sábado, 21 de setembro de 2024
A guerra dos dias
sexta-feira, 20 de setembro de 2024
Sardinhas de Setembro
Televisão de faca e alguidar
quinta-feira, 19 de setembro de 2024
O Capitão Gancho e o Capitão Iglo
P.S. - Hoje é Dia Internacional de Falar Como Um Pirata. Aaarrr!...
Piratas de meia-estação
O assunto, como de costume, não era pacífico. Prestava-se, aliás, a discussões mais ou menos geométricas e atlânticas. Com efeito, só o Equilátero acreditava no Triângulo das Bermudas. Era parte interessada, refira-se. O Isósceles e o Escaleno faziam pouco, gozavam o patau, partiam o coco a rir. Sobretudo por causa daquela vestimenta ridícula que não chega a ser calças mas sobeja para calções...
P.S. - Hoje é Dia Internacional de Falar Como Um Pirata.
Passos Perdidos ou Triângulo das Bermudas?
O rato roeu a rolha
Revoltaram-se portanto os ratos. Organizaram-se. Chegada a horinha, meteram-se na fila, esperaram pela vez respectiva, marcaram o ponto e abandonaram ordeiramente o navio. Foram os últimos a sair. E apagaram a luz. Já em terra firme, os ratos dirigiram-se sem mais delongas à montanha que os pariu e roeram a rolha da garrafa do rei da Rússia. Todos, menos o Alcides, que era um rato de biblioteca e foi para o Café Avenida beber um dedal de rum e ler com todos os vagares "A Saga/Fuga de J.B.", de Gonzalo Torrente Ballester.
quarta-feira, 18 de setembro de 2024
O leitor
O génio da água destilada
Ele tinha um comportamento
aparentemente excêntrico em dias de invernada: saía à rua com o
guarda-chuva aberto ao contrário. As pessoas riam-se. Não sabiam que
ele era recarregador de baterias...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Monitorização da Água.
Os influentes
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Monitorização da Água.
terça-feira, 17 de setembro de 2024
Bombeiros ou comentadores?
Com tantos comandantes de bombeiros armados em comentadores em todas as televisões, incluindo as repetidas, como é que o país, cá fora, no terreno, não há-de estar a arder e a matar sem que se lhe tenha mão?
segunda-feira, 16 de setembro de 2024
Ligeiramente chateada nos pólos
P.S. - Hoje é Dia Mundial para a Preservação da Camada do Ozono.
domingo, 15 de setembro de 2024
Eu só queria ir à farmácia
No centro de saúde fui atendido em menos de uma hora. Perguntaram-me "então o que é que o traz por cá" e eu expliquei "aconteceu-me isto assim assim, fui à farmácia, na farmácia mandaram-me ao médico, e eu vim". "Ora mostre lá o olho", e eu mostrei, "vai ter de ir imediatamente ao oftalmologista, mas, como no Hospital Pedro Hispano não temos urgência da especialidade, pegue lá esta carta e vá ao Hospital de Santo António", e eu fui. A pé até à Avenida Serpa Pinto, apanhei o autocarro 500 até ao Castelo do Queijo, esperei uma hora pelo autocarro 200 e, quando o trânsito me deixou, lá cheguei ao Santo António, no centro ensarilhado da cidade do Porto.
Na urgência fui atendido em menos de um quarto de hora. Perguntaram-me "então o que é que o traz por cá" e eu expliquei "aconteceu-me isto assim assim, fui à farmácia, na farmácia mandaram-me ao médico, o médico mandou-me aqui, e eu vim". "Ora mostre lá o olho, encoste aí o queixo e olhe para esta luzinha", e eu mostrei, encostei e olhei. "Tome lá esta receita, são umas gotas para colocar de duas em duas horas, vá já à farmácia", e eu fui. Estava de volta à casa de partida, passava pouco das 21h45.
Quatro horas e meia de razoável diversão e salutar convívio. E tudo isto pelos módicos cinco euros da taxa que ainda se pagava no centro de saúde, mais as viagens e os quase catorze euros das gotas, que afinal nem precisavam de receita médica, e que estou a pensar meter como despesas de representação. Vou-me queixar de quê?
