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domingo, 16 de fevereiro de 2025

Rangel, o descompostor

Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros, terá dado uma descompostura "semipública" a quatro deputados do PSD, chamando-lhes "terroristas anti-Hamas". O episódio é contado pela revista Sábado, que recorda outro momento em que o governante exprimiu "desagrado de forma enfática", em Outubro do ano passado, numa cena gaga com militares, incluindo altas patentes, na base de Figo Maduro.
O ministro dos Negócios Estrangeiros é, por antonomásia e dever de ofício, o chefe da diplomacia. E o diplomata é, por definição, um homem reservado e de fino trato, um indivíduo circunspecto, grave, cortês, cauteloso, prudente, ponderado, sensato, distinto, elegante, delicado, conciliador. "Ser diplomata é discordar sem ser discordante", sentenciou um dia Millôr Fernandes.
Posto isto, tenho de partilhar o seguinte, em defesa do ministro dos Negócios Estrangeiros: eu creio que Paulo Rangel não é descompostor por opção, malícia ou ódio, sequer por delírio de poder, agora que está no Governo. É-o por feitio, está-lhe no sangue. Em boa verdade, Rangel é um descompostor que vem de longe.
Algures pelos primeiros anos deste século, outro Paulo, Paulo Portas, veio ao Salão Árabe da Bolsa do Porto, convidado para fazer uma importante conferência sobre não sei quê. E fez. Uma conferência que objectivamente não ficou para a História, uma vez que, tirante a minha memória, não encontro na internet (desculpai-me o antiguismo) um único registo a esse respeito. Mas a coisa aconteceu, porque eu estive lá. Foi à noite. E Paulo Rangel fez questão de marcar presença e dar nas vistas.
Portas foi apresentado, lá disse o que achou que tinha a dizer, terminou, ouviram-se os aplausos da ordem, educados e bem medidos, não fosse haver malévolas interpretações, e Rangel, agasalhado entre os jornalistas, sentenciou, sem que alguém lhe tivesse perguntado: - Que fraquinho! Se fosse meu aluno, dava-lhe negativa, reprovava...
Se ficou por aí? Não! Paulo Rangel, levantou-se, pegou na imprensa e foi ter com o conferencista, dando-lhe conta do seu desconsolo e das suas mais veementes discordâncias, derivado ao que acabara de sair daquele púlpito. Paulo Portas ouviu-o distraidamente e respondeu-lhe "já estou atrasado", como quem ouve e responde a um molho de palha de aço, virou costas e foi-se embora. E é assim que eu me lembro.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

O dia em que o CDS acabou

Paulo Portas recuou. Afinal deixou passar a fronteira que "não podia deixar passar". Como quem não quer a coisa, Portas aceita que os portugueses pobres e velhos passem a comer merda, "excepcionalmente". O "cisma grisalho" é, vai-se a ver, apenas mais um belo sound byte para encaixilhar. Amanhã o ministro dos negócios submarinos irá se calhar à televisão explicar a problemática da concomitância. Estes aldrabões só não explicam Portugal. Na rua, por baixo da minha varanda, passa agora a procissão de velas do Senhor de Matosinhos, com muita gente, respeito e devoção. Reza-se o terço. E é o que nos resta - a oração: Senhor, fazei-lhes a cama. Livrai-nos dos filhos da puta, amém.

P.S. - Não. O CDS não morreu no passado domingo, esvaziado de votos às mãos do irrelevante Francisco Rodrigues dos Santos. Não. O CDS morreu no dia 12 de Maio de 2013, como então escrevi e está aí em cima, palavra por palavra, título e tudo. O CDS faleceu às mãos do enganador Paulo Portas, que trocatintou alarvemente na questão da taxa sobre as pensões, a mando de Passos Coelho e da troika. Não sou bruxo, mas foi realmente nesse dia que o CDS morreu. De lá até cá o que parecia o CDS era apenas um morto-vivo, uma lamentável alma penada que graças a Deus desaparece agora de vez. Descanse em paz!

