domingo, 31 de julho de 2011
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Aramis
Eu fiz o que pude, dadas as circunstâncias: acagacei-me até mais não, a bem dizer paralisei, ainda por cima passou-me pela cabeça que de repente se desemboscassem por detrás das árvores o Porthos, o Athos e até o d'Artagnan para ajudarem o Aramis e então é que eu me borrava todo. Uma vergonha.
Portanto era nisto que nós estávamos: eu ali à rasquíssima, nem para a frente nem para trás, e o estupor do cão (eu já disse que era bem bonito por sinal?) com a dentuça cada vez mais arreganhada e mais próxima dos meus ricos calcanhares. A dona bem chamava por ele, aflita, "Aramis, anda cá, Aramis, anda cá", foi assim que eu fiquei a saber o nome do animal, mas ele deixa-te estar que eu já te atendo.
"Desculpe, ele só quer brincar", aproximou-se de mim a dona, a ver se lhe punha a mão e é o pões. "Mas eu não, minha senhora", saiu-me numa vozinha de falsete e o coração quase que vinha atrás. Não consegui articular, mas eu tinha sérias dúvidas de que o cão estivesse informado de que só queria brincar.
Finalmente, num assomo de determinação e talvez desespero, a senhora gritou, dura, autoritária, "Aramis, anda já aqui à dona!", conferindo uma inflexão muito forte à palavra DONA. E o cão acordeirou, deixou-se prender e levou um raspanete. Eu saí dali para fora logo que as minhas pernas me deixaram, dando graças a Deus por na verdade haver cães que conhecem o dono. A dona.
Agora, a minha ideia é esta: o Parque chega para todos, pessoas, cães e até outros animais mais ou menos selvagens, como, por exemplo, as bicicletas. Mas, tendo em vista uma convivência pacífica entre todas as espécies, impõe-se que alguém ande pela trela. Ou eles ou nós. A mim dá-me igual, como muito dizem os espanhóis em geral e esse moderno miguel-de-vasconcelos chamado André Villas-Boas.
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Perguntaram-me:
- Mas você não está no Facebook?!...
E eu respondi:
- Eu não. Eu sou casado.
- Mas você não está no Facebook?!...
E eu respondi:
- Eu não. Eu sou casado.
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Tem a quem sair
O líder da JSD/Madeira, José Pedro Pereira, mijou num carro da Polícia. De acordo com o Diário de Notícias de Lisboa, "a PSP confirmou hoje, em comunicado, a ocorrência do dia 23 de Julho, às 2h00, junto a um estabelecimento de diversão nocturna no Molhe da Pontinha - Funchal".
E depois? Qual é a crise? Mijou, lava-se. Estamos na Madeira! O que é a mijadela da pontinha do jovem Zé Pedro comparada com as diarreias dos seniores Alberto João Jardim e Jaime Ramos, que nos andam a cagar em cima há um ror de anos?
E depois? Qual é a crise? Mijou, lava-se. Estamos na Madeira! O que é a mijadela da pontinha do jovem Zé Pedro comparada com as diarreias dos seniores Alberto João Jardim e Jaime Ramos, que nos andam a cagar em cima há um ror de anos?
Fortunas & Despedimentos
Américo Amorim é, pelo quarto ano consecutivo, o homem mais rico de Portugal. Dono de participações na Corticeira Amorim e na Galp Energia, o rei da cortiça viu a sua fortuna engordar 18,2 por cento. Amorim vale agora 2,6 mil milhões de euros.
Logo a seguir vem Alexandre Soares dos Santos, o homem do Pingo Doce, que beneficiou de uma valorização do seu património em 88,9 por cento, atingindo a marca de 1,9 mil milhões de euros. Em 2004, Soares dos Santos aparecia bem mais abaixo na lista, com uns modestos 330 milhões de euros.
Belmiro de Azevedo, o senhor Sonae, fecha o pódio, com uma fortuna de 1,3 mil milhões de euros.
Eis o top 10:
1.º - Américo Amorim: 2587,2 milhões de euros
2.º - Alexandre Soares dos Santos: 1917,4 milhões de euros
3.º - Belmiro de Azevedo: 1297,6 milhões de euros
4.º - Família Guimarães de Mello: 1006,6 milhões de euros
5.º - Família Alves Ribeiro: 779,7 milhões de euros
6.º - Perpétua Bordalo da Silva e Luís Silva: 679,7 milhões de euros
7.º - Rita Celeste Violas e Sá, Manuel Violas: 650,6 milhões de euros
8.º - Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo: 645,8 milhões de euros
9.º - Família Cunha José de Mello: 638 milhões de euros
10.º - António da Silva Rodrigues: 551 milhões de euros.
Não sou dado a invejas. Na minha modesta opinião, ainda bem que a crise não é para todos e os lugares na administração da Caixa Geral de Depósitos também não. Sugiro, no entanto, o seguinte exercício jornalístico à revista Exame ou a outra qualquer publicação nacional com idênticos meios de investigação: vejam-me, por favor, quantos trabalhadores foram despedidos por cada um destes senhores durante o último ano e elenquem o respectivo ranking. Muito agradecido.
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quarta-feira, 27 de julho de 2011
E depois das gravatas? Os capacetes?
A novidade tem quase um mês, mas foi hoje descoberta pelo Expresso. O Governo norte-americano gasta, por ano, 14 mil milhões de euros em ar condicionado, só para refrescar as tropas do Tio Sam no Iraque e no Afeganistão.
Mas que falta que faz em Washington a nossa Assunção Cristas!
Mas que falta que faz em Washington a nossa Assunção Cristas!
O viagra ao poder
Estava aqui a pensar: do que nós precisávamos mesmo era de um verrumador encartado para tomar conta do País. Sinceramente não sei se há alguém à altura em Portugal, mas o viagra está aí para o que for preciso. Convinha-nos um governante da casta de um John F. Kennedy, de um Bill Clinton, de um François Mitterrand, tão presidentes quanto adúlteros, ou até de um Dominique Strauss-Kahn, esse predador sem vergonha e de colarinho branco que não descansou enquanto não fodeu todas as hipóteses que tinha de suceder a Nicolas Sarkozy, outro sedutor, no Palácio do Eliseu.
Mas o máximo era conseguirmos um borguista tipo Silvio Berlusconi, o septuagenário italiano que, segundo o língua-de-trapos do seu médico pessoal, "pode ter, sem exagero, seis relações sexuais por semana", desde que descanse ao domingo.
Um homem assim é que era bom. Alguém que se concentrasse realmente no essencial - a mulherenguice - e que, por favor, nos saísse de cima.
Mas o máximo era conseguirmos um borguista tipo Silvio Berlusconi, o septuagenário italiano que, segundo o língua-de-trapos do seu médico pessoal, "pode ter, sem exagero, seis relações sexuais por semana", desde que descanse ao domingo.
Um homem assim é que era bom. Alguém que se concentrasse realmente no essencial - a mulherenguice - e que, por favor, nos saísse de cima.
terça-feira, 26 de julho de 2011
A fama pela via da estupidez
É a primeira vez que aqui falo do palerma das Caldas da Rainha que ficou famoso por mandar o Guedes sair da frente. Já falei.
Na madrugada de sábado, um miúdo de 17 anos morreu atropelado, em Proença-a-Nova, quando estava com amigos a "tourear" os carros que passavam pelo IC8. De acordo com a imprensa de hoje, a cena estaria a ser filmada pelos colegas e o vídeo seria para colocar no YouTube.
Segundo o Correio da Manhã e o Diário de Notícias, a estúpida "brincadeira" consiste em simular a travessia da estrada, com o objectivo de assustar os condutores e de obrigar os carros a desviarem-se. Deste vez, desgraçadamente, terá falhado a última parte.
Este é um "fenómeno que tem popularidade no YouTube, onde são colocados muitos vídeos com jovens a arriscar a vida para serem filmados a fazerem de toureiros perante carros que passam a grande velocidade nas vias", esclarece o DN digital, que, mais pedagógico era impossível, até se dá ao trabalho de publicar um vídeo a explicar como se faz.
Pois é: estes fenómenos de imitação, potenciados pelo alcance universal do YouTube, são um perigo! E às vezes, como agora, são fatais! Há outras maneiras mais saudáveis de chegar à fama, ainda que efémera, mas esta é certamente mais rápida. E tremendamente imbecil.
Estão a ver por que razão falei aqui pela primeira vez do palerma das Caldas da Rainha que ficou famoso por mandar o Guedes sair da frente? Exactamente: o medo pode ser uma cena que a ele não lhe assiste, mas a inteligência também não. E não é o único. Os palermas que lhe fizeram a fama, incluindo os palermas dos jornais e os palermas dos telejornais, parece que também não sabem, por exemplo, que a fama instantânea tem sempre um preço. E o rapaz de Proença-a-Nova pagou a factura.
Na madrugada de sábado, um miúdo de 17 anos morreu atropelado, em Proença-a-Nova, quando estava com amigos a "tourear" os carros que passavam pelo IC8. De acordo com a imprensa de hoje, a cena estaria a ser filmada pelos colegas e o vídeo seria para colocar no YouTube.
Segundo o Correio da Manhã e o Diário de Notícias, a estúpida "brincadeira" consiste em simular a travessia da estrada, com o objectivo de assustar os condutores e de obrigar os carros a desviarem-se. Deste vez, desgraçadamente, terá falhado a última parte.
Este é um "fenómeno que tem popularidade no YouTube, onde são colocados muitos vídeos com jovens a arriscar a vida para serem filmados a fazerem de toureiros perante carros que passam a grande velocidade nas vias", esclarece o DN digital, que, mais pedagógico era impossível, até se dá ao trabalho de publicar um vídeo a explicar como se faz.
Pois é: estes fenómenos de imitação, potenciados pelo alcance universal do YouTube, são um perigo! E às vezes, como agora, são fatais! Há outras maneiras mais saudáveis de chegar à fama, ainda que efémera, mas esta é certamente mais rápida. E tremendamente imbecil.
