sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Às vezes, o futebol


Comecei a ir ao futebol pela mão do meu pai. Íamos ao Campo da Granja ver o Fafe. O Campo da Granja tinha bancada e uma nora atrás da baliza do lado de São Gemil. A nora, neste caso, era um engenho para tirar água de um poço e não funcionava. Mas ficava num altinho muito jeitoso para a assistência. Eu e o meu pai víamos os treinos, os jogos, os juniores em vez da missa (o que arreliava a minha mãe), as reservas e, ao domingo à tarde, o primeiro time. Os domingos à tarde da minha infância eram os melhores dias do mundo. Até tinham altifalantes com marchas do John Philip Sousa! Depois o meu pai deixou de ir à bola, por razão de força maior, mas eu continuei.
O Campo da Granja desistiu para dar lugar a uma escola de pré-fabricados. E foi bom para todos. Ganhámos o ciclo preparatório e um estádio que havia de ser. Apareceu-me o buço e, embora uma coisa não tenha a ver com a outra, passei a acompanhar a Associação para todo o lado, pendurado na generosidade de amigos mais velhos e empregados. Frequentei todos os campos e estádios do Norte do País e, já praticamente de bigode, até fui ao Barreiro arrancar à CUF um lugar nas meias-finais da Taça de Portugal.
Quando mudei a minha vida para o Porto ainda se ia ao futebol em família. Quero dizer: famílias inteiras, com pai, mãe, avós e netos, sobrinhos, primos, namoradas e namorados. Podia-se ir, não era perigoso. Eu fui logo morar para o Estádio das Antas, Superior Norte, porta com porta com o meu tio Zé da Bomba, que já lá morava há que anos. Consegui converter a minha mulher ao FC Porto e passámos a ir à bola os dois, eu e ela com a cesta do merendeiro atrás, porque naquele tempo não havia lugares marcados e para jogos grandes era mesmo preciso entrar de véspera. E quando digo merendeiro quero dizer exactamente merendeiro: frango assado, sandes de vitela ou lombo de porco, panados, bolinhos de bacalhau, bacalhau frito, pataniscas, feijoada, salada russa, iscas de fígado, rojões, moelas de coelho, arroz à valenciana, filetes de pescada, salpicão, presunto e rebentos de soja, uma toalha de linho em cima dos joelhos, uma garrafosa de verde tinto bem fresquinho, ou duas, e uma garrafa de litro de cerveja, ou duas, por causa dos descontos. Entrava tudo. E marchava tudo. Para não virmos carregados para casa. Aquilo é que era futebol!
Se o FC Porto não jogava nas Antas, então eu ia ao Mar torcer pelo Leixões ou ao Bessa ver o Boavista. Aos sábados puxava pelo Salgueiros em Vidal Pinheiro que Deus tem ou matava o vício no campo do Infesta, que me dava falta de ar. Às quartas, dia da minha folga do trabalho, papava campeonatos de reservas, desempates da Taça de Portugal, liguinhas de subida de divisão e torneios de apuramentos de campeões. Em Santo Tirso, em Vila do Conde, na Póvoa de Varzim, em Espinho, em Aveiro, onde calhasse aqui à roda. Havia jogo, eu estava lá. E regalava-me. Mas depois chegaram as claques. E eu vim-me embora.

Às vezes tenho saudades. Tive saudades anteontem ao ver as imagens da Sport TV em Alvalade, momentos antes do início do jogo do Sporting para a Liga Europa. Tocou-me: um avô e dois netos (foi o que me pareceu) agarrados à marmita com o apetite a cem e o sportinguismo a mil. Ali os três que apanhei por acaso, puros, em paz, com espaço, calmamente à espera da capilota prometida, felizes da vida como era eu nos domingos à tarde do Campo da Granja ou nas ceias com a minha mulher lá no degrau mais alto da Superior Norte das Antas. Claro que anteontem em Alvalade era jogo de meia casa e com um adversário de boas-festas. Claro que agora nos estádios só se pode comer plástico. E claro que já não se ouve The Stars and Stripes Forever e o Toni Dantas também não. Mas o resto aqueles três tinham.

