sábado, 31 de dezembro de 2022
Chama o Gregório!
Génios
P.S. - O inventor norte-americano Thomas Edison fez a primeira apresentação pública da sua lâmpada incandescente no dia 31 de Dezembro de 1879, acendendo as luzes numa rua em Menlo Park, Nova Jérsia.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2022
Sagrada família
Para ele a família era tudo. Costumava dizer, aliás, que preferia não ter nada.
P.S. - Hoje é Dia da Sagrada Família.
quinta-feira, 29 de dezembro de 2022
Pinto da Costa está velho. Foi de repente.
Os famosos do dia
quarta-feira, 28 de dezembro de 2022
Os Foda e o Kagawa
segunda-feira, 26 de dezembro de 2022
Caixa do Evaristo
Boxers, trusses e espermatozóides
Por outro lado, homens que vestem boxers chamam-se, por norma, "segundos". É do boxe.
Que tristeza o fim do Natal...
sexta-feira, 23 de dezembro de 2022
E se o Natal for um embuste?
Weather report
- Realmente...
- E então hoje!...
- Lá isso...
- O que é que eles dão para amanhã?
- Eu...
- Pois. Então até logo, vizinho.
- Vá pela sombra, vizinha.
É, o elevador aproxima muito as pessoas. O elevador e o boletim meteorológico.
P.S. - Hoje é Dia do Vizinho. No Brasil.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2022
Aproveite o Natal: vá para a cama!
O Natal é um equívoco
quarta-feira, 21 de dezembro de 2022
Entre a bisca lambida e o bilhar às três tabelas
P.S. - Hoje é Dia do Atleta. No Brasil. E é também o primeiro dia do Verão. No Brasil.
domingo, 18 de dezembro de 2022
sábado, 17 de dezembro de 2022
Para consumo na casa
Ataque à bomba
Amai-vos uns aos outros (mas devagarinho!)
quinta-feira, 15 de dezembro de 2022
quarta-feira, 14 de dezembro de 2022
Macaco
Macaco, o termo assim dito, abrange todos os primatas, sem cauda, com cauda curta ou longa, pertencentes às famílias dos cebídeos, hapalídeos, cercopitecídeos, hapalídeos, cercopitecídeos e antropomorfos. São animais que habitam geralmente as regiões quentes do Globo. Nas regiões frias, o macaco é um aparelho mecânico para levantar coisas muito pesadas, como por exemplo automóveis. É também um gajo astuto ou feio. No seu estado superior de desenvolvimento, o macaco pode ser mandante de bando de arruaceiros, isto é, Macaco Líder.
Hidráulico e exótico
O grande prestidigitador
Macaquinhos no sótão
Pentear macacos
Cada macaco no seu galho
P.S. - Hoje é Dia do Macaco.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2022
domingo, 11 de dezembro de 2022
A montanha pariu um rato
A montanha pariu um rato. Que miséria, realmente. Se ainda ao menos parisse um elefante! Ou dois - que incomodam muito mais...
P.S. - Hoje é Dia Internacional da Montanha.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2022
Alcoólicos recuperados
Político, honesto e poupado
quinta-feira, 8 de dezembro de 2022
O problema dos meios-irmãos
A família
Móvel do crime
P.S. - Hoje é Dia da Justiça. No Brasil.
Crime imperfeito
quarta-feira, 7 de dezembro de 2022
O Febras, de Timor ao Campo das Cebolas
É claro que me lembrei também do Febras, do Armando Febras de Fafe, que guiava um velho camião geralmente cheio de areia e era a única pessoa que eu conhecia que "fez a guerra" em Timor, se não me engano. O Febras era um tipo porreiro, bom amigo, e tinha uma grande pancada naquele tempo. Uma vez falhou a gasolina em Fafe e no resto do País, segundo as notícias, e os carros faziam longas filas que davam duas ou três voltas ao Largo para abastecer. Os condutores desligavam os carros, saíam e empurravam a respectiva viatura consoante a fila ia avançando a conta-gotas. O Febras tinha o camião apontado àquelas bombas muito bem estabelecidas ali entre o Monumento e o Martins da Avenida e não largava o volante, até porque lhe faltava disposição para descer e levar o veículo pelas orelhas. Aquilo era preciso madrugar para garantir um bom lugar na fila, havia até quem fosse para lá de véspera, portanto é bom de ver que pelo meio da manhã já estava tudo com os nervos em frangalhos. E o que é que acontece? Assim que tal, a fila anda um bocadinho, metro, metro e meio, mas o carro imediatamente à frente do Febras nem se mexe. O Febras buzina. E o carro, nada. O Febras torna a buzinar. E o condutor do carro faz aquele sinal internacional descrito no código da estrada como "passa por cima". E o Febras arranca. Evidentemente não passa por cima do carro, isso só ocorre nos filmes americanos, mas leva-o à frente, um metro, metro e meio. O Febras sai então do camião, disposto à pancadaria, a polícia, que rondava por ali, faz de conta que intervém para evitar males maiores, mas nem toma conta da ocorrência, e fica tudo em águas de bacalhau, porque, lá está, era o Febras, e o que é que se havia de fazer?...
