quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Atchim!

Um estudo citado pelo jornal Público revela que 28 por cento das mulheres portuguesas ainda acreditam que a sida se transmite pela saliva, suor e espirros. Santinhas!...

Isaltino forever

Isaltino Morais viu ontem ser-lhe recusado mais um requerimento. Não faz mal. Os seus advogados têm mais 13.987 recursos e requerimentos para apresentar.

Urgente sim, mas devagar

Fez ontem oito dias que o procurador-geral da República ordenou a abertura de um "inquérito urgente" para apurar responsabilidades na fuga de informação no caso das detenções de Duarte Lima e do filho, Pedro Lima. E já tinham passado cinco dias sobre a ocorrência dos factos. Alguém me sabe dizer em que pé é que está a "urgência" de Pinto Monteiro?

(Ler mais em Na passagem do primeiro meio aniversário)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Bruxedos à moda do Porto

Esta é a sério. Durante uma semana, um alguidar contendo um enorme galo sem cabeça e outras miudezas feiticeiras esteve em exposição no passeio junto ao portão de um dos cemitérios da cidade do Porto. O bruxedo apareceu ali da noite para o dia, toda a gente se queixou, toda a gente se desviou e ninguém teve coragem de mexer na coisa, de a mandar para o lixo. Nem o padre da igreja ao lado nem os coveiros. Trabalhar com almas e mortos está bem, desafiar maus-olhados é que não.
Passou-se um, passaram-se dois, três, quatro, cinco dias, e o galo ali, possivelmente já com o serviço feito e portanto sem mais poderes, mas nem assim alguém ousou tocar-lhe. O pessoal da Junta de Freguesia foi unânime, cada um passava a encomenda para o que vinha atrás, "Eu não, bruxedos não", até que a vizinhança viva reclamou (ciciando padres-nossos e ave-marias, de terço na mão e muitos sinais da cruz) que já não aguentava com o fedor.
Ora, o fedor, como toda a gente sabe, é problemática que sobe à alçada camarária. Em conformidade, foram requisitados os serviços de limpeza da cidade, que chegaram ao local e resolveram o assunto em três penadas. Isto é: "Eu também não, bruxedos não"...
Perante o impasse, alguém tirou a mola de roupa do nariz e alvitrou que se chamassem os Comandos, um pediu a presença da Brigada de Minas e Armadilhas da PSP e outra ainda sugeriu que se mandasse vir o Bruxo de Fafe para fazer marcha-atrás à coisa, tornando seguro o seu manuseamento. Mas a Junta não dispunha de verba orçamentada para pagar a especialistas.
Foi quando um dos da Câmara se lembrou que o Canil Municipal tem um camião com um gancho, uma espécie de braço mandado que podia solucionar mecanicamente, com os homens de longe e sem risco de agoiros, aquele problema bicudo. E ao sexto dia o todo-poderoso veículo veio e levou a coisa, para sossego enfim de todos os moradores, vivos e mortos, amém.
Esta história antiga foi na semana passada.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

As tascas do Porto

A terceira edição do livro "As Tascas do Porto / Estórias e Memórias Servidas à Mesa da Cidade", com textos de Raul Simões Pinto e fotografias de Gabriela Felício, é lançada na próxima sexta-feira, dia 2 de Dezembro, pelas 18 horas, no restaurante Pedro dos Frangos, da Rua do Bonjardim, Porto. A obra, com chancela das Edições Afrontamento, será apresentada pelo jornalista Manuel Vitorino, que também assina o prefácio.

O mito da esquerda caviar

A esquerda caviar não existe. Em Portugal, não! Quando se fala do Bloco de Esquerda como uma rapaziada bem nascida que se meteu na merda da política mas que, paradoxalmente na esteira de um Cavaco Silva ou de um Fernando Nobre que ainda estava para ser inventado, consegue andar sobre ela, a merda, sem sequer borrar a sola dos sapatos, há aí um certo exagero. Os sapatos são de marca, o que até poderia explicar o milagre, mas não, não houve milagre nenhum! Porque esta malta é ateia, não acredita em milagres e o pólo também é de marca e está sempre cheio de caspa. Portanto...
Os bloquistas são apenas diletantes. Não se dão ao trabalho.
O Bloco, que só existe porque dá na televisão, de resto não suja as mãos em assuntos de governo a não ser para não ser nada, tem os dias contados. O caviar de supermercado é uma treta, a rapaziada do BE sabe disso melhor do que ninguém e não está para aturar esta pinderiquice por muito mais tempo. Até os croquetes são ultracongelados, o que também veio apressar o declínio da nossa esquerda gaiteira. Os cabeçudos da coisa começaram a comer-se uns aos outros e agora é cada um por si. O Bloco é de supermercado. O Bloco é uma treta. O último a sair é burro.

Fernando Rosas, um dos inventores do Bloco de Esquerda, antigo candidato à presidência da República, ex-deputado, historiador e gordo, invadiu ontem, ao almoço, um dos meus sítios. O meu sítio! Levaram-no lá, a ele e à mulher, ao santuário da velha e boa comida portuguesa que eu nem às paredes confesso. Não lhe deram caviar nem croquetes, que era o que ele merecia, mas apresentaram-lhe as melhores pataniscas de bacalhau do mundo e uma truta de conserva com broa frita que devia estar guardada só para mim. Foi o princípio da conversa. Depois passearam-no pelos mais emblemáticos pratos da casa, que eu me recuso a identificar por uma questão de segurança de Estado.
A invasão estava a meter-me nervos e por isso vim-me embora. O Rosas ficou na maior quando eu saí. O meu medo agora é que ele, com o desgosto do caviar, se converta à esquerda da patanisca e do verde branco. Sinceramente, não sei se deixo.

domingo, 27 de novembro de 2011

Fado do encabanço

Com o galo que andamos, o país Lisboa é bem capaz de acordar esta manhã de papo cheio de património. Imaterial, porque infelizmente não há dinheiro para mais, mas património! E da humanidade, com diploma passado pela UNESCO e tudo. Parabéns portanto ao país Lisboa, parabéns ao fado e à senhora dona Amália, parabéns ao Benfica e viva Salazar! Está feito? Não é preciso mais nada? Já toda a gente bebeu? Estou todos satisfeitos?
Pronto. E agora silêncio, que se vai voltar ao país Portugal.