Estão a ver por que razão falei aqui pela primeira vez do palerma das Caldas da Rainha que ficou famoso por mandar o Guedes sair da frente? Exactamente: o medo pode ser uma cena que a ele não lhe assiste, mas a inteligência também não. E não é o único. Os palermas que lhe fizeram a fama, incluindo os palermas dos jornais e os palermas dos telejornais, parece que também não sabem, por exemplo, que a fama instantânea tem sempre um preço. E o rapaz de Proença-a-Nova pagou a factura.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
As relações medem-se às noites
Noua Wong, ao Correio da Manhã: "Nunca gostei de relações de apenas uma noite". E de duas?
Para quem não saiba (e eu não sabia), Noua Wong tem 26, 27, 28 ou 29 anos, consoante a fonte, é modelo e bailarina e entrou na série juvenil da TVI "Morangos com Açúcar". Diz que quer fazer carreira como actriz.
E diz também, voltando às relações: "Sempre fui de namoros sérios". Ficou lamentavelmente por esclarecer quantas noites são precisas para que um namoro passe a ser sério e a partir de quantas noites se pode acabar tudo sem que fique a ideia de que afinal era só gozo.
Para quem não saiba (e eu não sabia), Noua Wong tem 26, 27, 28 ou 29 anos, consoante a fonte, é modelo e bailarina e entrou na série juvenil da TVI "Morangos com Açúcar". Diz que quer fazer carreira como actriz.
E diz também, voltando às relações: "Sempre fui de namoros sérios". Ficou lamentavelmente por esclarecer quantas noites são precisas para que um namoro passe a ser sério e a partir de quantas noites se pode acabar tudo sem que fique a ideia de que afinal era só gozo.
domingo, 24 de julho de 2011
sábado, 23 de julho de 2011
O inqueritozinho
Hoje vou dormir mais descansado. Já andava com saudades de um inquérito, um inqueritozinho marca Omo como bom inquérito que se preze, mas o primeiro-ministro lembrou-se de mim e deu-me essa alegria. Pedro Passos Coelho quer "apurar e esclarecer quaisquer factos relacionados" com as alegadas fugas de informações nos nossos Serviços Secretos, cirurgicamente denunciadas pelo semanário Expresso, e mandou fazer um inquérito.
Estou mesmo a ver o resultado: não vai dar em nada. O que também me satisfaz, porque é sinal de que continua tudo na mesma em Portugal, e eu já não tenho coração para grandes sobressaltos.
Claro que não houve fuga nenhuma! Os nossos espiões, que ainda têm os dedos cruzados atrás das costas desde que explicaram ao ex-deputado socialista e capitão de Abril Marques Júnior, fiscal das Secretas, que não meteram o nariz na vida do ex-futuro secretário de Estado Bairrão e que não contaram nada ao Governo, vão continuar a negar tudo com quantos dentes tiverem, próteses incluídas.
Faz parte, não é? Afinal, eles são agentes secretos, não propriamente escuteiros.
Sou eu que vejo filmes a mais ou é o primeiro-ministro que acha que nós não vemos nada?
Estou mesmo a ver o resultado: não vai dar em nada. O que também me satisfaz, porque é sinal de que continua tudo na mesma em Portugal, e eu já não tenho coração para grandes sobressaltos.
Claro que não houve fuga nenhuma! Os nossos espiões, que ainda têm os dedos cruzados atrás das costas desde que explicaram ao ex-deputado socialista e capitão de Abril Marques Júnior, fiscal das Secretas, que não meteram o nariz na vida do ex-futuro secretário de Estado Bairrão e que não contaram nada ao Governo, vão continuar a negar tudo com quantos dentes tiverem, próteses incluídas.
Faz parte, não é? Afinal, eles são agentes secretos, não propriamente escuteiros.
Sou eu que vejo filmes a mais ou é o primeiro-ministro que acha que nós não vemos nada?
quarta-feira, 20 de julho de 2011
(O nosso homem na América
"Benfica: Vieira nos Estados Unidos a negociar conteúdos", noticia o jornal online Maisfutebol. Conteúdos é um jovem prodígio de 18 anos, esquerdino polivalente e rápido cuja melhor arma é o pé direito. Encaixando como uma luva no perfil desenhado por Jorge Jesus para os 32 reforços pedidos para a próxima temporada, Conteúdos consegue fazer com brilhantismo os três lugares do meio campo, tendo sido também já usado com sucesso como defesa direito e extremo esquerdo. Chuta com os dois pés e não cai, o que também é bom. Para além disso, mede 1,94m, pelo que pode fazer com facilidade o lugar de guarda-redes. O passe de Conteúdos está avaliado em 17 milhões de euros. O Benfica não está disposto a ir além dos 21 milhões, por 7% do passe. O BES paga.
Mas isto fica cá entre parênteses, não vá o FC Porto tomar conhecimento...)
Mas isto fica cá entre parênteses, não vá o FC Porto tomar conhecimento...)
terça-feira, 19 de julho de 2011
Elas andam aí
Não fazem ideia do que me aconteceu hoje. Estou aqui todo a tremer, como varas verdes, e já passaram mais de três horas. Estão a ver as minhas mããããoooossss?
Foi o seguinte: tive que me pôr a pé mais cedo para ir aí a um sítio e pouco depois das oito já estava na estrada. Chego aos primeiros semáforos, e o que é que eu vejo no carro logo à minha direita? Uma mulher ao volante. Olho para o carro da esquerda, e o que é que está lá dentro? Uma mulher ao volante. Procuro atrás, tento a salvação à frente, mas nada. Tanto quanto a minha vista alcança, em plena avenida, só mulheres ao volante! Novas, velhas e imprecisas. Bonitas, remediadas e camafeus. Não eram mulheres, eram milhares, milhões! A ralharem com o banco traseiro, a acompanharem com a cabeça o lá, lá, lá da telefonia, a falarem ao mesmo tempo por três telemóveis, a lerem nos entretantos a Dica da Semana e a fumarem... pelas orelhas?
Não acreditam? Experimentem ir para a rua a essa hora. Vão ver, é um autêntico filme de terror. De facto, ainda me passou pela cabeça que fosse uma invasão, que fossem extraterrestres disfarçados de mulheres. (Não se riam, que eu já vi na televisão). Mas não, eram mesmo elas.
É preciso que se note: eu não sei se elas até conduzem bem. Não sei se isso é possível. Quer-se dizer, elas são mulheres, não é? Mas eu, sou sincero, deu-me o badagaio.
Comecei a tremer, mais do que ainda tremo agora, o coração a palpitar, a acelerar e a ameaçar disparar-me do peito, que também já me doía, vieram-me ouras, vómitos e dores de barriga, suores frios e quentes, como os banhos, comichão pelo corpo todo, falta de ar e de dinheiro, ai que eu abafo!, ai que eu abafo! Ai que eu morro!, ai que eu morro! E, de fora de mim, consegui ver-me a morrer ali mesmo, numa poça de... numa poça de... suores mornos.
E a verdade é só uma: só não morri porque, antes de desfalecer em cheio contra o porta-luvas, ainda consegui juntar um restinho de forças para pedir à minha, num fiozinho de voz: "Ó mulher, vamos para casa, por favor! Vira para trás, vira para trás"...
Foi o seguinte: tive que me pôr a pé mais cedo para ir aí a um sítio e pouco depois das oito já estava na estrada. Chego aos primeiros semáforos, e o que é que eu vejo no carro logo à minha direita? Uma mulher ao volante. Olho para o carro da esquerda, e o que é que está lá dentro? Uma mulher ao volante. Procuro atrás, tento a salvação à frente, mas nada. Tanto quanto a minha vista alcança, em plena avenida, só mulheres ao volante! Novas, velhas e imprecisas. Bonitas, remediadas e camafeus. Não eram mulheres, eram milhares, milhões! A ralharem com o banco traseiro, a acompanharem com a cabeça o lá, lá, lá da telefonia, a falarem ao mesmo tempo por três telemóveis, a lerem nos entretantos a Dica da Semana e a fumarem... pelas orelhas?
Não acreditam? Experimentem ir para a rua a essa hora. Vão ver, é um autêntico filme de terror. De facto, ainda me passou pela cabeça que fosse uma invasão, que fossem extraterrestres disfarçados de mulheres. (Não se riam, que eu já vi na televisão). Mas não, eram mesmo elas.
É preciso que se note: eu não sei se elas até conduzem bem. Não sei se isso é possível. Quer-se dizer, elas são mulheres, não é? Mas eu, sou sincero, deu-me o badagaio.
Comecei a tremer, mais do que ainda tremo agora, o coração a palpitar, a acelerar e a ameaçar disparar-me do peito, que também já me doía, vieram-me ouras, vómitos e dores de barriga, suores frios e quentes, como os banhos, comichão pelo corpo todo, falta de ar e de dinheiro, ai que eu abafo!, ai que eu abafo! Ai que eu morro!, ai que eu morro! E, de fora de mim, consegui ver-me a morrer ali mesmo, numa poça de... numa poça de... suores mornos.
E a verdade é só uma: só não morri porque, antes de desfalecer em cheio contra o porta-luvas, ainda consegui juntar um restinho de forças para pedir à minha, num fiozinho de voz: "Ó mulher, vamos para casa, por favor! Vira para trás, vira para trás"...
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Profundo 6
O futuro é como os melões. Depois de aberto vê-se logo que mais valia ter comprado 150 gramas de azeitonas.
domingo, 17 de julho de 2011
Sócrates encontrado vivo
Parem as buscas! "José Sócrates foi encontrado na esplanada do café Pont-Neuf, em Paris, onde prepara os seus estudos em filosofia, tal como o Expresso avançou logo após a sua derrota eleitoral". Estava vivo e aparentemente de boa saúde.
