Foto Hernâni Von Doellinger |
domingo, 30 de junho de 2024
Gorilas da Bruna
Bruna é uma youtuber bastante influencer. Elegante, bonita, regularmente recauchutada, famosa por ser famosa, esbanja sensualidade por tudo e por nada e enriqueceu por causa disso. Bruna mal pode sair à rua como as outras pessoas, isto é, põe um pé fora da porta a caminho da piscina por exemplo em Ibiza e multidões de adoradores caem-lhe em cima. Bruna tem milhões de seguidores. De perseguidores. Para fazer uma vida normal, viu-se até obrigada a contratar dois possantes seguranças, ou guarda-costas, à Kevin Costner, ou gorilas, como também se diz, que não a largam um segundo e vão com ela a todo o lado, inclusive à casa de banho por exemplo nas Maldivas. São conhecidos como os gorilas da Bruna.
P.S. - Hoje é Dia Mundial das Redes Sociais.
sábado, 29 de junho de 2024
sexta-feira, 28 de junho de 2024
A culpa é do Espírito Santo
Tudo bons rapazes
E já muito facilita o Vaticano, quedando-se pelos simpáticos septuagenários ou octogenários. Basta pensar que, biblicamente, Moisés viveu até aos 120 anos, Jacob até aos 147, Abraão até aos 175, Adão até aos 930, Noé até aos 950, e Matusalém, filho de Enoque, pai de Lameque e avô de Noé, faleceu inesperadamente aos 969 anos.
(Evidentemente também há João XII, que chegou a papa aos 18 anos, dormia com as prostitutas do pai, teve relações sexuais com a própria mãe, castrou um dos seus cardeais, cegou outro, torturou quem lhe desprazia e acabou por morrer com uma valente marretada na cabeça, gentilmente oferecida pelo marido cornudo de uma das suas incontáveis amantes. Mas isso não é desculpa.)
Não sei se sabem: todos os católicos são teoricamente elegíveis para papa. Basta-lhes serem, obviamente, baptizados, maiores de idade e homens, embora depois devam vestir saias. Isto é, eu posso ser papa, um sétimo de toda a população mundial pode ser papa, depois, na questão das saias, cada um seria para o lado que der.
Só que as eleições no Vaticano não são directas e universais. Votam apenas os cardeais, lacrados no chamado conclave, onde, nas horas mortas, contam anedotas picantes uns aos outros e fazem malha. E se votam apenas os cardeais (120 no máximo, "em nome" de cerca de 1272 milhões de almas), porque é que os velhinhos haveriam de escolher para patrão o Silva dos Plásticos, que, sendo embora uma pessoa estimável e comerciante respeitado, não lhes pertence de lado nenhum?
É! Aquilo é coisa entre padrinhos e afilhados. Como na máfia, Deus lhes perdoe...
As orelhas andam geralmente aos pares
As orelhas produzem cera, cotão e pêlos, materiais altamente combustíveis. As orelhas ardem: se for a orelha direita, é porque estão a dizer bem de nós; se for a orelha esquerda, é porque nos estão a rogar na pele. É o que diz o povo. Se arderem as duas orelhas ao mesmo tempo, o melhor é chamar os bombeiros. As orelhas também deitam fumo sem fogo, pelo menos nos desenhos animados.
Existem várias qualidades de orelhas, como por exemplo orelhas de elfo, orelhas de abano, orelhas de rato, orelhas de gato, orelhas-de-lebre, orelhas-de-ovelha, orelhas de macaco, orelhas-de-abade, orelhas-de-judas, orelhas moucas, orelhas-de-mula e, passando à política, orelhas de burro.
As orelhas doem e quando doem chamam-se ouvidos e muitos nomes feios. As orelhas são vizinhas de porta do esternocleidomastóideo, que é o músculo mais famoso do mundo à pala do Vasquinho da Anatomia. As orelhas, em situações extremas, servem também para a nossa alimentação. Neste caso, para disfarçar a antropofagia, chamam-se orelheira. Em tempos de crise como os que vivemos, e agora com a entrada do Verão, é preferível que se sirva fria, como a vingança, mas com molho-verde.
Às vezes as orelhas dão jeito para ouvir. Ouvir é geralmente bom e é derivado às orelhas. Eu gosto muito de orelhas e tenho duas. De momento.
P.S. - Hoje é Dia Internacional do Piercing Corporal.
