No princípio era a SIF. Depois é que apareceram os altifalantes do Costa e Castro de Travassós. É assim que eu me lembro. A SIF do meu vizinho Zé - o Zé da SIF -, do senhor Vilhena e até do filho do senhor Vilhena. Escrevo de memória, mas creio que estou a dizer bem. Quando não tinha o meu pai, eu entrava no futebol com o Zé da SIF, fazendo de conta que carregava uma corneta que era do meu tamanho, e por isso é que sou um especialista em Campo da Granja e em "amplificações sonoras". Desde pequenino.
"Amplificações sonoras" - atentem bem. Façam como eu: digam "amplificações sonoras" em voz alta. Mais alto. Agora repitam com voz de "continue connosco" e arrastando as sílabas. Não são palavras mágicas? São. Mas não é isso que interessa.
Onde eu quero chegar é ao Baptista de Antime. Às "Amplificações sonoras de João Baptista Gonçalves, de Antime, Fafe, deslocam-se a qualquer localidade, haja ou não haja corrente eléctrica", de que já aqui falei e que, quando apareceram no mercado, rebentaram logo com a concorrência.
E eu acho que consigo perceber porquê. O Baptista de Antime era um tipo porreiro. Até tinha um tasco - e isso, salvo duvidosas excepções, é o melhor que se pode dizer seja de quem for. O bom do senhor Baptista manteve o tasco e lançou-se nos altifalantes com um sucesso que só ouvido. Parece que o estou a ver agora, hiperactivo, falador, a ligar fios atrás de fios, cigarro na boca e mão a mandar para trás a melena rebelde do cabelo brilhantinado, sempre magro, sempre de fato, sempre disponível e sorridente. Tenho ideia de que os altifalantes para a Festa da Bomba eram de graça, mas se calhar aqui estou a exagerar.
De tão bom, de tão dado às pessoas e vice-versa, o Baptista de Antime até cometeu a proeza de ganhar a Junta de Freguesia para o Partido Comunista. Antime fica no concelho de Fafe, é preciso que se note. E Fafe, para quem não sabe, fica no Minho, pertence ao distrito de Braga. Estão a ver a façanha?
Um dia, o Baptista de Antime, que já tinha um tasco e alugava "amplificações sonoras" e electricidade em pó aos fins-de-semana, resolveu alargar a sua carteira de negócios ao ramo da funerária. E em boa hora o fez, numa esperta lógica de complementaridade que continuaria a ser dinheiro em caixa. E em caixão. Romarias e funerais, o casamento perfeito, na alegria e na tristeza. O homem estava em todas. E a treta das sinergias foi ele que inventou.
Os funerais do Baptista eram muito gabados. O Zé Maria Sapateiro dizia que eram "uma categoria".
O Zé Maria Sapateiro, que sabia muito de funerais, era também de Antime e pai da minha querida tia Laura. Era, portanto, sogro do meu tio e padrinho Américo. Era avô do Zé e da Zulmira - para que os de agora se situem. Em cima de tudo isto, o senhor Zé Maria era uma figura, malandro e esforçado piadista, com o porém do benfiquismo.
Eu gostava muito de ouvir o senhor Zé Maria. E o senhor Zé Maria gostava de terminar as suas dissertações, à mesa da cozinha da casa do Lombo, com um "Viva o Benfica e mais nada!" que me incomodava um bocadinho. Ainda por cima, conhecendo a cor do meu coração, que era e é só uma - azul e branco -, insistia em reclamar os meus améns, "Não é, Hernâni?", porque, dizia ele, "O Hernâni é que sabe". E eu não sabia nada.
Uma vez o senhor Zé Maria morreu e eu fui a Fafe ao funeral. Foi um funeral de categoria. Deve ter sido o Baptista. Só pode ter sido o Baptista.
Conheci gente extraordinária em Fafe. E às vezes arrependo-me de ter crescido. Tenho saudades do tempo em que a vida da vila andava ao toque do sino da Igreja Nova e do apito da Fábrica do Ferro. É. A minha terra já não existe.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Daniel Campelo sai do Governo 2
Ainda a propósito da anunciada demissão de Daniel Campelo, por motivos de saúde, recomendo esta leitura e mais esta.
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terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Daniel Campelo sai do Governo
O Governo anda hoje às voltas com uma espécie de remodelação envolvendo alguns secretários de Estado. Daniel Campelo está de saída, isso já é certo. A informação é de que sai por motivos de saúde.
(Ler mais em E Daniel Campelo deixa?)
(Ler mais em E Daniel Campelo deixa?)
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O malhão, obviamente
Ana Gomes, a eurodeputada socialista, dançou hoje em Bruxelas "contra a violência contra as mulheres". Dançou. E eu dancei na cozinha pela paz no mundo inteiro e pelo amor pleno entre toda a humanidade. Dancei à volta de meio copo de vinho tinto e espero que resulte. A isto antigamente chamava-se "rezar", agora chama-se "dançar".
Tarrenego! Tarrenego!