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Moinices da alta e outras efemérides

A propósito da cretinice dos secretários de Estado que foram à bola a França por conta da Galp, no Euro 2016 de tão boa memória, lembrei-me do multinacional lobista Durão Barroso. José Manuel era primeiro-ministro de Portugal, em 2002, e foi no jacto privado de Pereira Coutinho passar férias na ilha privada brasileira do recatado multimilionário português. Três anos depois, o nosso Zé Manel já tinha sido nomeado presidente da Comissão Europeia e passou férias num barco privado de um milionário grego.
Conclusões que tirei desta oportuníssima lembrança: Durão Barroso gosta de férias; Durão Barroso gosta de férias à grande e à brasileira ou à grega, pelo menos; Durão Barroso não gosta de pagar as férias à grande e à brasileira e à grega, pelo menos; Durão Barroso não paga férias desde os tempos imemoriais em que ia para a chique praia de Moledo, em Caminha, como as pessoas normais porém chiques, e se calhar nem essas pagava, porque parece que eram passadas em casa de amigos; Durão Barroso gosta de milionários e de multimilionários; Durão Barroso gosta muito de privados - aviões, ilhas, barcos e talvez bancos; por causa de Durão Barroso e de outros que querem ser durões barrosos quando forem grandes, o PSD mexe com pinças na valente cagada que os secretários de Estado do Governo PS fizeram; os invejosos do CDS esperneiam e esperneiam, mas apenas porque ninguém os convida para lado nenhum e eles também gostam de andar de cu tremido; é inacreditável que os secretários de Estado que foram à bola a França por conta da Galp ainda sejam secretários de Estado.

(O prestígio internacional de Durão Barroso não era realmente coisa de se deitar fora. Lembram-se? José Ramos-Horta (ex-presidente de Timor-Leste e co-Nobel da Paz com Dom Ximenes Belo em 1996) lançou a candidatura do nosso Zé Manel ao mesmo prémio em 2008. E deu em águas de bacalhau! Quatro anos depois, o ilustríssimo galardão foi atribuído à União Europeia. Quer-se dizer: ao Barroso só faltou um bocadinho assim...)

Fino era o Paulo Portas: para que não se lhe possa apontar nada, ele é que oferecia viagens aos seus futuros patrões. Em quatro anos, o então vice-primeiro-ministro e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros levou a Mota-Engil seis vezes à América Latina. Hoje Portas é consultor da Mota-Engil para a... América Latina. Durão Barroso está na Goldman Sachs. Consta que é charmain...

P.S. - Publicado originalmente no dia 5 de Agosto de 2016. Com quase um ano de atraso, em Julho de 2017, os secretários de Estado que foram à bola a França por conta da Galp acabaram por demitir-se. Rocha Andrade, que nos pôs as contas em dia, se calhar faz falta. Quanto a Pereira Coutinho, que já foi o quinto mais rico de Portugal, vendeu o jacto, o helicóptero e a ilha em Angra dos Reis (trindade ostentatória que Barroso conhecia de ginjeira e de borla), perdeu e desfez-se de negócios, faliu ou insolveu-se, sobrevive, sei lá, à pala da Segurança Social e um destes dias ainda o vou descobrir por aí sem-abrigo. José Manuel Durão Barroso, esse, foi eleito presidente da Comissão Europeia no dia 22 de Julho de 2004. Faz hoje anos. E parabéns à prima!...

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Paulo Portas, o sacrista

Ouvir a boca de Paulo Portas dizer que "Fátima em 1917 era uma periferia, uma aldeia, e Nossa Senhora apareceu a pastores muito humildes" até faz uma pessoa pedir a Deus Nosso Senhor que, por favor, por favor, nos tire a fé. 

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Uns foram à bola, Durão Barroso ia de férias

A propósito da cretinice dos secretários de Estado que foram à bola a França por conta da Galp, no Euro 2016 de tão boa memória, lembrei-me do multinacional lobista Durão Barroso. José Manuel era primeiro-ministro de Portugal, em 2002, e foi no jacto privado de Pereira Coutinho passar férias na ilha privada brasileira do recatado multimilionário português. Três anos depois, o nosso Zé Manel já tinha sido nomeado presidente da Comissão Europeia e passou férias num barco privado de um milionário grego.
Conclusões que tirei desta oportuníssima lembrança: Durão Barroso gosta de férias; Durão Barroso gosta de férias à grande e à brasileira ou à grega, pelo menos; Durão Barroso não gosta de pagar as férias à grande e à brasileira e à grega, pelo menos; Durão Barroso não paga férias desde os tempos imemoriais em que ia para a chique praia de Moledo, em Caminha, como as pessoas normais porém chiques, e se calhar nem essas pagava, porque parece que eram passadas em casa de amigos; Durão Barroso gosta de milionários e de multimilionários; Durão Barroso gosta muito de privados - aviões, ilhas, barcos e talvez bancos; por causa de Durão Barroso e de outros que querem ser durões barrosos quando forem grandes, o PSD mexe com pinças na valente cagada que os secretários de Estado do Governo PS fizeram; os invejosos do CDS esperneiam e esperneiam, mas apenas porque ninguém os convida para lado nenhum e eles também gostam de andar de cu tremido; é inacreditável que os secretários de Estado que foram à bola a França por conta da Galp ainda sejam secretários de Estado.