A ordem natural das coisas
quinta-feira, 27 de junho de 2024
Fafe, entre o zumba e o bum bum
quarta-feira, 26 de junho de 2024
Amor à camisola
Choque em cadeia
O denunciante
Órgãos no mercado
Evasão
À sombra
terça-feira, 25 de junho de 2024
O perigo de beber água
"Uma turista morreu em Amsterdão por ter bebido muita água em pouco tempo, quando estava sob o efeito de drogas." - informava o JN. É o que eu estou farto de dizer, mas ninguém me liga: beber água é um perigo. Esta turista, por exemplo, estava na boa, na sua, normalmente, "sob o efeito de drogas", e morreu porque... bebeu "muito mais do que dois litros de água". A puta da água, esse vício! Portanto, drogue-se à vontade mas beba vodca, por amor de Deus! Sele a torneira da companhia, para sua segurança. O JN avisou. Muito obrigado, JN!
P.S. - Hoje é Dia Internacional de Luta Contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas.
Mais vale fracassar do que sucessar
segunda-feira, 24 de junho de 2024
Na minha rua passa o mar
O meu barbeiro, que aqui atrasado não acreditou em mim quando eu lhe disse que não era mudo, estava o barbeiro mais feliz do mundo. Pasmado, de pente e tesoura suspensos no ar, como bailarina sevilhana pronta a tocar castanholas. O paleio ia de vento em popa. O meu barbeiro servia à pinta. Os barbeiros são óptimos a servir à pinta. Que "Sim" e que "Sim" e que "Sim" e que "Sim", "Sim senhor", "Não me diga", "Parece impossível", "A sério?", "A sério?". Falámos por mais de quarenta anos de silêncio. Mas conversa sobre barcos leva longe: já íamos nos fados, vejam bem. Olhei para trás e não vi terra, a minha varanda, o meu farol. Tive medo e parei ali. Levantei a mão direita numa saudação índia atabalhoada, fiz "Ugh!", paguei e nadei aflito até casa.
Porque na minha rua passa o mar.
(Mas ainda ouvi. À roda da cadeira do meu barbeiro começavam a sair os primeiros acordes de La Boda de Luis Alonso, com a intrañable Lucero Tena castanholando.)
domingo, 23 de junho de 2024
Um bocado cigano
O cigano e o sapo
Isaltino, sempre um passo à frente
sábado, 22 de junho de 2024
Olha a triste viuvinha
O homem da casa falecia, por esta ou por aquela razão, às vezes inadvertidamente mas geralmente por razão de força maior, e a família tinha logo uma carga de trabalhos, um rol de importantes decisões a tomar, a primeira das quais era pegar na roupa toda da recém-viúva e mandá-la para a tinturaria, que, se não me engano, ficava ali ao lado do Foto Victor e da entrada para o Senhor Fernando Enfermeiro, junto aos Correios, na hoje muito justamente chamada Rua Dr. António Marques Mendes. A roupa ia para tingir de preto, a roupa e a vida da viúva dali para a frente. Viúva em flagrante delito. Fafe tomava conhecimento e não perdoava. Ser-se viúva era uma sentença automaticamente transitada em julgado, um castigo, provavelmente divino, para todos os efeitos. Viúva sem apelo nem agravo. Com penitência mas sem perdão. Doravante, proibida a cor, proibida a alegria, proibido o riso, proibido o sorriso. Sair de casa, apenas para a missa, ida pela volta, nem mais um minuto, encostada às paredes e de olhos no chão e bico calado. Atenção ao comprimento da saia, ao cabelo! Xaile, era preciso muito xaile. E lenço preto escondendo a cabeça, a cara. Os holofotes apontavam para a porta, tomando conta de entradas e saídas, a horas ou fora delas, que nem as havia. A mulher ficava marcada, não lhe viesse de repente a tentação. Quer-se dizer, era viúva e já não mulher. E começava por ficar pelo menos quinze dias metida na cama, tapada até ao nariz, sem rádio, sem televisão que não tinha e com as luzes sempre apagadas, sozinha, sozinha, sozinha, compulsivamente afastada dos próprios filhos, crianças, alimentada a canjas e venenosas recomendações das putas das vizinhas, onzeneiras e mal-fodidas, para se ir habituando ao resto da vida. E esta merda toda, ainda por cima, porque o marido lhe morreu.
P.S. - Hoje é Dia Internacional das Viúvas. Lamento informar.
Os dias inúteis
Onde é que estas sumidades acéfalas foram buscar a peregrina ideia de que os meus melhores dias não prestam? Eu, que tenho a mania de ser antes pelo contrário, desrespeito-os, desobedeço-lhes e contrario-os com quanta força consigo, e gozo como um perdido nos fins-de-semana e correlativos. Por acaso até são os meus dias mais úteis, a minha mulher que diga.