Curiosamente, anos mais tarde, o Armando Febras viria a ser agente da autoridade local e parece que ainda emigrou para a América, onde não sei se realmente chegou a passar por cima de automóveis. Mas antes disso, em Abril de 1977, ele fez parte de um extravagante grupo de fafenses que foi a Lisboa de camioneta para apoiar a AD Fafe no famoso jogo com a CUF para a Taça de Portugal. Desse bando, que viveu uma noite maluca pelas ruas do Bairro Alto, com a polícia atrás e tudo, constavam também, entre outros, o meu irmão Pimenta, que certamente organizara a excursão, o Machadinho e o Manel Caixeiro maila sua inseparável pistola. Eu não podia faltar, mas era o mais novo e inocente de todos, posso talvez dizê-lo. Esta parte da história fica, porém, para outra vez.
Quero contar é do amigo do Febras que veio ter connosco ao Campo das Cebolas, que era o sítio onde as camionetas das excursões pernoitavam. Um velho camarada de armas do Armando e a segunda pessoa que eu conheci que "fez a guerra" em Timor, se não estou em erro. Falava com cerrado sotaque lisboeta, alfacinha, malandro, gingão, "gajas" acima, "gajas" abaixo, tinha ouro ao pescoço, anéis, camisa havaiana, botas de cobói, navalha de ponta e mola e um suspeitíssimo Ford Capri que fazia piões de porta aberta.
Isso. Piões de porta aberta. Tantos, tão apertados e a tal velocidade, que no decurso de um deles o indivíduo saiu disparado do automóvel, caiu violentamente no chão, bateu com a cabeça, levantou-se de imediato como uma mola, num improvável pulo de kung fu, soltou um grito de guerra, sacudiu o pó da roupa, entrou no carro, que continuava a andar em círculo, fechou a porta e arrancou a todo o gás em direcção ao sol poente. E eu passei a compreender muito melhor o Armando Febras.
P.S. - Hoje é Dia de Timor-Leste. Também chamado Dia dos Heróis Nacionais.
Kafka no metro
Palavras para que vos quero
Em trinta palavras exactas, a senhora condutora disse tudo o que era necessário ser dito naquele momento, com objectividade, sem eufemismos nem semânticas, num português escorreito, directo, universalmente compreensível, eficaz. Responsável. A assunção do "erro de sinalização" e da "paragem brusca", a preocupação imediata com os passageiros. Mas ninguém se magoou.
Pensei: que exemplo extraordinário para os nossos comunicadores de merda - governantes, ex-governantes, candidatos a governantes, candidatos a candidatos a governantes, políticos de uma forma geral, altos irresponsáveis, baixos responsáveis, autoridades civis, militares e religiosas, minhas senhoras e meus senhores, telecomentadores, radiofloricultores, trolhas conversadores, politólogos, peritos encartados, periquitos amestrados, vendedores de retroescavadoras com luzinhas e centros de exposições transfronteiriços, taxistas, barbeiros, enchedores de chouriços, especialistas em sarrabulho e fumeiro, jornalistas tremendistas e endrominadores para todo o serviço, que falam sobejamente, eu até reconheço a maioria das palavras, mas não sei o que eles dizem...
À velocidade da luz
P.S. - A velocidade da luz foi determinada pelo astrónomo dinamarquês Ole Rømer no dia 7 de Dezembro de 1676. O que também é extraordinário.
Assassinado por formigas
terça-feira, 6 de dezembro de 2022
Do normal ou do bô?
Em Fafe e nas terras de Basto chegadas a Fafe falava-se esse conversar comum quando eu era pequeno, aprendi-o naturalmente com os meus avós maternos, em Passos, Cabeceiras, com a minha mãe e com os meus tios. A querida tia Margarida ainda hoje o usa a cotio, com uma graça que me encanta e comove, e eu dou-lhe serventia da língua para fora sempre que posso, e agora posso quase sempre.
Caralho! "Do bô", o senhor gasolineiro perguntou-me se o gasóleo era "do bô", palavra de honra, "do bô", perguntou, como fosse a minha avó, o meu avô, a minha mãe ou a tia Margarida a perguntar-me. E eu fiquei tão contente, tão criança, de repente tão outra vez abraçado ao avental da minha mãe a cheirar tão bem a sabão e felicidade, a casa, a nós, fiquei tão...
Por outro lado, era normal e fedia. Mas o senhor gasolineiro perguntou se era "do bô", foi o que ele disse, e disse tão bem, e eu gostei tanto. "Do bô", caralho!...
Papando uns e outros
segunda-feira, 5 de dezembro de 2022
A Câmara de Narciso faz 35 anos
Foto Hernâni Von Doellinger |
O edifício dos Paços do Concelho de Matosinhos, com o traço do arquitecto Alcino Soutinho e marcas do pintor Júlio Resende e do escultor João Cutileiro, faz 35 anos. Há comemorações oficiais e o programa das festas, centralizado na próxima quinta-feira, feriado de 8 de Dezembro e aniversário da inauguração, pode ser consultado aqui e aqui. Para quem não se lembra ou tem tendência para esquecer, o projecto foi escolha de Narciso Miranda, o Presidente. E foi com ele que a obra se fez.