sábado, 26 de novembro de 2011

Redenho e honestidade

Uma vez não são vezes: debrucemo-nos, então, sobre a problemática do redenho. O redenho que - há que admiti-lo sem tibiezas - não é ingrediente indispensável na confecção de uns rojões honestos e com outros matadores, mas no entanto, se marcar presença, confere ao prato um não sei quê que por acaso sei e que tem a ver com o seu aspecto inusitado, com o sabor rústico mas colaborante (dando-se-lhe as voltas certas) e sobretudo com o crocante da textura.
Que se segue, precisei de fazer uma rojoada para uma gente que andava aí com desejos e fui ao talho. Escolhi a carne, da febra e da barriga, o sangue e as tripas enfarinhadas. Quando pedi o fígado de porco, que na verdade até era para ajeitar uma entrada de iscas de cebolada, o talhante, sem que eu dissesse mais nada, avisa-me "Olhe que não temos redenho". E depois, olhando para um lado e para o outro, chegando-se à frente do balcão à procura do meu ouvido e da minha cumplicidade para revelar-me o quarto segredo de Fátima, diz-me, num sussurro: "Quer-se dizer, haver há, mas é congelado". E, congelado, realmente "Não é a mesma coisa", concordámos eu e ele em coro, como se estivéssemos ensaiados.
Repito: o redenho não é indispensável. Mas a gentileza e a honestidade sim. Sobretudo nestes tempos de desrespeito pelos valores e de aviltamento das pessoas, tempos portugueses de antagonismos sociais, de pobreza imposta e de azedume generalizado. Soube do redenho e senti a Terra tremer debaixo dos meus pés. Algo mexeu com o equilíbrio estabelecido do Globo. Continuo a acreditar que anda meio mundo a enganar o outro meio, mas naquele momento, à frente dos meus olhos, um homem passou para o lado bom, que eu bem vi.
As coisas não são tão simples assim, é o que estão a pensar? São, são.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Revolucionários de caca

Uns palermóides quaisquer pretenderam abrilhantar a greve geral de ontem atirando cocktails molotov contra instalações das Finanças em Lisboa. Como se sabe, os palermóides são criaturas sem cabeça, o que, desde logo, obsta a que se lhes pergunte o que é que lhes passou pela dita. Mas façamos nós por eles esse exercício: estes mentacaptos terão agido apenas por prazer vândalo? Serão energúmenos armados em anarquistas ou em neocarbonários, nascidos com atraso para a História? Estarão zangados com o Tavares que trabalha na repartição do Campo Grande, aquilo foi só um aviso e a seguir chegam lume ao cão? Ou, pelo dia que escolheram, um dia de protesto nacional, a cisma deles é mesmo contra quem manda no País e contra a política de austeridade?
Cuidarão então que são revolucionários! Mas, se cuidam, são revolucionários marca roscofe. Se visavam afrontar o "Poder" e atacaram repartições de Finanças, certamente que se perderam pelo caminho. Em vez de andarem a brincar com o fogo, era de homem terem ido cagar à porta de quem nos empobrece. Que diabo, estes revolucionários de carregar pela boca não sabem onde são os palácios de Belém e de São Bento? Ou, para além de não terem cabeça, também não têm tomates?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Estou farto da Sónia Brazão

Há que tempos que eu já tenho a minha dose de Sónia Brazão. Estou por aqui com ela. Desejo-lhe muita saúde e o maior sucesso, mas não quero saber dela. Não percebo porque é que ela só está bem sendo notícia. Acho que e rapariga está a abusar. Acho que uma vida recatada e se possível longe dos fogões de gás só lhe fazia bem.
Mas a actriz (que é actriz, assim leio) lançou hoje um livro que é, segundo o jornal Público, "o relato na primeira pessoa do que aconteceu na sua vida desde o acidente a 3 de Junho". Sónia teve consigo Paula Antunes, a médica que acompanha a sua recuperação, e vários outros membros da equipa que a tratou na Unidade de Queimados do Hospital de São José. Afinal, Sónia Brazão não é a única que gosta de aparecer.
Apresentado uma semana depois de a revista TV Guia ter noticiado que Sónia Brazão terá cometido três tentativas de suicídio antes da explosão de 3 de Junho, o livro, obviamente editado pela Leya, chama-se "Não Desisto", o que é perigoso. Foi dito na cerimónia que é "um testemunho". A Polícia Judiciária duvida.

Faz de conta

Cinco dias depois da palhaçada, o procurador-geral da República ordenou, ontem à tarde, um "inquérito urgente" para apurar responsabilidades na fuga de informação no caso das detenções de Duarte Lima e do seu filho. Quanto à urgência da coisa, estamos conversados.
Diz o jornal Público que Pinto Monteiro procura a fonte interna que levou os jornalistas da SIC, e os outros que foram logo atrás, a concentrarem-se à porta da casa de Pedro Lima antes mesmo da chegada dos próprios inspectores da PJ. Pois que o senhor procurador-geral procure duas fontes e não uma, permito-me sugerir, humildemente. Esta que funciona agora para o PSD e a outra que funcionava para o PS. Ou será uma fonte vira-casacas?
"É uma vergonha para a Justiça em Portugal a maneira como as buscas se fizeram, com uma publicidade mediática tremenda” e com jornalistas no local das diligências antes de estas começarem, disse o PGR em declarações públicas, avisando, no entanto, serem "raros" os inquéritos desta natureza que produzem resultados. Pois. Quanto à eficácia da coisa, também estamos conversados.

Perigo na estrada

Há um novo perigo nas estradas portuguesas: as cadeiras de rodas eléctricas. Elas andam aí, são cada vez mais e cada vez mais metediças. Ainda no outro dia me apareceu uma disparada a atravessar a EN 14, em Celeirós, Braga, junto ao nó para as auto-estradas, e só não acabou em desastre porque um de nós travou a tempo e não foi o condutor da cadeira. Cujo, já agora, agradeceu a sorte com um enorme sorriso (vá lá!) e não tinha capacete.
As novas máquinas do asfalto alcançam a velocidade furiosa de 12 km/hora, o que não é brincadeira nenhuma para atravessar uma estrada nacional, fora de passadeira e saídas do nada. Ainda por cima está na moda o tuning, que transforma algumas delas em verdadeiras bombas, como a daquele brasileiro que, no ano passado, foi apanhado pela polícia a mais de 60km/hora, depois de ter artilhado a sua cadeira de rodas com um motor de motorizada.
Creio que se impõe uma análise série e aprofundada ao fenómeno, no seio de uma comissão governamental com amplos poderes para alterar, nomeadamente, a legislação referente às escolas de condução, introduzindo a especialidade de cadeiras de rodas, e o próprio Código da Estrada. A sinalética de trânsito vigente tem que ser revista e actualizada, não sendo de desprezar a possibilidade de implementar corredores específicos para cadeiras de rodas na rede de auto-estradas nacional. Com isenção de pagamento de portagens, é claro!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Olho por olho

Hortaliça comprada nas farmácias é 25 por cento mais barata do que nos hipermercados.