Depois, chateiam-me as "horas de expediente", expressão tão prestável ao duplo sentido e que sempre me deixou com a pulga atrás da orelha. A minha dúvida é apenas esta, segredada pela pulga residente: será que, das 9 às 17, nas Finanças, no Registo, nas autarquias ou nos ministérios, o papel do funcionalismo passa por lançar mão de todos os truques e armadilhas possíveis e inimagináveis para nos infernizar a vida e sacar-nos tudo, até o cotão dos bolsos, a mando do Estado? Então mais vale ir lá bater à porta depois do fecho dos serviços. Pode ser que, sem a obrigação do expediente, sejamos enfim atendidos com honradez.
P.S. - Hoje é Dia das Nações Unidas para o Serviço Público.
Isaltino, o meu herói
sexta-feira, 21 de junho de 2024
Raios e Corisco
Como se sabe, Zeus é o pai dos deuses, o deus dos céus, dos raios e dos relâmpagos, o fiscal que mantém em sentido toda a mitologia grega, e em Roma chama-se Júpiter. Os raios eram lanças muito grandes produzidas em série pelos gigantes ciclopes, criaturas de um olho só, como a gaita do Bitó. Estas lanças, suponho que de fogo, depois de prontas eram entregues ainda quentinhas a Zeus, que as atirava com toda a força sobre os homens pecadores e arrogantes, quanto mais longe melhor, e assim começaram os Jogos Olímpicos.
Foi aí que apareceu o Franklin. Benjamin Franklin, polímata americano que, entre outras habilidades, inventou o pára-raios, segundo aprendi na Escola da Feira Velha. E foi a nossa sorte. Assim se livrou a humanidade da fúria de Zeus, regra geral, e dos seus raios e coriscos. O Corisco, faço notar no entanto, era um cãozinho de banda desenhada no antigo jornal O Primeiro de Janeiro, que morreu sem que ninguém em Portugal se importasse. O jornal. Se fosse um cão, seria uma tragédia...
Ó gente ousada, mais que quantas
Isaltino dá-lhes baile
O semanário Sol fez as contas no passado dia 5 de Dezembro e chegou à conclusão de que o presidente da Câmara de Oeiras vinha interpondo um recurso por mês desde que foi condenado em 2009 a sete anos de prisão pelos crimes de corrupção, fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e abuso de poder - pena que foi depois corrigida para dois anos pela Relação de Lisboa, que anulou a condenação por corrupção e abuso de poder.
Entre recursos propriamente ditos, respostas a recursos do MP, respostas a respostas do MP sobre os seus próprios recursos, arguição de nulidades, pedidos de correcção de despachos e simples requerimentos ao Tribunal de Oeiras, Isaltino apresentara desde 2009 quase 30 exposições dirigidas a diferentes tribunais que apreciaram o seu processo.
Só em Novembro, após a sua prisão e imediata libertação, o autarca apresentou 14 requerimentos. E na última semana daquele mês houve dias em que os seus advogados enviaram três exposições à juíza.
Tudo isto é feito ao abrigo da lei, mas os enormes recursos financeiros do autarca é que têm alimentado este incessante processo de adiamentos em cadeia visando, em última instância, a prescrição dos crimes. Ainda segundo o Sol, Isaltino já tinha gasto, no final do ano passado, mais de 90 mil euros para tentar evitar a prisão. Fora destas contas estavam os honorários com os seus advogados, assim como o custo de um parecer de um escritório de advogados suíço. Só em taxas de justiça pelos sucessivos recursos interpostos, Isaltino já tinha despendido mais de sete mil euros.
É. A ministra Paula Teixeira da Cruz tem toda a razão. "Neste momento em Portugal há uma justiça para ricos e outra justiça para pobres". Mas chamar-lhe "justiça" parece-me um bocadinho exagerado.
P.S. - Não vos deixeis enganar. Este texto escrevi-o aqui no dia 25 de Janeiro de 2012, já Isaltino e a Justiça brincavam às escondidas, muito entretidinhos, e a história continua. É, pelos vistos, uma história interminável...
quinta-feira, 20 de junho de 2024
Ele, elas e a salada russa
Foto Hernâni Von Doellinger |
De salada russa, quem percebia era o Landinho, o nosso Menino, que me desculpem a Sónia Tavares e a Bárbara Guimarães e, já agora, aproveitem e assoem-se a este guardanapo! Quem for antigo e de Fafe sabe disto muito bem e também sabe que o verdadeiro nome da salada russa, em português, é maionese, evidentemente, aliás "manganésia", como lhe chamava o Landinho com toda a propriedade.