Gosto de destoar. Sei que tenho o melhor serviço nacional de saúde do mundo. Raramente lhe dava uso, mas frequento-o agora assiduamente e vivo de olhos abertos. Será da idade? E querem saber o que é o nosso Serviço Nacional de Saúde? São as pessoas: os auxiliares, os médicos e os enfermeiros, que todos os dias trabalham no arame e sem rede, que já lhes tiraram há muito, e fazem funcionar uma coisa que na verdade já nem existe, ou, se quisermos ser bondosos, vai morrendo aos bocadinhos. A minha urgência ocular pareceu-me uma desnecessidade, mas as pessoas quiseram fazer bem - são profissionais. E excelentes! Estou-lhes grato e amiúde digo-lhes isso. E faço figas para que me tratem sempre assim mas palminhas, prevenindo em vez de acudir ao que já não tenha remédio. Em todo o caso, palavra de honra, daquela vez eu só queria ir à farmácia.
P.S. - Hoje é Dia do Serviço Nacional de Saúde.
O verdadeiro democrata
sábado, 14 de setembro de 2024
Cada um tinha a sua cruz
Castigo máximo
P.S. - O primeiro penálti da história do futebol foi marcado no dia 14 de Setembro de 1891. Autor da façanha, John Heath, no jogo da Taça de Inglaterra em que o Wolverhampton venceu o Accrington por 5-0.
Epifania
sexta-feira, 13 de setembro de 2024
O ânus da prova
Já o outro, urbanita de grande metrópole, frequentador de mundo e telejornais, ajeita delicadamente os botões de punho de dezoito quilates, afaga a gravata hermès sofisticada e cara, faz biquinho e diz, finíssimo porém acutilante, ânus da prova. Ânus da prova, é o que ele diz na televisão de esgoto! Ânus da prova para aqui, ânus da prova para ali, enche a boca de ânus da prova! E chamam-lhe ó-doutor, jurista, comentador, especialista em molduras penais e em penicos de esmalte. E ninguém se ri.
Por outro lado. "A minha pátria é a língua portuguesa", escreveu o nosso Fernando Pessoa. "A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo. Um povo só começa a perder a sua independência, a sua existência autônoma, quando começa a perder o amor do idioma natal. A morte de uma nação começa pelo apodrecimento da língua", escreveu Olavo Bilac, o brasileiro e sensato.
Bilac (1865-1918) e Pessoa (1888-1935). Não quero saber aqui quem é ovo ou quem é galinha, nem me interessa como assunto, de momento, o miserável, escusado e alegado acordo ortográfico. Lembrei-me foi dos professores doutores da mula ruça, traidores à pátria, que enchem a boca de "periúdos", de "interésses", de "rúbricas", de "perzeveranças", de "mediúcres". Enchem a boca e apodrecem a língua. Apodrecem a língua e matam a nação.
António Costa, por exemplo. Já era tempinho de aprender a falar português, depois de, em 2015, ter aprendido a não falar mandarim. Em São Bento e no Largo do Rato ninguém lhe soube deitar a mão e pôr pimenta na língua, espero bem que agora lá pelos corredores e gabinetes do Conselho Europeu apareça alguma alma caridosa que ensine ao nosso ex a basezinha das regras de concordância, alguém que pelo menos o proíba de comer sílabas enquanto fala. Falar com a boca cheia é, para além do mais, falta de educação.
Por muitos e bons
Foto Hernâni Von Doellinger |
Fernando Teixeira dos Santos, o encomendador da troika, faz hoje anos. O ministro das Finanças de José Sócrates nasceu no dia 13 de Setembro de 1951, portanto é só fazer as contas, como diria o Guterres. Eu não sabia o que havia de fazer a esta fotografia, e, pronto, está feito.