Lugares-comuns

Foto Hernâni Von Doellinger
Foto Hernâni Von Doellinger
Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O Relvas, nem dado?

O mercado de transferências encerra dentro de exactamente 24 horas e Miguel Relvas ainda não saiu. Relvas já não conta para o Governo: deixou de aparecer, foi posto a treinar à parte e mandado em digressão com a equipa B. Para o seu lugar entrou António Borges, contratado a peso de ouro e pago sabe-se lá por quem.
Miguel Relvas só estorva, divide o balneário, é uma despesa desnecessária à Nação. E o Governo está à rasca: precisa desesperadamente de se desfazer desta menos-valia, mas não lhe arranja colocação. Não há quem lhe pegue. Nem a custo zero, de graça. De graça, porque Relvas, servidor público desde pequenino, não tem cláusula de rescisão. Ou será que tem?

Prova de vida

Peço desculpa. Li hoje que a Juventude Popular defendeu anteontem a demissão do Conselho de Administração da RTP por este ter criticado publicamente "o maior accionista" da empresa, "o Estado" (isto é: António Borges), a propósito da possibilidade de concessão de um canal a privados. Peço desculpa outra vez: Juventude quê?...

Barco à vista!

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Arre, cão!

                                                    Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A morte dá que pensar, não dá?

Comprei um fato há coisa de 25 anos para ir ao casamento de um amigo e é o fato que tenho. Ao longo de um quarto de século, usei o fato mais quatro ou cinco vezes nos casamentos de mais quatro ou cinco amigos e sobrinhos, numa excursão a Lisboa para o Prémio Gazeta do Agostinho Santos e numa ida à televisão. É um fato praticamente novo, mas ando preocupado: quando eu morrer, o casaco de trespasse estará outra vez na moda?

domingo, 26 de agosto de 2012

Prò menino e prà menina

Aviso urgente a todos os jornais, todos: é prò menino e prà menina e não pró menino e prá menina. Pró quer dizer uma coisa (a favor de) e prò quer dizer outra coisa (para o). Prà quer dizer uma coisa (para a) e prá não sei o que quer dizer. No erudito Público, que asneou como os outros copiadores da Lusa, a expressão exemplar até vem referida no seu Livro de Estilo (ver abaixo). Ceqalhár nâo è inportãm-te, mas válhame Dêus...

sábado, 25 de agosto de 2012

Para uns, alforrecas; para outros, cagalhões

Foto Hernâni Von Doellinger

Até nisto se vê a diferença entre a Lisboa macrocéfala e come-tudo e o Norte obrador e aos restos. E nisto é isto: esta sexta-feira, três praias da Costa da Caparica foram interditadas a banhos derivado a uma invasão de caravelas-portuguesas, vulgo alforrecas. Na sexta-feira anterior, cinco praias de Matosinhos mais uma no Porto foram desaconselhadas para consumo por causa de uma contaminação fecal, vulgo cagalhões. Assimetrias de merda.
Conclusão alternativa: se vai à praia, cuidado com as sextas-feiras.

"Não tivemos bem", diz A Bola

O jornal A Bola afirma que Rui Vitória, treinador do Guimarães, disse o seguinte no  final do jogo com o FC Porto: "Não tivemos bem nas saídas para o ataque. A equipa esteve ansiosa quando tinha a bola. Fica a amargura do resultado. Temos consciência que não tivemos bem mas temos valor."
A pressa não explica tudo. Há um verbo ter e um verbo estar e por acaso até nem são sinónimos. A Bola meteu os pés pelas mãos e levou a oralidade à letra. Vamos lá rectificar. Portanto, o que Rui Vitória realmente declarou foi isto, e peço que fique lavrado em acta: "Não tivemos bem nas saídas para o ataque. A equipa teve ansiosa quando estinha a bola. Fica a amargura do resultado. Estemos consciência que não tivemos bem mas estemos valor."