O nosso Menino pelava-se por um bom pratinho de "manganésia", mas a verdade tem de ser dita: só comia se lhe dessem. E às vezes tinha de fazer por isso. Em todo o caso, nunca ousou actuar de penetra nem comeu pela calada, como quem não quer a coisa, nem há notícias de que tenha perpetrado figuras tristes para encher a mula à pala e em sonsa contravenção. Nada disso. Parecendo que não, o Landinho sabia estar, tinha classe, pedia, e isso faz toda a diferença...
A girafa
Foge, Isaltino, foge!
Se Isaltino fosse para a cadeia, cadeia a sério, os outros piratas todos iam fazer pouco dele, sobretudo dois: o pirata Alberto João e o pirata Vale e Azevedo, cada qual na sua ilha de piratas privativa. Gargalhariam, no intervalo de mais uma caneca de rum, bebida por videoconferência: este gajo é mesmo parvo! Mas, repito, Isaltino não é parvo, é Morais.
Nos filmes americanos, mesmo antes do The End, gosto de ver os malandros diplomados, piratas de todos os feitios, já livres de perigo e refastelados ao sol, lambuzando-se com lagostas e gajas boas numa praia tropical mais conhecida do que os tremoços, mas que a justiça portuguesa, por não ter GPS, nunca sabe onde é que é. E penso: quem me dera ser pirata...
É o que eu estimo, do fundo do coração, ao nosso Isaltino, que não é menos do que os outros piratas só por ser um pirata português. Palavras para quê? Vai, Isaltino, vai, e não olhes para trás! Vai pela sombra e encontra a tua ilha ao sol. E deixa um milhãozito na conta deste teu sincero admirador, que não te faz diferença nenhuma e ficas aqui com um sobrinho para toda a vida.
O cartaz das Festas
As Festas, se as chamo assim com maiúscula, só podem ser umas: as da Senhora de Antime, que já foram da vila, depois do concelho, agora da cidade, mas isso não interessa para nada, porque elas são é da Senhora de Antime. E cartaz, quando digo cartaz, quero dizer aquele papelão com desenhos ou fotografias, letras e números que anuncia as Festas, só para as situar no tempo, obra de autor, uma marca, um marco, talvez agora se chame qualquer coisa em inglês, mas não faço a mínima ideia. Cartaz, para mim, não é a lista de quem vai cantar a Fafe, quero lá saber. Isso, se calhar, é o programa, mas também me é indiferente - chamem-lhe os nomes que quiserem.
Ora bem. Fafe é uma terra de artistas, ó se Fafe é terra de artistas!, é e não são assim tão poucos, e cada um mais artista que o outro, uma fartura só comparável à ausência de um verdadeiro cartaz para as Festas há não sei quantos anos. Vejo disso em todo o lado, cartazes de categoria, em festas de caracacá e terras assim-assim, às vezes autênticas obras de arte, material de colecção, e eu, fafense e sem nada, fico envergonhado, triste e invejoso.
Custará assim tanto abrir um concurso anual para a criação de um cartaz para as Festas? O bum bum Brasil é importante, contra isso nada, nesse ponto estou plenamente de acordo com o senhor presidente da câmara, eu próprio sou um conceituado apreciador de glúteos quando do sexo certo, é portanto dinheiro muito bem gasto pelo Município, investimento como deve ser, mas, mal que pergunte, não sobrará qualquer coisita no orçamento autárquico para usar também na promoção de outras partes do corpo, vamos admitir que quase tão importantes, como, por exemplo, a cabeça?
quarta-feira, 19 de junho de 2024
Mas com respeito...
- Valso.
- E polca?
- Polco.
- E tuísta?
- Tuísto.
- E foxtrota?
- Foxtroto.
- E bolera?
- Bolero.
- E zumba?
- Zumbo.
- E rumba?
- Rumbo.
- E fandanga?
- Fandango.
- E vira?
- Viro.
- E tanga?
- Olha o respeito!...
terça-feira, 18 de junho de 2024
Estou mortinho pelo Verão
Estou mortinho pelo Verão. O calor, a praia, o mar, a areia, os biquínis, as sungas, as bolas, o Algarve. Uma vez fui ao Algarve. Fui, palavra de honra, em 1981, se não estou em erro. E, quer-se dizer, nunca mais!
segunda-feira, 17 de junho de 2024
Quando o telefone toca
E nisto estamos. Ou não estaremos?
O fim do mundo em cuecas
Estes filmes fazem-me acreditar na redenção da humanidade. Os sobreviventes são a esperança num futuro melhor. Isto por um lado. Por outro: mas qual futuro e quais sobreviventes? Se o mundo acabou, como é que há sobreviventes?
