Real Madrid. Isso para nós é que vai ser importante. Não vou competir com o Pinto da Costa, vou competir com a equipa do FC Porto no terreno. O que Pinto da Costa diz não me interessa rigorosamente nada". Menos de um ano depois, o Sporting mandou-o embora.

sábado, 5 de maio de 2012

Mataram os vizinhos. Agora somos condóminos.

Éramos vizinhos, lembram-se? E a palavra vizinho queria dizer coisas boas: proximidade, amizade, companhia, ramo de salsa, comunidade, confiança, solidariedade, conversa no passeio à noite, copinho de vinho novo, cumplicidade, visita ao hospital, dar a camisa, porta aberta, comadre, quase família, melhor que família, tu cá, tu lá. Agora somos condóminos. E a palavra condómino tem uma carga que é um pesadelo: propriedade, despesa, individualidade, indiferença, reunião, ausência, chatice, discussão, impessoalidade, porta fechada a sete chaves (três, pelo menos), queixinha, fracção, má-língua, elevador, o tempo, bom dia e boa tarde, eu cá, tu lá.
E é irónico. Há 25 anos que eu sou um condómino exemplar, um condómino da melhor pior espécie, mas hoje deram-me as saudades de ser vizinho. Sei que já vou tarde. Estamos todos condenados a sermos condóminos para o resto das nossas vidas. Se ainda ao menos fôssemos conDominus nobiscum...

Vamos lá então arrasar pontes. Todas!

Foto Hernâni Von Doellinger

Miguel Cadilhe, ex-ministro das Finanças e ex-muitos tachos mais, também acha que é preciso reduzir "drasticamente" o número de pontes. Quando assim fala, Cadilhe refere-se àquele diazinho que era tradição dar de bodo aos pobres entre um feriado e um fim-de-semana ou entre um fim-de-semana e um feriado - não às pontes entre empregos públicos e milionários distribuídos a dedo pelo grupinho do costume para o grupinho do costume, em que ele próprio está esplendorosa e saltitantemente metido. Já alguém fez bem as contas? Quais são as pontes que custam mais ao País: as dos trabalhadores cá do rés-do-chão, aos quais já roubaram tudo, até a esperança, ou as das falsas sumidades que nos meterem no monte de merda onde estamos e gozam as suas reformas precoces e pornográficas sentadas em cima das nossas cabeças?

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Matosinhos perdeu a bandeira, e depois?

Foto Hernâni Von Doellinger

A Praia de Matosinhos perdeu a Bandeira Azul. A Praia de Angeiras Sul também, mas a mim interessa-me mais a de Matosinhos propriamente dita, por ser no meu quintal. Aviso já que não sou praieiro, não compreendo os praieiros e nunca liguei à treta da Bandeira Azul. Os praieiros também não ligam. O que eles querem é água com coliformes, a pele a derreter, areia nos olhos e boladas nos tomates. E são felizes assim. Eles gostam de sofrer.
A Bandeira Azul não é importante, não faz diferença nenhuma às pessoas, podem crer. Nesse aspecto, a autarquia tem razão. Matosinhos perdeu a bandeira, e depois? Ainda por cima era azul (e branca). Até eu, que sou portista, achava que aquele farrapo esvoaçante era uma espécie de provocação e até insulto aos matosinhenses em geral. Vamos mas é pôr lá a bandeira do Leixões.

Ando a juntar dinheiro para comprar sardinhas

Olho para o calendário que tenho à minha frente: estamos em Maio, o primeiro mês sem "r". Sentado ao meu lado, mirando também a janela à espera de um bocanho que lhe permita a caminhada matinal, o Senhor de La Palice, velho companheiro de todas as horas, abana que sim com a cabeça, sábio e lento, mais concordante era impossível. Portanto começa a ser horinha de as sardinhas mostrarem o que vão valer este ano, depois de um 2011 em que foram uma merda à mesa, com licença de vossas excelências.
Tenho a mania: sardinhas, frescas é que são. Assadas. Na brasa. E, como já aqui disse, a sabedoria popular ensina, e ensina bem, que Maio, Junho, Julho e Agosto (os quatro que não têm "r") são os melhores meses para as comer. Depois há quem saiba congelar e descongelar o sardinhame como se não fosse nada, tendo ainda a suprema arte de o assar como se fosse novo. Dá para matar saudades durante o resto do ano, conheço muito bem onde, mas isso... é outro assunto.
Deposito grandes esperanças nas sardinhas de 2012. Porque o povo também diz "sardinha linda, sardinha maganão, ano sim, ano não". Ainda não as examinei. É cedo e os homens não têm ido ao mar, com esta invernia fora de tempo. Quer-se dizer: têm saído, mas já pelo alvor, o que não dá para pescarias por aí além. Os santos populares é que estão à porta, são no mês que vem, e eu quero ver se consigo comprar uma meiaduzinha delas, ao menos para conferir se "no São João a sardinha já pinga no pão". Até ando a juntar dinheiro.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Estudantes, espermatozóides e neurónios

A ciência tem que se lhe diga e eu digo já que gosto destes estudos pândegos que me aparecem de vez em quando. O último: uma investigação da Universidade de Aveiro acaba de concluir que, derivado aos exageros, a qualidade do sémen dos estudantes diminui durante as chamadas semanas académicas. A pesquisa deixou de lado a sempre inquietante questão da erecção impossível, mesmo para quem consiga dar com a braguilha, e a controversa problemática do alcance máximo dos jactos de vómito, já que o mijo nem tem discussão: é pelas pernas abaixo.
Voltando ao essencial da coisa e aos números que não mentem, a realidade é esta: durante festas como, por exemplo, a Queima das Fitas do Porto (que é já na próxima semana, aqui à porta, muito obrigado) regista-se, em média, uma diminuição de 20 por cento na concentração de espermatozóides. No caso dos neurónios, a redução é de cem por cento.