Com selo de garantia

Um estudo grego concluiu que os cigarros electrónicos não têm efeitos adversos na função cardíaca. Um estudo grego, estão a ver? Vou voltar ao tabaco normal.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

António Borges, o precursor

Se o coro dos surpreendidos pensa que consegue calar António Borges, bem pode tirar o cavalinho da chuva. O dom sebastião residente do PSD não falou de mais nem sequer antes do tempo quando foi à TVI anunciar o fim da RTP. Foi apenas competente. Borges é uma espécie de João Baptista deste Governo cobarde e incapaz. É pago e bem pago para preparar o caminho de Passos Coelho e Miguel Relvas. Ele diz mata, a gente habitua-se à ideia, e os outros dois esfolam. Porque tem que ser, foi o senhor doutor que mandou, desculpam-se.
PS, Bloco de Esquerda, PCP, trabalhadores da RTP, Nuno Santos e até o CDS dizem-se apanhados de surpresa por este "ovo de Colombo" posto por quem sabe. Eu não fiquei admirado. E também não estranharei se António Borges for hoje à SIC anunciar o aumento do preço do cartão canelado a granel e se amanhã, num acto de grande coragem, aparecer na RTP a baixar o preço da arroba de alpista. Manda quem pode.

O senhor Fernando Correia

Fernando Correia sabe de futebol como poucos, tem voz como mais ninguém e domina a língua portuguesa como, infelizmente, já não se usa. É um senhor. E é um prazer ouvi-lo. A TVI marcou pontos ao chamar este profissional maduro e competente para narrar os jogos da Liga dos Campeões. Ficámos todos a ganhar. Principalmente eu, que do meu sítio na mesa não consigo ver a televisão. Mas nem é preciso, com Fernando Correia: ouço o relato.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Encontro de Jogo do Pau, em Cepães, Fafe

Foto blogue MORGADO DE FAFE (http://morgadodefafe.blogspot.pt/)

A freguesia de Cepães, Fafe, acolhe no próximo sábado o 7.º Encontro de Jogo do Pau. O evento decorre, a partir das 21 horas, no campo multiusos junto à igreja paroquial.
No passado fim-de-semana, Cepães foi palco do 4.º Encontro Nacional de Folclore. Cepães está em grande.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

69, curioso número

Foto Hernâni Von Doellinger

Desde o início do ano e até 15 de Agosto, os bombeiros portugueses foram chamados 69 vezes por dia para combater incêndios. Os estatísticos do Ministério da Agricultura há que tempos que andavam mortinhos por um número assim, praticamente redondo e manifestamente malandreco. E mandaram-no logo cá para fora, antes que passasse a 70 e perdesse a piada toda. Os jornais, sem Relvas nem jornalistas, agarraram na coisa com ambas as mãos. E voltaram a dar razão ao sacrista do Mota Amaral: o 69 é mesmo um número muito curioso.

Curioso e, no caso, jornalisticamente irrelevante.
Façamos as contas: em Portugal existem 473 associações ou corpos de bombeiros. São 69 as saídas por dia? Pois muito bem: dá 0,146 saídas por dia para cada associação ou corpo de bombeiros. Não chega a meia saída por dia. É menos do que um quarto de saída por dia. Calha praticamente uma saída por semana a cada associação ou corpo de bombeiros portugueses. É muito? Merece título? Tretas.