Este Expresso saiu-me cá um 24horas...
Este Expresso saiu-me cá um 24horas...
O Chico gordo
Na década de 70 do século passado houve em Portugal um notável avançado chamado Chico Gordo. Bernardo Francisco da Silva passou pelo FC Porto, Tirsense, Lourosa, Braga (creio que ainda é o melhor marcador da história dos arsenalistas no campeonato) e Setúbal, tendo brilhado também a grande altura numa famosa equipa do FC Moxico que foi campeã de Angola na época de 1972/73, portanto no tempo ainda da Guerra Colonial, ao lado de outros craques como Varela, Valença (o Fafe) ou Seninho. Exactamente, esse Seninho supersónico que, anos mais tarde, deixou as Antas para se juntar a Pelé, Carlos Alberto, Beckenbauer, Chinaglia ou Neskeens nos galácticos originais, os New York Cosmos, nos EUA.
Mas estão a ver o Chico Gordo, que por acaso até era magro, não estão?
Pronto, não era dele que eu queria falar. Era de outro Chico, que, este sim, está gordo como um chino: o Francisco José Viegas, que parece rebentar pelas costuras. Vi-o ontem, por acaso, em Caminha, onde o novo secretário de Estado da Cultura teve de gramar a pastilha de servir de aio de honor ao Presidente da República, que visitava a vila alto-minhota.
O Chico está o mesmo: um tipo porreiro, sem peneiras de governante, de fato cinzento mas sem gravata (ele nunca foi de gravata e também não há para aquela tamanho), agarrado à cigarrilha porque ainda era cedo para o charuto, sem séquito de chegamissos, passando pelo meio do povo que aguardava Cavaco Silva, pedindo educada e discretamente "dá licença, dá licença" como outra pessoa qualquer. E isto é bom.
Mas está mais largo, muito mais largo. Para os lados e para a frente. E isto pode ser mau. O Chico, Deus o abençoe, gosta do melhor que a vida tem: da boa mesa, de um bom vinho, de um puro cubano, do FC Porto, de uma charla entretida. Mas tem de se pôr a pau. Não só por questões de saúde ou estética, nem por ter a obrigação de ser agora, mais do que antes, um exemplo para o País. É que ele já tem problemas que cheguem com o Fisco, e, nos tempos que correm, tanta gordura até pode ser considerada sinal exterior de riqueza e ainda acaba a pagar imposto.
Já agora: como gostei de ver a descontracção e o empenho com que Maria Cavaco Silva cantou o Hino Nacional tocado pela Banda de Lanhelas! O secretário de Estado da Cultura, nem nota...
Mas estão a ver o Chico Gordo, que por acaso até era magro, não estão?
Pronto, não era dele que eu queria falar. Era de outro Chico, que, este sim, está gordo como um chino: o Francisco José Viegas, que parece rebentar pelas costuras. Vi-o ontem, por acaso, em Caminha, onde o novo secretário de Estado da Cultura teve de gramar a pastilha de servir de aio de honor ao Presidente da República, que visitava a vila alto-minhota.
O Chico está o mesmo: um tipo porreiro, sem peneiras de governante, de fato cinzento mas sem gravata (ele nunca foi de gravata e também não há para aquela tamanho), agarrado à cigarrilha porque ainda era cedo para o charuto, sem séquito de chegamissos, passando pelo meio do povo que aguardava Cavaco Silva, pedindo educada e discretamente "dá licença, dá licença" como outra pessoa qualquer. E isto é bom.
Mas está mais largo, muito mais largo. Para os lados e para a frente. E isto pode ser mau. O Chico, Deus o abençoe, gosta do melhor que a vida tem: da boa mesa, de um bom vinho, de um puro cubano, do FC Porto, de uma charla entretida. Mas tem de se pôr a pau. Não só por questões de saúde ou estética, nem por ter a obrigação de ser agora, mais do que antes, um exemplo para o País. É que ele já tem problemas que cheguem com o Fisco, e, nos tempos que correm, tanta gordura até pode ser considerada sinal exterior de riqueza e ainda acaba a pagar imposto.
Já agora: como gostei de ver a descontracção e o empenho com que Maria Cavaco Silva cantou o Hino Nacional tocado pela Banda de Lanhelas! O secretário de Estado da Cultura, nem nota...
sábado, 16 de julho de 2011
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Negro
Entreguei a urina para análise. O técnico, sem sequer olhar para mim, automaticamente, perguntou:
- Está fresca? Trouxe do frigorífico?
E eu fui franco:
- Não. Fiz há pouco, ainda vem quentinha.
- É pena...
Com gestos elegantes, competentes, o técnico pegou no boião e verteu o seu conteúdo num balão de pé alto, com o cuidado milimétrico de deixar o copo um pouco abaixo de meio cheio. E disse, ainda sem me pôr os olhos:
- Espere aí um bocadinho, que já leva os resultados.
E eu esperei, todo contente com a novidade.
Delicadamente, o técnico pegou no copo pela base, afastando-o de si com todo o respeito, e começou a girá-lo vagarosamente, olhando a bom olhar o seu conteúdo, no contraste com a parede branca. E tomou notas. Colocou o copo sobre a mesa e rodou-o em pequenos círculos, primeiro devagar, depois acelerando, para finalmente o levar ao nariz, uma vez, duas vezes. Inalou, compenetradíssimo, e tomou notas. Sorveu uma pequena quantidade de líquido, mantendo-o na boca sem engolir, apreciou-o por momentos com todo o profissionalismo e finalmente cuspiu-o. E compilou as notas:
- Muito bem. Ora, portanto, cor amarela palha, aspecto límpido, reacção a 6,0 e densidade a 1,013. Proteínas, glicose, corpos cetónicos, pigmentos biliares, nitritos e sangue não detectáveis. Urobilinogénico a 0,2 e atenção a esses leucócitos! Estão de 10 a 25, vá ver isso! Células epiteliais e eritrócitos, 0 a 2.
E eu, à rasca:
- Está no gozo, não está?...
- Não. É a sério! - respondeu-me o técnico, fitando-me enfim olhos nos olhos e passando a explicar:
- Então você não me conhece? Nunca me viu na televisão? Eu sou, era, um famoso provador de vinhos, mas a empresa mandou-me embora ao fim de 25 anos de trabalho, para meter lá um recém-licenciado, a 500 euros/mês e recibo verde. Aqui no laboratório, os aparelhos de análises à urina deram o peido mestre, com sua licença, dizem que também não há dinheiro para mais, respondi ao anúncio e, olhe, é a vida, juntou-se a fome com a vontade de comer...
- De comer? Mas também faz análises a fezes?...
Não sei se ria, não sei se chore*
Este Governo é um bocado serôdio. Faz-me lembrar os bons velhos tempos das homenagens singelas, porém cheias de significado. Ainda nem começou a governar, mas desdobra-se no espalhafato dos "pequenos gestos". Este Governo é moralista: gosta de "dar o exemplo". Este Governo é cabeça-de-giz: adora "dar sinais".
Para que o País aprenda, Passos Coelho reduziu o número de ministérios, escolheu uma equipa jovem, acabou com os governadores civis e até protagonizou a famosa rábula da viagem de avião em económica, que era de graça mesmo que fosse em executiva. Claro que todos nós sabemos que, no fundo, tudo continua na mesma, mas o gesto está lá, e "o gesto é tudo", como muito bem dizia o concurso da RTP a preto e branco.
Mas a ministra da Agricultura e etc. resolveu ir ainda mais longe. Num notável golpe de asa, Assunção Cristas anunciou, no seu primeiro comunicado à Nação, que decidiu acabar com a obrigação do uso de gravata no seu ministério (palavra de honra, não sabia que era obrigatório!). O objectivo da fracturante medida, a implementar doravante todos os verões, é "diminuir a factura da electricidade e preservar o ambiente".
No Ministério da Agricultura e etc. admite-se que, pela mesma razão, nos invernos, passe a ser obrigatório o uso de cachecol e sobretudo.
*Esclareço que, por motivo de boas práticas ambientais e internacionais, escrevi este texto completamente em pelote.
Para que o País aprenda, Passos Coelho reduziu o número de ministérios, escolheu uma equipa jovem, acabou com os governadores civis e até protagonizou a famosa rábula da viagem de avião em económica, que era de graça mesmo que fosse em executiva. Claro que todos nós sabemos que, no fundo, tudo continua na mesma, mas o gesto está lá, e "o gesto é tudo", como muito bem dizia o concurso da RTP a preto e branco.
Mas a ministra da Agricultura e etc. resolveu ir ainda mais longe. Num notável golpe de asa, Assunção Cristas anunciou, no seu primeiro comunicado à Nação, que decidiu acabar com a obrigação do uso de gravata no seu ministério (palavra de honra, não sabia que era obrigatório!). O objectivo da fracturante medida, a implementar doravante todos os verões, é "diminuir a factura da electricidade e preservar o ambiente".
No Ministério da Agricultura e etc. admite-se que, pela mesma razão, nos invernos, passe a ser obrigatório o uso de cachecol e sobretudo.
*Esclareço que, por motivo de boas práticas ambientais e internacionais, escrevi este texto completamente em pelote.
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Só nos resta o Pai Natal
Desde que desistiu da tv cabo e, passados três meses, teve também que vender o plasma, Quitério anda a pôr-se a pé mais cedo. Quer ser o primeiro a chegar ao café da esquina para arranjar um bom lugar em frente ao televisor, à espera de novidades do FC Porto. Nunca há.
Isto já lá vão mais de dois anos, e o aluguer de cadeira e um quarto de mesa não é de graça. Quitério começou por tomar um cimbalino com cheirinho todas as manhãs, depois passou a tomar um copo de água e agora, para não passar a vergonha dos moinas, toma diariamente uma atitude, que é "ó Verinha, deixe estar, que eu levo-lhe o lixo ao contentor".