Da micose aos cogumelos

Uma pequena tabuleta em tabopan, com seta a indicar caminho, chamou-me a atenção numa das saídas de Paredes de Coura. Dizia: "Congresso Micológico". A minha primeira reacção foi de... comichão. "Raisparta, que malucos é que estarão por aí reunidos a discutir a problemática da micose?", pensei eu, esfregando-me o mais que podia no assento do carro. Micológico! A ver se me passava a coceira, pus-me a imaginar que, às tantas, era mas é um convívio internacional de saguis ou o encontro anual dos Pequenos e Médios Vigaristas do Norte e Centro de Portugal (PMVNCP). Passou. Mas não acertei. Quando cheguei a casa é que vi que afinal a micologia diz respeito aos cogumelos. Uma coisa tão simples e que me teria evitado os vermelhões que se me estendem ainda hoje pelo corpo todo, se tivesse ligado logo a perguntar ao meu amigo Nestes, que sabe tudo destas coisas e que se calhar até estava lá.
Portanto, cogumelos! Foi de cogumelos que se falou nas III Jornadas Micológicas do Corno de Bico, que se realizaram, no passado fim-de-semana, na belíssima Paisagem Protegida do Corno de Bico, em Paredes de Coura. O evento, que reuniu especialistas, investigadores e produtores, visava, entre outros objectivos elencados pelos organizadores, "demonstrar o potencial dos cogumelos como vector de desenvolvimento das regiões e economias de montanha", nomeadamente "em termos gastronómicos". Quer-se dizer: ainda por cima, o assunto interessava-me.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Vai dar merda

Duas empresas de segurança tomam conta das linhas do Metro do Porto, por estes dias. Parece que vai sair a que está e entra uma nova, espanhola, mas desde o dia 1 de Novembro que se estorvam uma à outra nas estações e no interior das composições. No terreno, a transmissão de poderes não está a ser pacífica. Os castanhos não falam com os verdes, as duas facções fazem de conta que se ignoram mas não ignoram, disputam lugares "estratégicos" à cotovelada, vigiam-se com caras de poucos amigos, matam-se uns aos outros pelo menos dos olhos para fora, e se um destes dias for dos olhos para dentro e desatar tudo à pancada ou ainda pior... eu cá não me vou admirar.
Enquanto isso, um jovem de 25 anos foi esfaqueado na madrugada de sexta-feira junto à estação da Trindade, o centro nevrálgico do Metro do Porto. De acordo com os relatos da imprensa, a vítima foi atingida com facadas nas costas, desferidas por um grupo de quatro indivíduos que lhe roubou a carteira. Eu sei o que escrevi: "madrugada" e "junto" à estação. Mas, repito, um jovem de 25 anos foi esfaqueado.
A chegado de nuestros hermanos ao Metro do Porto já motivou, por outro lado, uma carta aberta da Associação Nacional de Agentes de Segurança Privada (ANASP) ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e ao ministro da Administração Interna. Na missiva descapotável, a ANASP critica a Metro do Porto por contratar "uma pequeníssima empresa de capitais espanhóis" que terá actualmente apenas "um cliente no Norte do País e um total de 39 vigilantes nos seus quadros". Sublinhando a importância do "superior interesse nacional" que as questões de segurança "da segunda maior cidade do País levantam", a ANASP questiona "que garantias dá uma desconhecida e estrangeira empresa".
Isto é outra guerra, mas escusava a xenofobia. Ainda por cima, a xenofobia de cadeirão. Porque quem vai andar à trolha, por causa destas e de outras teorias da mesma marca, vai ser o pessoal do rés-do-chão, como sempre. Eles lá em cima seguem o combate de copo de uísque na mão e fumam charuto. E eu, se tivesse dinheiro, também já fumava um...

domingo, 20 de novembro de 2011

E não se pode calá-lo?

Ida de Luís Freitas Lobo para a Sport TV fez disparar o número de telespectadores que exigem à televisão por cabo jogos sem som. A petição "Deixem-nos ver a bola em paz" conta já com mais de dez milhões de assinaturas e ainda faltam os benfiquistas.

O outro Club Fafense

Foto Hernâni Von Doellinger

Eu não sabia, mas Fafe tem dois Clubs Fafenses. O Club que eu não conhecia, e que acaba de ser reanimado após anos de inactividade, era, ao que acabo de saber, "um dos principais pólos culturais da Vila de antanho". Num entre aspas que suponho pertencer à sua actual direcção, fui surpreendido também com a novidade de que esta colectividade (palavra de honra que lhe chamaram colectividade) "proporcionava actividades de entretenimento aos seus sócios, dispondo de um bom bilhar, de uma sala de "jogos lícitos" e de um concorrido bar cujo horário alargado e reputação gastronómica perdurou nas memórias orais dos diversos frequentadores".
O outro Club Fafense, o que eu conheci, não era nada disto, tirando a parte gastronómica e o Joãozinho, de quem ontem nem ouli falar. O Club Fafense que eu conheci e que agora começa a ser desarriscado da História e não merecia, era outra coisa. Para que nos entendamos, sem irmos mais longe: escuteiro não entrava ali.

Um rosto de carnaval

"Luanda, anos 80 - um rosto de carnaval" é o título da exposição fotográfica que o jornalista e tudo Augusto Baptista inaugura na próxima sexta-feira, dia 25 de Novembro, na sede da Associação 25 de Abril, Rua 25 de Abril, em Luanda, Angola. A hora, 18h30, é que não me dá grande jeito. A mostra estará patente ao público até ao dia 6 de Dezembro, de segunda-feira a sábado, das 12 às 20 horas.

sábado, 19 de novembro de 2011

Eles, os políticos

O jornalista André Macedo escreveu uma crónica no Diário de Notícias, creio que anteontem, na qual, depois das voltinhas que fazem parte, acabou criticando "aquelas crónicas de jornal que tratam os políticos por "eles"? Desdenhosamente "eles", por oposição a "nós", os justos e bons". O jornalista André Macedo é um jornalista competente e deve ser uma excelente pessoa. Digo isto da excelente pessoa, e tenho quase a certeza, por causa de uma coisa que uma vez tratei com ele. Mas vê-se que é novo, que a vida lhe corre, Nosso Senhor o proteja e guarde, e que não faz a mínima ideia do que se passa cá em baixo. Senão já teria percebido que o defeito não é das crónicas, que há realmente "eles", os políticos filhos da puta e seus eunucos abanadores, políticos que regra geral se servem de "nós" mas não querem saber de "nós". E há realmente "nós", que não nos deixam ser mais do que isso: "nós". Mas "nós" um de cada vez, porque "nós" todos juntos éramos capazes de escangalhar a ordem estabelecida por "eles", e "eles" sabem disso e sabem que isso não lhes convém. E por isso mandam dizer que não é bem assim. E mandam apartarem-nos "uns" dos "outros".
O André Macedo parece que não sabe, mas "eles" é que dizem de nós que nós somos "eles". Somos uma coisa que não é bem coisa nem é nada e que tanto se lhes dá como se lhes deu. A "eles". Esta, caro André, é a verdade da vida. Se nas suas crónicas de jornal tem contas a ajustar com os que escrevem crónicas de jornal, seja homenzinho, baptize os bovinos, não o faça à custa de "nós".