"Lisboa amanheceu com forte cheiro a enxofre". Era este o título. Depois o Público mudou, sensatamente, para "Lisboa amanheceu a cheirar mal e ninguém sabe porquê". Lisboa, a capital, e ninguém sabe? Que cidade! Santa ignorância!
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
E o CDS deixa?
Avelino Ferreira Torres anunciou que vai ser o candidato do CDS à Câmara do Marco de Canaveses nas eleições autárquicas de Outubro. A decisão terá sido tomada depois de a concelhia democrata-cristã lhe ter pedido o sacrifício, ontem, por unanimidade e aclamação. "É uma honra muito grande para mim. Com um convite destes, não posso dizer que não", explicou Avelino, humildemente.
O convite foi feito ao espelho. Ferreira Torres é, desde Dezembro, o presidente da concelhia do CDS do Marco de Canaveses. E tem um "Matinou", como uma vez revelou em tribunal.
O convite foi feito ao espelho. Ferreira Torres é, desde Dezembro, o presidente da concelhia do CDS do Marco de Canaveses. E tem um "Matinou", como uma vez revelou em tribunal.
domingo, 27 de janeiro de 2013
Extraordinário: José Mourinho faz 50 anos! 2
- Então, o nosso Mourinho?
- Extraordinário. Cinquenta anos! Como é que ele consegue?
- É verdade. Não se fala de outra coisa...
- Pois não. E compreende-se. São cinquenta anos. Cinquenta! O homem merece.
- Claro que merece. E tu?
- Eu quê?
- Tu. Anos...
- Eu? Cinquenta e cinco.
- Cinquenta e cinco? E cinco? Mas isso ainda é mais extraordinário! Porque é que os jornais não se interessam por ti?
- Por causa da idade...
(1. "Mourinho 50 anos: meio século de glória" é, de longe, o melhor título com que a imprensa nacional presenteou, por estes dias festivos, o actual treinador do Real Madrid. Começou cedo o fenómeno: nasceu e pronto.
2. José Mourinho disse ao JN que "quanto mais velho, melhor treinador". A rapaziada dos jornais, que gosta de chutar os "velhos" para canto, riu-se um bocado com isto.)
- Extraordinário. Cinquenta anos! Como é que ele consegue?
- É verdade. Não se fala de outra coisa...
- Pois não. E compreende-se. São cinquenta anos. Cinquenta! O homem merece.
- Claro que merece. E tu?
- Eu quê?
- Tu. Anos...
- Eu? Cinquenta e cinco.
- Cinquenta e cinco? E cinco? Mas isso ainda é mais extraordinário! Porque é que os jornais não se interessam por ti?
- Por causa da idade...
(1. "Mourinho 50 anos: meio século de glória" é, de longe, o melhor título com que a imprensa nacional presenteou, por estes dias festivos, o actual treinador do Real Madrid. Começou cedo o fenómeno: nasceu e pronto.
2. José Mourinho disse ao JN que "quanto mais velho, melhor treinador". A rapaziada dos jornais, que gosta de chutar os "velhos" para canto, riu-se um bocado com isto.)
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sábado, 26 de janeiro de 2013
Extraordinário: José Mourinho faz 50 anos!
A notícia está em todo o lado e eu não quero ficar de fora. Mourinho faz hoje anos, cinquenta ao todo, o que é verdadeiramente extraordinário. Caso possa interessar à comunicação social: a minha sogra fez ontem 81.
(Ler mais em Extraordinário: José Mourinho faz 50 anos! 2.)
(Ler mais em Extraordinário: José Mourinho faz 50 anos! 2.)
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Gasta, gasta, que não é teu!
Relvas, o homem que mais percebe de televisão logo a seguir ao Macaco Adriano, foi ontem à RTP explicar que a RTP vai ter que sofrer uma "reestruturação profunda". Uma "reestruturação profunda" que, segundo o ministro que já não devia ser se tivesse vergonha na cara mas não tem, passará por "um processo ambicioso, muito exigente e doloroso". Vê-se logo que é coisa boa.
E a "reestruturação profunda" da RTP - diz o doutor da mula ruça - vai custar aos nossos bolsos, não aos bolsos dele, 42 milhões de euros, que eu não sei se é muito dinheiro ou se é pouco, porque os "milhões de euros" nunca me foram apresentados, só contribuo. Mas o Relvas sabe, milhões é com ele.
Penso é o seguinte: se uma "reestruturação profunda" da RTP fica por 42 milhões de euros, porque não fazer-se apenas um reestruturação superficial? Coisa para, vá lá, dois contos e quinhentos. Não era poupança?
E a "reestruturação profunda" da RTP - diz o doutor da mula ruça - vai custar aos nossos bolsos, não aos bolsos dele, 42 milhões de euros, que eu não sei se é muito dinheiro ou se é pouco, porque os "milhões de euros" nunca me foram apresentados, só contribuo. Mas o Relvas sabe, milhões é com ele.
Penso é o seguinte: se uma "reestruturação profunda" da RTP fica por 42 milhões de euros, porque não fazer-se apenas um reestruturação superficial? Coisa para, vá lá, dois contos e quinhentos. Não era poupança?