sábado, 18 de agosto de 2012

Mulher, anda ver Fafe na televisão

                                                                                        Foto Hernâni Von Doellinger

Isto ontem foi assim: a Volta chegava a Fafe e eu chamei a minha mulher para vermos a minha terra na televisão. O ciclismo ao vivo, à beira da estrada e do suor, comove-me, comove-nos, faz-me tanta impressão aquele poder, aquele esforço, ainda que vitaminados, que só me dá para tremer e chorar ao vê-los passar rasantes. E não vejo nada. Cuidam que estou a gozar? Não estou. Para já, não. Pegámos nas bandeirinhas e fomos, portanto, para o sofá. É mais seguro. E de homem.
A RTP anda a "filmar" a Volta a Portugal com telemóveis e um helicóptero com um telemóvel. A qualidade das imagens da corrida é uma merda e as informações gráficas são borrões. É a crise, e contra isso nada. Além disso, há o futebol. Mas o importante era Fafe e lá estávamos nós, eu e a minha mulher, de mãos dadas e corações alvoroçados à espera de nos revermos naquelas ruas, naqueles sítios que tão bem conhecemos e a que gostamos de chamar nossos. Havia um circuito à chegada, duas passagens pela meta. Um pitéu! Apesar do desfoque, o País inteiro ia ver como é bela a minha terra, como é única, e essa ideia não me saía da cabeça, entusiasmava-nos a ambos e às bandeirinhas.
Faltavam 17 quilómetros para o fim da etapa e a televisão informava que os corredores já estavam no circuito de Fafe. Eu expliquei à minha mulher que não podia ser, era engano, andei naquelas vidas, sei como estes desculpáveis lapsos acontecem, aquela via-rápida parecia-me mais a entrada em Sobral de Monte Agraço, quem vem de cima. "Vila Verde. Vila Verde, quem vem de baixo", contrariou-me ela, que me contraria sempre por uma questão de princípio. E, sim, de facto aquela estrada sem nada que a recomendasse nem bilhete de identidade podia muito bem ser nas bordas de Vila Verde. Ou de Sobral de Monte Agraço. Ou de Moimenta da Beira.
Os corredores umas vezes desciam não sei de onde e outras vezes subiam não sei para onde. Fafe era alcatrão e rails de protecção. Da minha terra, nada. No sofá discutíamos ipês e circulares e já íamos em Mértola, eu, e em Bragança, a minha mulher. A estrada impessoal e tão pau para toda a colher estava quase a acabar com o meu casamento quando finalmente dei fé da que já foi a Ponte de Golães. "Agora é que é", sobressaltei-me de alegria, "é mesmo Fafe, não é a Volta à Polónia". E os ciclistas pedalaram Santo Ovídio acima, deixaram a Cisterna para trás, passaram a Rua de Baixo e nós os dois a vermos aquilo na televisão todos vaidosos e a beliscarmo-nos, e nisto, às portas da Sacor, o programa da RTP avariou porque deu a chegada a uma meta em Vila Verde. Ou em Sobral de Monte Agraço. Ou em Moimenta da Beira. Ou em Mértola. Ou em Bragança, não sei bem. Sem o Largo, sem a Arcada e sem o Jardim do Calvário ao fundo, podia ser numa terra qualquer. Mas a televisão insistia que era Fafe.
E se calhar era. Porque apareceu o presidente da Câmara, que foi ao palco ser cumprimentado pelo vencedor da tirada. (Porque para isso é que estas coisas são feitas.) E era um palco de luxo: o presidente da Câmara, o João Baião e o Paulo Futre. Dinheiro bem gasto.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Era mesmo isto que querias dizer, Chico?

Francisco José Viegas deu uma entrevista ao Le Monde. Gosto da pessoa Francisco José Viegas, gosto do escritor Francisco José Viegas, tenho pena do secretário de Estado Francisco José Viegas, e, pelos vistos, ele também tem.
Pelo resumo que vejo no Público, Viegas, o escritor, deu uma entrevista bonita. Mas o político, ainda com a mania da honradez, escangalhou o resto. E o resto é isto:
- "Perdemos a nossa agricultura, a nossa pesca e a nossa indústria já pouco conta", disse Francisco José Viegas. É verdade. Perdemos tudo graças ao PSD e a Cavaco Silva, do seu tempo de primeiro-ministro.
- "Vivemos numa sociedade que perdeu os seus sonhos. Os portugueses têm medo do futuro", afirmou o secretário de Estado da Cultura. Pois têm. E como não haviam de ter? Afinal de contas o futuro dos portugueses está outra vez nas mãos do PSD e de Cavaco Silva. Os tais que desmantelaram "a nossa agricultura, a nossa pesca e a nossa indústria". "É terrível", Chico. Era mesmo isto que querias dizer?

