No sábado, o recato das oito da matina é hora da distribuição de esmolas, e na segunda-feira, derradeiro dia das festas, no fim da manhã serve-se o bodo de leite e ao princípio da tarde prossegue o leilão de alfenim ao domicílio começado na véspera. De casa em casa, com música e cantigas. Tudo faz receita.
Explique-se: o alfenim é um doce feito com açúcar, água e óleo de amêndoa que mãos hábeis de pasteleiras domésticas adaptaram às linhas de flores, peixes, pombas, galinhas, cisnes, veados, coelhos ou outras. Às vezes serve como ex-voto, para resgate de graça, e, sendo o caso, toma então a forma da parte do corpo milagrada.
Quanto ao bodo de leite, perdeu, se calhar, alguma da sua pureza original. De facto, ao leite e ao pão tradicionalmente postos à disposição de todo o povo no final de uma procissão sumária, acrescem agora - fruto do indulgente correr dos tempos - os mais que óbvios copinhos de vinho, enquanto a mesma charanga paisana que, grave e lenta, acompanhava o cortejo religioso de há bocado, cumpre agora, toda gaiteira, de grupo de baile, debitando de um fôlego o repertório completo das suas modinhas. Sob a bênção cúmplice do padroeiro, que, do alto do andor florido, ali mesmo a tudo preside (parece que com um sorriso maroto...), come-se-lhe, bebe-se-lhe e dança-se-lhe como manda a ventarola. Que Deus lhes perdoe, mas há qualquer coisa de báquico no ar.
O programa remata com chave de ouro: a incontornável tourada à corda. Era o que faltava!, falamos da Terceira e por lá os toiros, só por si, são a festa. Acontecimento incrível, verdadeira instituição, capaz de arrastar e arrebatar as mais entusiasmadas multidões, a corrida à corda é o ponto alto e o fecho. Ou talvez não.
Deste este mesmo domingo que está escolhida a nova Comissão, para o próximo ano. Afinal, tudo torna ao princípio: a festa, a bem dizer, não acabou, está por começar. Renova-se o ciclo de devoção e da folia, tudo em nome do Espírito Santo. Que governa, imperial, a alma "cândida e tenaz" do povo das Ilhas Azuis.
(fim)
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