Abaixo de Braga
domingo, 4 de dezembro de 2022
Às vezes parecem parvos
Isto a propósito de. O primeiro contrato para a construção, conservação e exploração de auto-estradas em regime de concessão foi assinado entre a Brisa de Jorge de Brito e o Estado no dia 4 de Dezembro de 1972, faz hoje cinquenta anos. E assim começou o prejuízo. Para o País.
Frank Zappa e o azar do dia de hoje
No dia 4 de Dezembro de 1993, Frank Zappa morreu vítima de cancro na próstata, pouco antes de completar 53 anos.
À bolachada
Entre outras alcavalas, o Landinho até fazia anos, coisa extraordinária, enquanto a nós só nos era permitido ficarmos mais velhos, somarmos dias, que remédio e a seco. Ao menino, a nossa mãe organizava-lhe uma festinha de aniversário, havia convidadozinhos, e do pequeno lanche constavam, só me lembro disso, umas curiosas sandes de bolacha maria com marmelada dentro, tipo oreos mas melhores e de fabrico caseiro. Eu, já espigadote, metia a mão sorrateira e rápida à passagem pela mesa, e foi assim que ficámos a conhecer-nos pessoalmente, eu e elas. As bolachas. Que estavam contadas, para mal dos meus pecados...
Mas não era de bolachas que eu queria aqui falar. É de bolachos. E o bolacho, faço deste já notar, é pitéu absolutamente indispensável, muito mais do que mero ornamento, nuns rojões à moda do Minho que se pretendam com todos os matadores. O bolacho é, versão curta e grossa, uma espécie de pão cilíndrico feito com farinhas de trigo, milho e centeio, a que se junta sangue de porco, fermento, caldo de carne, pimenta e cominhos. Depois de levedada, a massa é cozida em água temperada com sal, salsa, folha de laranjeira e louro. Cumprida a cozedura, o bolacho é cortado em rodelas e frito em pingue. O bolacho pode também chamar-se farinhato, pilouco, bica e, principalmente, beloura.
Mas também não era deste bolacho que eu queria aqui falar. É do bolacho de trigo. Do pão de cantos. Do pão de quatro cantos. Do trigo de ovelhinha. Do pão de padronelo. Desse. Esse fantástico pão, duro como cornos, que era vendido porta a porta em Fafe por umas senhoras que, dizia-se, vinham de Amarante. As abençoadas senhoras traziam enormes cestas à cabeça e dentro das cestas, carinhosamente envolto em toalhas de linho, o precioso pão. Um pão de longa duração que a minha querida avó de Basto guardava com todos os cuidados e também toalhas de linho na caixa de madeira que era o cofre e o frigorífico das coisas valiosas e boas numa terra por onde Jesus Cristo ainda não tinha passado e portanto não havia electricidade. Assim acondicionado, o pão aguentava-se bem uma semana ou mais e só era comido com o matinal café, que era cevada, aos domingos, feriados e dias santos. De resto, broa, que era o pãozinho do Senhor.
Leio agora que o bolacho é de ovelhinha porque teve a sua origem no lugar com aquele nome, Ovelhinha, na freguesia de Gondar, Amarante. E de padronelo porque decerto será sobretudo nesta outra freguesia amarantina, Padronelo, que hoje em dia ele é produzido e comercializado. Quanto a bolacho, é-o não sei porquê.
P.S. - Eu sei que é repetido, e pode até enjoar. Mas hoje é Dia da Bolacha, e contra isso nada!
sábado, 3 de dezembro de 2022
Complexo de culpa
Como todo o bom católico, ele tinha um grande complexo de culpa. Edifício principal, duas unidades de produção, quatro armazéns, uma garagem com oficina, refeitório e zona social, parque de estacionamento e parque florestal, abrangendo uma área total de 51 hectares. Era realmente um enorme complexo.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2022
Quanto mais alto, melhor
Comer 243 sardinhas é muito?
Sempre sardinhas aqui do nosso mar, mais pequenas mas mais saborosas, e vou buscá-las praticamente ao barco. Elas não se cansam a esperar por mim. Eu é que espero por elas, vivinhas que até metem raiva. E este ano as sardinhas foram outra vez excelentíssimas - abençoado defeso, que no-las devolveu à moda antiga.
Os antigos diziam que Maio, Junho, Julho e Agosto são os melhores meses para comer sardinha assada, mas não são. Como eu costumo lembrar, os antigos sabiam tudo e morriam muito. As sardinhas daqueles meses, dos meses sem "r", apesar de geralmente comestíveis e até agradáveis, ainda não estão maduras. A lengalenga popular é engodo para apedeutas. Eu também aprecio a novidade, mas, em bom rigor, as melhores sardinhas estão guardadas para Setembro e Outubro, aguentando-se às vezes até Novembro. Eu monitorizo-as sexta a sexta, e faço por parar ainda em bom, prevenindo o indesejável porém fatal desgosto. Foi o que fiz mais uma vez. Parei. Agora, sardinhas assados, só para o ano. E entretanto arquivo na memória um gosto bom que faço render contando histórias de crescer água na boca. Assim que tal, Abril ou Maio, os meus amigos do mar hão-de avisar-me para a urgência da retoma...