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Previsões macroeconómicas e vice-versa

O ministro Álvaro Santos Pereira fez questão de anunciar ontem, em directo na televisão, que uma das coisas que sempre ensinou em Economia foi que "previsões macroeconómicas são previsões macroeconómicas". Os do Prémio Nobel andam a dormir.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Quando a arte é um dióspiro

Um monte de fardos de palha é, por estes dias, a grande atracção da Capital Europeia da Cultura. Parece que a palha, segundo conta o Público, não deixa ninguém indiferente à passagem por Guimarães. "Há quem abrande ou conduza com a cabeça de fora da viatura", precisa o jornal.
A mim, no entanto, tocou-me muito mais o projecto "Vi:Ela Sentada", da autoria do escultor sonoro e plástico João Ricardo de Barros Oliveira. A instalação constava de 20 cadeiras e 40 camisas brancas penduradas num estendal. As camisas. As cadeiras, desta vez, não. Um trabalho sem objectivo e sem mensagem, nas esclarecedoras palavras do artista. A inspiração veio-lhe obviamente do dióspiro, numa ocasião em que passou por uma viela, ouviu uma conversa entre mulheres e uma sardinha caiu de uma varanda e escorregou num guardanapo que estava a secar, afogando-se, a sardinha, num balde de lampreias. Depois foi só perquisar a alma acústica e a obra nasceu.
A lógica é uma batata e a arte pode ser um dióspiro. A palha é apenas palha. Abro aqui uma excepção no Tarrenego! e condescendo ao YouTube. Aproveitem estes intensos dez minutos. Até ao fim, até ao tutano. Às vezes a cultura é uma coisa muito bonita.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Os outros 30 por cento têm o futuro garantido

Crise leva quase 70 por cento dos estudantes universitários portugueses a quererem emigrar. Os outros 30 por cento estão bem: são da JSD.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Querem recordes? Vão ao Porto de Leixões!

Foto Hernâni Von Doellinger

O Porto de Leixões alcançou em Julho um novo recorde mensal de transporte de contentores, registando um crescimento de 28 por cento. O Porto de Leixões teve em 2011 um aumento de saída de mercadorias a rondar os 35 por cento e nos primeiros seis meses deste ano colocou mais 14 por cento em cima dos 35 por cento do ano passado. O Porto de Leixões exporta para mais de 120 países. O Porto de Leixões vai baixar as tarifas portuárias para poder crescer ainda mais. O Porto de Leixões é um orgulho para Matosinhos e uma referência para o País. O Porto de Leixões é à minha porta e eu gosto. O Porto de Leixões é, de longe, o melhor porto português e, muito provavelmente, a principal porta de saída das exportações nacionais. O Porto de Leixões está mesmo a pedi-las. O Governo vai dar cabo disto tudo.

domingo, 12 de agosto de 2012

sábado, 11 de agosto de 2012

Christian Fischer, o milagre

Luisão, que não é manso, rapou da pistola e enfiou três balázios no árbitro. O árbitro morreu em pleno relvado e graças a Deus ressuscitou rapidamente, se calhar por ter um primeiro nome assim tão fischer para as ressurreições. Os alemães estão podres. Podres de ricos. E parvos.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Zita Seabra e os 777 anões

