segunda-feira, 31 de março de 2025
Que se foda!...
O homenzarrão de calções de licra pelo joelho passou por mim no meu Passeio Atlântico, em Matosinhos, e naquele exacto momento despencou-se-lhe do extraordinário cinto multifunções um dos tais frasquinhos de plástico. Aos meus pés. Era novo e estava cheio. Eu, que só quero ajudar, gritei "Olhe, caiu-lhe um boião!", vergando-me para apanhar a garrafinha e levá-la ao dono, e bem me custou. O superatleta, talvez apenas cinco metros à minha frente, ouviu-me, sempre correndo, virou levemente a cabeça e sobretudo o braço direito num gesto redondo e grande, creio que metendo-nos no mesmo saco a mim e ao vasilhame perdido, para tonitruar, desportista até mais não:
- Que se foda!...
E continuou, a mil à hora, em busca do novo "recor".
domingo, 30 de março de 2025
Proibições que são convites
Foto Hernâni Von Doellinger |
Embora já andassem de Mercedes e/ou BMW, aqui há uns anos os senhores empreiteiros viam-se à rasca para perceberem onde podiam despejar o lixo que faziam nas demolições ou esburacamentos de início de obra. Não havia sítios de lei, largavam-no onde calhava, à noite, e fugiam. Atentas à insustentável situação e superpreocupadas com a defesa do ambiente e o bem-estar das populações, as autarquias portuguesas correram a criar uma rede de locais apropriados para o efeito nos montes à roda das vilas e cidades, de norte a sul do País. Em cada um desses locais jeitosos, os nossos preclaros autarcas mandaram colocar uma placa que avisava mais ou menos assim: "Proibido lançar entulho neste local - Coima até duzentos contos". E, pronto, os senhores empreiteiros ficaram a saber que era ali mesmo que podiam deitar o lixo.
Agora. Os meus amigos que batem umas cartas ali em baixo, naquela cantinho abrigado à beira-mar, têm uma preocupação naftalínica que eu compreendo. Arriscar bisca com cheiro a mijo deve ser uma merda. Por isso puseram um letreiro novo, melhoramento infelizmente sem inauguração pela senhora presidenta da Câmara de Matosinhos, mas sinalética em material nobre, upgrade como manda a sapatilha, passando do cartão canelado para a esferovite, e com uma mensagem indubitavelmente mais assertiva e acutilante. E no entanto, como na história dos senhores empreiteiros, "Atenção - Não urinar neste local - Obrigado", se formos a ver, só quer dizer, pelo contrário, WC...
sábado, 29 de março de 2025
À hora ou há ora?
sexta-feira, 28 de março de 2025
A diferença
A diferença entre os centros históricos e os centros histéricos está sobretudo na compostura. E na vogal do meio.
P.S. - Hoje é Dia Nacional dos Centros Históricos.
Centros históricos
P.S. - Hoje é Dia Nacional dos Centros Históricos.
quinta-feira, 27 de março de 2025
Sangue, suor e lágrimas
Ele era dador de sangue. De sangue, suor e lágrimas. Era realmente um dador esforçado e piegas.
P.S. - Hoje é Dia Nacional do Dador de Sangue.
Da velha escola
Sou realmente um tipo muito antigo. Eu sou do tempo, vede lá, em que os actores tinham cê!
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Teatro.
quarta-feira, 26 de março de 2025
António Rebordão quê?...
Uma vez, há catorze ou quinze anos, eu tive a sorte de almoçar com o escritor António Rebordão Navarro. Eu e mais três amigos e velhos camaradas de ofício, dos jornais, num acidental e feliz reencontro à beira-Douro, lá na Ribeira de Gaia. Falámos sobretudo de banalidades risíveis, como convém à mesa, mas era fatal chegarmos aos livros. Meti conversa, como quem não quer a coisa:
- Sabe que fomos praticamente vizinhos durante alguns anos? O senhor doutor ainda mora lá para a nossa Foz?...
- Ai tem o livro? Mas eu escrevi mais livros, escrevi para aí uns catorze... - cortou Rebordão Navarro, sem disfarçar o sorriso malandro como o arrozinho de feijão e legumes que lhe acompanhava os bolinhos de bacalhau com que se deliciava.