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Fredinho Bastos

Eu ia ver o Rali com o Fredinho Bastos. O Rali assim com merecida maiúscula inicial era um acontecimento emocionante pelo qual esperávamos ansiosamente durante um ano inteiro e que se dividia em três partes, como jogo e meio de futebol: a viagem até à Lagoa, sempre em modo de rali a partir de Medelo, a passagem do rali propriamente dito, que para nós os dois acabava logo após o sétimo ou oitavo carro, e a merenda que se seguia, nem que chovessem canivetes, pelo menos se os canivetes chovessem fechados. Eu, por mim, ficava ali a ver o resto dos concorrentes até ao fim, mas o Fredinho fazia questão de me ensinar a relatividade das coisas e a prioridade de umas sobre outras. "O rali já acabou, isto agora não é nada. Vamos mas é comer", dizia todos os anos, sem querer saber sequer a minha opinião. E lá íamos atacar o farnel, preparado com todo o carinho pela sua mulher - uma Senhora a quem devo muito mais do que apenas bolinhos de bacalhau e panados, aliás de categoria.
Eram outros tempos. Fazíamos o caminho de regresso até ao carro pela estrada do troço de competição, encostando à berma quando se aproximava o roncar de mais um motor, mas (o Fredinho tinha razão) aquilo era só bazófia, muito roncar e pouco motor. Dava tempo para tudo. Até para cumprimentar pilotos e penduras da segunda metade da tabela, que estavam no largo do famoso Santuário de Nossa Senhora das Neves ainda à espera da ordem de saída. O Fredinho conhecia aquela malta toda. Ele, Alfredo Bastos, também tinha sido corredor de ralis.

(Fafe, já aqui contei, era uma terra de partidos, de rivalidades tolas, de antagonismos pascácios. Era uma mania, como uma doença, uns por uns e outros por outros. Havia que ateimar por alguma coisa. Tínhamos os dois grupos de futebol - o Sporting Clube de Fafe e o Futebol Clube de Fafe -, que já não são do meu tempo, tínhamos e temos as duas bandas de música - Revelhe e Golães - e respectivos bandos de apaixonantes, tínhamos a Escola Industrial contra o Colégio, tínhamos o PS de Fafe pim e o PS de Fafe pam e o PS de Fafe pum, tínhamos a Rua de Baixo e a Ponte de Ranha, que de vez em quando também faziam faísca e, noblesse oblige, andavam à coiada, até tínhamos o Foto Victor e o Foto Jóia e as suas clientelas rivais, portanto a coisa mais natural do mundo era que a população fafense também se dividisse entre os dois fângios locais, o Fredinho e o Tangerina, embora só o Fredinho tenha feito carreira oficial, primeiro com o NSU creio que TTS e depois com o famoso Vauxhall Viva GT, marcando habitualmente presença em ralis, rampas e não me lembro se na velocidade de Vila do Conde. Para além disso, dava também uma mão como motorista dos Bombeiros, e aí, meus amigos, de sirene ligada, então é que era sempre a abrir. Desse tempo e dessas lides, do que eu mais gostava era do rali chamado Rali à Lampreia, pronto, já disse, achava e acho um piadão ao nome.)

Portanto o Fredinho sabia que, depois de Jean-Luc Thérier, Rafaello Pinto, Markku Alen, Hannu Mikkola (navegado por Jean Todt, o ex-chefe da Ferrari na F1 e ex-presidente da FIA), Ove Andersson, Sandro Munari, Bjorn Waldegaard, Jean Pierre Nicolas, Walter Röhrl ou Michèlle Mouton, pouco mais havia que realmente interessasse ver. As bombas já tinham passado: os Alpine Renault, os Fiat 124 Abarth, os belíssimos Lancia Stratos, os Fiat 131 Abarth, os Audi Quattro e até o Opel Ascona, que em Portugal, antes do 25 de Abril, se chamava Opel 1904 SR por causa da moral e dos bons costumes. Isto que não saia daqui, mas os que vinham a seguir a estes andavam menos em quatro rodas do que nós os dois, o Fredinho e eu, com uma perna às costas...
Nós íamos no Vauxhall verde e cinza que o Fredinho levara à Rampa da Penha, e eu fui lá a pé para ver, uns anos antes, no reinado do estupendo Chevrolet Camaro de Ernesto Neves. O icónico Vauxhall, preparado pelo próprio Fredinho e pelo avinhadíssimo Valdemar Mecânico, ou "Paredes", ainda mantinha as barras de protecção e os assentos e volante de competição. Era de uma incomodidade dolorosa, porque andávamos sempre nas horas, e de lado, mas extremamente seguro. Diziam ao Fredinho que ele conduzia muito bem. Ele respondia: "Toda a gente conduz bem até bater. Eu também."
O Rali em Fafe era a Lagoa e era um mundo. Só anos depois é que foram inventadas as outras classificativas, as que agora chamam milhares e dão nas televisões com saltos e tudo, ideia e obra original de Parcídio Summavielle, o pai, presidente da Câmara entre 1979 e 1997, uma sorte que nos aconteceu felizmente no tempo certo, e muito para além das corridas de automóveis.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Rali de Portugal de volta a casa

A próxima edição do Rali de Portugal vai ter o seu início em Fafe, com uma exibição em forma de rally sprint, no troço Fafe/Lameirinha. São boas notícias. Desta vez, o ACP acertou.

Fátima Felgueiras na adega

Pergunto pelo Narciso Miranda e aparece-me a Fátima Felgueiras. A Fatinha que, depois da arregaçada que levou nas últimas autárquicas, voltou a provar o doce sabor da vitória nas eleições para... a Adega Cooperativa de Felgueiras, sábado passado. E, segundo informações chegadas ao Tarrenego!, o ex-senhor de Matosinhos lá esteve ao lado da sua amiga, convidado de honra numa festa bem regada e que assinalou, de forma simples mas cheia de significado, a ascensão da ex-presidente da Câmara ao alto cargo de secretária da Assembleia Geral. Não pensem que não: é poder. O turco Nacib só chegou a quarto-secretário da Associação Comercial de Ilhéus, por acaso com considerável prejuízo para o seu estabelecimento comercial, o Bar Vesúvio, mas quem leu o livro na televisão bem se lembra da cagança com que o homem ficou, do estatuto que ganhou.
Fátima e Narciso têm tanto em comum. São ambos ex-presidentes de Câmara, foram os dois expulsos do PS, um e outro estiveram ou estão ensarilhados com a Justiça por causa de manigâncias financeiras para proveito próprio ou correlativo. E são amigos leais um ao outro, honra lhes seja. Narciso já foi a tribunal servir de testemunha abonatória de Fátima e é de crer que Fátima, agora que é Narciso a estar com eles entalados, venha também deitar a mão ao autarca matosinhense.
É uma dupla que funciona. Imagino-os a fazerem, no velhinho Circo Merito, aquele número muito bem sacado da transmissão de pensamento. "Narci & Fati, senhores e senhoras, meninos e meninas, estimado público, para deleite e espanto de todos vós, Narci & Fati!", até parece que estou a ouvir o mestre de cerimónias.
Fora isto, a verdade é que Narciso Miranda está vivo e anda por aí, o que é uma óptima notícia. Só no fim-de-semana, o Tarrenego! regista dois avistamentos: um na Fundação de Serralves, no Porto, a beber cultura, e o outro em Felgueiras, a beber verde branco. Narciso desapareceu foi dos jornais, das rádios e das televisões onde costumava morar. Ele não é tolo: e se lhe perguntam pela massa?