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
O meu ovni é melhor do que o ovni americano
O Correio da Manhã, jornal de todos os espantos e outros antiportismos, viu um ovni na América. Um ovni que, vai-se a esmiuçar depois, é a treta de "um raio resultante de um efeito luminoso" - assim explicado por especialistas. No passado dia 14 de Janeiro, o Tarrenego! apresentou, em exclusivo mundial, a fotografia indesmentível de um opni sobre o mar na cidade do Porto (rever abaixo, comparar e comprovar). Ninguém quis saber. Não era Campo de Ourique, era no Porto, resvés com Matosinhos, e por isso ninguém ligou. Nem as agências internacionais nem o Correio da Manhã: não metia Pinto da Costa, portanto não interessa para nada. E assim desperdiçamos o pouco que vamos tendo, até o que nos cai do céu, e é por estas e por outras que este país não vai para a frente.
É o que eu digo: dá Deus ovnis a quem não tem dentes.
É o que eu digo: dá Deus ovnis a quem não tem dentes.
Foto Hernâni Von Doellinger |
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Não sabes como vais morrer
Jaime Froufe Andrade apresenta em Matosinhos a quarta edição do seu livro "Não sabes como vais morrer". A obra, editada pela Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, conta histórias da Guerra Colonial vividas pelo autor na primeira pessoa. Será no próximo sábado, dia 26 de Janeiro, a partir das 15 horas, no salão nobre da Junta de Freguesia de Matosinhos, com a participação do coronel ranger António Feijó e de Ivo Vaqueiro, antigo ranger sniper.
Froufe Andrade é jornalista. Foi alferes ranger em Moçambique.
Froufe Andrade é jornalista. Foi alferes ranger em Moçambique.
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terça-feira, 22 de janeiro de 2013
O mar é bravo, mas eles também
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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
O pior elogio
O Real Madrid chegou a Valência e em 45 minutos sempre a aviar, sem dar confiança ao adversário (e sem adversário), marcou um, dois, três, quatro, cinco golos. Cinco-zero ao intervalo. E veio-me à cabeça o pior elogio que se podia fazer àquele impressionante Real Madrid: parece o Barcelona.
domingo, 20 de janeiro de 2013
sábado, 19 de janeiro de 2013
Eugénio de Andrade, hoje
Eugénio da Andrade vai ter uma sala. Não há casa-museu, não há Casa da Poesia. Vão dar o nome do poeta a uma sala nos claustros da velha Biblioteca Pública do Porto, junto ao Jardim de São Lázaro. Ali ficará armazenado o "espólio" de Eugénio. A Câmara não diz armazenar, diz outra coisa mais bonita, mas há quem, como eu, não acredite nas coisas bonitas que esta Câmara diz. O escritor Mário Cláudio não acredita.
E antes que esqueça: Eugénio de Andrade faz hoje 90 anos.
E antes que esqueça: Eugénio de Andrade faz hoje 90 anos.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
E Daniel Campelo deixa?
Há uma auto-estrada no nortinho de Portugal que se chama Auto-Estrada Daniel Campelo ou Auto-Estrada do Queijo Limiano. Liga Viana do Castelo a Ponte de Lima e não é bem uma auto-estrada: é apenas um pedaço de via rápida, vinte quilómetros de quase nada e com o piso a desfazer-se. Por causa destas vergonhas é que vulgarmente lhe dão o nome de código de A27, para proteger a pessoa e o queijo em questão.
A A27 foi dada por António Guterres a Daniel Campelo. Um pagamento pelo voto que viabilizou dois orçamentos de Estado do Governo socialista. Estão lembrados? Exactamente: o famoso "negócio do queijo limiano".
Guterres era primeiro-ministro e no Parlamento faltava-lhe um deputado para ter a maioria absoluta. Campelo era presidente da Câmara de Ponte de Lima e estava na Assembleia da República pelo CDS. Em nome dos superiores interesses das populações do seu concelho e do seu distrito, o autarca-deputado mandou a disciplina partidária dar uma curva, votou com o PS e a coisa fez-se. Daniel Campelo ganhou uma auto-estrada de borla para o seu povo, entre outras importantes contrapartidas que ajudaram a desencravar a região, e foi sempre, sempre, sempre contra a introdução de portagens nas SCUT.
Agora Daniel Campelo está no Governo. É secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural. E a sua auto-estrada gratuita parece que vai ser portajada. Será que ele deixa? Será que ele se fica? Será que ele fica?
A A27 foi dada por António Guterres a Daniel Campelo. Um pagamento pelo voto que viabilizou dois orçamentos de Estado do Governo socialista. Estão lembrados? Exactamente: o famoso "negócio do queijo limiano".
Guterres era primeiro-ministro e no Parlamento faltava-lhe um deputado para ter a maioria absoluta. Campelo era presidente da Câmara de Ponte de Lima e estava na Assembleia da República pelo CDS. Em nome dos superiores interesses das populações do seu concelho e do seu distrito, o autarca-deputado mandou a disciplina partidária dar uma curva, votou com o PS e a coisa fez-se. Daniel Campelo ganhou uma auto-estrada de borla para o seu povo, entre outras importantes contrapartidas que ajudaram a desencravar a região, e foi sempre, sempre, sempre contra a introdução de portagens nas SCUT.