"A Praça de Liège" foi um sucesso tremendo aquando da sua publicação, em 1988. Era o livro da moda (pois se até eu o comprei!) e ganhou o Prémio Literário Círculo de Leitores. Na altura em que me encontrei com o autor, contou-me o próprio, no Círculo de Leitores já não sabiam quem ele era, quem era o escritor António Rebordão Navarro. Alguém do Círculo contactou a irmã do escritor por uma razão qualquer, a senhora falou do irmão e do famigerado prémio e obteve como resposta um lamentável
- Quem? Rebordão quê? Não conheço...
Pois é: a memória! As empresas enxotam quem sabe da poda, despedem os funcionários pelas mãos dos quais passaram os factos e as pessoas, preferem juniores renováveis e analfabetos, verdes como os recibos, fiam-se no Google e na inteligência artificial mas não vão lá. E depois ninguém sabe nada de nada, por manifesta estupidez natural.
Há anos que está a acontecer o mesmo nas redacções dos jornais portugueses e até se contam algumas saborosas anedotas a esse respeito. São de rir tanto, as anedotas, que às tantas até são verdade.
No que me diz respeito, e como penitência pela minha ignorância àquela data quanto à dimensão da obra literária de António Rebordão Navarro, que afinal era qualquer coisinha mais do que catorze títulos, aqui deixo o registo essencial, com sinceros votos de que faça também bom proveito à rapaziada do Círculo de Leitores: poesia - "Longínquas Romãs e Alguns Animais Humildes", 2005; "A Condição Reflexa", 1989; "27 Poemas", 1988; "Aqui e Agora", 1961; teatro - "Sonho, Paixão, Mistério do Infante D. Henrique", 1995; "O Ser Sepulto", 1972; crónica - "Estados Gerais", 1991; ensaio - "Juro Que Sou Suspeito", 2007; conto "Dante Exilado em Ravena", 1989; romance - "As Ruas Presas às Rodas", 2011; "A Cama do Gato", 2010; "Romance com o Teu Nome", 2004; "Todos os Tons da Penumbra", 2000; "Amêndoas, Doces, Venenos", 1998; "A Parábola do Passeio Alegre", 1995; "As Portas do Cerco", 1992; "Mesopotâmia", 1984; "A Praça de Liège", 1988; "O Parque dos Lagartos", 1981; "O Discurso da Desordem", 1972; "Um Infinito Silêncio", 1970; "Romagem a Creta", 1964.
P.S. - António Rebordão Navarro morreu no dia 22 de Abril de 2015. E Portugal adormecido parece que já não sabe quem é que ele foi, quem é que ele é, o que significa. Actualmente, acho isso mal. Para ignorante, bastava eu. Em todo o caso, hoje é Dia do Livro Português.
terça-feira, 25 de março de 2025
Funiculì, funiculà
segunda-feira, 24 de março de 2025
Turistas de natureza
domingo, 23 de março de 2025
Bastante desagradável
- Você também.
- Eu referia-me ao tempo.
- Eu não.
O agricultor excêntrico
Ele era um lavrador um bocadinho excêntrico. Semeava ventos e colhia tempestades. E depois vendia-as ao preço da chuva...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Meteorologia.
Os que dão o tempo
O que é que eles dão para hoje?
Os especialistas do tempo prevêem para hoje um dia com 24 horas.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Meteorologia.
sábado, 22 de março de 2025
O papel de uma vida
- Vou sair.
E saiu.
sexta-feira, 21 de março de 2025
A n.º 10 de Tomás Ribeiro Street
Foto Hernâni Von Doellinger |
À porta do meu prédio tenho uma árvore, tenho uma árvore à porta do meu prédio. Nunca poderei esquecer este acontecimento, com licença de Carlos Drummond de Andrade. A minha árvore é a número 10. Não sei por que razão as árvores são agora numeradas e etiquetadas. Nem percebo como é que as florestas antigas conseguiram salvar-se sem serem numeradas e etiquetadas. Sou um simples: acredito que tudo tem o seu propósito e contento-me com as coisas conforme elas se me apresentam. Para além disso, o número 10 parece-me um bom número.
Ei, ei, vique, ei, vique, ei!
quinta-feira, 20 de março de 2025
O beijo
Hoje é Dia da Língua Francesa. É oficial, está no calendário. Como não aproveitar?