60 por cento de quê?

Um estudo, daqueles que até parecem feitos de encomenda para sinalizar o caminho a este Governo de palermas e bulldozers, chegou à conclusão de que, num futuro próximo, os portugueses vão receber de reforma pouco mais de metade do seu salário: 60 por cento, vá lá! O estudo foi feito pela Associação Portuguesa de Seguradoras (APS).
O desemprego em Portugal subiu entretanto aos 12,4 por cento, abatendo-se sobre quase 700 mil portugueses. São os números oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE), que só faz contas aos desempregados de papel passado, porque na verdade há mais, muitos mil mais! Mas ainda não são suficientes. Longe disso!
É minha convicção, até, que o Governo de Passos Coelho só ficará satisfeito, só dará o seu trabalho por concluído com sucesso quando Portugal tiver apenas 700 mil empregados, ou 70 mil, se tudo correr como previsto. O primeiro-ministro, que passou quase todo o dia de terça-feira reunido com os principais banqueiros do País, já explicou que o seu objectivo número um para todos nós, os do rés-do-chão, é a pobreza. "Só vamos sair da crise empobrecendo", disse um destes dias o títere de Ângelo Correia. E o caminho mais curto para a pobreza é o desemprego.
O que escapou ao estudo da APS foi o seguinte: no futuro próximo, para que o Governo PSD/CDS continue a receber os torrõezinhos de açúcar da troika por bom comportamento e salve o País que já não vai existir, nós estaremos é todos desempregados por muitos e maus anos, portanto sem salário - palavra que, suspeito, desaparecerá também dos dicionários. Quero eu dizer: quando chegar a idade da reforma, se chegar, nós vamos receber 60 por cento de quê?

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Narciso, que é dele?

Quinze dias depois de o blogue O Porto de Leixões, malandreco mas geralmente bem informado, ter anunciado que Narciso Miranda "vai recandidatar-se à Câmara Municipal de Matosinhos", a imprensa dava notícia de que o ex-presidente da autarquia estava a ser investigado pela PJ, por ser "de novo" suspeito de desviar o dinheiro do povo. O JN, que levantou a lebre, falava de um alegado esquema montado por Narciso para tentar sacar 63 mil euros ao Ministério da Saúde, quando esteve à frente de uma associação mutualista de São Mamede de Infesta, de onde se pôs a andar em Março, logo que o escândalo rebentou. Coincidências?
Mais quinze dias se passaram e Narciso Miranda não disse nada. Não reclamou inocência, a não ser por carta, não ergueu a voz para se defender, não esperneou para atacar, não acusou o PS de cabala. Até parece que desapareceu. E logo ele, que gosta mais de aparecer do que o Emplastro propriamente dito: porque Narciso que é narciso é mesmo assim, e eu não conheço nenhum Narciso mais narciso do que este. Mas, de momento, não sei dele. Coincidência?
E de repente o assunto e as notícias e o escândalo também desapareceram como por encanto. Coincidência?

O blogue O Porto de Leixões está de barra fechada, espero que apenas temporariamente. Faz hoje exactamente um mês. Desde o dia 16 de Outubro e do exclusivo anúncio da recandidatura de Narciso Miranda à Câmara de Matosinhos que não há novidades. Coincidência?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um supositório para todos

Depois da cagada que fez no Governo, o PS de Oposição quer limpar as mãos à parede apresentando na Assembleia da República uma série de medidas exemplares e impactantes, numa demanda de poupança hipócrita que começa por meter nos eixos o próprio Parlamento mas que visa salvar o País inteiro e arredores. E é hoje mesmo que os socialistas, com o deputado Pedro Farmhouse a porta-vozar, lançam a primeira iniciativa do seu pacote regenerador, propondo que a Comissão Parlamentar do Ambiente passe a consumir apenas água da torneira. Não é de crânio?
O PS teve acesso aos números: na AR, só entre Janeiro e Novembro de 2010, foram consumidas 45.288 garrafas de água de 0,33 l, assim como 1.986 garrafas de 1,5 litros, a que se juntam 930 garrafões de 18,9 litros e 78.200 copos de plástico. No total, 35.501 litros de água mineral, a uma média de 150 litros por dia, e 125.474 garrafas e copos de plástico para o lixo, com um custo de mais de oito mil euros para o Parlamento. E o PS concluiu: mais vale manter 230 burros a pão-de-ló!
Em conformidade, os socialistas pediram orçamentos a doceiros amigos das zonas de Ovar e Margaride, saía muito mais caro mas mesmo assim iam avançar, até que uma alma caridosa lhes explicou, inclusive com desenhos, que as compras agora são com o PSD. A ideia da água da torneira aparece, portanto, como retaliação.
E já há outras engatilhadas. Nos próximos dias, o PS vai propor que os deputados da Comissão de Economia e Obras Públicas passem a deslocar-se em skate ou trotinete, abrindo somente excepção para os parlamentares mais idosos, que poderão fazer-se transportar em carrinhos de rolamentos. Os socialistas querem também que todos os elementos da Comissão de Defesa que tenham licença de porte de arma usem apenas fisga.
De alcance mais profundo, porém, é a proposta do PS para a Comissão de Saúde. Aqui, os socialistas exigem que os deputados, em caso de doença e necessitando de tratamento, passem a usar um supositório colectivo e reutilizável, atado com uma guita, como a bala do Raul Solnado. Acho muito bem!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Comer com os olhos

Eram dois homens, já na segunda metade da idade. Um deles fica à porta, enquanto o outro entra no restaurante. O proprietário, que o recebe no hall, pergunta-lhe "É para almoçar?" e o homem responde "É para dar uma vista de olhos". O dono do estabelecimento, embora lhe apeteça, não disparata: "Faça favor. Isto não é nenhum museu, mas não paga nada".
Um ou dois minutos depois, o homem sai. Olha para o amigo que o espera, não falam, e desandam dali no mesmo passo descomprometido com que tinham chegado. Deixo de os ver. Fico a imaginar que vão a outro restaurante, fazem a mesma cena mas trocam de papéis. Assim, à vez, vão comendo com os olhos e já ficam almoçados. Melhor do que ir mastigar o papo seco de nariz amarrotado contra a montra do talho.
Em Belém e São Bento se calhar não sabem. Comer com a boca está a sair dos hábitos de cada vez mais portugueses.