P.S. - Hoje é Dia Internacional do Pânico.
Pela família, tudo!
Convidou a parentela considerada mais próxima, vinte pessoas e treze crianças. Marcou restaurante para as duas em ponto. Encomendou azeitonas, bacalhau assado no forno e tripas à moda do Porto, bebidas e sobremesa à escolha de cada qual. Pediu pratos de plástico, copos de plástico, talheres de plástico, correntes de ar, moscas e se possível formigas. Era a sua vez de organizar o tradicional piquenique de família e ele queria tudo como deve ser.
Comer da boca para fora
Assim e assado
- Há dias assim.
- E assado?
- Aos domingos.
P.S. - Hoje é Dia da Gastronomia Sustentável. E Dia Internacional do Sushi. E Dia Internacional do Piquenique.
domingo, 16 de junho de 2024
O Alto das Freiras e outros pecados velhos
Agora, Alto das Freiras porquê, isso é que eu já não sei. E não é que não me lembre, que se calhar me tenha esquecido, não, na verdade nunca soube, nunca fiz nem faço a mais pequena ideia. Cheguei a imaginar que era dali que saíam as irmãzinhas que tomavam conta do Hospital, incluindo a "Mamer", a primeira dona daquilo tudo, ainda hoje suspeito que sim, mas nunca ninguém mo confirmou capazmente nem alguma vez vi documento que o garantisse, e portanto continuo neste impasse. Em todo o caso, um sítio assim chamado Alto das Freiras, e ainda por cima com pionono e garrafinha, punha-me a cabeça às voltas. Eu sempre fui um bocado tolo e, confesso, bastante dado a elucubrações amiúde lúbricas e libidinosas, desculpem-me a expressão, porque ele há palavras que realmente nos levam por maus caminhos, e "elucubração", "lúbrica" e "libidinosa" são dessas tais, sugestivas até mais não, gráficas como nem era preciso, palavras estuporadas, descaradas e fonéticas, das que dizem logo ao que vão, xô diabo vem cá toma!
Que se segue. O busílis nem estava bem no alto das freiras, que, no entanto, por si só, bem trabalhadinho, já daria pano para mangas. O problema era meter na mesma frase, no mesmo pensamento, as palavras freiras, alto, pionono e garrafinha. E agora dizem que também tem mamoas. Estão a ver o filme? Estão a ver onde é que ia parar a minha cabeça-de-alho-chocho?
Ademais, a fama do monte andava pelas ruas da amarguras. Ou pelas alamedas dos prazeres, consoante o ponto de vista. Naquele tempo não havia motéis, os carros eram poucos e as quelhas e os montes prestavam-se ao necessário, eram albergue de amores ilícitos, clandestinos, era ali que tudo acontecia. E ia-se ao monte. Ia-se ao monte esgaçar umas pernadas de carvalho para o trono da cascata do Santo António da minha rua, ia-se aos fentos ou ao mato para o eido ou às giestas secas para espertar a lareira do chão da cozinha, ia-se brincar aos cobóis, ia-se cagar ao monte e ia-se ipso facto dar umas trancadas, e o que eu gostava da palavra trancadas, mesmo sem ainda conseguir alcançar o que ela quereria dizer, não desfazendo do Trancadas propriamente dito, que era um barbeiro estabelecido na vila, mesmo ao lado do tasco do Neca do Hotel.
E hoje? Hoje as antigas quelhas são avenidas e os velhos montes são urbanizações. Resumindo e concluindo, não sei como é do amor em Fafe.
(Em apêndice. Só para os sacristas do costume, faço notar que o próprio Papa garantiu, há dois ou três dias, que se pode brincar com Deus. E, se se pode brincar com Deus, como disse Francisco, muito mais se pode brincar com freiras, digo eu. Creio, aliás, que elas até agradecem.)
sábado, 15 de junho de 2024
Pela medida grande
Vinho, branco ou tinto, e açúcar, de preferência amarelo. Mexe-se com uma colher se houver, ou com os dedos. Da mão. Junta-se-lhe cerveja ou, para coninhas, seven up. O equilíbrio das quantidades fica ao gosto do fabricante. Chama-se a isto "receita" ou "remessa" e deve beber-se bem fresco, mas sem gelo, porra! Os coninhas podem chamar-lhe cocktail...