P.S. - Hoje é Dia da Língua Francesa.
A táctica do duplo pivô
O problema da saúde oral
A questão é esta e é escusado vir agora com paninhos quentes. O problema da saúde oral, isto é, o verdadeiro problema da saúde oral, deixemo-nos de rodeios, porque, de uma vez por todas, é preciso dizer as coisas como elas são, quer-se dizer, é preciso chamar os bois pelos nomes, o problema da saúde oral, o verdadeiro problema da saúde oral é que a saúde oral, que ninguém me venha dizer o contrário, a saúde oral é só conversa. Exactamente! A saúde oral, e o que está dito está dito, a saúde oral é só conversa, paleio, treta, lábia, palavras, palavreado, saúde da boca para fora, saúde acima, saúde abaixo. Parlapiê e mais nada, não há meio de passar ao papel, e do papel aos actos. E assim estamos.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Saúde Oral.
quarta-feira, 19 de março de 2025
Quem sai aos seus
O mundo é pequeno (e um bocado parvo)
- Sou, com efeito, um bocado parvo, mas como é que o caro senhor adivinhou?
- Um pressentimento. É que eu também sou...
- O caro senhor também é um pressentimento?
- Não, não, caro senhor: também sou um bocado parvo.
- Como o mundo é pequeno! Somos então praticamente família...
- Parentes, pelo menos...
- E, mal que lhe pergunte, o caro amigo é um bocado parvo por parte da senhora sua mãe ou por parte do senhor seu pai?
- Por parte do senhor meu pai.
- Mas isso é extraordinário, caro amigo, porque eu também sou...
- O caro amigo também é um bocado parvo por parte do senhor meu pai?
- Não, não, caro amigo: sou um bocado parvo mas por parte do senhor meu pai.
- Oh, que pena! De repente, quase que éramos irmãos, não é?...
terça-feira, 18 de março de 2025
segunda-feira, 17 de março de 2025
Acampado no multibanco
domingo, 16 de março de 2025
O meu banco mente-me
Levantamento das Caldas
sábado, 15 de março de 2025
Taxistas compram eléctricos
Foto Hernâni Von Doellinger |
"Um milhão de euros para ajudar taxistas a comprar elétricos", anuncia em título o jornal digital O Minho, a propósito de uma notícia da agência Lusa. Eu acho muito bem, é dinheiro muito bem empregue. E é património que se salva. Porque os eléctricos fazem parte das nossas vidas, da nossa memória colectiva, e era uma peninha perderem-se. Que os comprem, que os recuperem e que os metam a uso, com ou sem carris, que é sempre outra largueza para os passageiros.
Batem leve, levemente
Foto Hernâni Von Doellinger |
Fui ver o 25 de Abril ao Porto. Porque, para quem não tem mais nada que fazer e é teso, o Porto é um sítio porreiro para se ver 25 de Abris e não é preciso comprar bilhete. No Porto há milhões de camones de passagem, milhares de portugueses desempregados coçando colhões e esquinas, trezentos e cinquenta portuenses residentes e uma praça e uma avenida destinadas ao 25 de Abril, às greves gerais, ao 1.º de Maio, aos carteiristas e aos vadios em geral, as quais, praça e avenida, são emprestadas pelo Sr. Pinto da Costa quando o Futebol Clube se esquece de ser campeão - o que em democracia é raro e altamente suspeito.
O 25 de Abril correu muito bem. Vintecincodeabrilou-se ali com grande pertinácia e depois acabou. Acabou, mas eu, que sou de lágrima fácil, estava com uma vontade de mijar que já não era só vontade, era um estado de emergência, e desatei a correr como um tolinho para o WC sob as escadinhas da Rua 31 de Janeiro com a Estação de São Bento e com a polícia de choque atrás de mim como se eu levasse um engenho explosivo na braguilha. Não levava. Estava apenas à rasca. À rasquíssima. E a retrete estava de portas fechadas. Por causa do feriado.