Uma vez, na peixaria da Dona Augusta, seria exactamente mês de Abril aqui há uns anos, uma senhora perguntava se "As sardinhas..." e foi logo interrompida pela minha peixeira, que lhe respondeu "Estão muito boas, as sardinhas ainda estão boas". Por acaso não estavam, naquele ano de colheita medíocre, lembro-me bem, mas a peixeira tem de fazer pela vida. Eu trouxe biqueirão.
Já experimentaram, decerto já, tirar a cabeça aos biqueirões, abri-los pela barriga retirando-lhes a espinha, que sai muito facilmente, temperar estas "costeletas" com sal, pimenta preta moída na hora, limão e um quase-nada de alho picado, e deixá-los neste preparo aí umas quatro horas, duas para cada lado? E depois passá-los por ovo e pão ralado e fritá-los sem deixar queimar? E fazer entretanto um arrozinho de bacalhau com trocinhos de tronchuda? Arroz carolino, já se sabe, que se transforma com o peixinho num verdadeiro manjar de deuses. Mas decerto já experimentaram.
Dica: as espinhas saem ainda mais facilmente se os biqueirões forem do dia anterior. Mas, para mim, peixe ou é do dia ou já não é peixe. Em miúdo, muito gostava eu de ouvir às peixeiras de Fafe o pregão "É da biba, olha a bibinha", e ficava-se logo também a saber que as sardinhas nesse dia seriam mais caras. Mas eram "como prata". Nós comíamos as sardinhas acomodados às três pancadas ao lado do assador, no nosso quintal da casa de pedra da Rua do Assento. Seriam poucas as sardinhas, mas a verdade é que davam para partilhar com os vizinhos e ninguém ficava com fome.
Hoje tenho a sorte de morar em Matosinhos, a dois passos do porto de pesca e da lota. O mais das vezes trago para casa peixe vivo, literalmente vivo, que os pescadores dos barcos pequenos estão a acabar de entregar. O que me levanta alguns problemas, operacionais e... de consciência. Um dia eu e uma solha metemo-nos numa luta cujos pormenores não conto nem quero lembrar. Ganhei, mas portei-me mal. E só à mesa é que me perdoei.
Descobri recentemente que a minha peixeira, que é a melhor peixeira do mundo, a impagável Dona Augusta, tem pelo menos um cliente que vem propositadamente de Fafe. Encontrei outro dia o Toni, que, contou-me, todas as terças-feiras vem buscar peixe para o sobrinho e, já agora, para o meu amigo Tónio Cá Te Espero, que tem tasco de categoria na Recta, que parece que se chama Taberna do Cates, ali à beira de virar para a casa da minha irmã, e de momento, felizmente, também da minha mãe. E eu, palavra de honra, quase me comovi ao saber disto.
E agora, quer-se dizer. Não sei se repararam lá em cima, mas eu não como sardinhas assadas por ocasião dos santos populares. Não como, porque geralmente não são das nossas, nem frescas. Não como, porque não gosto de balbúrdias, por um lado, nem de me meter em filas, por outro. Não como enfim, por uma questão de princípio, devido à indecência do preço a que costumam ser vendidas nesses dias. É. A procura estraga a oferta. Pelo São João, já há alguns anos, alugo um jacto particular, pego na mulher e vamos ao Maine, EUA, comer lagostas à ganância. Sempre nos fica mais em conta do que as sardinhas...
P.S. - Ontem foi Dia da Restauração. Aqui fica a minha singela homenagem ao sector.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2022
Os defenestráveis
E hoje, se Portugal de repente se tornasse independente, como seria? Varejando os corredores dos ministérios, quantos se safariam?...
Guerra da Restauração
quarta-feira, 30 de novembro de 2022
Como quem entra no céu
P.S. - Hoje é Dia das Livrarias, que há quem diga Dia da Livraria e do Livreiro.
Assis Pacheco, vejo-o por aí
Que sortudo que eu sou. Acabei de me encontrar, agora mesmo na RTP2, com o Fernando Assis Pacheco, com o Paco Feixó e com outros velhos amigos do lado de cá do Minho que eu tanto estimo e já não via há que tempos e não me conhecem de lado nenhum. Gajos porreiros. Gajos porreiros, caralho! Para além de me matarem as saudades que tinha deles, tornaram-me à minha querida Galiza. Não é preciso ter sorte?
Infelizmente aquilo foi há doze anos. Tornei a ver o Fernando aqui atrasado outra vez na RTP2, que é o nosso sítio de encontro, sítio único, encontros raros, mas ao Paco nunca mais. À Galiza, vou lá um destes dias, se Deus quiser, e vou beber um copo pelos dois.
P.S. - Fernando Assis Pacheco morreu no dia 30 de Novembro de 1995.
Pessoa colectiva
segunda-feira, 28 de novembro de 2022
Eu vi um ovni, e vi-o claramente visto
Foto Hernâni Von Doellinger |
Uma vez eu vi um disco voador. Vi, fotografei e publiquei - porque estas coisas são como as partes baixas, não se dizem, mostram-se! Lembro-me como se fosse no dia 14 de Janeiro de 2013. Apresentei no Tarrenego!, em exclusivo mundial, o retrato indesmentível de um opni pairando sobre o mar do Porto, do lado direito do Castelo do Queijo, com o Parque da Cidade pelas costas. Ninguém quis saber.