Ora bem. Hoje é Dia Internacional das Remessas Familiares, e neste caso as quantidades devem ser calculadas, ajustadas e acrescentados em função do número de parentes presentes. Se, em famílias mais numerosas e capazmente apreciadoras, uma infusa não for suficiente, então a remessa pode muito bem ser elaborada e servida num cântaro, num balde, num alguidar, numa bacia, no depósito da água, no tanque ou na banheira, se estiver de vago.Rita, Rita, limão
sexta-feira, 14 de junho de 2024
quinta-feira, 13 de junho de 2024
Metia-se a cotio e pronto
quarta-feira, 12 de junho de 2024
Palavras para quê? Era um artista português...
Eu, que sou dos tempos áureos do Restaurador Olex, também usei a Couto durante mais de um quarto de século, julgo que inicialmente "receitada" pelo extraordinário Quinzinho da Farmácia, o "médico" dos pobres de Fafe, o melhor médico de família que Deus ao mundo botou, ainda os médicos de família não tinham sido inventados. Aquela coisa de ser "Medicinal" no nome do meio também me convencia, tenho de confessar. E só a larguei após sucessivas tentativas falhadas para fazer sequer mexer uma cadeira de plástico com os dentes e depois de ir ao dentista pela primeira vez na vida, aos 45 anos.
A Couto nasceu no Porto há 92 anos, quando não era natural um preto de cabeleira loira e um branco de carapinha. A fórmula da "Pasta Medicinal" foi registada a 13 de Junho de 1932 e prometia não só lavar os dentes, mas também protegê-los dos malefícios da sífilis e evitar as infecções das gengivas. Em 2001, por imposição das normas comunitárias relativas a este tipo de produtos, a marca foi obrigada a deixar cair a tão sedutora quanto conveniente designação de "Medicinal", passando a chamar-se simplesmente Pasta Dentífrica Couto. Até hoje.
Em 2012, o então principal accionista da empresa Couto, em Vila Nova de Gaia, anunciou que tinha dois pretendentes à compra da marca. Um da área da cosmética e outro do sector farmacêutico, ambos com intenções de "aumentar mais as vendas". O negócio deveria ser fechado até 2017. Não sei se foi. Mas também hoje em dia as cadeiras são muito mais leves...
Idoso e embriagado
O título da notícia diz: "Idoso de 83 anos apanhado a conduzir embriagado em Braga". Embriagado, e depois? Condutores bêbados é o que mais há, quase que faz parte em Portugal. O espanto, para mim, é alguém ter sido apanhado a conduzir aos 83 anos...
terça-feira, 11 de junho de 2024
Filipe La Féria, o supersupremo
segunda-feira, 10 de junho de 2024
Porque não tocas mais tangos?
Eu contei-lhe do outro Barnabé, que dava dois dele, ou três. O Senhor Barnabé de Fafe, funileiro de alto gabarito, morador e estabelecido naquele escondidinho do Santo Velho e músico vitalício da Banda de Revelhe. O Senhor Barnabé fafense devia ser uma enorme despesa em farda e tocava tuba porque não havia instrumento maior, tirando talvez o bombo, e a tuba vinha-lhe realmente por medida. Quanto ao Senhor Bé, que certamente não gastaria metro e meio para um fato, eu às vezes até me ria imaginando-o, pequenino e gaiato, a tocar pífaro nos intervalos.
Que se segue? Aqui há coisa de três meses o Senhor Bé tornou a faltar-me e eu, confesso, escarmentado com o desaparecimento da minha abençoadora das 7h30, fiquei com medo de perguntar por ele. Para más notícias, já basta o Correio da Manhã. Mas três meses são três meses, estamos no Natal, e ontem ganhei finalmente coragem. Fui tirar nabos do púcaro junto de outro dos habitués do Passeio, e ouvi o que não queria. O Senhor Bé não vem mais. Morreu. Exactamente há três meses. Foi mudar uma válvula ao coração "e ficou na máquina", disse-me o amigo. Ficou na máquina, assim, isso é lá alguma maneira?
Quer-se dizer: o Senhor Bé morreu e eu, palavra de honra, zanguei-me um bocado com o acontecimento. Às vezes, Deus me perdoe, acho isto da vida muito mal organizado...
P.S. - Publicado originalmente no dia 23 de Novembro de 2021, sob o título "Que é que tinha o Barnabé?". Hoje é dia de São Barnabé, apóstolo, e portanto cá estamos outra vez. Também é dia de São João de São Facundo, sacerdote, do mártir São Restituto, e de Santa Paula Frassinetti, virgem, mas estes, lamento, não conheci nem sei de cantigas a respeito.
domingo, 9 de junho de 2024
Um dia, nada mais
Portugal tem um dia e por acaso é hoje. É pouquinho, mas foi o que se pôde arranjar...