Que se segue: eu bem não queria, mas tive de ir, com uma mão à frente e outra atrás, às casas de banho da estação propriamente dita. Às tais, às míticas, às suspeitíssimas. O que se passou lá dentro não interessa, apenas faço questão de garantir que saí daqueles apertos com a honra invicta. A polícia, entretanto, desinteressou-me de mim e passou a perseguir um casal de lavradores do Marco de Canaveses que tinha vindo a uma consulta de otorrinolaringologia, ela com a infelizmência de um xaile vermelho às costas e ele com um saco de plástico na mão, sotaque da terra e "cara de marroquino". Nas varandas (ou sacadas, como se diz em Fafe) cantava-se "Grândola, vila morena" com uma afinação de oficina de automóveis. O relógio exterior de São Bento batia as quinze e quinze. A polícia também. Bate leve, levemente. Após a sova da ordem, as autoridades verteram nos autos que o perigoso saco continha um cartucho com 250 gramas de sementes de pepino compradas sem guia de remessa na Casa Hortícola do velho Bolhão, um toquinho de chouriço de colorau, meia sêmea, um taparuere com uma cebola da monda rachada em quatro e metida em sal grosso e vinagre tinto e dois olhos de azeite, uma garrafa de cerveja quase vazia de vinho, duas pastilhas avulsas para o enjoo e um canivete belga com seis centímetros de lâmina. Os dois indivíduos, um do sexo masculino e o outro não, entre os sessenta e os setenta anos, foram detidos por posse de arma branca. Os peritos em minas e armadilhas fizeram explodir o resto.
P.S. - Contava-se que havia um padre, famoso pregador, que fazia sempre o mesmo sermão. Só mudava o nome do santo. Ora bem: o grosso do texto acima foi publicado originalmente no dia 23 de Março de 2012 e para uma greve geral. Já o adaptei a um 1.º de Maio, pus-lhe depois o 25 de Abril e palpita-me que não vou ficar por aqui. Mas hoje? Hoje, 15 de Março, é Dia Internacional Contra a Violência Policial.
sexta-feira, 14 de março de 2025
O dia em que envelheci
quinta-feira, 13 de março de 2025
Falar pouco e bem, é raro quem
Em trinta palavras exactas, a senhora condutora disse tudo o que era necessário ser dito naquele momento, com objectividade, sem eufemismos nem semânticas, num português escorreito, directo, universalmente compreensível, eficaz. Responsável. A assunção do "erro de sinalização" e da "paragem brusca", a preocupação imediata com os passageiros. Mas ninguém se magoou.
Pensei: que exemplo extraordinário para os nossos comunicadores da treta, em tempos de crise política - governantes, ex-governantes, candidatos a governantes, candidatos a candidatos a governantes, políticos de uma forma geral, altos irresponsáveis, baixos responsáveis, autoridades civis, militares e religiosas, minhas senhoras e meus senhores, telecomentadores, radiofloricultores, trolhas conversadores, politólogos, peritos encartados, periquitos amestrados, vendedores de retroescavadoras com luzinhas, taxistas, barbeiros, enchedores de chouriços, especialistas em sarrabulho e fumeiro, jornalistas tremendistas e endrominadores para todo o serviço, que falam, falam, falam, não fazem nada (como diria o Ricardo Araújo Pereira), e eu percebo tudo o que eles dizem, mas nunca sei do que é que falam...
quarta-feira, 12 de março de 2025
Querem é sexo
Há outros leitores, igualmente solitários e amantes dos trabalhos
manuais, porém de hábitos um pouco mais arejados e produtivos (a
jardinagem ou a culinária, por exemplo), que contactam comigo através de
senhas como "Alberto João", "o seringador", "arroz de polvo carolino ou
agulha", "esquerda caviar", "onde comer sardinhas", "Anthony Bourdain",
"ah faneca!", "tomates" e "moelas de coelho".
Sobretudo "moelas de coelho". Percebo também que fiquem desconsolados
com o que tenho para lhes dar e não posso levar a mal o raspanete que
achem por bem,
embora eu não lhes faça caso. Já agora: para o polvo,
arroz carolino. Foda é o cordeiro assado no forno em Monção. E é claro
que os coelhos não têm moelas, mas o meu amigo
Peixoto, em Fafe, cozinhava-as muito bem.