Não liguem ao atraso. Eu bem não queria mexer nisto, mas tem que ser. A espionagem do PCP via aparelhos de ar condicionado, estão a ver? Cheira mal? Paciência! Portanto, cá vai. Para princípio de conversa, tenho que lavrar a minha mais profunda crítica à alegada comunicação social portuguesa, que parece que não levou a sério a corajosa denúncia: tratar um escândalo desta dimensão como se fosse um fait divers da silly season é erro crasso, de palmatória. E peço desculpa por escrever erro crasso, de palmatória, mas a verdade é que desconheço as expressões equivalentes em estrangeiro e que calhavam aqui que nem ginjas.
Isto é assunto sério. A espionagem do PCP via aparelhos de ar condicionado durante a década de oitenta do século passado é um prática bem conhecido por todos os ex-comunistas e sobretudo pelos ex-comunistas que foram expulsos do partido e arranjaram bom emprego no PSD. Demonstrando grandeza intelectual e enorme sentido de responsabilidade, Zita Seabra só agora, mais de vinte anos depois, é que foi ao Mário Crespo pôr a boca no trombone. E se não tinha essa ideia de início, acabou por colocar-se a jeito.
O PCP nega o óbvio, como lhe está na natureza, mas já não engana ninguém. Meteu mesmo anões nos aparelhos de ar condicionado "em tudo o que era ministério, em sítios nevrálgicos e em órgãos de poder". Anões especialistas, ouvidores, descriptadores e onzeneiros, que porém saíam do serviço às 19h45, por imposição sindical. O PCP ainda hoje não sabe o que é que o Governo tramava ao serão.
Percebem agora de onde vem a expressão tão nossa e tão dos nossos medos de que "o ar condicionado tem ouvidos"?
Dir-me-ão as boas almas, os simples: mas ainda bem que o PCP pelo menos arranjou emprego a essa minoria da população portuguesa, uma vez que ainda não havia Bloco de Esquerda. Ora aí é que a porca torce o rabo: porque estes anões não eram anões desde o princípio. Eram todos matulões com mais de um metro e noventa que foram mingar durante quatro anos (o curso completo) num campo de treino da antiga União Soviética. Saíram de lá anões como manda a sapatilha, regressaram a Portugal e foram introduzidos nos aparelhos da FNAC. Até um deles, por causa de um peido - um peidinho, de anão -, ter sido descoberto pela senhora da limpeza do Governo, que foi logo meter no cu da Zita Seabra.
E lá se acabou o que era bom para os anões: o fresquinho no Verão e o quentinho no Inverno. Hoje trabalham nas máquinas do Multibanco. Sem ar condicionado.

Euromilhões? Perguntem ao Catroga!

Existem mais de 116 milhões de chaves possíveis para ganhar o Euromilhões, mas só uma é garantida. A do Catroga. Sai-lhe todos os meses.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Um título assim um bocadinho para o incendiário

Os incêndios de Verão. "Área ardida este ano é oito vezes maior do que a de Lisboa", diz o título do Público. Título gaiteiro, malandro, na linha do aggionarmento 24horístico da chamada imprensa portuguesa em geral e do jornal de Belmiro de Azevedo também. Lisboa a arder, estão a ver? Não uma, mas oito vezes. É uma ideia. Os Super Dragões apoiam: há cânticos, bandeiras, cachecóis e isqueiros no ar. Bora lá botar lume...
Antigamente isto não era assim. Nas notícias, a "dimensão" dos incêndios media-se em campos de futebol. Mas, pensando melhor, se calhar já era a mesma merda.

É Coura, estúpidos! (edição 2012)

O Festival de Paredes de Coura está à porta, mas a asneira já entrou. São os jornais. Jornalistas e simpatizantes que insistem em escrever que o evento decorre nas margens do rio "Tabuão". Porra!, eu já disse que não existe nenhum rio "Tabuão". O que há é um sítio (isto é, um local) chamado Taboão (Taboão com o) junto ao rio Coura. É a praia fluvial do Taboão. E é na praia fluvial do Taboão (Taboão com o), nas margens do rio Coura, que se realiza há 20 anos o Festival de Paredes de Coura. De uma vez por todas, por favor: o rio Coura não se chama rio "Tabuão", nem sequer rio Taboão - chama-se rio Coura, como o próprio nome indica. Por isso é que Paredes de Coura se chama Paredes de Coura e não Paredes de Taboão.
Vamos lá então recapitular a matéria dada há um ano: o rio que passa em Paredes de Coura chama-se rio Coura. É o mesmo rio que, mais abaixo, passa em Vilar de Mouros e continua a chamar-se rio Coura. O Coura nasce na serra da Boalhosa, na lagoa da Chã de Lamas e na serra de Corno de Bico, fazendo um percurso de cerca de 50 quilómetros até desaguar na margem esquerda do rio Minho. Banha os concelhos de Paredes de Coura, Vila Nova de Cerveira e Caminha. Passa pelas freguesias de Formariz, Paredes de Coura, Rubiães, São Martinho de Coura, Covas, Vilar de Mouros, Venade, Vilarelho, Seixas e Caminha. Percebido? Agora vamos escrever isto 50 vezes no quadro.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Cheirava-lhes a cadáver...