P.S. - Hoje é 10 de Junho. Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas.
Portugal segundo Alexandre O'Neill
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...
Dia de Portugal, por António Arnaut
Dia de Portugal. Dia de Camões
e das Comunidades.
O Presidente distribui condecorações
na feira das vaidades.
País de heróis e de santos
à beira mar enterrado.
Nunca outra Pátria teve tantos,
assim, por atacado.
António Arnaut
Levaram-lhe o autorrádio
Na véspera de Portugal
sábado, 8 de junho de 2024
O broche, como deve ser visto
Foto Hernâni Von Doellinger |
Gramático era o que me chamava o Empregado do Arquivo quando, por azar, calhávamos os dois no mesmo autocarro às voltas pelo Porto, cada qual na sua vida. O Empregado do Arquivo, assim autodenominado, meu camarada em O Primeiro de Janeiro, morava, se não me engano, no Hospital Conde Ferreira, dava três voltas sobre si próprio antes de cruzar a porta do jornal, em Santa Catarina, e era filho do poeta Alberto de Serpa, que lhe batia em público. Isso, Alberto de Serpa, ilustre membro da geração de Orpheu, modernista, presencista, o poeta da poesia livre, do lirismo do quotidiano, enfiava uns generosos sopapos ao filho, sem medo de testemunhas e de acusações de violência por assim dizer doméstica. O rapaz conseguia ser realmente muito chato, irritante até ao quinto caralho, dava cabo da cabeça ao velho, que tentava acompanhar sem sobressaltos o fecho do suplemento literário "Das Artes Das Letras", que eu penosamente revia, mas, quer-se dizer, o rapaz, assim o tratava o pai, era tolinho encartado, estava internado e tudo, e, que diabo, já tinha para aí quarenta anos ou mais...
Há quem lhe chame céu
Atenção, apicultores!
"Vespas de todo o país juntam-se em Braga", anuncia o jornal O Minho. Será no feriado de segunda-feira, 10 de Junho, e mais se informa que trata-se da "21.ª Concentração Nacional de Vespas, evento integrado no Calendário Vespista Nacional, a cargo do Vespa Clube de Portugal". De acordo com a organização, as vespas devem concentrar-se a partir das 8 horas, no Largo das Carvalheiras. Recomenda-se cuidado com o enxofre...
sexta-feira, 7 de junho de 2024
Delícias do mar, o raio que vos parta
Fitas de nastro tingidas de cor-de-rosa gomitado, cortadas em palitos empacotados e refrigerados em vácuo e vendidos à babuge nos supermercados não são, por mais que lhes chamem, delícias do mar! Não, não e não! Serão tudo o que quiserem - delícias do mar, não!
P.S. - Hoje é Dia Mundial dos Oceanos.
Sete mares e mais um
Mar Telo
Mar Celo
Mar Mita
Mar Mota
Mar Sapo
Mar Fim
Mar Ibela e Seu Rola-Rola.
Acto irreflectido
A fome, por uma boa razão
Só, desempregado e sem casa, não comia regularmente. Passava fome. Mas tinha vergonha de admitir a pobreza. Dizia que era de propósito, opção, livre vontade. Que desconfiava da segurança dos alimentos...
quinta-feira, 6 de junho de 2024
A continha, se faz favor...
O requinte e o requente
Cuidado com as carteiras!
quarta-feira, 5 de junho de 2024
O ambiente tem dias
Foto Hernâni Von Doellinger |
No Parque da Cidade do Porto há cisnes-mudos, guarda-rios, gansos-bravos, gansos-do-egipto, patos-reais, galinhas-d'água, galeirões-comuns, guinchos-comuns, piscos-de-peito-ruivo, gaivotas-argênteas, gaivotas-d'asa-escura, melros-pretos, marçaricos-das-rochas, rolas-do-mar, chapins-reais, garças-brancas-boieiras, garças-reais, corvos-marinhos, mergulhões-pequenos, pardais-comuns e pegas, enguias-europeias, gambúsias, peixes-gatos, percas-sol e pimpões. Esta é a população oficialmente recenseada. Mas também há coelhos e toupeiras, tartarugas, gatos e cães vadios, pombas e pombos, galinhas que eu bem as vejo, papagaios e outros benfiquistas, corredores, andadores e passeadores afins, rãs, sapos e salamandras, lesmas e caracóis, grilos e gafanhotos, borboletas a certa hora, sardaniscas e lambisgóias, sardões com e sem rabo, espreitas e bicicletas, cavalos-republicanos às vezes, burros de um modo geral. E mais de cem espécies vegetais, nomeadamente muito erva e muitas flores, que apreciam particularmente, tanto quanto se sabe, a quietude e o devaneio que lhes são de natureza.