Ainda ontem: sem notícias do reino do Dragão, mas animado por mais duas telerreportagens sobre famílias portuguesas falidas (o melhor que há para começar o dia, logo a seguir a uma marretada na cabeça), Quitério lá foi todo contente cumprir a sua humilhação quinzenal, apresentando-se na Junta de Freguesia como desempregado encartado, vivo e não fujão. Esperou na fila, enquanto a funcionária fazia o intervalo que lhe apeteceu para pequeno-almoço, ouviu dos colegas de desemprego mais umas quantas tragédias e uma ou outra trafulhice, chegou a vez dele, outra vez cheio de vergonha e já com o coração aos saltos, assinou sob palavra de honra e cartão do cidadão, recebeu a licença para mais quinze dias de vida e saiu dali cada vez mais cheio de cócegas para atirar com a albarba ao ar.
Quitério tem uma idade que é uma desgraça: 53 anos. Ninguém lhe responde aos anúncios de emprego a que ele responde. Quitério imagina que os miúdos que lhe abrem o currículo riem-se como perdidos antes de o deitarem fora.
O amigo Adérito, bastante mais novo e também em busca de trabalho, tenta consolar Quitério: "Deixa lá isso, pá, já não sei o que é pior: se ninguém nos responder, ou responderem-nos propondo-nos condições abaixo de cão". Pois parece que sim, consta que até já se paga para trabalhar. Será verdade? E o Paulo Portas sabe?
Seja como for, há mais de dois anos que Quitério procura um novo emprego. Todos os dias. E só encontrou um - apenas um - para pessoas com mais de 50 anos: um lugar de Pai Natal em Ovar. Era para as três primeiras semanas do mês de Dezembro do ano passado e exigia-se "residência na zona ou arredores". Quitério morava então na Maia e não conseguiu vender a casa a tempo. Mas este ano é certinho: se o anúncio se repetir, a casa já não será problema. O banco tomou conta, por atraso nas prestações.
Isto já lá vão mais de dois anos, e o aluguer de cadeira e um quarto de mesa não é de graça. Quitério começou por tomar um cimbalino com cheirinho todas as manhãs, depois passou a tomar um copo de água e agora, para não passar a vergonha dos moinas, toma diariamente uma atitude, que é "ó Verinha, deixe estar, que eu levo-lhe o lixo ao contentor".
Ainda ontem: sem notícias do reino do Dragão, mas animado por mais duas telerreportagens sobre famílias portuguesas falidas (o melhor que há para começar o dia, logo a seguir a uma marretada na cabeça), Quitério lá foi todo contente cumprir a sua humilhação quinzenal, apresentando-se na Junta de Freguesia como desempregado encartado, vivo e não fujão. Esperou na fila, enquanto a funcionária fazia o intervalo que lhe apeteceu para pequeno-almoço, ouviu dos colegas de desemprego mais umas quantas tragédias e uma ou outra trafulhice, chegou a vez dele, outra vez cheio de vergonha e já com o coração aos saltos, assinou sob palavra de honra e cartão do cidadão, recebeu a licença para mais quinze dias de vida e saiu dali cada vez mais cheio de cócegas para atirar com a albarba ao ar.
Quitério tem uma idade que é uma desgraça: 53 anos. Ninguém lhe responde aos anúncios de emprego a que ele responde. Quitério imagina que os miúdos que lhe abrem o currículo riem-se como perdidos antes de o deitarem fora.
O amigo Adérito, bastante mais novo e também em busca de trabalho, tenta consolar Quitério: "Deixa lá isso, pá, já não sei o que é pior: se ninguém nos responder, ou responderem-nos propondo-nos condições abaixo de cão". Pois parece que sim, consta que até já se paga para trabalhar. Será verdade? E o Paulo Portas sabe?
Seja como for, há mais de dois anos que Quitério procura um novo emprego. Todos os dias. E só encontrou um - apenas um - para pessoas com mais de 50 anos: um lugar de Pai Natal em Ovar. Era para as três primeiras semanas do mês de Dezembro do ano passado e exigia-se "residência na zona ou arredores". Quitério morava então na Maia e não conseguiu vender a casa a tempo. Mas este ano é certinho: se o anúncio se repetir, a casa já não será problema. O banco tomou conta, por atraso nas prestações.
O homem falou
"O primeiro-ministro e presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, considerou [...] estranho que ainda não tenha sido criada uma agência de notação financeira europeia para fazer face ao que qualificou de "oligopólio" de agências norte-americanas", noticiou a agência Lusa. Ora até que enfim que o nosso chefe do Governo abordou a momentosa problemática do rating. E o País agradece-lhe a frontalidade e franqueza. Oliquê?...
Estava a ver que não
"O deputado socialista Ricardo Rodrigues vai responder em julgamento pelo crime de atentado à liberdade de imprensa, por ter furtado dois gravadores a jornalistas da revista Sábado", conta o jornal Público.
terça-feira, 12 de julho de 2011
Em nome do Espírito Santo 6
No sábado, o recato das oito da matina é hora da distribuição de esmolas, e na segunda-feira, derradeiro dia das festas, no fim da manhã serve-se o bodo de leite e ao princípio da tarde prossegue o leilão de alfenim ao domicílio começado na véspera. De casa em casa, com música e cantigas. Tudo faz receita.
Explique-se: o alfenim é um doce feito com açúcar, água e óleo de amêndoa que mãos hábeis de pasteleiras domésticas adaptaram às linhas de flores, peixes, pombas, galinhas, cisnes, veados, coelhos ou outras. Às vezes serve como ex-voto, para resgate de graça, e, sendo o caso, toma então a forma da parte do corpo milagrada.
Quanto ao bodo de leite, perdeu, se calhar, alguma da sua pureza original. De facto, ao leite e ao pão tradicionalmente postos à disposição de todo o povo no final de uma procissão sumária, acrescem agora - fruto do indulgente correr dos tempos - os mais que óbvios copinhos de vinho, enquanto a mesma charanga paisana que, grave e lenta, acompanhava o cortejo religioso de há bocado, cumpre agora, toda gaiteira, de grupo de baile, debitando de um fôlego o repertório completo das suas modinhas. Sob a bênção cúmplice do padroeiro, que, do alto do andor florido, ali mesmo a tudo preside (parece que com um sorriso maroto...), come-se-lhe, bebe-se-lhe e dança-se-lhe como manda a ventarola. Que Deus lhes perdoe, mas há qualquer coisa de báquico no ar.
O programa remata com chave de ouro: a incontornável tourada à corda. Era o que faltava!, falamos da Terceira e por lá os toiros, só por si, são a festa. Acontecimento incrível, verdadeira instituição, capaz de arrastar e arrebatar as mais entusiasmadas multidões, a corrida à corda é o ponto alto e o fecho. Ou talvez não.
Deste este mesmo domingo que está escolhida a nova Comissão, para o próximo ano. Afinal, tudo torna ao princípio: a festa, a bem dizer, não acabou, está por começar. Renova-se o ciclo de devoção e da folia, tudo em nome do Espírito Santo. Que governa, imperial, a alma "cândida e tenaz" do povo das Ilhas Azuis.
(fim)
Explique-se: o alfenim é um doce feito com açúcar, água e óleo de amêndoa que mãos hábeis de pasteleiras domésticas adaptaram às linhas de flores, peixes, pombas, galinhas, cisnes, veados, coelhos ou outras. Às vezes serve como ex-voto, para resgate de graça, e, sendo o caso, toma então a forma da parte do corpo milagrada.
Quanto ao bodo de leite, perdeu, se calhar, alguma da sua pureza original. De facto, ao leite e ao pão tradicionalmente postos à disposição de todo o povo no final de uma procissão sumária, acrescem agora - fruto do indulgente correr dos tempos - os mais que óbvios copinhos de vinho, enquanto a mesma charanga paisana que, grave e lenta, acompanhava o cortejo religioso de há bocado, cumpre agora, toda gaiteira, de grupo de baile, debitando de um fôlego o repertório completo das suas modinhas. Sob a bênção cúmplice do padroeiro, que, do alto do andor florido, ali mesmo a tudo preside (parece que com um sorriso maroto...), come-se-lhe, bebe-se-lhe e dança-se-lhe como manda a ventarola. Que Deus lhes perdoe, mas há qualquer coisa de báquico no ar.
O programa remata com chave de ouro: a incontornável tourada à corda. Era o que faltava!, falamos da Terceira e por lá os toiros, só por si, são a festa. Acontecimento incrível, verdadeira instituição, capaz de arrastar e arrebatar as mais entusiasmadas multidões, a corrida à corda é o ponto alto e o fecho. Ou talvez não.
Deste este mesmo domingo que está escolhida a nova Comissão, para o próximo ano. Afinal, tudo torna ao princípio: a festa, a bem dizer, não acabou, está por começar. Renova-se o ciclo de devoção e da folia, tudo em nome do Espírito Santo. Que governa, imperial, a alma "cândida e tenaz" do povo das Ilhas Azuis.
(fim)
Em Nome do Espírito Santo 5
Está então aí a deliciosa maré para confeccionar as tradicionais sopas do Espírito Santo e a perfumada alcatra, que, à moda da Terceira, constitui uma das principais jóias da preciosa cozinha açoriana.
A quinta-feira é dia de Pezinho. Em nome da Comissão, um rancho de cantadores e tocadores de viola vai de porta em porta agradecendo e, em muitos casos, recolhendo ainda ofertas retardatárias para a festa grande. Na sexta-feira, pelo meio-dia, as portas da despensa do império abrem-se à distribuição do pão e da carne, repartida em doses ricas, para consumo de toda a freguesia mas cuidando particularmente para que não faltem aos mais pobres. Todos os lares estarão precatados para receberem fidalgamente familiares, parentes, compadres, vizinhos, amigos e penetras.