quinta-feira, 12 de setembro de 2024
Palavra do senhor
Foto Hernâni Von Doellinger |
A senhora sentada à minha frente faz croché - que raro! Eu leio um livro. O resto do metro espreita o telemóvel, fala para o telemóvel, escreve no telemóvel, joga no telemóvel, tira selfies com o telemóvel, põe o telemóvel entre pernas, aconchegadíssimo às intimidades, em alarmante modo de vibração. O metro inteiro é um telemóvel amarelo de duas carruagens, dois refractários e razoáveis orgasmos. Como quem não quer a coisa, a senhora sentada ao lado da senhora sentada à minha frente que faz croché desvia um olho do telemóvel e procura-me a capa do livro. Chega lá. Abana a cabeça, sentenciosa, faz cara de caso, deita-me uns olhos, ambos, num misto de decepção e de censura. Percebo-a: não leio José Rodrigues dos Santos. Leio "Poesias Completas & Dispersos", de Alexandre O'Neill, calhamaço como os do outro, mas calhamaço sem culpa de autor, calhamaço que dá gosto. Folheio-o com o respeito e o cuidado de quem folheia uma bíblia. E é. Vou naquela parte em que O'Neill me diz "A estouvaca": deitada atravessada / na estrada / a malhada / vai ser atropelada / foi. Palavra do senhor.
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Croché.
As doenças têm dias
quarta-feira, 11 de setembro de 2024
O bombeiro profissional
Ele era um bombeiro verdadeiramente profissional. Só aceitava incêndios das 9h às 13h e das 14h às 17h, de segunda a sexta-feira. Fora do horário de expediente, que ligassem aos voluntários!
P.S. - Hoje é Dia Nacional do Bombeiro Profissional.
terça-feira, 10 de setembro de 2024
E se fossem lamber sabão?
Foto Hernâni Von Doellinger |
A rede de carros eléctricos da STCP resume-se a duas linhas e chama-se, hoje em dia, Porto Tram City Tour, está-se logo a ver porquê: é produto para camones. A STCP é a Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, E.I.M., S.A. Isso. A STCP informa que o PTCT "é um ex-líbris incontornável da cidade do Porto". Do Porto - como o célebre vinho. E decerto por isso é que o eléctrico da Linha 18, ou Linha da Restauração, exibe garbosamente as cores do irlandíssimo uísque Jameson.
Que fique registado - eu não tenho nada contra o uísque Jameson, antes pelo contrário. Aliás, se o uísque em geral não soubesse a sabão e se eu gostasse de uísque, era Jameson que beberia. E bebi durante algum tempo, por armanço puro e sem gelo.
Aqui há coisa de trinta anos estive lá, na Old Jameson Distillery, em Dublin, ou na The Jameson Experience Midleton, em Cork - isso é que já não sei precisar, porque os ares da Irlanda, pelo que percebi daquela vez, para além de fazerem muito mal ao fígado, também não são grande coisa para a memória. Mas quase que posso jurar que estive lá, e fiquei convencido. O Jameson foi o único uísque que alguma vez pedi pelo nome, mais que não fosse para ex-pli-car ao resto do balcão que eu... estive lá. Depois cheguei à idade de ganhar juízo, e ganhei. Aprendi o vinho.
(Já aqui contei: havia o sabão azul, o sabão rosa e o sabão amarelo. O sabão azul era o sabão macaco, para lavar roupa de barba rija, o sabão rosa já naquele tempo era para peças mais delicadas e o sabão amarelo era para lavar as escadas e os soalhos, que, em muitas casas, depois eram encerados. E havia também o sabão para lamber, que eu nunca soube de que cor era nem que sabor tinha, mas era o que a minha mãe me mandava fazer, - Vai lamber sabão!, quando eu andava à roda dela a arengar conversa sem assunto.)
Posto isto, permito-me continuar inclinado a afirmar, aguardando entretanto comprovação laboratorial, que é com sabão de lamber que se faz uísque. Anda portanto meio mundo a lamber sabão, e era também ao que deveriam dedicar-se as cabeças da STCP que têm a distinta lata de deixar colar publicidade a uísque num "ex-líbris incontornável da cidade do Porto". Do Porto - como o célebre vinho. Nem que fosse o Três Velhotes, que o meu avô da Bomba guardava ou escondia na mala de enxoval, no quarto, mesmo em frente à cama, aferrolhada a sete chaves e ali debaixo de olho, somando todos os anos mais duas ou três, dadas ou abafadas, nunca percebi a razão daquele desenfreado açambarque. E nunca molhei o bico.
Devia ser só o prazer de não dar. E deviam ser milhões de garrafas na mala quando o meu avô morreu. E o meu avô da Bomba deve ter morrido bastante satisfeito.