(O prestígio internacional de Durão Barroso não era realmente coisa de se deitar fora. Lembram-se? José Ramos-Horta (ex-presidente de Timor-Leste e co-Nobel da Paz com Dom Ximenes Belo em 1996) lançou a candidatura do nosso Zé Manel ao mesmo prémio em 2008. E deu em águas de bacalhau! Quatro anos depois, o ilustríssimo galardão foi atribuído à União Europeia. Quer-se dizer: ao Barroso só faltou um bocadinho assim...)

Fino era o Paulo Portas: para que não se lhe possa apontar nada, ele é que oferecia viagens aos seus futuros patrões. Em quatro anos, o então vice-primeiro-ministro e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros levou a Mota-Engil seis vezes à América Latina. Hoje Portas é consultor da Mota-Engil para a... América Latina. Durão Barroso está na Goldman Sachs. Diz que é charmain...

P.S. - Publicado originalmente no dia 5 de Agosto de 2016. Com quase um ano de atraso, em Julho de 2017, os secretários de Estado que foram à bola a França por conta da Galp acabaram por demitir-se. Rocha Andrade, que nos pôs as contas em dia, se calhar faz falta. Quanto a Pereira Coutinho, que já foi o quinto mais rico de Portugal, vendeu o jacto, o helicóptero e a ilha em Angra dos Reis (trindade ostentatória que Barroso conhecia de ginjeira e de borla), perdeu e desfez-se de negócios, faliu ou insolveu-se, sobrevive, sei lá, à pala da Segurança Social e um destes dias ainda o vou descobrir por aí sem-abrigo. José Manuel Durão Barroso, esse, foi eleito presidente da Comissão Europeia no dia 22 de Julho de 2004. Faz hoje anos. E parabéns à prima!...

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Paulo Portas, o sacrista

Ouvir a boca de Paulo Portas dizer em 2015 que "Fátima em 1917 era uma periferia, uma aldeia, e Nossa Senhora apareceu a pastores muito humildes" até faz uma pessoa pedir a Deus Nosso Senhor que, por favor, por favor, nos tire a fé.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Vá lá ser enganador ao caralho!

"Não há direito, tanta falta de consideração pela economia do País, tanta falta de consideração pela vida dos clientes da empresa, tanta falta de consideração pelos passageiros, tanta falta de consideração pelo turismo". Eu, que só ando de autocarro e metro, quando há autocarro e metro, estou de acordíssimo com tão veementes críticas aos pilotos da greve na TAP e se calhar até seria ainda mais filho da puta no comentário. Porém: quem assim fala entre aspas é Paulo Portas. O irrevogável Portas, a criatura que tanta consideração tem pela economia do País, pelas economias dos portugueses, pelos pobres, órfãos e viúvas. E pelo turismo. Sobretudo pelo turismo subaquático. Não tem direito.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Paulo Portas, o sacrista

Ouvir a boca de Paulo Portas dizer que "Fátima em 1917 era uma periferia, uma aldeia, e Nossa Senhora apareceu a pastores muito humildes" até faz uma pessoa pedir a Deus Nosso Senhor que, por favor, por favor, nos tire a fé.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Ligue-me quando estiver noutro jornal