sábado, 12 de novembro de 2011

O sequestro

Foi há 36 anos. Uma manifestação dos trabalhadores da construção civil convocada pela CGTP, e com o então poderosíssimo PCP na régie, cercou o Palácio de São Bento e sequestrou a Assembleia Constituinte e o Governo, que também estava em casa. Dois dias! Quem se lembra do primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo? "Estou farto de brincadeiras, ok? De brincadeiras, hã! Fui sequestrado, já duas vezes. Já chega! Não gosto de ser sequestrado! É uma coisa que me chateia, pá"... E depois foi almoçar.
E os moinas que lá estão agora, gostarão? Gostarão de brincadeiras? Ou ficariam chateados? Ou o que querem é almoçar?

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Quando a "puta" tocava

Foto VICTOR FOTÓGRAFO

A "puta" tocava e Fafe desatava a correr em direcção aos Bombeiros. Os homens largavam tudo: trabalho, mesa, cama, mulher e até os socos pelo caminho. Havia os que iam de bicicleta e os que apanhavam boleia de motorizada. Carros paravam para levar desgraçados vindos das lonjuras da Cumieira ou dos campos do Sabugal e já com os bofes de fora. Depois, havia o Casimiro das Caixas, que começava o dia a fazer as palavras cruzadas no jornal do Café Chinês e chegava na sua velha furgoneta. Mas quando ela tocava era para todos. Tocava também para os curiosos, para os que iam apenas ver, saber onde era o fogo. E faziam-se úteis. Apanhavam e arrumavam as bicicletas e as motorizadas que os bombeiros largavam em pleno andamento ao chegarem ao quartel e um mirone encartado ainda tinha de estacionar em condições a carrinha do Casimirinho, deixada sempre à frente dos portões a estorvar a saída dos carros de incêndio. O Casimiro da Caixas tinha vindo de Guimarães, onde decerto nascera, como talvez Portugal, e nunca se descolou daquela pronúncia carregada que nos fazia rir a todos.
Ela tocava e eu, miúdo, lá estava. O fogo era uma aflição. Olhava para aqueles homens, esbaforidos, trementes, brancos como a cal, a entrarem na "primeira viatura" apenas meio vestidos, a enrodilharem-se nas calças que não enfiavam ou nas galochas que levavam ainda nas mãos, cheios de urgência para enfrentarem as labaredas, e via heróis. Exactamente: heróis, muito melhores do que os dos livrinhos de cobóis e dos filmes, nem que fosse o Steven McQueen anos mais tarde na "Torre do Inferno". Os meios eram escassos, a formação era elementar, Fafe era uma terra pequena, mas aqueles homens tinham um coração bombeiro do tamanho do mundo. E o seu maior medo, que eles não confessavam, era chegar lá e o fogo já estar apagado...
Tão grande era o coração, grande demais para um homem só, que depois tinha de ser repartido. Ser bombeiro era coisa sanguínea, "doença" de família. Irmãos, pais e filhos, netos, tios e sobrinhos, primos, todos sofriam do mesmo bem. Creio que hoje ainda é um bocado assim.
Naquele tempo, eram os do Santo, os do António Quim (sim, o do cinema...), os Moleiros, os Costas do Assento, os Feira Velha, os Funileiros, os Quintos. Eram também o Agostinho Cachada, o Augusto Susana, o Frescaragem, que tinha lábia de leiloeiro, o Nogueira da Ponte do Ranha, que "fardava muito bem", o Zé dos Alhos, o Zé Sacristão, o Nelo Chapeleiro, o Chaparrinho, o Ferreira "Puta Velha", o Armando "Salazar", que era o viagra em pessoa, o enorme Sr. Humbertino, que trabalhava para os Summavielles e já só se apresentava no dia da Festa dos Bombeiros, tal como o Sr. Matias e como o Joãozinho motorista, que conhecia como ninguém as manhas do Opel descapotável e apanhava todos os anos uma carraspana de tal ordem que era preciso levá-lo a casa.

(E havia os espontâneos, que afinal não eram tão espontâneos assim. Moravam ali à porta e estavam sempre de prevenção para uma emergência que o fosse realmente. Faltava um motorista, a saída estava a atrasar-se? - era só chamar por eles e eles avançavam: lembro-me do Fredinho Bastos e do irmão Quinzinho, do Varinho Dantas ou do Toninho da Luísa, que tinha piada fina e eu gostava de imaginar DaLuísa derivado ao comediante americano Dom DeLuise, mas isso já é outro filme. Se calhasse, enfiavam um blusão e um bivaque, só para despaisanar, e avançavam a todo o gás, bombeiros como os de exame feito e papel passado e ainda mais voluntários, mas qual seguro qual carapuça! Ser-se bombeiro era efectivamente um estado de alma. E estes eram bombeiríssimos de primeira.)

Mas a pinga. Naquele tempo, ser bombeiro dava muita sede e a água era toda para apagar incêndios. De modo que, conscienciosos, os voluntários fafenses, regra geral, decilitravam no verde tinto com apreciável pertinácia. O meu avô da Bomba, que era quarteleiro e videirinho, até montou um pequeno tasco que foi um sucesso. O meu vizinho Agostinho Cachada era um dos principais clientes, mas tinha um porém: pelava-se por bagaço e quando ia para casa nunca mais lá chegava, porque, mesmo depois de o meu avô fechar o tasco, o bom do Sr. Agostinho voltava sempre para trás para beber mais um. Era certinho. Uma noite, para lhe evitar a canseira e apressar o sono, o meu avô foi atrás dele até ao Paredes, já a meio caminho, com a garrafa da aguardente escondida debaixo do capote...

Quando a sirene tocava, também as mulheres de Fafe se sobressaltavam. Era a "puta" que lhes tirava os maridos de casa, da cama. E eles iam para os braços da "outra". Os Bombeiros eram uma tremenda paixão, a "amante" perigosa que levava tudo o que queria. E elas tinham medo que um dia os seus homens não voltassem. Tolices de mulheres. Então os heróis não voltam sempre?
Às vezes, não. Às vezes o herói faz o que tem de fazer, isto é, faz o que fazem os heróis, e depois desaparece em direcção ao sol poente. Desaparece e nunca mais.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

As porcelanas de Duarte Lima

"O BPN penhorou bens de Duarte Lima no valor de 5,8 milhões de euros, no âmbito de um crédito bancário", noticiava ontem o Expresso, citando o Correio da Manhã. De acordo com o semanário de Francisco Pinto Balsemão, o banco dos amigos de Cavaco Silva ofereceu ao ex-deputado e ex-líder parlamentar do PSD um prazo, que termina hoje, para ele entregar "os quadros e porcelanas que deu como garantia do empréstimo no valor total de seis milhões de euros".
Parece que o BPN tem medo que Duarte Lima, se for preso por causa da morte de Rosalina Ribeiro, de que é formalmente acusado pela Justiça brasileira, não consiga pagar a dívida. Diz o Expresso que Lima "pagava uma prestação mensal de 120 mil euros pelo crédito concedido".