Já o meu opni passou incógnito. Não era Cascais, era no Porto, resvés com Matosinhos, e por isso ninguém ligou. Nem as agências internacionais nem o Correio da Manhã: não metia Pinto da Costa nem suicídios semelhantes, portanto não interessava para nada. E assim desperdiçamos o pouco que vamos tendo, até o que nos cai do céu, e é por estas e por outras que este país não vai para a frente.
É o que eu estou farto de dizer: dá Deus ovnis a quem não tem dentes.
P.S. - Hoje é Dia do Planeta Vermelho, por isso ponham-se à tabela. A fotografia lá de cima é fidedigna e eloquente: reparem que o mar até descai para a direita (há quem lhe chame lado da retrete), o que acontece normalmente com bilhares mal calçados e no decurso de avistamentos comprovados.
Havendo vida em Marte
Havendo vida em Marte suponho que haja mídia. Césio, tédio, prédio, sexo… pouco senso, pesticida.
Havendo vida em Marte suponho que haja brigas.
Havendo vida em Marte suponho que haja morte. Dor, enfarte à la carte… internet, fone, sorte.
Havendo vida em Marte suponho que haja corte. Belas-artes, vôo charter, Robocop fraco forte.
Havendo vida em Marte suponho que haja morte.
Itamar Assumpção, "Cadernos Inéditos"
Os portugueses, as notícias e o Facebook
domingo, 27 de novembro de 2022
Nenucos, praticamente...
Foto Hernâni Von Doellinger |
Aos domingos de manhã eles lá estão. Jogam à bola porque gostam, são amigos e compinchas, para além disso dá-lhes imenso jeito ganhar apetite para o almoço, Deus os farture e lhes mantenha a figura. Jogam a sério, com árbitro, capitães de equipa, minuto de silêncio, massagista, minis frescas e tudo. Há os da praia seca e lá ao fundo, no beijo das ondas, os da praia molhada. A paixão pelo futebol é a mesma, tremenda e pura. São amadores como quer dizer a palavra. Eles são o meu Mundial e jogam futebol na praia - não confundir com futebol de praia. Na Praia de Matosinhos, fora da época balnear, e ali nasceram heróis.
Dos "bebés do Leixões", já ouviram falar? Dessa ínclita geração de jovens génios da bola, conta a lenda que descobertos exactamente ali naquele areal, miúdos campeões do muda-aos-cinco-e-acaba-aos dez, pelo primeiro e mais competente olheiro do mundo e de todos os tempos, mestre Óscar Marques, que depois os entregava trabalhadinhos e já no ponto ao treinador António Teixeira? Anos sessenta-setenta do século passado: Adriano, Barros, Chico (Faria), Fonseca, Horácio, Neca, Nicolau (Vaqueiro), Praia - jogadores do melhor que Portugal teve ou alguma vez terá. E a seguir vieram os Albertinos, os Frascos e outros que tais. Estão a ver?
Pois os das manhãs dos meus domingos não são nada disso e tampouco lhes sei os nomes. Afinfam-lhe com assinalável pertinácia quando acertam na bola, há que dizê-lo com toda a frontalidade, mas vê-se logo que não passaram ao lado de uma grande carreira. Os outros, baptizados pelo famoso jornalista Alfredo Farinha, eram os "bebés do Leixões" e quando cresceram saltaram para o Benfica, para o Sporting e para o Porto (assim ordenados naquele tempo, a bem da Nação). Estes, os meus, notoriamente não são bebés, não sei de onde vêm nem para onde vão - mas juro que também são uma coisa bonita de se ver. E são nenucos, praticamente...
sábado, 26 de novembro de 2022
Mortinho por fazer figura
A caixa do correio mete-me medo. Não tanto pelas contas da luz, da água ou do condomínio (embora, rústico que continuo a ser, pagar condomínio ainda me faça uma certa confusão), mas mais pelos avisos das Finanças e do Tribunal. Ainda por cima é uma galdéria, a minha caixa do correio, escarrapacha-se a todos, até aos da pior espécie: aos que perguntam pelo meu ouro e eu não os conheço de lado nenhum, aos que me pedem o meu voto e não me conhecem de lado nenhum, aos que querem comprar a minha casa que eu não quero vender, para já, aos que me querem vender uma casa que eu não quero comprar, para já, aos que querem querem querem que eu troque de Deus, e agora até aos que me querem vender a minha morte como se soubessem alguma coisa da minha vida que eu não sei.
Vamos lá com calma. Eu sei que ninguém fica cá para a semente e que se alguém ficar sou eu (mas não é isto que aqui interessa). Sei que fatalmente já por cá andei mais tempo do que ainda vou andar. Mas, com franqueza, a vida é tão boa e dá-me tantas consumições, que tenho mais que fazer do que pensar na morte, do que organizar a minha morte. Quando eu morrer (se morrer), logo se verá. Eu é que já não verei, e não me faz diferença nenhuma. Essa é a herança que deixo de bom grado a quem me sobreviver. Se alguém houver.