De súpeto espetam-se no fim os dias contados dos dois, três ou mais animais que a Irmandade, comprados ou por oferta prometida, há um ano cativara e cevara para o efeito. Fatal como o destino, não há milagre que lhes valha. São cozidas centenas de quilos de pão branco para a sopa e em massa sovada. Requisita-se o melhor vinho da ilha. Venham então essas sopas do Espírito Santo, que já se irrequieta o pessoal, com os pés metidos debaixo da mesa!
Mestre Nemésio conta, de fazer água na boca, em "Mau Tempo no Canal": O bezerro esquartejava-se para esmolas de pão e carne estendidas em bancas improvisadas na rua com tabuões e toalhas, e postas nos seus pratos de barro coroados de ramos de hortelã. O pobre que dá ao pobre cobre a sua alma e empresta a Deus. Fartura é naqueles dias! Cozido e alcatra a amigos e compadres, nas panelas de arroba mexidas pela "mestra da função"... as mesas postas, carniça, potes de rosas, e os copos mostrando à transparência de vinho os confeitos de funcho e açúcar jogados pela vereança aos peitos das raparigas. Vivo e coberto de fitas, tonto das boninas e da pólvora do foguetório, o bezerro, à frente do cornetim e da rabeca do Pezinho, cheirava a pêlo e a chícharo, à jarroca das grotas sem fundo, trazido do lado de lá do nevoeiro que engorda os pastos e vela a alma da ilha. Ainda quente do breu que lhe segura a rosa de papel entre os cornos, ajoelhavam o bicho à força à porta do "imperador", como se o Espírito Santo quisesse lembrar aos ilhéus que são do mesmo barro que a vaca bafejou no filho da Virgem pobrinha. Tal qual!
(continua)
A quinta-feira é dia de Pezinho. Em nome da Comissão, um rancho de cantadores e tocadores de viola vai de porta em porta agradecendo e, em muitos casos, recolhendo ainda ofertas retardatárias para a festa grande. Na sexta-feira, pelo meio-dia, as portas da despensa do império abrem-se à distribuição do pão e da carne, repartida em doses ricas, para consumo de toda a freguesia mas cuidando particularmente para que não faltem aos mais pobres. Todos os lares estarão precatados para receberem fidalgamente familiares, parentes, compadres, vizinhos, amigos e penetras.
De súpeto espetam-se no fim os dias contados dos dois, três ou mais animais que a Irmandade, comprados ou por oferta prometida, há um ano cativara e cevara para o efeito. Fatal como o destino, não há milagre que lhes valha. São cozidas centenas de quilos de pão branco para a sopa e em massa sovada. Requisita-se o melhor vinho da ilha. Venham então essas sopas do Espírito Santo, que já se irrequieta o pessoal, com os pés metidos debaixo da mesa!
Mestre Nemésio conta, de fazer água na boca, em "Mau Tempo no Canal": O bezerro esquartejava-se para esmolas de pão e carne estendidas em bancas improvisadas na rua com tabuões e toalhas, e postas nos seus pratos de barro coroados de ramos de hortelã. O pobre que dá ao pobre cobre a sua alma e empresta a Deus. Fartura é naqueles dias! Cozido e alcatra a amigos e compadres, nas panelas de arroba mexidas pela "mestra da função"... as mesas postas, carniça, potes de rosas, e os copos mostrando à transparência de vinho os confeitos de funcho e açúcar jogados pela vereança aos peitos das raparigas. Vivo e coberto de fitas, tonto das boninas e da pólvora do foguetório, o bezerro, à frente do cornetim e da rabeca do Pezinho, cheirava a pêlo e a chícharo, à jarroca das grotas sem fundo, trazido do lado de lá do nevoeiro que engorda os pastos e vela a alma da ilha. Ainda quente do breu que lhe segura a rosa de papel entre os cornos, ajoelhavam o bicho à força à porta do "imperador", como se o Espírito Santo quisesse lembrar aos ilhéus que são do mesmo barro que a vaca bafejou no filho da Virgem pobrinha. Tal qual!
(continua)
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Em nome do Espírito Santo 4
Em Angra do Heroísmo, já pelo ano de 1492 se fazia um "esplêndido império", então chamado "dos nobres". Hoje, só nesta ilha são mais de cinquenta e, rivalidades à parte, um deles, o de São Carlos, nos arrabaldes da cidade, para si granjeou no antigamente a fama de ser "dos ricos". É claro, possui também o seu caso, muito falado.
Assunto sério, assombro de varar qualquer, acudimo-nos de atestado assim passado, a páginas tantas, por Alfredo da Silva Sampaio: "[...] por tradição se sabe que, pouco tempo depois de ter rebentado o fogo no local denominado Entre o Pico e a Serra, em 1761, desenvolveu-se um fumo denso que, descendo a cumeada da serra de Santa Bárbara, veio ter ao local onde hoje está o império. Assustados os Terceirenses com tal fenómeno, foi conduzido por alguns devotos para este último ponto um estrado de madeira onde colocaram uma coroa do Divino Espírito Santo, e em volta dela o povo implorou protecção. Durante semanas se conservou este fumo, sem passar aquém do estrado, até que, no domingo seguinte ao dia em que a Igreja venera o apóstolo São Mateus, desapareceu por completo este fenómeno sem deixar vestígios, e assim começou a ter lugar aquele festejo..."
Pois neste império, exactamente plantado no sítio onde calhou o milagre da extraordinária barragem à ameaça vulcânica, a festa é da graúda. Apontada para a última semana de cada Agosto - do domingo até à outra segunda-feira -, com números organizados e variados, são, ainda assim, os espontâneos cantares e as músicas dos constantes foliões, os cantadores e contadores, a camaradagem imediata e genuína que verdadeiramente aquecem a alma a esta gente aberta e aconchegam o forasteiro.
Multiplicam-se os concertos e as tocatas por filarmónicas, os bailes de rua, os bazares, as ceias. Sucedem-se as noites: a noite da música popular, a da juventude, a do fado, a da morcela... Pretextos para descaminhos é o que são.
Apesar de tudo, as estrelas mais brilhantes que alumiam estes saraus são ainda os velhos cantadores de "Velhas" - a música mansa (triste?) das Ilhas, mais dita do que cantada, num marralhado ao jeito dos cantares ao desafio minhotos (e, no entanto, completamente diferente), afinado, afiado, irónico e crítico, colhendo assunto no quotidiano do ilhéu e misturando-o com os enredos e desenredos das telenovelas brasileiras dos pioneiros tempos.
Conversas de pé-de-orelha, versinhos assim que emparelham a alta do custo de vida com as agruras da Escrava Isaura, Sassá Mutema ou Dona Chepa; modinhas em que se casam os amores atribulados de Seu Nacibe e Gabriela com manobras de cala-te boca nos bataclãs locais; rimas que acertam as desventuras de jagunços, caboclas e bóias-frias com as aventuras dos figurões da praça açoriana. Dos entretantos aos finalmentes.
Aqui atrasado, à boleia da festa, fizeram-lhes uma homenagem, aos mais famosos cantadores de "Velhas" vivos: ao António Plácido e a mestre João Ângelo, o maior. Humildemente ouvidos os elogios da praxe e depois de largar um "Boa noute, apreciadores!" que embrulhou no mesmo abraço homenageadores, cantadores da nova vaga, que fizeram questão (estavam lá, entre outros, o Mota e o Eliseu), e, minhas senhoras e meus senhores, o público em geral, mestre João Ângelo, como um alho, mangando esgravatar o repente da inspiração, mete-se num entre parênteses mais que ensaiado, desamarra-se do cigarro e, aos primeiros acordes da viola da terra, logo atira:
Agradeço aos cantadores
E também aos autores
Que fizeram esta homenagem.
Até talvez esteja certo
Porque cada um deles está perto
Daquela última viagem.
Não sei se é tarde ou cedo,
Eu cá por mim tenho medo
Daquela última viagem.
À homenagem apressada
O nosso povo vigia:
Quando a esmola é avultada
Até o cego desconfia.
(continua)
Assunto sério, assombro de varar qualquer, acudimo-nos de atestado assim passado, a páginas tantas, por Alfredo da Silva Sampaio: "[...] por tradição se sabe que, pouco tempo depois de ter rebentado o fogo no local denominado Entre o Pico e a Serra, em 1761, desenvolveu-se um fumo denso que, descendo a cumeada da serra de Santa Bárbara, veio ter ao local onde hoje está o império. Assustados os Terceirenses com tal fenómeno, foi conduzido por alguns devotos para este último ponto um estrado de madeira onde colocaram uma coroa do Divino Espírito Santo, e em volta dela o povo implorou protecção. Durante semanas se conservou este fumo, sem passar aquém do estrado, até que, no domingo seguinte ao dia em que a Igreja venera o apóstolo São Mateus, desapareceu por completo este fenómeno sem deixar vestígios, e assim começou a ter lugar aquele festejo..."
Pois neste império, exactamente plantado no sítio onde calhou o milagre da extraordinária barragem à ameaça vulcânica, a festa é da graúda. Apontada para a última semana de cada Agosto - do domingo até à outra segunda-feira -, com números organizados e variados, são, ainda assim, os espontâneos cantares e as músicas dos constantes foliões, os cantadores e contadores, a camaradagem imediata e genuína que verdadeiramente aquecem a alma a esta gente aberta e aconchegam o forasteiro.
Multiplicam-se os concertos e as tocatas por filarmónicas, os bailes de rua, os bazares, as ceias. Sucedem-se as noites: a noite da música popular, a da juventude, a do fado, a da morcela... Pretextos para descaminhos é o que são.
Apesar de tudo, as estrelas mais brilhantes que alumiam estes saraus são ainda os velhos cantadores de "Velhas" - a música mansa (triste?) das Ilhas, mais dita do que cantada, num marralhado ao jeito dos cantares ao desafio minhotos (e, no entanto, completamente diferente), afinado, afiado, irónico e crítico, colhendo assunto no quotidiano do ilhéu e misturando-o com os enredos e desenredos das telenovelas brasileiras dos pioneiros tempos.