Agora Daniel Campelo está no Governo. É secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural. E a sua auto-estrada gratuita parece que vai ser portajada. Será que ele deixa? Será que ele se fica? Será que ele fica?
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Há Conga nova
No fim dá tudo certo
Eu, o Presidente da República e o presidente da Anafre estamos muito preocupados com o chamado processo de reorganização do território. Eu, por razões egoístas; Cavaco Silva e Armando Vieira, porque faz parte. As minhas razões são tão egoístas que ficam cá comigo. Vamos, portanto, às alegadas razões dos outros dois:
Primeiro Cavaco, o do "promulgo, mas" - que é só para o que lhe dá ultimamente. A esfinge de Belém parece que diz que teme que o novo mapa das freguesias, assim de repente, possa estragar a "autenticidade" dos resultados das eleições de Outubro e pede ao Parlamento que tome todas as medidas (duas antes de cada refeição, até ao fim da caixa) para assegurar que as autárquicas decorrem com "transparência" e "normalidade".
Primeiro Cavaco, o do "promulgo, mas" - que é só para o que lhe dá ultimamente. A esfinge de Belém parece que diz que teme que o novo mapa das freguesias, assim de repente, possa estragar a "autenticidade" dos resultados das eleições de Outubro e pede ao Parlamento que tome todas as medidas (duas antes de cada refeição, até ao fim da caixa) para assegurar que as autárquicas decorrem com "transparência" e "normalidade".
E depois Vieira, sem mais nada a que se agarrar, aproveita a boleia e acrescenta que a lei agora promulgada pode pôr em causa tarefas como o recenseamento eleitoral ou a disponibilização de espaços e urnas no dia das eleições.
De que país falam Cavaco Silva e António Vieira? E de que eleições? É de Portugal? É das autárquicas? Das eleições nas freguesias? É?
Então podem ficar descansados. Cavaco não sabe, porque não faz a mínima ideia do que se passa no País, mas Vieira devia saber e se calhar sabe: as eleições autárquicas correm sempre bem, quer chova quer faça sol. O mapa não interessa para nada, a logística é um pormenor, as chapeladas são as do costume. Bebem-se uns copos à boca das urnas e nas urnas propriamente ditas, faz-se uma almoçarada com o pessoal de serviço de todos os partidos, que são o PPD e o "da mãozinha" mais o gajo do PC que vem de fora e é um picuinhas. O pai vota pelo filho que é tolinho, o filho vota pelo pai que já morreu, pai e filho votam pela avó que está muito atacadinha e não pôde vir, e depois a avó vem e vota também. Há quem vote em dois lados, há quem vote duas ou três vezes no mesmo lado, há quem vote nos dois partidos, e vale, há quem vote em quantas freguesias for preciso, é só dizer, há quem queira e possa votar e não deixam, há quem se faça de ambulância, há quem se faça de parvo, há quem chame a polícia, há quem chame pelo gregório agarrado ao garrafão levado pelo presidente da mesa a mando do presidente da junta. Chegada a hora das contas, vai-se aos cadernos e à acta, acrescenta-se aqui, desarrisca-se ali, rasgam-se uns papéis, queimam-se, noves fora nada, o chato do PC também assina, e no fim bate tudo certo. Podem crer: bate tudo certo. E isto, meus senhores, é que é democracia. Autêntica, transparente, normal.
De que país falam Cavaco Silva e António Vieira? E de que eleições? É de Portugal? É das autárquicas? Das eleições nas freguesias? É?
Então podem ficar descansados. Cavaco não sabe, porque não faz a mínima ideia do que se passa no País, mas Vieira devia saber e se calhar sabe: as eleições autárquicas correm sempre bem, quer chova quer faça sol. O mapa não interessa para nada, a logística é um pormenor, as chapeladas são as do costume. Bebem-se uns copos à boca das urnas e nas urnas propriamente ditas, faz-se uma almoçarada com o pessoal de serviço de todos os partidos, que são o PPD e o "da mãozinha" mais o gajo do PC que vem de fora e é um picuinhas. O pai vota pelo filho que é tolinho, o filho vota pelo pai que já morreu, pai e filho votam pela avó que está muito atacadinha e não pôde vir, e depois a avó vem e vota também. Há quem vote em dois lados, há quem vote duas ou três vezes no mesmo lado, há quem vote nos dois partidos, e vale, há quem vote em quantas freguesias for preciso, é só dizer, há quem queira e possa votar e não deixam, há quem se faça de ambulância, há quem se faça de parvo, há quem chame a polícia, há quem chame pelo gregório agarrado ao garrafão levado pelo presidente da mesa a mando do presidente da junta. Chegada a hora das contas, vai-se aos cadernos e à acta, acrescenta-se aqui, desarrisca-se ali, rasgam-se uns papéis, queimam-se, noves fora nada, o chato do PC também assina, e no fim bate tudo certo. Podem crer: bate tudo certo. E isto, meus senhores, é que é democracia. Autêntica, transparente, normal.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Armstrong & Oprah, the show must go on
Lance Armstrong fez muito pelo ciclismo. Mas não era preciso fazer tanto. Há mais de dez anos que se sabe que o americano se dopava. E ele negou sempre.