Em 1938 escrevia-se desta maneira nos jornais portugueses:

António von Doellinger, sargento reformado do Exército Colonial, foi levado a enterrar.
Na câmara ardente, ao redor dum caixão de quatro tábuas singelas, os seus filhos, crianças tamaninas, choram.
A mais inocente e novinha de todas desvia um lenço sedalino que cobre o rosto esverdeado do defunto. O cadáver está ainda morno, exalando um cheiro canfórico a denunciar a decomposição deletéria que embriaga os abutres e as corujas. O olhar, derramado, vítreo, tem os estigmas reveladores dum horrível sofrimento moral, adivinhando-se que, daquele corpo macerado, foi o coração, alanceado pela dor cruciante da despedida à orfandade, o derradeiro órgão a morrer.
E o lenço de prateada seda cobre de novo os lábios descarnados do pobre Doellinger.
Tuberculizara. Passara privações. Desde que a doença entrara naquele tugúrio, a Conferência de São Vicente de Paulo, de sinistra nomeada, ofertou socorro ao Doellinger. Impunha, porém, uma condição: o doente devia confessar-se, devia confortar-se com os sacramentos da Igreja Católica. Não era penosa a exigência... Um tuberculoso nada adianta nem atrasa, em tal estado, engolindo a hóstia consagrada - um pedaço de obreia amassada com saliva de sacristão.
António von Doellinger, contudo, tem escrúpulos, só porque era anticlerical.
Mas um padre insistia - e, aguardando o momento desejado, quando o doente entrava no estertor da agonia dolorosa, abeirou-se-lhe do leito frio, vestindo de saia negra, na noite negra, como a morte negra que rondava à cabeceira do tuberculoso.
Doellinger recusou ainda nobremente.
Mas era necessário dizer à estupidez do indígena crédulo, fanático e supersticioso, que o ateu implorou, na hora derradeira, na hora do delírio, da alucinação, da inconsciência, o perdão de Deus e a piedade da Santa Madre Igreja. Ainda o sargento Doellinger, estóico ante a morte que tantas vezes lhe fora companheira na inóspita África, quando lutava nas fileiras, teve um gesto grandioso, heróico e teatral, bradando:
- "Não preciso da Igreja, não preciso do perdão de Deus... Não sou um criminoso..."
O padre teria sentido um arrepio de medo, um estremecimento de consciência - e largou a vítima inofensiva.
E, ao nascer da aurora, um sino dobrou, plangente, a finados!
A consciência alheia, as ideias dos nossos semelhantes são, para a Igreja Católica, coisas sem sentido.
O que é preciso, para maior glória de Deus, é que os adversários do catolicismo se arrependam, na hora derradeira, na hora suprema, quando o espírito vacila, quando o corpo arrefece ao contacto do gelo da morte, quando o indivíduo está já em estado de inconsciência, de irresponsabilidade, quando entra no delírio, na demência! Então a vítima pode ceder, porque costuma fraquejar ante o fantasma sinistro que gargalha na ronda nocturna.
O cheiro a cadáver embriaga e consola os abutres que começam a grasnar, sedentos de sangue, ávidos de carnagem dos corpos pútridos!

Este texto, com o título "Cheirava-lhes a cadáver...", foi escrito, muito provavelmente, pelo jornalista e resistente antifascista fafense Manuel Teixeira, então proprietário e director do semanário republicano O Combate. José Manuel Teixeira da Silva e Castro (1906-1980) era irmão do também jornalista (António) Teixeira e Castro (1928-2004), com quem acamaradei no Primeiro de Janeiro. O Combate, fundado em 1930, teve vida atribulada e efémera. Foi fechado definitivamente pela Censura em 1941. Há anos que guardo religiosamente a reprodução fotográfica da primeira página deste número, que me foi revelado pelo Sr. Vale do Arquivo do Janeiro. Copiei a prosa com recurso a lupa e não garanto isenção de pequenos erros na transcrição. Até da data não tenho a certeza: mas se não é de 1938, anda por lá perto.
Visito-o amiúde. Leio e releio, e cada vez fico mais desconfiado de mim. Com um antepassado da marca deste sargento von Doellinger, donde raio é que me vem a costela sacrista?