Conversas de pé-de-orelha, versinhos assim que emparelham a alta do custo de vida com as agruras da Escrava Isaura, Sassá Mutema ou Dona Chepa; modinhas em que se casam os amores atribulados de Seu Nacibe e Gabriela com manobras de cala-te boca nos bataclãs locais; rimas que acertam as desventuras de jagunços, caboclas e bóias-frias com as aventuras dos figurões da praça açoriana. Dos entretantos aos finalmentes.
Aqui atrasado, à boleia da festa, fizeram-lhes uma homenagem, aos mais famosos cantadores de "Velhas" vivos: ao António Plácido e a mestre João Ângelo, o maior. Humildemente ouvidos os elogios da praxe e depois de largar um "Boa noute, apreciadores!" que embrulhou no mesmo abraço homenageadores, cantadores da nova vaga, que fizeram questão (estavam lá, entre outros, o Mota e o Eliseu), e, minhas senhoras e meus senhores, o público em geral, mestre João Ângelo, como um alho, mangando esgravatar o repente da inspiração, mete-se num entre parênteses mais que ensaiado, desamarra-se do cigarro e, aos primeiros acordes da viola da terra, logo atira:
Agradeço aos cantadores
E também aos autores
Que fizeram esta homenagem.
Até talvez esteja certo
Porque cada um deles está perto
Daquela última viagem.
Não sei se é tarde ou cedo,
Eu cá por mim tenho medo
Daquela última viagem.
À homenagem apressada
O nosso povo vigia:
Quando a esmola é avultada
Até o cego desconfia.
(continua)
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sábado, 9 de julho de 2011
Em nome do Espírito Santo 3
Com mais ou menos respeito pelos cânones litúrgicos e rigor na tradição, todas as comunidades açorianas festejam o Espírito Santo como o seu mais importante acontecimento sócio-religioso. De Santa Maria ao Corvo, cada qual à sua moda, nos Estados Unidos da América, no Canadá, no Brasil e, desde há uns poucos anos, em Lisboa e no Porto. Ninguém passa sem o seu “império”, mais ou menos rico, com mais ou menos dias e programa. Consoante as posses.
Será decerto na Terceira, porém, que as festas alcançam a sua expressão mais vibrante. Ricas em especificidades, têm aqui uma maior duração, prolongando-se, em votos e promessas ao Divino, desde o Domingo de Pentecostes até aos finais do Verão. São os meses da “primavera das Ilhas".
Este afã de folia bem o entendeu Vitorino Nemésio, ilhéu e terceirense:
Esta nossa ilha Terceira
Sempre foi alto lugar:
Em amores, bodos e toiros
Fica sempre a desbancar.
Ou:
Alcatra, confeitos, vinho,
Enchei o meu coração.
Que faz mais barulho ardendo
Que um tambor de folião.
Tudo começa pelo Domingo da Trindade, com o sorteio dos que serão os mordomos na função do ano seguinte. (Aqui que ninguém nos ouve, sempre será de confidenciar que o dito sorteio está, na verdade, condicionado à partida pelos interesses de ilustres pagadores de promessas ou de notáveis da paróquia...). Seja como for: o primeiro, consintamos, bafejado pelos desígnios da “sorte” recolhe na sua casa as insígnias dos Espírito Santo – a coroa e o ceptro – até à Pascoela, ponto do início dos festejos.
Na igreja da freguesia realiza-se então a coroação, cerimónia na qual a coroa é colocada na cabeça de uma criança ou adulto – o imperador–, que depois a leva em procissão a casa de um outro mordomo, que a guarda por uma semana. Mordomos, coroas, alvas rainhas em mantos magníficos, foliões, tambores, pandeiros, ferrinhos, bandeiras vermelhas, estandartes, quadros, varas, bandas de música compõem um cortejo garrido, sonoro, alegre.
Domingo após domingo renova-se a cerimónia, passando a coroa e o ceptro pelas casas dos vários mordomos aprazados, até ao dia grande da festa, em que são expostas no império. O império é uma pequena construção acapelada, ingénua, típica da arquitectura popular açoriana, e também chamada de teatro do Espírito Santo. Distingue-se pelo frontão trabalhado e colorido, em geral rematado por uma coroa e pomba simbólica. Aqui são saldadas as promessas, depositadas as esmolas, adquiridas as relíquias e entregues as oblatas que a seu tempo irão servir aos mais necessitados.
(Enquanto no lar de cada qual, coroa e ceptro merecem as maiores reverências. Da família, têm garantida a melhor divisão da casa, um trono, a reza diária do terço ao Senhor Espírito Santo, note-se!; e das visitas, todas, crentes ou agnósticas, o respeito e a deposição de uma esmola e de um ósculo no Divino, “aberto numa pomba de prata ao topo de uma coroa real”.)
(continua)
Caguinchas
À primeira encrenca, ficámos a saber que não temos primeiro-ministro. Quer-se dizer: temos, mas chama-se Presidente da República. A Moody's pôs o País em pantanas, toda a gente fala do que não sabe, das televisões aos supermercados, mas Passos Coelho não sai da concha. Delegou. Olha que o meu pai é polícia, é dos comandos, é pára-quedista, ele é que te parte todo! Mancheta o semanário Expresso que o nosso invisível chefe de Governo "quer que [a] resposta às agências de rating seja feita pela UE (União Europeia)". O homem acagaçou-se? Como avisou o Moquinha, depois que não se admire se lhe faltarem ao respeito.
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Em nome do Espírito Santo 2
As irmandades promovem a celebração das festas, ano após ano, sempre como manda o figurino: empresa a merecer desde logo, para afinação de prolegómenos, convocatória em jornal, assembleia geral e tudo. O espírito que lhes preside é ainda o da caridade cristã, em escrupulosa obediência às suas origens. Na verdade, chamando ao caso a Rainha Santa, reza a velhinha Revista dos Açores que, condoída com “a parte desgraçada dos seus súbditos que, cobertos dos humildes andrajos e com a escudela, aguardavam o pão da caridade às portarias dos conventos e mosteiros [...], a piedosa Soberana, amante do seu povo, quis que os pobres também um dia se banqueteássem, quis que tivessem um dia jubiloso, um dia de festa verdadeiramente popular”. Ora aqui está: por invocação e louvor do Paráclito, assim nascia o bodo aos pobres.
Ao par, desenvolvem-se rituais gentios, manifestações exteriores de grande colorido e riqueza etnográfica cujo cunho ousadamente profano bastas vezes serviu de justificação à intromissão disciplinadora da autoridade eclesiástica (que proibiu nos templos a presença das folias, mais os seus cantares e danças) ou a outros insucessos tutelares votados a “desterrar da região insulana aquelas estranhas práticas”. Jamais, no entanto, apareceu quem ousasse interferir na realização das coroações, dos impérios ou dos arraiais do Espírito Santo. Ademais, hoje em dia, do melhorzinho que os festejos têm para oferecer é exactamente essa estimulante dualidade preservada de rituais, sacros, pagãos, que convivem e se completam.
Da festança, além dos cerimoniais santos e dos divertimentos populares, faz parte, em lugar cimeiro, uma farte e colectiva refeição comida à base do pão e da carne, também partilhados em esmola pelos mais precisados. São as tão apreciadas sopas, assim chamadas, embora do cardápio conste a carne cozida, que se ajunta à sopa propriamente dita, seguindo-se a carne assada à maneira e a alcatra, que nalgumas ilhas se acompanha com a típica massa sovada, esse pão tão especial. Mandando o serviço, assistindo de mesa em mesa, cuidando para que nada falhe: a figura omnipresente e eficaz do marchante!
(continua)
Souvenir
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Em nome do Espírito Santo
(Sou apaixonado pelos Açores e mantenho uma relação muito especial com a ilha Terceira. Reencontrei este texto, escrito talvez em 1992/1993, a propósito das famosas festas do Espírito Santo. Claramente datado, e generosamente adjectivado, aqui o deixo, em fascículos, para matar saudades.)
Envolta na bruma das lendas, adornada pela magia das superstições e abonada por insondáveis espantos, impera há séculos no coração do povo das Ilhas a devoção ao Senhor Espírito Santo. Uma contínua, sempre renovada e abrangente procissão de beatos, fiéis, crentes, simpatizantes e até ateus vela por que não se extingam os sinais singulares desta tradição santa-profana que individualiza os Açorianos, na sua terra ou pelas lonjuras da diáspora.
Esta é uma crença muito antiga. As folias ao Espírito Santo, ainda que aparentem uma origem pagã no druidismo, ou na superstição grega, chegam a Portugal pelas mãos da Rainha Santa Isabel e são levadas para os Açores logo pelos primeiros povoadores. Convertidas na maior devoção e piedade, conservam-se até aos nossos dias: chamam-se, ali e agora, os impérios do Espírito Santo.
Os Açorianos são uma gente católica, extremamente crente e devota, e mesmo os mais fundamentalistas em matéria religiosa ou os ateus desobrigados fazem fé nos casos relacionados com o Divino Espírito Santo e temem as Suas "vinganças". É, como quem diz, uma questão de respeito.
Infinito é o rosário das salvações, grandes assombros ou modestos arranjos que o povo atribui à intervenção providencial do Divino - como gosta de chamar-Lhe, carinhoso, numa antiga e meiga confiança de nome próprio. Crises sísmicas e vulcões, pestes, o ror de maleitas e apertos do dia-a-dia, a vida difícil e o isolamento congregaram os ilhéus numa devoção que depressa se espalhou por todas as cidades, vilas e aldeias. E recorre-se-Lhe por tudo, coisa assim pataqueira ou missão a meio do impossível: simplesmente implorando saudinha em pró-forma de clínica geral ou prescrevendo cirúrgico tratamento de especialista; requerendo que o filho atine com os livros ou suspirando que calhe indulgência aos professores; convocando bênção para casamento novo ou clamando por intervenção de emergência em avaria conjugal; pedindo feliz termo para a viagem, que culturas e gado medrem, que as vinhas farturem, que o negócio corra, que o dinheirinho não falte. Tudo, edecétrea atrás de edecétera, até aos limites de encomendas de alto lá com elas. O Divino por tudo olha, tudo remedeia - que não é Pessoa, e isto é o povo a fazer constar, de desmanchar contratos.