Quase que só sobram então os americanos, os russos e os alemães, que são
sempre os primeiros a chegar e, honra lhes seja, não me largam. E
é muito fácil mantê-los interessados. Basta-me meter um texto
qualquer com uma ou mais destas inocentes palavras: "terrorismo", "EUA",
"Putin", "Trump", outro que o que quer é sexo, "Obama", "Biden", "Saddam Hussein", "Al-Qaeda", "Estado
Islâmico", "Israel", "Afeganistão", "Irão", ainda que do verbo ir,
"Merkel", "Papa", "armas" ou "Bomba", ainda que seja eu ou o meu avô, e
meia dúzia de segundos depois já cá estão eles a bater-me à porta. É
automático.
O que eles querem sei eu. No fundo, anda tudo ao mesmo: querem sexo,
como os das "mamas" e das "prostitutas". Querem ver se me fodem, com
licença da palavra. Mas também vêm ao engano.
(E depois há os casos que podem ser sérios. Como ainda aqui atrasado, quando alguém cai no Tarrenego! com a terrível conjugação de palavras-chave "quero denunciar o meu pai que me maltrata". Peço desculpa pela inadvertida pista falsa e espero sinceramente que quem estava aflito, se assim era, tenha encontrado noutro sítio, nos sítios certos, que os há, a ajuda de que precisava.)
P.S. - Publicado originalmente no dia 27 de Março de 2012 e posteriormente acrescentado e actualizado. Hoje é Dia Mundial Contra a Censura na Internet ou Dia Mundial Contra a Cibercensura, o que teria muito que se lhe dissesse.
terça-feira, 11 de março de 2025
No que respeita à canalização
E havia necessidade?
segunda-feira, 10 de março de 2025
A cor da lei 2
A lei é muito clara. E é disso que se queixam as organizações anti-racistas.
P.S. - Hoje é Dia Internacional das Juízas ou Dia Internacional das Mulheres Juízas.
A cor da lei
- A lei é muito clara! - declarou o juiz. E mandou pintar num tom um bocadinho mais abaçanado.
P.S. - Hoje é Dia Internacional das Juízas ou Dia Internacional das Mulheres Juízas.
Naturalmente platinado
domingo, 9 de março de 2025
Hoje é um dia muito importante e amanhã ainda mais
sábado, 8 de março de 2025
As mulheres e eu
Mulheres e raparigas que, se por acaso me apanham a caminhar com a minha mulher, de mão dada, deitam de antecedência os olhos ao chão, zapam por nós como se não nos vissem, comprometidas, como se não me conhecessem de lado nenhum, como se eu fosse ninguém.
Quer-se dizer: o que é que elas pensam? O que é que elas pensavam? De que é que estavam à espera? Eu sou apenas o velho simpático, porra!
sexta-feira, 7 de março de 2025
Mais valia
P.S. - Hoje é Dia de Apreciação do Empregado.
O silêncio de Deus
- Não, Deus nunca me disse nada.
- É portanto ateu, agnóstico talvez, ou digamos indiferente...
- Por acaso até sou crente, religioso e bastante praticante.
- Mas diz que Deus nada lhe diz...
- Pois é. Falo muito para o boneco...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Oração.
Amem em vez de amém
No fundo, o Papa apela aos cardeais, bispos e padres para que metam na devida ordem as suas próprias urgências pastorais, para que se organizem em bondade e misericórdia, para que (re)aprendam a distinguir o essencial do acessório, para que se deixem de cinismos. O Papa acorda-os para o mundo e para Deus. Pede-lhes que sobretudo amem - tão simples como isto.
O Papa quer que os cardeais, bispos e padres saiam das suas zonas de conforto, das cadeirinhas de fiscais de consciências e julgadores de comportamentos e práticas onde boloram há que séculos. E que amem o próximo, como foram ensinados a pregar aos outros. Mas podem ficar descansadas as almas mais conservadoras e sacristas. As palavras de Francisco não são senha para a revolução. Parecem-me até declarações retrógradas, reaccionárias sem sombra de dúvida: devolvem-nos ao princípio, aproximam-nos de Deus - que é Amor -, mandam-nos de volta ao que Jesus nos ensinou.