Por outro lado: a ofensiva cangalheira aguçou a minha curiosidade. Esse é o truque do marketing, mesmo do marketing de trazer por casa. Porta a porta. Admito que estou a pensar pedir um orçamento para a minha morte. Seduziu-me aquela coisa da "Medalha Impressão Digital", que não sei o que é mas deve ser muito bom para o morto. E também quero que me expliquem muito bem explicadinho o "Contrato de Funeral em Vida". Isso é legal? E é saudável? Funeral em vida? Dasse!...
Susto de morte
O testamento
O retrato do falecido
sexta-feira, 25 de novembro de 2022
Deixe estar, que está quentinho
Berardo não está só
Hoje é Dia Nacional do Empresário. O empresário nacional, essa espécie. Gente de aparecer e meninos para o preciso. E são mais que as mães. É. Joe Berardo não está só. Porque, quem diz Berardo, diz Oliveira e Costa, Ricardo Salgado, João Rendeiro, Dias Loureiro, Duarte Lima, Miguel Relvas, Horta e Costa, Jardim Gonçalves, Luís Filipe Vieira, Pinto de Costa, José Sócrates, Armando Vara, Manuel Pinho e assim sucessivamente.
Batem leve, levemente
Eu também sou contra o governo, por uma questão de princípio. Mas, palavra de honra, esperava dos alegados entendidos uma conclusão sensata e minimamente articulada sobre o assunto - e esta não é. O que a doutora Deolinda disse é o fácil, está à mão e é de esquerda, podia até ser dito por mim, esquerdista às vezes e incorrigível cultor do lugar-comum a tempo inteiro. Infelizmente, a questão da violência doméstica, sobre adultos ou menores, tem muito mais que se lhe diga. A crise não explica tudo. E não desculpa tudo. Falamos de filhosdaputa e isso é apenas o princípio da conversa...
P.S. - Hoje é Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres.
A murro
Chamem a polícia!
Ó mãezinha!
quinta-feira, 24 de novembro de 2022
A televisão do Mundial
O futebol, cientificamente provado
E o último terço do terreno, ele próprio? O último terço do terreno será apenas o terço que o defunto leva nas mãos para a cova, como levianamente preconizam alguns infiéis? Não creio. De acordo com renomados autores, o último terço do terreno é o primeiro terço do terreno. Mas a comunidade científica ainda não chegou a um consenso. Tendo em atenção que o último (ou primeiro) terço do terreno é aquele espaço que vai desde a linha de fundo ou de baliza até à linha imaginária que fica equidistante da linha de grande área e da linha de meio campo, eu sustento, e creio que o consigo provar sem deixar margens para dúvidas, que o terço do terreno dá para os dois lados, como certas e determinadas pessoas, consoante se ataca ou se defende. Advirto, no entanto, que esta é uma opinião meramente pessoal, que não vincula o Tarrenego!, ainda sem posição oficial sobre o assunto. É o meu modesto contributo para um debate que não deve ficar entre linhas.
Foi mais um momento de inteligência e reflexão futebolística. De cultura científica. No próximo programa vamos debruçar-nos sobre a intrigante problemática da transição rápida. Para tentarmos perceber, nomeadamente, a partir de que momento uma transição deixa de ser rápida e passa a ser assim-assim. E tentaremos responder à questão medular: os processos defensivo, ofensivo e de transição também são julgados em tribunal?
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Ciência e Dia Nacional na Cultura Científica.
Espanto gastrointestinal
A ciência (e o jornalismo) em todo o seu rigor
A ciência
Ovos de galo
O orador
- Orador.
- Faz discursos?
- Rezo pai-nossos.
P.S. - Hoje é Dia de Acção de Graças.
quarta-feira, 23 de novembro de 2022
Adopte uma árvore!
Branca de Neve e a floresta autóctone
Capuchinho Vermelho ia levar o merendeiro à Avozinha, mas apareceu-lhe o Lobo Mau que a queria comer a ela, Capuchinho. E a casa da Avozinha era no meio da floresta.
Se alguém souber dizer onde eram as casas dos Três Porquinhos, não me admiraria que fossem na floresta. E, já agora, "porquinhos" porquê? E a floresta era autóctone?...
Stultorum infinitus est numerus
Declinando
terça-feira, 22 de novembro de 2022
Atraso de vida
P.S. - Hoje é Dia de Dar Uma Volta.
segunda-feira, 21 de novembro de 2022
E se o olá for outra vez um beijo?
Dizemos "Beijinhos", dizemos "Abraço", dizemos olá de boca, e assim ficamos. Pelas palavras. Beijos e abraços são só vocábulos. Mantemos uma distância alegadamente higiénica entre nós, os alegados amigos uns dos outros. Dizemos. Ao telefone, por escrito, ao vivo na pressa da rua, na patetice dos emojis. Dar a sério (à séria, se lido em Lisboa) é que não. Ninguém dá nada a ninguém - nem sequer beijos, nem sequer abraços. Fazemos votos de. "O que lhe estimo é um beijo", "Desejo-lhe um excelente abraço"...