Trabalhar no meu jornal era obra desenganada. As pessoas que contactávamos sabiam que, se falassem, tudo o que dissessem podia ser usado contra elas. (Como na América e nos filmes.) E geralmente era. Nem que lhes telefonássemos apenas para perguntar as horas, havia de sair dali cagada da grossa. Nós depois ligávamos a ventoinha. O 24horas era assim, fugia-lhe o pé para a escandaleira. Se não houvesse sangue, os meus chefes tratavam disso. Para os mais distraídos perceberem: estão a ver como são agora todos os jornais? Pronto, o meu jornal é que começou.
Portanto tínhamos muito poucas "fontes". As pessoas minimamente informadas fugiam de conversar connosco como o diabo foge da cruz. Umas tinham vergonha na cara ou medo e outras desprezavam-nos simplesmente. Umas e outras sabiam que as nossas perguntas tinham quase sempre volta de foda. Se desse jeito, pedíamos a A para falar de B, para a seguir metermos A e B no mesmo saco e malharmos nos dois como se fossem um só. O jornal escolhia os seus alvos e gastava a pólvora toda (seca, por norma) enquanto a coisa vendesse. Mas é preciso que se diga: isto de eleger "inimigos" e disparar até cair para o lado foi uma herança recebida de Paulo Portas, do tempo em que o actual vice-primeiro-ministro era director do semanário Independente e fazia a vida negra ao Cavaco primeiro-ministro e respectivos ajudantes no Governo. O das feiras é que inventou esta receita de sucesso e gabava-se disso. O seu a seu dono.
No meu jornal, Lisboa encarregava-se de fechar as portas às quais nos mandava depois bater, aqui do Porto. Levávamos quase sempre com a porta no nariz. As pessoas respondiam-nos torto, muito torto, era o pão-nosso de cada dia. Uma vez calhou-me o Sócrates, nas vésperas de ganhar as primeiras eleições. Lembram-se do génio do gajo? Pois é. Foi uma discussão das antigas, mas essa história merece prefácio à parte e hei-de contá-la quando os linchadores de aviário sossegarem a parreca e largarem os tomates ao homem. Os outros malcriados não merecem que lhes diga os nomes.
Claro que a grosseria não era geral. Havia também pessoas que muito simplesmente se recusavam a falar-nos mas sem baixarem o nível. O bom do Raul Solnado (1929-2009), Luís Represas, o actor José Pedro Gomes, são dos que me lembro agora que escrevo. Nenhum dos três me conhecia, mas, depois de me ouvirem educadamente, foram igualmente atenciosos na nega. Disseram-me: "Desculpe, Hernâni, não é nada de pessoal consigo, portanto ligue-me quando estiver noutro jornal. Então conversaremos do que quiser". Agradeci sinceramente a franqueza e a urbanidade. E pedi desculpa eu. Eu sabia que eles tinham razões.
Era vida difícil. Num jornal que precisava da "opinião" dos "famosos" sobre tudo e sobre nada. A propósito da Marisa Cruz nua num filme ou por causa do Fidel Castro que passou a pasta ao irmão. A minha sorte é que acabava sempre por encontrar uma alma caridosa que me ajudava a ganhar o dia. Gente que sabia o que era o 24horas mas que, fosse por que razão fosse, nunca me deixou ficar pendurado: gente como Marcelo Rebelo de Sousa e Júlio Magalhães, os empresários e portistas Pôncio Monteiro (1940-2010), Manuel Serrão e Rui Moreira, hoje presidente da Câmara do Porto, os estilistas Miguel Vieira, Katty Xiomara, Luísa Pinto e Gio Rodrigues, os juízes Rui Rangel e Eurico Reis, o fiscalista Saldanha Sanches (1944-2010), Valentim Loureiro (o meu cromo da sorte), Júlio Isidro e Joaquim Letria, que também eram da casa, Tozé Brito, Luís Filipe Barros, José Cid, o humorista Nilton, Octávio Machado, Francisco José Viegas, Manuel Luís Goucha, José Carlos Malato, Jorge Gabriel, Hélio Loureiro, Paulo Teixeira Pinto e mais uns poucos de que injustamente me estou a esquecer. Eram sempre os mesmos e a minha tábua de salvação. O meu piquete de emergência.
Cada qual lá teria os seus motivos. Alguns, tenho a certeza, era mesmo uma questão de bondade. Fiquei agradecido a todos. De vez em quando pago-lhes aqui com umas ripeiradas. É este maldito 24horismo que não há maneira de me passar.