Armstrong teve mais de dez anos e milhões de oportunidades para confessar a sua fraqueza - e nada. Em inquéritos oficiais, em investigações policiais, em comissões especiais, nos tribunais, em entrevistas a sério ou ao espelho pela manhã - e nada. Preferiu fazer-se de vítima de conspiração internacional e insistiu na fuga em frente.
Armstrong, que, durante mais de dez penosos anos, desprezou os sítios certos para dizer a verdade, vai aparecer amanhã no espectáculo de Oprah Winfrey para pôr tudo em pratos limpos. O programa foi gravado na passada segunda-feira, consta que o ex-ciclista admite finalmente o recurso ao doping e a famosa apresentadora de televisão já garantiu que ele "deu as respostas que as pessoas querem ouvir".
Oprah é isso: o que as pessoas (os americanos) querem ouvir. E o entalado Armstrong aproveita. Será um programa de lavagem a quatro mãos. Com lágrimas.
Armstrong teve mais de dez anos e milhões de oportunidades para confessar a sua fraqueza - e nada. Em inquéritos oficiais, em investigações policiais, em comissões especiais, nos tribunais, em entrevistas a sério ou ao espelho pela manhã - e nada. Preferiu fazer-se de vítima de conspiração internacional e insistiu na fuga em frente.
Armstrong, que, durante mais de dez penosos anos, desprezou os sítios certos para dizer a verdade, vai aparecer amanhã no espectáculo de Oprah Winfrey para pôr tudo em pratos limpos. O programa foi gravado na passada segunda-feira, consta que o ex-ciclista admite finalmente o recurso ao doping e a famosa apresentadora de televisão já garantiu que ele "deu as respostas que as pessoas querem ouvir".
Oprah é isso: o que as pessoas (os americanos) querem ouvir. E o entalado Armstrong aproveita. Será um programa de lavagem a quatro mãos. Com lágrimas.
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Eles estão aqui
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Os burros
Pinto da Costa tem razão e Luís Filipe Vieira também. "Só os burros" é que falam de arbitragens.
domingo, 13 de janeiro de 2013
Sempre em cima do acontecimento
Segundo as últimas notícias, que acabo de ver na televisão, a equipa de futebol do Benfica está no Seixal e "o ambiente é calmo". Os do FC Porto descansam no hotel do costume e "está tudo calmo". Os dois repórteres da Sport TV têm gravatas amarelas. Perante o poder esmagador destas incontornáveis informações, o que é que interessa o jogo de logo à noite?
O cão, sempre o cão
O cão. O caso que emociona o País inteiro também tocou o coração
sensível do alegado primeiro-ministro de Portugal. Pedro Passos Coelho
já tem uma posição clara sobre o assunto, mas ainda não sabe qual é.
Está à espera que a troika diga. Porque, lá está:
Ora meta-me o cu pelo nariz acima
Foto Hernâni Von Doellinger |
A minha avó de Basto contava. Já não me lembro se era história verdadeira de alguém da família antiga ou diz-que-diz-que a respeito de vizinhos lá da aldeia. Sei é que era um casal e que o casal se tratava por você - forma de tratamento muito mais rústica e ancestral do que cuidam as tias e tios do então-vá. E as pepas, as sobrinhas do então-vem.
Mas a história: marido e mulher bebiam a sua pinguinha. Ao almoço, que era o "jentar", e ao jantar, que era a ceia. Também bebiam durante a merenda, que era aquela meia dúzia de horas de sol que vai desde o "jentar" até à ceia. Bebiam, portanto, apenas às refeições. Por ordem expressa do salazar daquele tempo, beber vinho era "dar de comer a um milhão de portugueses", e o povo de Passos podia não saber o que era bife nem tinha electricidade mas sempre deu o seu melhor para que o resto do País não passasse fome. O resto do país já naquela altura era Lisboa.
(E já agora: o almoço, assim dito, era o café da manhã. E a manhã era madrugada. O café era cevada, feita ao borralho, numa velha chocolateira de barro e tampa tamborileira e dançarina.)
Que se segue: às vezes à noite o caldo entornava-se. Fosse pela pingoleta, fosse pela falta de petróleo na candeia, fosse pelo empurrão do lume da lareira, o casal desavinha-se. Nada de grave ou físico, apenas desconversa. Ralhava um, ralhava o outro, cada qual ameaçava que... mas nada. Até que uma maré, ele - só podia ter sido ele -, sacramentalmente dono da última palavra e mortinho por ir para a cama, arrumou a "questã" da melhor maneira que soube e pôde, que foi, virando-se para ela: "Ora meta-me o cu pelo nariz acima". Para logo remendar, coçando as partes: "Ora vá bardamerda, que até me enganei". E depois foram fazer meninos um com o outro, que naquela terra era assim e muito.
A bó de Basto contava belas histórias. E éramos felizes para sempre.