É. Olhem bem à volta: as palavras estão em alta, navegam de vento em popa. As palavras. O que verdadeiramente está em crise é a palavra, a palavra singular e definitiva, essa vaga memória de uma honra démodée que se arrasta pelas ruas da amargura - abandonada, pobre, cega e nua. Mas isto, claro, sou eu a dizer e são apenas... palavras, palavras, palavras.
O céu pode esperar, mas a mesa não
Os ponteiros do relógio andaram um quarto de hora, mas a televisão não: a missa continuava no mesmo sítio. Era a comunhão e a fila de comungantes não havia maneira de chegar ao fim. A minha sogra agitava-se, os impasses incomodam-na sobremaneira, especialmente se atrasarem o tacho. Levantou-se então do trono, com aqueles ruídos que fazem parte, e ordenou a todos os seus súbditos, que sou apenas eu, miseravelmente eu: - Vamos mas é comer, que isto é povo sem jeito para a sagrada comunhão!...
domingo, 20 de novembro de 2022
Brincando com o trabalho infantil
O trabalho infantil é muito bem, um orgulho, principalmente se a criança entrar numa telenovela ou se for modelo de moda ou se for imitador de cantores adultos e der na televisão (esta parte da televisão é importantíssima!), enriquecendo os pais remediados.
Depois há ainda as crianças, estas são do piorio, que, órfãs de tudo e até de tecto, fazem sapatilhas de marca para as entrevistadoras e para os entrevistadores da televisão que entrevistam as crianças que entram nas telenovelas e nas passarelas e nas cantigas e para os babados pais, que no fim pedem recibo.
Parece que a diferença está nisto, segundo percebi uma vez no programa Sociedade Recreativa da RTP: os miúdos das telenovelas e da moda e do cançonetismo têm "agente"; os moncosos do campo, das fábricas, da rua, não.
É difícil ser criança
Hoje é Dia Internacional dos Direitos das Crianças. Compreendo a necessidade. Porque. Com tanto cão e gato, realmente é cada vez mais difícil ser criança.
sábado, 19 de novembro de 2022
É de homem
O homem-tocha mudou de residência. Chamam-lhe agora homem-mealhada.
O homem-bala
Cabisbaixo e de mala na mão, o homem-bala apresentou-se logo de manhãzinha na rulote da gerência. Deixava o circo. Ia embora para casa. Descobrira durante a noite que era objector de consciência.
O homem-máquina
O homem-máquina gripou. Foi ao centro de saúde. Mandaram-no para a oficina. Evidentemente.
O homem de ferro
O problema do homem de ferro era o sexo. Não ia lá sem lubrificação.
O homem-aranha
O homem-aranha morreu. Vítima de uma teia de interesses, é o que consta.
O homem invisível
O homem de gelo
O calcanhar-de-aquiles do homem de gelo era o Verão. Assim um bocado como o Ferrero Rocher...
O homem-crocodilo
Despedido pela Lacoste, o homem-crocodilo fez-se à vida e foi com a mulher vender nas feiras. Mas bastante contrafeito.
Homem que é homem
Autossuficiente
Homem que é homem não quer nada com mulheres.
Maricas
Ficava-lhe mal como homem. Só andava com mulheres.
Mãos de fada
Homem que é homem não joga à malha. Faz.
Mãos de fada 2
Homem que é homem não compra camisola de lã com decote em bico e revesil inglês. Faz ele mesmo.
Caçador
Homem que é homem não teme leão. Os ratos é que podem ser problema.
Coçador
Homem que é homem coça os tomates. E cheira os dedos
Peitudo
Homem que é homem faz peito. E amamenta.
Liberado
Homem que é homem gosta de mamas grandes. Mas não usa sutiã.
Valente
Homem que é homem não chora. Mas mama.
Ó môr, môr!
Homem que é homem chama Patusco ao gato e Piloto ao cão. Nada de nomes abichanados! E, sim, à mulher pode chamar môr.
sexta-feira, 18 de novembro de 2022
Costa a Costa 2
Quanto à disputa entre o ex-governador do Banco de Portugal e o primeiro-ministro, evidentemente um deles está a mentir. E eu acho que é o Costa.
Abençoada pastelaria
E assim sucessivamente
P.S. - A Lotaria Nacional foi criada pela Misericórdia de Lisboa no dia 18 de Novembro de 1783. Doze por cento dos lucros revertiam a favor dos Hospitais Reais dos Enfermos e dos Expostos.
quinta-feira, 17 de novembro de 2022
Costa a Costa
Estudantes de todos os países...
Hoje é Dia Internacional dos Estudantes. Internacional! E eu grito: - Estudantes de todos os países, uni-vos! Com cola! Com cola...