(continua)
Envolta na bruma das lendas, adornada pela magia das superstições e abonada por insondáveis espantos, impera há séculos no coração do povo das Ilhas a devoção ao Senhor Espírito Santo. Uma contínua, sempre renovada e abrangente procissão de beatos, fiéis, crentes, simpatizantes e até ateus vela por que não se extingam os sinais singulares desta tradição santa-profana que individualiza os Açorianos, na sua terra ou pelas lonjuras da diáspora.
Esta é uma crença muito antiga. As folias ao Espírito Santo, ainda que aparentem uma origem pagã no druidismo, ou na superstição grega, chegam a Portugal pelas mãos da Rainha Santa Isabel e são levadas para os Açores logo pelos primeiros povoadores. Convertidas na maior devoção e piedade, conservam-se até aos nossos dias: chamam-se, ali e agora, os impérios do Espírito Santo.
Os Açorianos são uma gente católica, extremamente crente e devota, e mesmo os mais fundamentalistas em matéria religiosa ou os ateus desobrigados fazem fé nos casos relacionados com o Divino Espírito Santo e temem as Suas "vinganças". É, como quem diz, uma questão de respeito.
Infinito é o rosário das salvações, grandes assombros ou modestos arranjos que o povo atribui à intervenção providencial do Divino - como gosta de chamar-Lhe, carinhoso, numa antiga e meiga confiança de nome próprio. Crises sísmicas e vulcões, pestes, o ror de maleitas e apertos do dia-a-dia, a vida difícil e o isolamento congregaram os ilhéus numa devoção que depressa se espalhou por todas as cidades, vilas e aldeias. E recorre-se-Lhe por tudo, coisa assim pataqueira ou missão a meio do impossível: simplesmente implorando saudinha em pró-forma de clínica geral ou prescrevendo cirúrgico tratamento de especialista; requerendo que o filho atine com os livros ou suspirando que calhe indulgência aos professores; convocando bênção para casamento novo ou clamando por intervenção de emergência em avaria conjugal; pedindo feliz termo para a viagem, que culturas e gado medrem, que as vinhas farturem, que o negócio corra, que o dinheirinho não falte. Tudo, edecétrea atrás de edecétera, até aos limites de encomendas de alto lá com elas. O Divino por tudo olha, tudo remedeia - que não é Pessoa, e isto é o povo a fazer constar, de desmanchar contratos.
(continua)
E ao terceiro dia
o homem continua morto. Praticamente morto. Passos Coelho ainda não abriu os olhos para dizer ao País, ditos nos ditos, o que fazer com o pacote de merda que a Moody's nos mandou. Vale-nos o porta-voz do Governo, Cavaco Silva, que agora explica tudo.
Passos Coelho, o ausente
Dois dias depois de a Moody's ter deitado Portugal ao lixo, Pedro Passos Coelho ainda não apareceu em público para explicar aos portugueses, em português que se entenda, o significado prático do corte da agência de notação financeira para a vidinha das pessoas. Acotovelam-se doutores a falarem doutorês nas televisões, numa nojenta orgia masturbatória, mas o primeiro-ministro fecha-se em copas e em São Bento. Sabe-se apenas que largou um comentário "privado", queixando-se do chamado murro no estômago. E mais nada. É o chamado primeiro-ministro ausente.
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Fala-me estrangeiro, que eu gosto
Para quem ainda não percebeu (e é preciso ser burro!), fiz um apanhado e o que se passou foi o seguinte: a Moody's cortou o rating de Portugal, em quatro níveis, de Baa1 para Ba2, com Outelook negativo, transformando a dívida soberana do País em junk. Para além disso, desceu a nossa dívida de curto prazo para Not prime. A notação portuguesa deixou, portanto, de ser considerada investment-grade. Há quem classifique como "extremamente infeliz" o timing destas decisões, numa altura em que Lisboa começava a passar a limpo os apontamentos que a troika lhe deixou, mas a agência financeira avisa que até pode nem ficar por aqui, ameaçando com novos downgrades. Por outro lado, analistas norte-americanos dizem que o corte da Moody's já era esperado pelo mercado. Porquê? Muito simplesmente porque "a 775 pontos base, o CDS implica um rating CCC e 49 por cento de capacidade cumulativa de incumprimento nos próximos cinco anos". Realmente.
As consequências da decisão da Moody's não se fizeram esperar. As bolsas europeias acusaram o toque, com quase todos os sectores a negociarem no vermelho, justificando realce o sector de Health Care, que negociou praticamente flat. O índice parisiense CAC 40 e o índice alemão DAX 30 caíram 0,44% e 0,22%. Já o vizinho madrileno IBEX 35 recuou 1,22%. O petróleo fechou em queda no Nymex, mas o brent acabou a subir. Em Portugal, o PSI 20 afundou 3,03% para 7.126,29 pontos, naquela que foi a pior sessão do ano e em que se destacou a underperformance do BCP. E, no entanto, ontem foi o dia em que o Executivo de Passos Coelho aprovou o fim das golden share.
As yields a quatro, cinco, seis, sete, oito, nove e dez anos subiram mais de 100 pontos. O preço dos credit default swaps sobre as OT nacionais a cinco anos também subiu. O spread entre as obrigações do Tesouro português a 10 anos e as bund alemãs superou a barreira psicológica dos 1.000 pontos base.
Finalmente, teme-se que a Fitch e a Standard & Poor's copiem a Moody's e mandem fechar esta treta.
Já perceberam? Eu ainda não percebi, e é preciso ser burro!
Mas porque é que estes gajos nos falam assim? Eles não querem que a gente perceba, pois não?
As yields a quatro, cinco, seis, sete, oito, nove e dez anos subiram mais de 100 pontos. O preço dos credit default swaps sobre as OT nacionais a cinco anos também subiu. O spread entre as obrigações do Tesouro português a 10 anos e as bund alemãs superou a barreira psicológica dos 1.000 pontos base.
Finalmente, teme-se que a Fitch e a Standard & Poor's copiem a Moody's e mandem fechar esta treta.
Já perceberam? Eu ainda não percebi, e é preciso ser burro!
Mas porque é que estes gajos nos falam assim? Eles não querem que a gente perceba, pois não?
terça-feira, 5 de julho de 2011
O peneirento
Há que tempos que não me vinha à cabeça a palavra peneirento. Veio-me ontem, com acento na penúltima sílaba e tudo - "peneirénto" -, como se diz na minha terra. E devo o momento de tocante nostalgia ao Dr. Fernando Nobre e à sua mais que esperada renúncia ao cargo de deputado. Muito obrigado, senhor doutor.
Arrumado contra-vontade no baú das expressões populares, o adjectivo peneirento tem vindo a ser substituído por sinónimos tão modernos como vaidoso, presumido, pretensioso, presunçoso ou pedante. Também estão bem para o caso em apreço, mas não são a mesma coisa.
Fernando Nobre, o antipolítico que apoiou Durão Barroso na ressaca pós-guterrista e depois se arrependeu, que apoiou Mário Soares, que apoiou o Bloco de Esquerda, que apoiou António Capucho (PSD) à Câmara de Cascais, que se apoiou a si próprio à Presidência da República, contra todos os partidos, e que logo a seguir teve uma recaída social-democrata para ser "candidato" à presidência da Assembleia da República, não vai deixar saudades, mas mete pena.
Este percurso aos ziguezagues, que acabou da pior forma com o tremendo estampanço no Parlamento, é o triste retrato de um homem de 59 anos que parece que nunca soube o que quer ser quando for grande. A não ser, ser importante, ser mais que os outros, como o poeta de Florbela.
Ser deputado da Nação é ocupação menor para o fundador da AMI. Nobre, que sonhara ser a primeira figura do Estado e avisou logo que nunca aceitaria ser menos do que o segundo na hierarquia nacional, saiu do Parlamento pela porta pequena e já sem o seu halo de santidade, deixado para trás das costas em estilhaços.
Ironicamente, a Wikipédia regista Fernando Nobre como "médico, activista, professor universitário e político português". Político português! A vaidade, o desastre que foi a sua breve passagem pela arena política, não pode apagar nem prejudicar sobretudo o seu trabalho humanitário de anos e anos. Foi uma pena, de facto, tudo o que ele se fez passar para tentar chegar ao poleiro mais alto. Nobre não merecia isto de si próprio. Até porque é certamente uma pessoa estimável, um português excelentíssimo. Mas peneirento.
Arrumado contra-vontade no baú das expressões populares, o adjectivo peneirento tem vindo a ser substituído por sinónimos tão modernos como vaidoso, presumido, pretensioso, presunçoso ou pedante. Também estão bem para o caso em apreço, mas não são a mesma coisa.
Fernando Nobre, o antipolítico que apoiou Durão Barroso na ressaca pós-guterrista e depois se arrependeu, que apoiou Mário Soares, que apoiou o Bloco de Esquerda, que apoiou António Capucho (PSD) à Câmara de Cascais, que se apoiou a si próprio à Presidência da República, contra todos os partidos, e que logo a seguir teve uma recaída social-democrata para ser "candidato" à presidência da Assembleia da República, não vai deixar saudades, mas mete pena.
Este percurso aos ziguezagues, que acabou da pior forma com o tremendo estampanço no Parlamento, é o triste retrato de um homem de 59 anos que parece que nunca soube o que quer ser quando for grande. A não ser, ser importante, ser mais que os outros, como o poeta de Florbela.