domingo, 5 de agosto de 2012

Uma boa e má notícia

Um estudo que avalia 161 hospitais públicos e privados com unidades de internamento em Portugal continental concluiu que todos cumprem os parâmetros exigidos no que diz respeito à segurança do utente. Sessenta e sete desses hospitais são até exemplos de excelência clínica. É uma boa notícia. Sou utilizador do Serviço Nacional de Saúde e não fiquei surpreendido.
A má notícia é que o Governo ainda tem muito por onde estragar.

Falei uma vez com Paulo Macedo, actual ministro da Saúde, em curiosas circunstâncias que um dia poderei contar. Percebi-o um homem sério e íntegro, uma boa pessoa, no melhor que a estafada expressão pode ainda conter. Deram-lhe um ministério e uma missão. Uma missão que ele cumpre com o rigor e a competência que lhe são justa e sobejamente reconhecidos. Enganaram-se foi no ministério.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Por outro lado, Rui Rio é FDP


Rui Rio foi ontem ao tribunal. Os tribunais ficam de graça ao País e não têm mais nada que fazer, de forma que a Justiça resolveu matar o tempo à procura da seguinte verdade, somente a verdade e nada mais do que a verdade: dizer que Rio é um FDP é chamar "filho da puta" ao presidenta da Câmara Municipal do Porto ou, como se fôssemos todos tolos, apenas um remoque ao facto de o autarca anti-FCP ser um "fanático dos popós"?
Rui Rio garante que é "filho da puta", até porque não se considera "fanático dos popós". "Nunca ouvi esse disparate", afirmou Rio à juíza, sem mais delongas, enquanto ajustava o volume do sonotone. E aqui é que ele se espalhou. Porque toda a gente sabe, até a Justiça, o que é que o outro lhe quis chamar com a falsa pichagem do FDP na fachada do Mercado do Bolhão. Isso é uma coisa. Coisa feia, garotice. Outra coisa é que o presidente da Câmara do Porto é mesmo "fanático dos popós". Rui Rio nunca o escondeu até ontem, pelo contrário, toda a gente sabe e diz. E se FDP pode ser isso dos automóveis, então Rio é.

(A propósito: a Federação Internacional do Automóvel anunciou o calendário para 2013 do campeonato WTCC.  E as corridas estão de volta à Avenida da Boavista.)

Era a Sagres, era!

Foto Hernâni Von Doellinger

Um Governo que não coisa nem sai de cima

O relatório do Governo sobre as fundações tem erros de palmatória, mas o Governo diz que a culpa é das fundações. A Caixa Geral de Depósitos teve um prejuízo de 12,7 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, mas para o Governo a culpa é obviamente dos portugueses que não trabalham nem recebem e, vá-se lá saber porquê, deixaram de meter dinheiro no banco. Apenas 43,5 por cento do quase milhão e meio de portugueses desempregados recebiam subsídio de desemprego em Junho, mas o Governo dirá que a vida é mesmo assim. O Governo afirma que todos os professores são necessários e manda uns quantos milhares para o estaleiro. Mas o Governo vai "agilizar" a legislação relativa à abertura de sex-shops. Muito obrigado, era exactamente isso que me estava a fazer falta.

Gosto de janelas assim

                                                                                      Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Hobby empresarial


Miguel Pais do Amaral é o tal administrador com cargos em 73 empresas. E note-se que se trata apenas de um hobby. A sua principal ocupação é, como se sabe, a de piloto de carros de corrida.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Portugal, a gruta mais profunda do mundo

"Há uma comunidade de invertebrados na gruta mais profunda do mundo", diz o jornal Público, sempre atento às momentosas descobertas da ciência. Mas... gruta mais profunda do mundo? Não me parece bem chamar um nome desses a Portugal.