Isto foi há onze anos, o Papa está às portas da morte, e eu ainda não vi nada.
quinta-feira, 6 de março de 2025
O campeão
Chamam-lhe "bloco baixo"
quarta-feira, 5 de março de 2025
Somos pó
Católico, abstinente e automortificante
E na Quaresma? Quarta-Feira de Cinzas e todas as sextas-feiras, de castigo, come bife com batatas fritas ao almoço e bife com batatas fritas ao jantar. É que ele gosta mais de peixe. Com batatas cozidas...
terça-feira, 4 de março de 2025
Já não há mulheres com bigode
Foto Hernâni Von Doellinger |
Cuidado. Antes de me soltarem os cães, façam o favor de perceber que eu não disse que as mulheres limianas são bigodadas e feias. Não. O que eu digo é que, sobretudo aos fins-de-semana e feriados, elas, as bigodadas e feias, concentram-se todas ali, à beira-Lima, como se fosse um congresso de camafeus ou um concurso de feieza. Numa dessas ocasiões, eu próprio fui confundido com a cantadeira de um rancho folclórico derivado às minhas barbas. De resto, não sei de onde elas vêm, as mulheres abigodadas, nunca perguntei.
Vou a Ponte de Lima desde pequenino, desde o tempo das excursões ao Alto Minho organizadas pelo meu avô da Bomba, sobrevivente dos sete ofícios. Aqui atrasado tornei lá todo contente e tive um desgosto muito grande. A vila mais antiga de Portugal, Ponte de Lima monumental e histórica, bela, tradicional, está mais pobre. As mulheres continuam particularmente feias, honra lhes seja, mas deitaram abaixo os bigodes. Sentei-me no banco do costume, junto à vendedeira de castanhas, queimei os dedos a comê-las, mas bigodes de mulheres, que era ao que eu ia, nem um para amostra. É lamentável. Os cremes depilatórios estão a dar cabo do nosso património.
Não sei se volto a Ponte de Lima. Ainda por cima, o arroz de sarrabulho também não estava grande coisa. Mas as castanhas eram bem boas.
P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Novembro de 2011. Ponte de Lima festeja hoje os seus 900 anos de vila. Muitos parabéns!
Um dia com os dias contados
É fartar, vilanagem!..
Aliás, o Dia Mundial da Obesidade está obviamente condenado, por indecente e má figura. Para o ano decerto já não há. Porque a obesidade é do obeso e o obeso é gordo, e isso são palavras que hoje em dia não se dizem. Já nem nos livros. Nem nos filmes. Evidentemente.
segunda-feira, 3 de março de 2025
Torna! Torna! Torna!
Dizia o povo antigo, na sua proverbial sabedoria, que os de Guimarães esfolam gatos e matam cães. Eu parece-me que devia ser proibido...
Torna! Torna! Torna! - gritava-se quando o gado fugia, implorando o socorro de quem por ali andasse e ouvisse e, de braços abertos balançantes e palavras mansas, pudesse suster, sossegar e encarreirar de volta os animais. Tornar era mandar para trás. Era como quem dizia "Cerca! Cerca! Cerca!", versão mais em uso pela moçarada para animar as hostes, convocar reforços e impedir a fuga dos da outra rua, em plena emboscada à coiada por causa do golo que não valeu, e mais ainda nem havia VAR. "Torna! Torna! Torna!" era também grito de guerra dos equívocos caça-cães fafenses, armados de redes, laços de contenção e palavrões de diversos calibres, levando a eito para o matadouro canídeos ostensivamente vadios ou, por azar, apenas sem dono à vista.
Para apanhar perigosos fujões, isto é, crianças com medo da pancada em casa ou bandidos sem medo nenhum, berrava-se igualmente "Torna! Torna! Torna!", como aconteceu daquela vez com o desgraçado oficial de justiça a correr atrás do preso que se lhe escapuliu à porta do Tribunal, de mãos algemadas mas pé ligeiro, e só foi agarrado já no nosso Santo, à força da ajuda do povo, quase em frente às Ferreira Leite e à Milinha Vaqueiro, que também saltaram para a molhada. "Torna! Torna! Torna!" era, em Fafe, o clamor de recaptura pelos tresmalhados em geral. Claro que também havia o "Toma! Toma! Toma!", que eu sabia dos robertos na televisão e uma maré, pelas feiras ou festas, vi ao vivo num biombo montado em Baixo da Arcada. E o "Tora! Tora! Tora!", mas isso, evidentemente, já é outro filme.
domingo, 2 de março de 2025
Domingo Inteiro
sábado, 1 de março de 2025
Apois, se não for antes
O chichi e a discriminação de género
P.S. - Hoje é Dia da Discriminação Zero.