Ser deputado da Nação é ocupação menor para o fundador da AMI. Nobre, que sonhara ser a primeira figura do Estado e avisou logo que nunca aceitaria ser menos do que o segundo na hierarquia nacional, saiu do Parlamento pela porta pequena e já sem o seu halo de santidade, deixado para trás das costas em estilhaços.
Ironicamente, a Wikipédia regista Fernando Nobre como "médico, activista, professor universitário e político português". Político português! A vaidade, o desastre que foi a sua breve passagem pela arena política, não pode apagar nem prejudicar sobretudo o seu trabalho humanitário de anos e anos. Foi uma pena, de facto, tudo o que ele se fez passar para tentar chegar ao poleiro mais alto. Nobre não merecia isto de si próprio. Até porque é certamente uma pessoa estimável, um português excelentíssimo. Mas peneirento.
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Já vais tarde
Anuncia a TVI24 que "Francisco Louçã admite saída do Bloco [de Esquerda] até 2015". Não haverá por aí uma alma caridosa que bata imediatamente a cláusula de rescisão?
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Madeira libre
Num livro escrito em 2007 e que agora o jornal Público escarafunchou, o grande Álvaro da Economia acha que "a Madeira poderá tornar-se independente". Deus o ouça, senhor ministro!
A meu é maior do que o teu
Os dois cromos do PS lá continuam entretidos a discutir entre si tudo o que não interessa ao País. E como se o País estivesse interessado em ouvir o que eles acham que têm para dizer. Aos socialistas, depois da merda que fizeram no poder e da sova que levaram nas eleições, a descida à oposição deveria impor-lhes um certo recato, uma espécie de período de nojo que nos ajudasse a esquecê-los por uns tempos. Mas não. Continuamos a levar com eles todos os dias, como se eles contassem para alguma coisa.
António José Seguro e Francisco Assis, que são gémeos mas não sabem, pretendem agora diferenciar-se um do outro pelo número de debates que cada um propõe com vista às eleições para o cargo de secretário-geral do PS, que, vá-se lá saber porquê, ambos querem abocanhar. Como se estivessem a jogar à moedinha, Tozé diz "três!", três-dabates-três. E Assis responde "seis!", no mínimo seis...
E eu digo "doze!", mas que os façam em casa um do outro, sem incomodar os vizinhos ou o País. E no fim digam o resultado, que a gente acredita.
É que, se lhes dermos corda, estes dois ainda vão acabar a discutir, em directo e horário nobre, o tamanho dos respectivos pririlaus.
António José Seguro e Francisco Assis, que são gémeos mas não sabem, pretendem agora diferenciar-se um do outro pelo número de debates que cada um propõe com vista às eleições para o cargo de secretário-geral do PS, que, vá-se lá saber porquê, ambos querem abocanhar. Como se estivessem a jogar à moedinha, Tozé diz "três!", três-dabates-três. E Assis responde "seis!", no mínimo seis...
E eu digo "doze!", mas que os façam em casa um do outro, sem incomodar os vizinhos ou o País. E no fim digam o resultado, que a gente acredita.
É que, se lhes dermos corda, estes dois ainda vão acabar a discutir, em directo e horário nobre, o tamanho dos respectivos pririlaus.
sábado, 2 de julho de 2011
Cavaco Silva, o barómetro
Cavaco Silva, 28 de Junho de 2011, a propósito do programa do Governo, antes da aprovação do mesmo: "Há talvez mais de dois anos que disse que Portugal se aproxima de uma situação explosiva. Lamentavelmente chegámos a essa situação explosiva".
Cavaco Silva, 2 de Julho de 2011, a propósito da catanada no 13.º mês: "A situação actual do nosso país não é uma fatalidade".
Cinco dias. Estão a ver como isto já está melhor?
Cavaco Silva, 2 de Julho de 2011, a propósito da catanada no 13.º mês: "A situação actual do nosso país não é uma fatalidade".
Cinco dias. Estão a ver como isto já está melhor?
Este ministro é um míster
Já se nota o dedo do Álvaro da Economia. O ministro que veio do Canadá (que o Platini não saiba!) surpreendeu tudo e todos ao declarar, sem papas na língua, que "é inaceitável e insustentável continuarmos com esta taxa de desemprego". Já somos dois. Eu farto-me de dizer o mesmo à patroa, enquanto vemos a telenovela.
O Álvaro da Economia falou e eu lembrei-me do Humberto Coelho, do tempo em que o ex-jogador do Benfica era comentador dos jogos da Selecção, creio que na RTP, e que, quando Portugal estava a levar na cabeça, só dizia "é preciso fazer qualquer coisa". Humberto nunca explicou o que é que era preciso fazer, mas, tal como o ministro, ele sabia que assim não podia ser.
A nossa sorte, desta vez, é que o Álvaro está "muito satisfeito" com a sua equipa. E até dá a táctica: "Somos um grupo vencedor, uma equipa de estrelas", "vamos arregaçar as mangas e trabalhar, trabalhar, trabalhar".
Vocês sabem do que ele está a falar?
O Álvaro da Economia falou e eu lembrei-me do Humberto Coelho, do tempo em que o ex-jogador do Benfica era comentador dos jogos da Selecção, creio que na RTP, e que, quando Portugal estava a levar na cabeça, só dizia "é preciso fazer qualquer coisa". Humberto nunca explicou o que é que era preciso fazer, mas, tal como o ministro, ele sabia que assim não podia ser.
A nossa sorte, desta vez, é que o Álvaro está "muito satisfeito" com a sua equipa. E até dá a táctica: "Somos um grupo vencedor, uma equipa de estrelas", "vamos arregaçar as mangas e trabalhar, trabalhar, trabalhar".
Vocês sabem do que ele está a falar?
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Reclamar é bom
E estou particularmente à coca com movimentos bancários e portagens. É. Cobrança abusiva de portagens, multas aplicadas por engano, pagamento de custas por serviços não prestados e até cobrança de anuidades gratuitas, tem-me acontecido de tudo. E eu reclamo. E eles devolvem-me a massa. Demoram, mas devolvem.
O que é preciso é estar atento. O mais certo é que eu andasse a ser levado há um ror de anos, mas não dava fé, não ligava. Ouvia dizer que andava meio mundo a roubar o outro meio e achava que era apenas azar estar sempre no lado errado do mundo. Palerma.
Agora estou sempre em cima deles. E, desde que reclamo, sinto-me um homem novo, embora o mercado de trabalho não seja da mesma opinião.
Mas isto é uma guerra. Temos que estar psicologicamente preparados e ter... uma paciência de Job. A táctica deles é milenar, do tempo do Sun Tzu: tentam vencer-nos pelo cansaço. Primeiro, começam por ignorar a nossa reclamação; depois, após mais 15 contactos, dizem que enviaram a reclamação para o departamento competente; depois, após mais 14 contactos, o departamento competente diz que vai analisar a situação; depois, após mais 13 contactos, o departamento competente diz que está a analisar a situação; depois, após mais 12 contactos, o departamento competente diz que o assunto passou para as mãos do coordenador; depois, após mais 11 contactos, informam que, sim senhor, estão finalmente prontos a devolver-nos os tais 5,32 euros. Aqui já se passaram quatro ou cinco meses, mas volta tudo ao princípio: lá temos que explicar outras 66 vezes, com desenhos e tudo, que são 27,76 euros e não 5,32 euros. E, pronto, um belo dia o nosso querido dinheirinho (27,76 euros) lá torna a casa, de onde nunca deveria ter saído. Simples, não é?
A táctica deve resultar com a maioria, porque até departamentos oficiais a usam. Há meses que estou à espera que SIEV (Sistema de Identificação Electrónica de Veículos) e InIR (Instituto de Infra-Estruturas Rodoviárias), dois organismo públicos, me respondam a um par de questões simples, tão simples que quase poderiam ser resolvidas com um sim ou com um não, mas nem sequer se dignam acusar a recepção dos meus e-mails. Um por mês, religiosamente.
Pois que tirem o cavalinho da chuva, de mim não se livram. Não tenho ganho sempre, mas já ganhei muitas vezes. E reclamar desopila.
Até tu, Chico
O secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, foi alvo de uma penhora de 41.863 euros pelas Finanças de Cascais.
O escritor foi notificado a 24 de Junho da penhora, tendo agora trinta dias para regularizar a situação. O gabinete do novo responsável pela área da Cultura argumenta, numa nota enviada esta tarde ao i, que “existe uma reclamação referente ao critério utilizado para o apuramento da matéria colectável relativa ao IRS de 2007”. Tirei a notícia, corrigindo uma ou duas asneirolas, da edição electrónica do jornal i.
Eu não sei como é que o Governo Passos Coelho/Paulo Portas vai lidar com, para não dizer mais, percalços desta natureza. Admitamos, porém, que pratica a tolerância zero que prega e, em limite, manda o bom do Francisco dar uma volta. Fica a obra: as "condolências à família e amigos do actor e músico" Angélico Vieira, o único acto oficial que lhe é conhecido e levado a cabo logo no dia a seguir à tomada de posse.
O escritor foi notificado a 24 de Junho da penhora, tendo agora trinta dias para regularizar a situação. O gabinete do novo responsável pela área da Cultura argumenta, numa nota enviada esta tarde ao i, que “existe uma reclamação referente ao critério utilizado para o apuramento da matéria colectável relativa ao IRS de 2007”. Tirei a notícia, corrigindo uma ou duas asneirolas, da edição electrónica do jornal i.
Eu não sei como é que o Governo Passos Coelho/Paulo Portas vai lidar com, para não dizer mais, percalços desta natureza. Admitamos, porém, que pratica a tolerância zero que prega e, em limite, manda o bom do Francisco dar uma volta. Fica a obra: as "condolências à família e amigos do actor e músico" Angélico Vieira, o único acto oficial que lhe é conhecido e levado a cabo logo no dia a seguir à tomada de posse.
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