Embirro solenemente com a terminologia manga-de-alpaca dos "dias úteis" e das "horas de expediente". A que propósito é que os nanocrânios da inexplicável burocracia terreiro-paçal determinaram e mandaram publicar que os meus sábados, os meus domingos, os meus feriados e dias santos, as minhas férias, se eu as tivesse, ou as férias deles são dias, por assim dizer, imprestáveis para a Nação? Quem lhes deu semelhante poder?
Onde é que estas sumidades acéfalas foram buscar a peregrina ideia de que os meus melhores dias não prestam? Eu, que tenho a mania de ser antes pelo contrário, desrespeito-os, desobedeço-lhes e contrario-os com quanta força consigo, e gozo como um perdido nos fins-de-semana e correlativos. Por acaso até são os meus dias mais úteis, a minha mulher que diga.
Depois, chateiam-me as "horas de expediente", expressão tão prestável ao duplo sentido e que sempre me deixou com a pulga atrás da orelha. A minha dúvida é apenas esta, segredada pela pulga residente: será que, das 9 às 17, nas Finanças, no Registo, nas autarquias ou nos ministérios, o papel do funcionalismo passa por lançar mão de todos os truques e armadilhas possíveis e inimagináveis para nos infernizar a vida e sacar-nos tudo, até o cotão dos bolsos, a mando do Estado? Então mais vale ir lá bater à porta depois do fecho dos serviços. Pode ser que, sem a obrigação do expediente, sejamos enfim atendidos com honradez.
P.S. - Hoje é Dia das Nações Unidas para o Serviço Público.
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