No tempo do Primavera Sound, que, nem de propósito, é agora e rebenta com toda a potência já amanhã, no Parque da Cidade do Porto há também camiões, guindastes e contentores, dezenas de geradores, quilómetros de fios e cablagens, megapalcos, supertendas, barracas, tonéis de cerveja cheios e escorropichados e cheios e escorropichados vezes sem conta nem medida, toneladas de lixo e pés, decibéis à solta, ameaços de terramotos, aluimentos, quem dera que não chova, Deus queira que não caia. Há vedações e avisos, pedimos desculpa pela interrupção, o parque segue dentro de dias, prometemos deixar tudo como estava. E quem estiver mal, que se mude...
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Ambiente.
Faroleiros no Parlamento Europeu
terça-feira, 4 de junho de 2024
O dorsal
As despesas da corrida
Da frente para trás
Uma ganda volta
segunda-feira, 3 de junho de 2024
Parágrafos e outras passagens de nível
A singularidade do resto nunca me incomodou, antes pelo contrário, simplificava-me a vida, mas esta coisa de Fafe ter só uma passagem de nível na sua história, uminha, e não haver notícia de mais, antes e agora, numa terra tão dada à cultura, às letras e à publicação literária, é que me surpreende. Em Fafe, os livros saem ao ritmo das cerejas, e dos tremoços, uns atrás dos outros, o que é de gabar, e no entanto não se sabe, nunca mais se soube que por aí tivesse aparecido o tal parágrafo perfeito, o trecho extraordinário, a tirada sublime, o fragmento de classe, a amostra de gabarito, quatro linhas de excepção, duas ou três frases lapidares e eternas, dúzia e meia de palavras genialmente concatenadas e dignas de registo, enfim, outra passagem de nível. Não. Nada. Nadinha. E eu, sinceramente, dá-me um certo desgosto...
Ó Rocha, empresta a borracha
domingo, 2 de junho de 2024
A invasão das pegas
Não sei o que é que aconteceu entretanto, mas hoje em dia as pegas estão em todo o lado, às centenas, e se calhar aos milhares, não estou é para as contar. Decerto derivado ao Parque da Cidade do Porto, o bendito Parque da Cidade do Porto, as pegas instalaram-se de armas e bagagens em todas as redondezas da Invicta e particularmente aqui nesta zona de Matosinhos, que lhe fica mesmo ao lado. A minha rua está agora constantemente cheia de pegas, e eu por acaso gosto de vê-las e até, em dias mais bem dispostos, de ouvi-las, mas não as procuro, nem é preciso.
Meia pensão
Era um estabelecimento, vamos chamar-lhe assim, que funcionava em regime de meia pensão. Quer-se dizer: meia pensão, meia casa de putas...
Dia de marcar o ponto
sábado, 1 de junho de 2024
Inimputável
Declararam-no inimputável, e a verdade é só uma: nunca mais lá foi!
P.S. - Hoje é Dia Internacional da Prostituta.
Há dias assim
Atenção! Hoje, 2 de Junho, é Dia de Sair Mais Cedo do Trabalho. O que, sendo domingo, também não está nada mal.
Às vezes o Sérgio Conceição
Foto Hernâni Von Doellinger |
(O texto que se segue, escrevi-o e publiquei-o aqui no passado domingo, dia 26 de Maio, mais de duas horas antes do início do jogo da final da Taça de Portugal, entre Sporting e FC Porto. E, apostasse eu no Euromihões, acertei em tudo: na conquista da Taça, que mais uma vez agradeço ao Sérgio Conceição, e na merda que ele e os seus logo aprontaram, e que não havia necessidade.)
Tolice. O desconfiado Sérgio Conceição, que atira a tudo o que mexe, mexa-se ou não, não precisa de inventar casos para sair, pode ir à sua vida em paz, sem crises, com sentimento de missão cumprida e de alma limpa, como decerto deseja. André Villas-Boas não o quer, já tem treinador, outro, e se ainda não o disse publicamente foi só para proteger o FC Porto neste atribulado final de época.
Ao Sérgio, que só lhe ficava bem abster-se de debitar mais picardias tontas, mas não acredito, cabe-lhe, por ora, ganhar a Taça e mais nada. E muito obrigado por tudo! O resto depois é com mestre André. Se ainda houver depois, se ainda houver resto e se ainda houver pelo menos um bocadinho de FC Porto...