(Texto escrito e publicado no dia 31 de Março de 2012, só actualizei os cargos ao Portas e ao Rui Moreira. O jornal 24horas nasceu em 1998 e morreu oficialmente em 2010, um ano depois de os seus alegados responsáveis terem liquidado a sangue frio a Redacção do Porto. Podem limpar as mãos à parede. Mas tinha piada o pasquim, que até chegou a ser bem feito, e é a bíblia do jornalismo que hoje se faz em Portugal.)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Almirante Portas: dos submarinos aos porta-aviões

Foto Hernâni Von Doellinger

"Petiscou queijo, comprou um frasco de piri-piri, provou presunto de porco bísaro, deliciou-se com pastéis de bacalhau, recebeu um chapeuzinho de chocolate, fez pausa para cafés e aceitou beber alguns goles de vinho. «Tenho de me manter sóbrio», disse Paulo Portas", num episódio muito bem contado pelo Público. O Irrevogável foi ontem ao Salão Internacional do Sector Alimentar e Bebidas e, "no final de hora e meia de visita em passo acelerado e em ziguezague pelos corredores", saiu-se com a tirada da ordem, a tirada que é atirada para os jornais, o sound bite que às vezes calha mal: as exportações são "o porta-aviões da recuperação" do País - disse o alegado vice-primeiro-ministro do país bêbado a pão e água.
É queda. Primeiro foram os submarinos, agora são os porta-aviões com piripiri e chapeuzinho de chocolate. Que ausência de presença do nosso almirante honorário! Freud também explicaria, mas, descomplicando, prefiro pluralizar a mais célebre tirada do meu querido tio Zé da Bomba: só temos quem nos foda. E siga a marinha...

domingo, 15 de dezembro de 2013

Mais vale mal acompanhado

Serafim d'Eiteiro tinha uma loja de fazendas em Cima da Arcada, por baixo do Club, e era homem de voz grave e piada fina. Frequentava a sala das traseiras do Peludo, onde, após almoço, se jogavam umas bilharadas iglantónicas. Aquilo era coisa constada, só para artistas diplomados e até metia apostas a dinheiro, reunindo sempre uma pequena multidão de espectadores dados ao palpite e a gozar o parceiro. Em Fafe era assim.
E uma vez foi de mais. Eu era puto e estava lá. Um dos jogadores, desgraçadamente em dia não e alvo único e reiterado da chacota geral, perdeu de repente as estribeiras e, varando com os olhos a plateia ali à roda, atirou, cheio de raiva e perdigotos: Ide todos para o caralho! Todos...
Mas nisto encarou o respeitável comerciante, pessoa de outra idade e estatuto, e resolveu abrir uma honrosa excepção: Todos, não. Faz favor de desculpar, senhor Serafim, não é para si - corrigiu o bilharista azarado e despeitado porém atencioso, botando giz no taco.
Sentado logo à entrada depois do degrau, no canto por baixo do velho rádio dos relatos domingueiros, Serafim d'Eiteiro disfarçou um sorriso maroto atrás do fumo do cigarro sem filtro e respondeu naquela maneira vagarenta de falar que dava ares de sabedoria - Muito obrigado pela deferência, mas aqui sozinho é que não fico. Se o amigo não leva a mal, eu também vou.

O ministro dos Negócios Estrangeiros foi à Alemanha dizer que está "muito orgulhoso" com a "postura dos portugueses" perante a crise. Um elogio que, naquela boca, é um insulto. E eu estou como o Serafim d'Eiteiro. Não quero que Paulo Portas tenha orgulho em mim. Dispenso. Não aceito a consideração de Portas. A falsa consideração de Portas, jogador da política, incomoda-me, faz-me comichão, deve ser do giz. Recuso a deferência. E, se estou lá, exijo ser imediatamente retirado da lista dos portugueses com postura deste ministro impostor.

(Texto escrito e publicado no dia 19 de Setembro de 2012, por toleima política. Tinha o título de "Desarrisquem-me da lista do Portas". Mas façam-me o favor: desleiam o último parágrafo, o Portas não merece, o Portas não interessa para nada. O senhor Serafim d' Eiteiro é que sim, merece e interessa. Por isso torno a ele. A história é verdadeira, uma de muitas do figurão. O apelido "d'Eiteiro" seria uma corruptela de "do Outeiro". Lugar do Outeiro, Antime, donde creio que era este ilustríssimo fafense. Serafim do Outeiro igual a Serafim d'Eiteiro, assim terá decidido o povo, na sua indesmentível sabedoria.)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A verdade sobre as gaivotas