Peço desculpa pela minha ignorância, mas gostava de perceber o seguinte:
1.º - Quanto é seis milhões de euros, em camiões?
2.º - Para que é que uma pessoa que só foi político e advogado na vida precisa de seis milhões de euros?
3.º - Como é que um banco empresta seis milhões de euros a uma pessoa que só foi político e advogado na vida?
4.º - Como é que uma pessoa que só foi político e advogado na vida consegue ter "quadros e porcelanas" tantos e tão valiosos que servem de garantia a um empréstimo de seis milhões de euros?
5.º - Como é que um banco aceita bricabraque como garantia para um empréstimo de seis milhões de euros?
6.º - Onde param os seis milhões de euros?
7.º - De onde veio o bricabraque de Duarte Lima?
8.º - Quanto é que é preciso ganhar por mês para se poder pagar ao banco uma prestação mensal de 120 mil euros?
9.º -  Cento e vinte mil euros enchem um camião?
10.º - A penhora do BPN é para levar a sério?
11.º - Por que é que se estão todos a rir da questão anterior?
12.º - E não vai mais ninguém preso no caso BPN?

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Carta aberta ao Dr. Rui Rio

Permita-me que comece por felicitá-lo: que bem que V. Ex.ª ficou na entrevista que deu à Agência Lusa! Que bem! Será V. Ex.ª a voz que clama no deserto, mas é a voz da sensatez. O que V. Ex.ª disse "é tão óbvio", como fez questão de sublinhar, "que é difícil encontrar alguém que não defenda que, num momento destes, devemos todos pagar, e que deve pagar um pouco mais quem ganha mais".
Entende V. Ex.ª que o roubo - desculpe-me a expressão - dos subsídios de Natal e de férias "aos pensionistas e funcionários públicos é uma medida extraordinariamente injusta", que "penaliza só alguns e, ainda por cima, os mesmos que já este ano levaram cortes que outros não levaram".
Como alternativa a este roubo - desculpe-me novamente a expressão -, propõe V. Ex.ª a criação de "uma sobretaxa em que pagam todos um pouquinho". E explica: "Em vez de poucos pagarem tudo, esse tudo é dividido por toda a gente. E, sendo progressivo, quem ganha mais paga mais. Parece-me lógico que quem ganhar 40 ou 50 mil euros deve pagar um bocado mais do que quem ganha 1.100 ou 1.300".
Esta é, na opinião de V. Ex.ª, "a única forma justa, correcta e equitativa, diria mesmo prudente, de agir". Porque, "da maneira que está, quem ganha mais não paga nada e quem ganha menos paga tudo, e pela segunda vez", acusa V. Ex.ª, insistindo no ponto onde a porca torce o rabo: "Da maneira que está, um funcionário público que ganhe 1.000, 1.300 euros por mês vai levar um corte de mais de 14 por cento no rendimento anual. Imagine alguém que ganha 10 mil, 20 mil euros mensais, que, só por não trabalhar na Função Pública, não paga nada".
Isto realmente está muito mal da maneira que está. Sábias palavras as de V. Ex.ª, que resolveu meter o nariz onde não foi chamado. Sensatos, óbvios e lógicos os raciocínios e sugestões de V. Ex.ª, mas que serão esmigalhados em três penadas pelo parlapiê do chefe do Governo, Ângelo Correia, mesmo de olhos fechados, com uma perna às costas, de calcanhar e sem precisar sequer de recorrer à imbatível teoria da metástase. Portanto...
Deixe lá isso, Exm.º Senhor, volte-se para o Porto, que é da sua conta! Deixemo-nos dessas bagatelas e concentremo-nos no essencial:

Os coelhos do Parque da Cidade. Que é deles? Já aqui fiz a denúncia. Eram centenas, se calhar milhares, e agora não vejo nem um. Ainda ontem de manhã passei por lá, chovia, portanto estava um rico dia para a prática, e nada! O que é que aconteceu ali? O que é que nos anda a ser escondido? Uma matança ordenada pela própria autarquia? Os coelhos foram leiloados como os veados da Nazaré, mas não se soube? Cansaram-se de ser coelhos e agora são melros? Emigraram para a Alemanha por ordem do secretário de Estado da Juventude? Não saem da toca com medo que lhes apareça o Cavaco. Ganharam todos lugares de boys, por engano e só por causa do nome? Estão na Mota Engil? Escondem-se, envergonhados com a época do FC Porto? Foram vendidos à Playboy? Quem é que os anda a comer?
Exm.º Senhor Presidente da Câmara, os portuenses em particular e os utentes do Parque da Cidade em geral exigem e têm direito à verdade! Queremos saber o que aconteceu ou fizeram acontecer aos coelhos!
Fico a aguardar a volta do correio.

É de homem 4

Homem que é homem não chora. Mas mama.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A metástase de Ângelo Correia

Ângelo Correia voltou ontem à SIC Notícias. Não teve a dignidade de pedir desculpa aos portugueses pelo que disse sobre os maus direitos adquiridos (os dos outros) e os bons direitos adquiridos (os dele), mas, em contrapartida, assumiu, com toda a frontalidade, que "a Europa é um terreno favorável à metástase". O que só lhe fica bem.

O ET de Belém

A Casa Branca precipitou-se quanto declarou, ontem, que os EUA nunca contactaram com extraterrestres. Bastava-lhe esperar pelo dia de amanhã e já podia afirmar o contrário, depois de Barack Obama receber Cavaco Silva na Sala Oval, num encontro imediato de terceiro grau com a duração prevista de meia hora. Prepara-te, América: o ET de Belém vai fazer sensação!
Recém-chegado ao nosso mundo e por isso sem culpa nenhuma do monte de merda em que nós, os portugueses do rés-do-chão, estamos enterrados, Cavaco é tão infalível como o Papa e mais sério do que toda a gente. Muito provavelmente nasceu duas vezes. Todos os amigos próximos que foram por ele tocados ficaram subitamente ricos. Podres de ricos! Ele é o político profissional que tem o dom de não ser político. Ele é o homem que não é igual aos outros homens. Também não é a reencarnação de Jesus Cristo, senão já teria avisado os seus seguidores no Facebook. Cavaco Silva é um extraterrestre.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Perseguido pela Leya