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sábado, 12 de janeiro de 2013
Eurico Brilhante Dias
Peço desculpa. Eu ligo pouco à política, que é o eufemismo que tenho mais à mão para dizer que não ligo à política. Portanto só hoje é que soube que o PS tem um "secretário nacional" que se chama Eurico Brilhante Dias. Repito: Eurico Brilhante Dias. Primeiro pensei que era a gozar, tipo Jacinto Leite Capelo Rego, mas depois percebi que era a sério (à séria, se lido em Lisboa), e não compreendo o PS.
Onde é que estava escondido este nome e porquê? Porque é que o PS nunca o pôs a render? Este nome vale mais do que quatro mil milhões de antónios josés seguros, por mais seguros que fossem e não são. Este nome é um achado, é bom demais para ser verdade e é verdade, é uma bomba, é puxá-lo para cima, upa, upa, mandar o Tozé de volta para o seminário e é vitória garantida nas próximas eleições, se houver próximas eleições, se ainda houver PS e se ainda houver Portugal.
E outra coisa: se eu me chamasse Eurico Brilhante Dias, nunca na vida responderia a um tipo chamado Jorge Moreira da Silva. Da Silva? Dasse...
Onde é que estava escondido este nome e porquê? Porque é que o PS nunca o pôs a render? Este nome vale mais do que quatro mil milhões de antónios josés seguros, por mais seguros que fossem e não são. Este nome é um achado, é bom demais para ser verdade e é verdade, é uma bomba, é puxá-lo para cima, upa, upa, mandar o Tozé de volta para o seminário e é vitória garantida nas próximas eleições, se houver próximas eleições, se ainda houver PS e se ainda houver Portugal.
E outra coisa: se eu me chamasse Eurico Brilhante Dias, nunca na vida responderia a um tipo chamado Jorge Moreira da Silva. Da Silva? Dasse...
Vítor Pereira & Jorge Jesus: a arte da ventriloquia
O treinador do FC Porto e o treinador do Benfica "falaram" acerca do jogo de amanhã. Disseram duas ou três coisas a respeito de futebol e no resto limitaram-se a mexer a boca enquanto ouvíamos disparates e alfinetadas de ida e volta. Não eram eles a falar. Era alguém por eles, alguém que não dá a cara e se serve da cara deles para fazer a guerra da estupidez. O ex-jornalismo nem sempre é honesto. E os dois treinadores, maiores de idade e com as fortunas que ganham, bem podiam ter mais juízo e amor-próprio. Mas pronto: se amanhã houver merda, a culpa é da polícia.
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Vítor Pereira
Atenção, muita atenção! 4
Do alto do campanário, os altifalantes falaram como se fossem Deus. Estavam zangados e só lhes faltava a sarça ardente: "Atenção, muita atenção! No final da procissão há reunião da comissão deste ano para ver se se arranja comissão para o ano. Todos à sacristia! Se não se arranjar comissão, para o ano não há procissão". E mais nada.
Eu ainda não tinha sido apresentado à palavra pragmatismo. Quando, bastante mais tarde, tomei conhecimento, percebi logo que pragmatismo era aquilo da comissão e da procissão.
Eu ainda não tinha sido apresentado à palavra pragmatismo. Quando, bastante mais tarde, tomei conhecimento, percebi logo que pragmatismo era aquilo da comissão e da procissão.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Quem me dera ser cão 2
Lembram-se do título da notícia na capa do Expresso, em Outubro de 2011? Dizia: "Portugueses já gastam mais com cães do que com bebés". Continuo na minha: está a acontecer no país certo.
Atenção, muita atenção! 3
A frase era: "E ao iniciarmos os nossos trabalhos, a todos desejamos uma muito boa tarde". Mas só funcionava se fosse metida no meio de uma marcha do John Philip Sousa, que para mim era um músico português de Castelo de Paiva que tinha ido para a América em pequenino. Eu sabia que no Pejão havia por aquela altura uma grande banda de música, quase tão boa como a nossa, a de Revelhe, e era por isso. Quanto à marcha propriamente dita, de preferência Stars And Stripes Forever. Isso, sim, era serviço profissional. Serviço completo.
Eu adorava os altifalantes. Chamavam por mim e eu ia. Eram sinal de futebol no Campo da Granja, eram Festa da Bomba, eram o Santo António na minha rua, eram a Senhora de Antime que vinha à vila numa tremenda e comovente procissão. E adorava aquela frase. O meu sonho era dizê-la quando fosse grande.
E disse. Vezes sem conta, anos mais tarde, já os altifalantes tinham sido promovidos a "instalações sonoras" e a bola rolava no Estádio de campo pelado. Sim, o microfone agora era meu, eu era o rapaz da "constituição das equipas" e daqueles reclames muito jeitosos que terminavam todos em "... nesta simpática lo-ca-li-da-deee". E nem imaginam o que eu sofria quando andava de catrel pelas aldeias de Fafe, mais o Pimenta, a anunciar os filmes do cinema ao ar livre e sem poder dizer a frase. Mas não encaixava de maneira nenhuma a puta da frase. Que seca! E os filmes também.