Foto Hernâni Von Doellinger

Gaivotas é comigo. Tenho até uma que faz questão de me vir cagar à varanda. Estou agora a escrever e estou a ouvi-las, a vê-las à minha frente, do lado de lá da janela. Eu e as gaivotas somos inseparáveis. Cúmplices. Somos um para as outras. Fui o primeiro a alertar para os perigos que corre o extraordinário gaivotal da Riguinha e Carcavelos, orgulho e emblema da Praia de Matosinhos. As gaivotas interessam-me. Cagam-me em cima, é certo, mas muito menos do que o Portas e o Passos Coelho, e eu não os conheço de lado nenhum e não me interessam para nada. Gaivotalmente falando, levo já mais de 25 anos de trabalho no terreno, eu e elas, contra a vontade da minha mulher, por causa da limpeza da varanda. Estou portanto em condições de afirmar, sem temer desmentidos, que sei de gaivotas como se fosse gaivoto. Houvesse um presidente da república das gaivotas e seria eu.
Ora bem. Outro especialista, mas este da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, disse hoje às notícias que as gaivotas andam a mudar-se do mar para a cidade. Pois andam. O caro colega afiança também que o "fenómeno" começou exactamente há dez anos, mas que, atenção, está a aumentar com "o calor elevado que se faz sentir neste momento".
Não sei se o "fenómeno" começou mesmo há dez anos - não os contei, não sei sequer se o "fenómeno" é fenómeno realmente, mas afirmar que a vaga de calor dos últimos dias puxou as gaivotas ainda mais para terra é ciência de atirar à sorte a ver se acerta. E não acertou. Ou então as gaivotas de Matosinhos são umas desalinhadas, só para chatear.
Explico. Hoje há um nevoeirinho manso ali na praia, uma brisazinha de norte passa aqui pela rua como quem não quer a coisa, e elas aí andam, as minhas gaivotas, nos telhados, na varanda, conversadeiras e cagonas, aproveitando a fresca como eu. Mas nos dias de brasa da última semana, não. Pelo contrário. A canícula devolveu-as ao mar e estragou a teoria de sofá do ilustre ecologista. Quem as quisesse ver, era na água, bandos imensos, uns cem metros para dentro da linha de rebentação. Porque não são parvas. É. Já escrevi e repito: as gaivotas têm merda na barriga, não na cabeça.

domingo, 12 de maio de 2013

O dia em que o CDS acabou

Paulo Portas recuou. Afinal deixou passar a fronteira que "não podia deixar passar". Como quem não quer a coisa, Portas aceita que os portugueses pobres e velhos passem a comer merda, "excepcionalmente". O "cisma grisalho" é, vai-se a ver, apenas mais um belo sound byte para encaixilhar. Amanhã o ministro dos negócios submarinos irá se calhar à televisão explicar a problemática da concomitância. Estes aldrabões só não explicam Portugal. Na rua, por baixo da minha varanda, passa agora a procissão de velas do Senhor de Matosinhos, com muita gente, respeito e devoção. Reza-se o terço. E é o que nos resta - a oração: Senhor, fazei-lhes a cama. Livrai-nos dos filhos da puta, amém.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Os ratos são os primeiros a abandonar o navio

Manuela Ferreira Leite, ex-ministra de Cavaco Silva e de Durão Barroso, ex-líder do PSD, ex-conselheira de Estado. Disse em Janeiro de 2012 que "quem tem mais de 70 anos, e quer fazer hemodiálise, tem de pagar". Ontem acusou Passos Coelho de "perseguição", "fixação" e "crueldade" com os pensionistas.
Ângelo Correia, co-fundador do PPD de Sá Carneiro, ex-ministro de Pinto Balsemão, barão pardo do PSD e inventor de Pedro Passos Coelho. Depois de recentemente ter denunciado a "falta de estudo e preparação" do seu pupilo dilecto (desculpem, criei um monstro), acrescentou ontem que o alegado primeiro-ministro de Portugal revelou ausência de "consistência política" ao permitir que fosse tornada pública a "tensão" entre os dois partidos da coligação alegadamente governamental.
Querem agora o quê, estes dois? Limpam-se de quê?
Ratos. Ratos velhos. Ratazanas. E entretanto a orquestra toca. Portugal que se afunde, que se foda.

sábado, 4 de maio de 2013

Portanto, a culpa é do Portas

Passos Coelho, alegado primeiro-ministro de Portugal, vai entrar nos livros apenas por isto: inventou o melhor pior elogio envenenado de todos os tempos. Diz ele que várias das medidas que anunciou na sexta-feira para escarafunchar os bolsos exangues dos trabalhadores e reformados portugueses se devem ao "empenho pessoal" e ao "talento" de Paulo Portas. Portanto...