A vida tal como ela é
O filósofo
Ele ensinava: o pior da morte é que a vida deixa de fazer sentido.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Filosofia.
quarta-feira, 16 de novembro de 2022
Povo que lavas no rio (ou talvez na poça do Santo)
(Consegui captar a sua atenção? Pronto, vamos então falar de tanques. Dos tanques públicos e lavadouros oficiosos de Fafe, pelo menos daqueles que eu conheci e de que ainda me lembro. Havia os muito concorridos tanques da Rua de Baixo, servindo também a Granja, ali nas imediações da Esquiça e da Sacor. Para roupas de maior porte, havia os tanques do Matadouro, nos limites da Rua do Maia com a Ponte do Ranha, aproveitando a água e mesmo ao lado do "rio" onde eram lavadas as vísceras e espancadas as tripas e a sola dos animais abatidos, e era um cheiro a sangue e merda que só visto. Um pouco acima, nem meio quilómetro, creio que na mesma ribeira, havia a poça-tanque da Ponte de Pardelhas. No outro extremo da vila antiga, havia os tanquinhos do Bairro da Fábrica de Ferro, que na verdade tinha tudo. Havia o tanque de Santo Ovídio, de que eu soube apenas de passagem. Tornando ao centro, havia a poça do Santo, do Santo Velho, logo a seguir ao casarão brasonado e à capela e antes dos campos de milho onde hoje medram as traseiras da Escola Secundária. E não quero acreditar que zonas tão povoadas como o Retiro, a Cumieira ou a Recta não dispusessem também dos seus tanques ou lavadouros, mas não os sei. Não me lembro deles, pelo menos neste momento, e isto não é uma investigação, levantamento ou trabalho etnoarqueológico, antes pelo contrário.
A minha mãe frequentava diariamente a poça do Santo, ali à mão de semear, e deslocava-se amiúde ao Matadouro, "ao rio", carregada da cabeça aos pés, para as grandes barrelas sazonais. Éramos pelo menos cinco em casa, mãe e quatro filhos, às vezes também a Mila, às vezes também os meus avós, tios e primos e outros parentes de Basto, só a roupa de nós todos já era uma sacada, um fardo. Ainda por cima, a minha mãe tinha a mania de oferecer-se para lavar "umas pecinhas" de alguma vizinha mais velhinha, adoentada ou recém-regressada da maternidade. E houve mesmo uma altura em que, por necessidade, a minha mãe lavou oficialmente para fora, para uma ou duas famílias "ricas", mas nem por isso largou de mão a vizinhança mais aflita.
Era duro. Eu ia com a minha mãe e bem via. Era mesmo muito duro! Tão duro que eu, preguiçoso por idade e por feitio, fazia tudo para "ajudar". Mas não me deixavam. Nem a minha mãe nem as outras lavadeiras, sobretudo estas. Diziam-me, entre cantigas e caralhadas, que os meninos do sexo masculino não podiam lavar roupa. Se os meninos do sexo masculino lavassem roupa - dizia o mulherio -, quando fossem homens não lhes crescia a barba, ó terrível maldição!...
A mim, confesso, nem me aquecia nem me arrefecia, aquilo da barba. Eu já estava por tudo. Faltavam dois ou três meses para eu entrar no seminário, e logo que lá chegasse - também me diziam - iriam capar-me sem dó nem piedade! Então olha, perdido por um, perdido por mil...
E pronto. Está a tocar o sinal para o fim do intervalo.)
Então onde é que eu ia? Quer saber o resto? Já sei: ia no ia. Vila do Conde, carrinho de bebé e tudo. Isso mesmo. Ia...
Naquele momento exacto sinto o primeiro e único impulso de heroísmo de toda a minha vida, voo para o carrinho a pensar na CMTV, na TVI, na CNN, no YouTube, em Marcelo Rebelo de Sousa, na medalha do 10 de Junho, na reforma vitalícia (pensa-se em muita merda numa fracção de segundos), rezo a Nosso Senhor e a Nossa Senhora e a Santiago de Compostela, meu padrinho e protector, falta-me o ar de repente, é o coração que me entope cobardemente a garganta, as pernas tremem-me como varas verdes mas desta vez não falham, voo para o carrinho e agarro-o já no milagroso resvés com um Toyota Yaris que passa nas horas e me enche de nomes, mas é o menos. Graças a Deus. Respiro. A mãe grita, de mãos espetadas na cabeça desgrenhada, Ai o carrinho!, e o pai berra Olha o carrinho!, e dá mais uma puxa no paivante.
O carrinho?, interpelo eu e repito, mais fodido do que outra coisa, O carrinho? E a criança, caralho?, A criança?, as palavras saem-me aos soluços e eu preciso de uma cadeira para morrer ali sentado. Mas qual criança?, dizem-me os dois, com caras combinadas de quem me manda à merda com a senha número um e portanto sem direito a cadeira, Qual criança?, e riem-se afinadíssimos da minha agonia. Tinham praticamente razão: olhei para o carrinho que mantinha nas minhas mãos cerradas e aflitas, o bebé eram quatro passadeiras lavadas, enroladas e ainda pingantes - as quatro filhas da puta pelas quais eu só não faleci prematuramente porque sou um gajo cheio de sorte.
Nota final. A famosa cena do carrinho de bebé descendo a escadaria, com a criança dentro, no meio do tiroteio, em "Os Intocáveis", de 1987, já tinha sido vista em "O Couraçado Potemkine", de 1925, obra maior de Sergei Eisenstein.
terça-feira, 15 de novembro de 2022
Muito obrigado, Senhor Conceição!
Foto Hernâni Von Doellinger |