"E ao iniciarmos os nossos trabalhos, a todos desejamos uma muito boa tarde". Era a frase da minha infância e andou sempre comigo. Até na profissão. Quando passei pela Informação da Rádio Comercial, no tempo da RDP, muitas vezes a disse, como teste, na gravação de uma notícia ou apenas por brincadeira, de microfone fechado, antes de ir para o ar com o noticiário.
Nunca chegou cá fora, e foi o que os senhores ouvintes perderam - como certamente estão agora a perceber. Em contrapartida, uma vez, no final de um bloco noticioso particularmente bem conseguido, saiu-nos - ao colega de cabina e a mim - um "Até os comemos!", de microfone distraidamente aberto e destinatários certos, que ainda hoje é o nosso orgulho.
Porque "Até os comemos!" também é uma bela frase e resulta muito bem em rádio. Mas, verdade seja dita, não tem comparação com a outra, a dos altifalantes, pois não?
Eu adorava os altifalantes. Chamavam por mim e eu ia. Eram sinal de futebol no Campo da Granja, eram Festa da Bomba, eram o Santo António na minha rua, eram a Senhora de Antime que vinha à vila numa tremenda e comovente procissão. E adorava aquela frase. O meu sonho era dizê-la quando fosse grande.
E disse. Vezes sem conta, anos mais tarde, já os altifalantes tinham sido promovidos a "instalações sonoras" e a bola rolava no Estádio de campo pelado. Sim, o microfone agora era meu, eu era o rapaz da "constituição das equipas" e daqueles reclames muito jeitosos que terminavam todos em "... nesta simpática lo-ca-li-da-deee". E nem imaginam o que eu sofria quando andava de catrel pelas aldeias de Fafe, mais o Pimenta, a anunciar os filmes do cinema ao ar livre e sem poder dizer a frase. Mas não encaixava de maneira nenhuma a puta da frase. Que seca! E os filmes também.
"E ao iniciarmos os nossos trabalhos, a todos desejamos uma muito boa tarde". Era a frase da minha infância e andou sempre comigo. Até na profissão. Quando passei pela Informação da Rádio Comercial, no tempo da RDP, muitas vezes a disse, como teste, na gravação de uma notícia ou apenas por brincadeira, de microfone fechado, antes de ir para o ar com o noticiário.
Nunca chegou cá fora, e foi o que os senhores ouvintes perderam - como certamente estão agora a perceber. Em contrapartida, uma vez, no final de um bloco noticioso particularmente bem conseguido, saiu-nos - ao colega de cabina e a mim - um "Até os comemos!", de microfone distraidamente aberto e destinatários certos, que ainda hoje é o nosso orgulho.
Porque "Até os comemos!" também é uma bela frase e resulta muito bem em rádio. Mas, verdade seja dita, não tem comparação com a outra, a dos altifalantes, pois não?
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Um país sem tintins
A sorte de Tintim é que ele é belga. Em Portugal não há tintins.
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Quando se tem razão, tem-se
Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros e número três do Governo: há "na sociedade portuguesa certos sintomas de desalento e de desânimo que é preciso contrariar com sensibilidade". Pois há.
Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa e especialista em assuntos sexuais: prostituição no Bairro Vermelho de Viseu é "um mau exemplo para os menores". Pois é.
Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa e especialista em assuntos sexuais: prostituição no Bairro Vermelho de Viseu é "um mau exemplo para os menores". Pois é.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Atenção, muita atenção! 2
Pardelhas, Fafe. Festa de São Pedro. A Internet ainda estava no cu dos americanos, parece impossível mas não havia Facebook nem Twitter, o telemóvel chamava-se telefone, trabalhava a manivela e só se deslocava da mesinha de cabeceira para a cama, se o fio deixasse, e o e-mail chamava-se telegrama. A comunicação era boca a boca, como a respiração, as redes sociais iam num pé e vinham noutro. Mandavam-se recados, levavam-se "repostas" - assim se dizia, e eu gostava, na minha terra. Era ainda a idade das trevas, posto que com automóveis e motorizadas.
Mas havia altifalantes, e urgências são urgências. A meio do "Carrapito da Dona Aurora", que estava a correr tão bem, alguém corta o pio aos do Conjunto António Mafra, sopra asmaticamente no velho microfone Philips, "um, dois, um, dois, experiência", e, desassossegando a aldeia inteira, grita na maior das aflições:
- Atenção, muita atenção! Ó Silva, trazei-me cá o martelo, caralho...
Mas havia altifalantes, e urgências são urgências. A meio do "Carrapito da Dona Aurora", que estava a correr tão bem, alguém corta o pio aos do Conjunto António Mafra, sopra asmaticamente no velho microfone Philips, "um, dois, um, dois, experiência", e, desassossegando a aldeia inteira, grita na maior das aflições:
- Atenção, muita atenção! Ó Silva, trazei-me cá o martelo, caralho...
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domingo, 6 de janeiro de 2013
sábado, 5 de janeiro de 2013
Estes japoneses são um bocado tolos
Um atum gigante foi vendido no Japão pelo preço recorde de 1,38 milhões de euros. Diz que pesava 222 quilos. No outro dia comprei um atum anão, aqui em Matosinhos, por pouco mais de euro e meio, e mais fresco era impossível. Pesava quase três quilos.