Ando a ser perseguido pela Leya. Ousei questionar a suspensão da publicação da Série Pepe Carvalho, do escritor catalão Manuel Vázquez Montalbán (1939-2003), que vinha do tempo da saudosa ASA, e, em retaliação, a eucalíptica editora de Pais do Amaral não só não me respondeu, como, a partir daí, começou a atacar a minha caixa de correio electrónico com newsletters cheias de brindes e outras inutilidades editoriais. Já me desarrisquei uma série de vezes da lista de Leya, onde fui metido sem me pedirem licença, mas não adianta. A Leya não me larga. Persegue-me.
Ainda na passada terça-feira tentou vender-me "As memórias de Churchill e uma oferta exclusiva". Mandei para canto, mas aproveitei para, uma vez mais, anular o meu registo compulsivo na folha de distribuição do folheto de supermercado do grupo. Recebi de imediato a seguinte informação: "O seu pedido de cancelamento de subscrição da newsletter Mediabooks foi concluído com sucesso. A partir deste momento deixará de receber as Newsletters MediaBooks."
E pronto, o assunto ficou resolvido. Pelo menos durante dois dias. No sábado, a Leya fez-se de esquecida e voltou à carga, desta vez tentando seduzir-me com "Carolina Salgado:: Descida ao Inferno". E logo com a sostra da Carolina Salgado. Tarrenego!, digo eu.

sábado, 5 de novembro de 2011

A Anémona da Olá

Foto Hernâni Von Doellinger

Os vândalos voltaram a atacar a Anémona da Olá, também conhecida por Anémona de Matosinhos. Não sei há quantos dias foi perpetrado mais este ignominioso atentado de lesa-património, certamente pela calada da noite, mas só na manhã de ontem é que eu dei por ele. Desta vez, roubaram a peça fundamental do conjunto escultural concebido pela norte-americana Janet Echelman. Exactamente: os selvagens levaram o imenso lençol de plástico com o reclame dos gelados Olá que cobria quase metade do relvado da rotunda da Praça da Cidade São Salvador, sob a gigantesca "rede de pesca". E, sem o reclame dos gelados Olá, a parte restante do monumento ficou completamente esvaziada de conteúdo. É imperdoável. É uma vergonha.
E agora como é que os turistas que diariamente se acotovelam no andar descapotável do Yellow Bus, lutando pelo melhor ângulo para fotografar o mundialmente famoso Olá's Monument, com as bocas cheias de wonderful! e fantastic!, sabem que aquela é mesmo a Anémona da Olá? Como é que eles vão alcançar os intrínsecos significados e subsignificados de uma obra de arte manifestamente amputada do seu elemento basilar e essencial? E o que vão pensar eles da incúria de uma terra que assim deixa profanar, sem castigo e sem restauro, um dos seus mais sagrados ex-líbris? E digo ex-líbris com grande mágoa, mas a verdade é que, da forma que aquilo está, já não é líbris nenhum.
A autarquia matosinhense tem de fazer alguma coisa. E, das duas, uma: ou providencia e coloca imediatamente uma segunda-via do reclame dos gelados, se possível ainda maior do que o anterior, e fica o assunto resolvido, ou então o executivo camarário passa a reunir em permanência debaixo da rede do monumento, certificando a autenticidade do mesmo e explicando aos passantes, nacionais e estrangeiros, o porquê da Anémona da Olá.

(Mais em Olá, cá está ele!)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Austeridade

Ando a comer muito bem. Tenho um excelente apetite, que de momento não me convém. É melhor ir ao médico.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Já não há mulheres com bigode

Sempre gostei de ir a Ponte de Lima por causa do arroz de sarrabulho e dos bigodes das mulheres. Mulheres feias é ali. Feias e bigodudas. Basta um raio de sol espreitar por entre as nuvens e elas saltam todas não se sabe donde para as bordas do rio a arejar as carantonhas e respectivas piaçabas. Palavra de honra, é um espectáculo digno de ser visto. Comprar um cartucho de jornal cheio de castanhas assadas e comê-las, ainda quentes, enquanto observamos o mulherio, picadeiro acima, picadeiro abaixo, como num desfile de moda mas para bigodes fêmeos, nove pontos para aquela, treze para a das suíças, há lá melhor maneira de passar um pedaço de tarde! Não sei o que a bela vila alto-minhota tem, mas é assim que as coisas são.
Cuidado. Antes de me soltarem os cães, façam o favor de perceber que eu não disse que as mulheres limianas são bigodadas e feias. Não. O que eu digo é que, aos fins-de-semana e feriados, elas, as bigodadas e feias, concentram-se todas ali, à beira-Lima, como se fosse um congresso de camafeus ou um concurso de feieza. Numa dessas ocasiões, eu próprio fui confundido com a cantadeira de um rancho folclórico derivado às minhas barbas. De resto, não sei de onde elas vêm, nunca perguntei.

Anteontem, aproveitando o último feriado de Todos-os-Santos das nossas vidas, fui a Ponte de Lima e tive um desgosto. A vila mais antiga de Portugal, Ponte de Lima monumental e histórica, está mais pobre. As mulheres continuam particularmente feias, honra lhes seja, mas deitaram abaixo os bigodes. Sentei-me no banco do costume, junto à vendedeira de castanhas, queimei os dedos a comê-las, mas bigodes de mulheres, que era ao que eu ia, nem um para amostra. É lamentável. Os cremes depilatórios estão a dar cabo do nosso património.
Não sei se volto a Ponte de Lima. Ainda por cima, o arroz de sarrabulho também não estava grande coisa. Mas as castanhas eram bem boas.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ângelo Correia, abjecto de estudo

O palavroso Ângelo Correia inventou o primeiro-ministro de Portugal. Foi ele, Ângelo Correia, o criador do verdadeiro "monstro". Ângelo Correia, que também lançou Duarte Lima na política, é contra os "direitos adquiridos" dos pobres, mas acha que a ele, que é rico, ninguém lhe pode tirar a grandessíssima mama que os pobres lhe pagam todos os meses, porque é... "um direito adquirido". Ângelo Correia é um idiossincrático, é um burlão, é um abjecto de estudo. A televisão que o tem por conta, se mantiver a lata de o trazer ao ecrã sem o desmascarar perante os Portugueses, é a mesma merda.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

As últimas palavras de Steve Jobs, segundo a TVI

"Até na hora de morrer, Steve Jobs foi um vencedor, segundo a irmã. Saiba quais foram as últimas palavras do fundador da Apple", propagandeava ontem o sítio da TVI24, na sua secção de... Tecnologia. E querem saber mesmo o que disse o homem da Maçã ao despedir-se desta para melhor? Aguentam conhecer realmente as palavras que vão ficar para a História e que nos foram reveladas pela TVI? Segurem-se bem: Chegada a hora da morte, Steve Jobs disse "uau, uau, uau". Obrigado, TVI!