Eu sei. O vinhinho em questão, modesto mas honrado, chama-se apenas Velhotes, mas o povo, que percebe muito bem os desenhos, chama-lhe desde sempre Três Velhotes. Nunca percebi por que razão produtores e distribuidores não lhe mudam o nome, aproveitando a abébia da publicidade popular. Quanto a isso, porém, Cálem-te boca...
segunda-feira, 9 de setembro de 2024
Águas mil
Maria já não vai com as outras
P.S. - Hoje é Dia da Grávida. Ou Dia Mundial da Grávida. Em Portugal, Dia Nacional da Natalidade.
domingo, 8 de setembro de 2024
As qualidades de Pedo Santana Lopes
Bastante desagradável
- Você também.
- Eu referia-me ao tempo.
- Eu não.
Concelhos de mãe
Se um elefante...
- E tive assim tipo uma reacção pélvica, passei-me...
- Reacção quê?
- Pélvica. Tipo à flor da pele, tás a ver? Pélvica.
- Queres dizer epidérmica?
- Não, essa cena é dos elefantes. Pélvica. Diz-se pélvica. Dããããã!...
Missais terra-ar
Dores artroses
Copiosamente
sábado, 7 de setembro de 2024
Um bigode em forma de talvez
As barbas de molho
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Barba.
sexta-feira, 6 de setembro de 2024
Os Dalton, uns e os outros
Houve também o bando dos Dalton a sério (à séria, se lido em Lisboa). Eram especialistas em bancos e comboios, actuaram com assinalável sucesso no Velho Oeste americano entre 1890 e 1892 e chamavam-se Tim Evans, Bob Dalton, Grat Dalton e Dick Broadwell. Foram abatidos pela polícia durante o assalto a uma dependência bancária em Coffeyville, Kansas, e tiveram todos um lindo enterro.
Há ainda a registar Dalton Trumbo, tão excelente quanto controverso romancista e argumentista norte-americano, Timothy Dalton, aquele actor galês e fraquinho que fez por engano dois 007, o Dalton Ico e o Dalton Trevisan, famoso escritor brasileiro entendido em vampiros e ganhador dos prémios Camões e Machado de Assis, entre outros. O mais destacado membro da família terá sido, no entanto, o cientista inglês John Dalton (1766-1844), químico, meteorologista e físico, um dos primeiros a defender que a matéria é feita de pequenos nadas, os átomos, e inventor da "lei das proporções múltiplas", melhor chamada Lei de Dalton evidentemente para não se confundir com a Lei de Ohm.
A orgia e o seu princípio
Uma questão de compasso
É hoje! É hoje! É hoje!!!
- Por favor, aqueles que fazem amor 30 vezes por mês, levantem a mão!
- Eu!... Eu!.. Eu!... Eu!... Eu!... Eu!... Eu!...
- Aqueles que fazem amor duas vezes por mês...
- Eu!... Eu!.. Eu!... Eu!... Eu!... Eu!... Eu!...
- Uma vez por mês...
- Eu!... Eu!.. Eu!...
- Uma vez por trimestre...
- Eu!...
- Uma vez por semestre...
- ...
- Uma vez por ano...
E um velhinho, eufórico:
- Eu!, eu!, eu!, eu!, eu!, eu!, eu!, eeeeeeeu!..
- Mas porquê tanta euforia?
- Porque é hoje! É hoje! É hoje!!!
quinta-feira, 5 de setembro de 2024
Há bar e bar
Foto Hernâni Von Doellinger |
Há bar e bar
Bar Aço
Bar Afunda
Bar Afusta
Bar Alho
Bar Ão
Bar Atinado
Bar Ato
Bar Ba
Bar Bacã
Bar Bante
Bar Bárie
Bar Batana
Bar Bearia (ou cervejaria, em estrangeiro)
Bar Beita (de Cima e de Baixo)
Bar Bicacho
Bar Bichas (e outras idiossincrasias)
Bar Bitúrico
Bar Carola
Bar Cu
Bar Damerda
Bar Ítono
Bar Lavento
Bar Baquim
Bar Celos
Bar Bosa
Bar Dino
Bar Inho
Bar Isto
Bar Queiros
Bar Tinho (o constipado)
Bar Tolo
Bar Rabás
Bar Reiro
Bar Roso
Bar Aneante
Bar Boto
Bar Celete
Bar Demar
Bar Keley
Eram pobres e tinham dono
Virtudes teologaisFé, esperança e caridade.A fé move montanhas.A esperança é a última a morrer.E a caridade tem dias.