As notícias afirmam que o atum gigante japonês era "rabilho". O meu atum anão, não sei. Mas também foi comido. Em bifinhos. De cebolada. E que bem que soube.
As notícias afirmam que o atum gigante japonês era "rabilho". O meu atum anão, não sei. Mas também foi comido. Em bifinhos. De cebolada. E que bem que soube.
Atenção, muita atenção!
- Atenção, muita atenção! Pede-se a comparação dos pegantes ao andor da Senhora do Alípio junto ao clipe onde estão os antifalantes.
Aos anos que isto vai, ali para os lados de Amares, ainda as romarias não eram abrilhantadas com Fernando Rocha e rulotes de fast-food. E que saudades que eu tenho desse tempo visionário e vanguardeiro em que o acordo ortofónico não havia sido inventado mas já era galhardamente roufenhado por altifalantes elevados às mais eucaliptais cruchas, para que a coisa cá em baixo não passasse despercebida lá em cima a Deus Nosso Senhor, que é praticamente tão brasileiro como português.
Decerto que a procissão saiu e o andor da Senhora do Alívio também. Já não sei como é que correu a "comparação". Nem me lembro em que estado terá chegado ao "clipe" o grupo de "pegantes" retardatários. Mas devia ser líquido, né?
("Crucha": corruptela fafense do regionalismo minhoto "corucho", que, entre outros significados, quer dizer "a parte mais alta das árvores".)
Aos anos que isto vai, ali para os lados de Amares, ainda as romarias não eram abrilhantadas com Fernando Rocha e rulotes de fast-food. E que saudades que eu tenho desse tempo visionário e vanguardeiro em que o acordo ortofónico não havia sido inventado mas já era galhardamente roufenhado por altifalantes elevados às mais eucaliptais cruchas, para que a coisa cá em baixo não passasse despercebida lá em cima a Deus Nosso Senhor, que é praticamente tão brasileiro como português.
Decerto que a procissão saiu e o andor da Senhora do Alívio também. Já não sei como é que correu a "comparação". Nem me lembro em que estado terá chegado ao "clipe" o grupo de "pegantes" retardatários. Mas devia ser líquido, né?
("Crucha": corruptela fafense do regionalismo minhoto "corucho", que, entre outros significados, quer dizer "a parte mais alta das árvores".)
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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
E as provas? E os nomes?
Gosto muito de todavias
Na rádio, ouvi ontem uma pequena entrevista telefónica feita ao presidente de um clube de futebol da primeira divisão. Claro que o entrevistado não era nenhum dos três cabeçudos - esses não têm telefone (por causa da polícia), só dão "grandes entrevistas" nas televisões mais ou menos nacionais, em directo e exclusivo, ou, quando lhes apetece, mandam recado pela rapaziada que mantêm nas redacções. E também não era nenhum daqueles que querem ser cabeçudos quando forem grandes. Era somente o presidente de um clube de futebol da primeira divisão.
E querem saber? Gostei do que ouvi. Em apenas três ou quatro frases telegráficas, num discurso simples e honesto, o presidente utilizou pelo menos duas vezes a conjunção adversativa (ainda se chama assim?) todavia. Ora, eu gosto muito de todavias. O facto de haver um presidente de um clube de futebol da primeira divisão que respeita o trabalho dos jornalistas e tem educação bastante para atender o telemóvel e permitir a gravação de uma conversa, nos dias que correm e por si só, é para mim uma enorme novidade, um motivo de justificado aplauso. E ainda por cima as todavias falaram-me ao coração. Este presidente, digo já, passou a merecer a minha mais sincera admiração.
Apesar de nenhuma das suas todavias estar devidamente contextualizada. Ou, como se diz agora à la française, "mesmo que" nenhuma das suas todavias estivesse devidamente contextualizada. Atirou-as ao calhas e quem quiser que fuja. Quero lá saber: o homem é do futebol, não é gramático. Podia ter dito "picaretas" e, isso sim, seria perigoso. Gosto muito de todavias, mas as todavias não são tudo.
E querem saber? Gostei do que ouvi. Em apenas três ou quatro frases telegráficas, num discurso simples e honesto, o presidente utilizou pelo menos duas vezes a conjunção adversativa (ainda se chama assim?) todavia. Ora, eu gosto muito de todavias. O facto de haver um presidente de um clube de futebol da primeira divisão que respeita o trabalho dos jornalistas e tem educação bastante para atender o telemóvel e permitir a gravação de uma conversa, nos dias que correm e por si só, é para mim uma enorme novidade, um motivo de justificado aplauso. E ainda por cima as todavias falaram-me ao coração. Este presidente, digo já, passou a merecer a minha mais sincera admiração.
Apesar de nenhuma das suas todavias estar devidamente contextualizada. Ou, como se diz agora à la française, "mesmo que" nenhuma das suas todavias estivesse devidamente contextualizada. Atirou-as ao calhas e quem quiser que fuja. Quero lá saber: o homem é do futebol, não é gramático. Podia ter dito "picaretas" e, isso sim, seria perigoso. Gosto muito de todavias, mas as todavias não são tudo.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
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