Mais de 27 por cento das crianças portuguesas vivem em situação de carência económica, de acordo com o relatório "Medir a Pobreza Infantil", que é hoje apresentado pela Unicef e que coloca Portugal em 25.º lugar numa lista de 29 países da OCDE. Abaixo de nós, só a Letónia, a Hungria, a Bulgária e a Roménia.
Mas atenção: as conclusões do estudo baseiam-se em dados de 2009. Seriam bem piores se já reflectissem o impacto da crise em que nos enfiaram. É. As crianças portuguesas ainda não estão tão mal como aquelas da "pequena aldeia no Níger que têm duas horas de aulas por dia e têm de dividir uma cadeira por três", e que tanto comovem Christine Lagarde, a directora do FMI que ganha 380 mil euros por ano, livres de impostos. Mas para lá caminham.
É espantoso: a directora do FMI, Christine Lagarde diz que está mais preocupada com as crianças do Níger, cujas privações são infinitamente mais dramáticas, do que com as crianças gregas e acusam-na de atribuir diferentes valores ao sofrimento de umas e de outras crianças. É precisamente o contrário!!! Precisamente porque o sofrimento de uma criança grega (ou portuguesa, brasileira, inglesa ou chinesa) tem o mesmo valor que de uma criança do Níger, cabe à directora do FMI (cujos recursos, caso não saibam, não são ilimitados) preocupar-se mais com as crianças que padecem de maiores privações. Se não fizesse isso é que estaria a atribuir um valor inferior ao sofrimento das crianças africanas do que ao das gregas. No fundo, no fundo, temo que o que permita uma inversão tão escandalosa é a ideia, muito inconsciente mas muito lá metida, de que o sofrimento dos pobres que sempre o foram vale menos do que o dos novos pobres. Algo como "os pretinhos, coitadinhos, já estão habituados".
ResponderEliminarMuito obrigado pela visita e pelo comentário.
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