Antigamente a caridade tinha dia certo e era um descanso. Pelo menos em Fafe. Às sextas-feiras, vamos supor, os pobres manquelitavam de porta em porta pedindo "uma esmolinha por alma de quem lá tem". Os pobres da parte de fora da porta eram uns desgraçados muito rotos e muito sujos e eram assim para se distinguirem dos pobres da parte de dentro da porta, que já tinham em cima da "cristaleira" umas moedinhas negras separadas e preparadas para a função. Éramos todos pobres, dum e doutro lado da porta, uns mais, outros menos, e, à falta de quem governasse por nós, em Lisboa ou na Câmara, porque ainda não havia Europa, nada mais nos restava senão sermos uns para os outros. Às sextas-feiras, vamos supor. O resto da semana, não.
(A "cristaleira" tinha sido comprada em terceira mão e paga em honradas prestações mensais.)
Naquele tempo os ricos tinham os seus próprios pobres, privativos, pessoais porém transmissíveis. Os pobres eram deixados em herança. Ter pobres por conta era, pelo menos em Fafe, inequívoco sinal exterior de riqueza. Os pobres eram exibidos, bastas vezes à porta da igreja, como gado preso à argola do tasco em dia de moscas e feira semanal. Para o senso comum, quantos mais pobres alguém tivesse, mais rico era. Os pobres eram, portanto, uma medida de riqueza e uma necessidade da Nação para que os ricos prosperassem. Quantos mais pobres Portugal tivesse e quanto mais pobres fossem os pobres portugueses, mais ricos seriam os nossos ricos, e isso certamente era bom para o Produto Interno Bruto.
Isto é: a pobreza convinha-nos, aos pobres. A pobreza era o progresso da Nação. O regime ensinava-nos desde os bancos da escola que felicidade era sermos pobres mas honrados e termos as unhas das mãos sempre limpas. E isso deixava-me cheio de pena dos ricos, infelizes, principalmente dos ricos muito ricos que ainda por cima tinham as mãos sujas.
(Os ricos, pelo menos os de Fafe, não davam a roupa nem o calçado que já não lhes serviam. Vendiam a roupa e o calçado, a pronto, aos pobres da parte de dentro da porta. Vendiam. Os pobres da parte de dentro da porta, passados alguns meses de uso, davam aos pobres da parte de fora da porta a roupa e o calçado que tinham comprado a pronto aos ricos. Davam. Às sextas-feiras, vamos supor. O resto da semana, não.)
Graças a Deus, isto era só antigamente.
P.S. - Hoje é Dia Internacional da Caridade.
quarta-feira, 4 de setembro de 2024
Os pontos nos ee
Já não vamos para velhos
A sarça ardente
terça-feira, 3 de setembro de 2024
Et al.
Ao quadro
segunda-feira, 2 de setembro de 2024
Ó filha, se mo desses!...
Acampado no multibanco
domingo, 1 de setembro de 2024
Quem vê caras não vê orações
Foto Hernâni Von Doellinger |
Um daqueles famosos restaurantes de peixe na brasa aqui ao lado, na Rua Heróis de França, Matosinhos, estais a ver, já vos chegou o cheiro? Ainda é cedo. Pouco passa das oito da manhã, uma velhinha varre cerimoniosamente a esplanada que por acaso é passeio ocupado com ordem municipal. Asseada como se fosse domingo, a velhinha, corpo franzino, cabelos brancos de neve, ajeitados à moda da televisão, uma carinha doce, redonda como um minúsculo sol resplandecendo bondade, olhos apontados ao chão, espertos, criteriosos, os olhos, a velhinha varre varre, vagarosa e competente. Varre varre vassourinha, se varreres bem dou-te um vintém, se varreres mal dou-te um real. Se os anjos varressem e fossem velhinhas, e competentes, eram ela certamente e varreriam assim mais ou menos. A rua naquele sítio àquela hora éramos a velhinha e eu. Eu, que venho de mercar sardinhas madrugadoras e vivas, estremeço de comoção.