sábado, 13 de abril de 2013

O Clube do Crachá

Foto ENRIC VIVES-RUBIO/PÚBLICO

Dois ministros e quatro secretários de Estado tomaram posse. Um empossado e uma empossada já tinham direito ao crachá, eram da coisa: Marques Guedes lá compareceu em Belém de nacional pin na farpela; não sei se as senhoras do alegado Governo de Portugal também têm direito ao crachá e, se têm, onde é que o espetam, mas o de Teresa Morais não se viu. Poiares Maduro, Pedro Lomba, Emídio Guerreiro e Cardoso da Costa apareceram em público de lapela em branco. Compreende-se, estavam apenas a chegar à coisa, a partir de agora é que é de peito feito.
O cerimonial que deu na televisão foi seco e desnecessário - tal qual Cavaco Silva. O governo de Portugal é na Alemanha e as juras feitas em Lisboa, após vénia ao Presidente, valem tanto para os portugueses do rés-do-chão como promissória de operário no BPN. Melhor seria terem-nos mostrado o secreto rito da entrega do crachá, que infelizmente continua a ser realizado atrás das cortinas palacianas.
Deve ser emocionante. Para eles. Porque o que eles querem é pertencer ao Clube do Crachá. Pessoas notoriamente inteligentes como Maduro e Lomba, sabendo que não vão fazer nada, só se percebe que adiram à corja instalada porque desejam o crachá - e essa é a única notícia da tomada de posse, para além da ausência de Paulo Portas. O crachá é que é. Tão é que é que Miguel Relvas também lá foi mas já sem ele, quase nu. Perdeu o direito. Viva o crachá, viva, pin.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Quando se tem razão, tem-se

Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros e número três do Governo: há "na sociedade portuguesa certos sintomas de desalento e de desânimo que é preciso contrariar com sensibilidade". Pois há.

Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa e especialista em assuntos sexuais: prostituição no Bairro Vermelho de Viseu é "um mau exemplo para os menores". Pois é.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Organizem-se!

Passos Coelho recebeu hoje a TVI. Era um entrevista. Durante a qual o alegado primeiro-ministro relegou oficialmente Paulo Portas, o líder do partido parceiro de coligação, para a terceira posição do Governo. Por mais do que uma vez, Passos disse que o seu número dois é Vítor Gaspar, o incompetentíssimo ministro das Finanças. Mas não é. O Gaspar de Bruxelas é que é o número um do Governo. O número um, para mal dos nossos pecados. E o Passos é um mero chegamisso do Gaspar. Passos é um lamentável número de circo. Uma aberração. Não sabe sequer contar até três. E por causa destes gajos nunca acertarem com os números (nem sequer com os números uns dos outros) é que o Portugal do rés-do-chão está feito num oito.

Outra coisa: se o Portas vai engolir mais esta? Por acaso acho que não. Em Paulo Portas, o patriotismo tem o seu lugar, mas a vaidade ocupa um quarteirão.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A falsa visita de Angela Merkel a Portugal

Primeiro: Angela Merkel não vem a Portugal. A Senhora Dona Angela visita Lisboa.
Segundo: Angela Merkel não visita Lisboa. Vai por lá andar cinco horas, sem sequer ir a Lisboa.
Terceiro: em cinco horas, Angela Merkel vai encontrar-se com Cavaco Silva em Belém, almoçar com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas no Forte de São Julião da Barra, dá uma conferência de imprensa de meia hora e quatro perguntas, posa para a fotografia de família (família?) no Centro Cultural de Belém, onde também fala a empresários alemães e portugueses, e diz Marcelo que ainda poderá conceder uma palavrinha a António José Seguro.
Quarto: Marcelo Rebelo de Sousa, que não quer que se pense que já é menos do que Marques Mendes, preopina que o eventual passa-bem entre Merkel e o líder do PS apenas demonstraria que a chanceler alemã vem disposta a perceber o que se passa realmente em Portugal.
Quinto: em cinco horas? A falar com o Cavaco, com o Passos, com o Portas e eventualmente com o Tozé? A Merkel perceber o que se passa realmente em Portugal? Dentro do carro blindado e sem me perguntar nada a mim? O Professor é um pândego.