segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Eu quero um céu com estrelas

O Minho cheira a Natal, sabiam? O Alentejo e Trás-os-Montes decerto também cheiram, as Beiras e o Ribatejo lá terão os seus aromas, mas a mim o que me interessa é o meu Minho e quanto mais alto melhor. E por estes dias o Minho começa a cheirar a Natal. Ao Natal antigo, já posso dizê-lo. Os últimos lavradores do Minho fazem fogueiras nos campos como fizeram os seus pais e os pais dos seus pais, queimando folhas secas e gravetos velhos, emprestando ao ar um perfume doce de lareira. De lar. Dá uma vontade tola de abrir a janela do carro, largar a cabeça ao frio e fechar os olhos. E eu abro e largo e fecho. A janela, a cabeça, os olhos. Sou pendura graças a Deus, não sei conduzir, vamos em segurança.
A memória também vem ao cheiro: a querida avó de Basto, pequerricha, resmungona e bondosa, aquecendo o vinho na infusa fanada que tem dentro uma maçã acabadinha de assar no borralho. O fumo das giestas molhadas e que, apesar, ajudam a espertar o braseiro. Os malabarismos a toque de caixa do testo da velha chocolateira desbordante de café que não passava de cevada. A garrafa da aguardente do avô que bastava aliviar-lhe a rolha para logo sarar constipações e até unhas encravadas. A luz bailarina da candeia fazendo filmes mudos e de terror nas paredes da cozinha, negras de fumo e do luto da vida. E a canela. Sim, as queimadas agrícolas de Novembro e Dezembro, no Minho, são temperadas com canela. Quem disser o contrário, está muito mal informado.
De novo na estrada de um carro só, o fumo, os fumos, aqui, ali, mais adiante, novelos que sobem letra a letra inventando palavras de faz de conta. São os índios a mandar recados, gosto de pensar, e rio-me outra vez moço. O fumo acinzenta o verde que cresce ao abandono e as leiras lavradas e cada vez mais raras. Acinzenta a paisagem mas limpa a alma. Este fumo aconchega-nos, abraça-nos, obriga-nos a abraçarmo-nos. Por causa do fumo, o céu é mais baixo, estamos mais perto do Céu, estamos mais perto uns dos outros, e apetece-me inspirar a plenos pulmões a ver se consigo guardar este fumo e este cheiro, esta paz, para o resto do ano, para o resto da vida. Quem me dera aqui à noite, toda as noites, com este cheiro, com este céu. Este céu cheio de estrelas, que eu bem as sei. E tenho a certeza: devia ser proibido morrer sem um céu assim para olhar.

P.S. - Hoje é Dia Mundial das Cidades. E eu já tenho a minha conta...

Mobiliário urbano (propriamente dito) 238

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 30 de outubro de 2022

Assédio em cima da hora (ou um atraso de vida)

Mandaram-no atrasar a hora e ele lá foi. Tentou tudo, pôs-se-lhe à frente, contou-lhe anedotas, ofereceu-lhe um panike e um sumol, deu-lhe indicações erradas, chegou até a agarrá-la pelo braço, mas o máximo que conseguiu foi atrasá-la dez minutos. Agora não sabe como vai ser...

sábado, 29 de outubro de 2022

Abdominais bem definidos

Tenho os abdominais muito bem definidos. Quereis ver? Abdominais: referentes ao abdómen; músculos do abdómen; exercícios para fortalecer os músculos do abdómen; peixes teleósteos cujas barbatanas pélvicas estão inseridas no abdómen, atrás das peitorais; insectos coleópteros com abdómen muito desenvolvido; crustáceos cirrípedes, parasitas. Vistes?

P.S. - Hoje é Dia do Fisiculturista. No Brasil.

Ninfas de água

Foto Hernâni Von Doellinger

Eufemisticamente falando

Sendo o cego invisual e o surdo insonoro, serão o manco impodal e o maneta imanual?

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Não batas mais no mouquinho

Sabem, uma daqueles carrinhas tipo rulote transformada em consultório para testes auditivos? Era uma dessas, logo pela manhã, e cá fora um jovem técnico vestindo bata branca, telemóvel na mão esquerda e papeleta na mão direita, afanava-se à procura de insonoros candidatos, mas sem sorte nenhuma. Eu terminava o meu footing diário e o meu caminho habitual até passava pelas traseiras da carrinha, mas de repente resolvi fazer um desvio para alegrar o dia ao diligente porém desanimado funcionário.
Fui-me a ele. Mal me viu assim nesta idade, até os olhos se lhe riram, abeirando-se-me imediata e decididamente:
- Bom dia. Então como é que estamos de audição? - perguntou ele.
- Faz favor de dizer... - disse eu.
- A audição como está? - perguntou ele.
- Desculpe, eu não... - disse eu.
- A audição. Ouve bem? - perguntou ele.
- Como disse?... - perguntei eu.
- A audição! - disse ele.
- O quê?... - perguntei eu.
- Tem uma boa audição? - perguntou ele.
Não é que eu estivesse com pressa, mas desisti, sorrindo:
- Não ligue, eu estava a brincar. O amigo não percebeu?...
- Percebi. E a audição como é que está?

Pernas para que vos quero

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O "respeito" de Sérgio Conceição

Foto Hernâni Von Doellinger

Quase todos os dias, quando faz os seus discretos 10 km matinais para os lados de Matosinhos e do Porto de Leixões, Sérgio Conceição passa pelo zimbório do Senhor do Padrão ali à entrada do terminal de cruzeiros. Mas não passa apenas. Celebra a passagem. Não entra sequer no jardim, creio que para não dar nas vistas, mas, ao iniciar a subida da Rua do Godinho, o treinador do FC Porto deixa de correr, retira o gorro da cabeça e caminha vagarosamente com os seus botões durante dez, quinze metros, voltando depois à corrida e a cobrir-se logo que perde de vista aquele sortílego local de cultos. Ainda há bocado assim foi. Não sei se é fé, se é crendice, se é apego, se é superstição, se é respeito, como diz que é a minha mulher, ou se é tudo isto consubstanciado num sentimento único de gratidão. Não sei. Mas compreendo. O Senhor do Padrão fica-me à mão na minha caminhadazinha higiénica e confesso que, eu e Ele, também temos sempre assunto. Portanto compreendo. E aprecio. Quero dizer, identifico-me. Porque eu também sou sobretudo grato. Por exemplo: de cada vez que Sérgio Conceição se cruza de longe comigo, não me conhecendo de lado nenhum, apetece-se sempre dizer-se alto e bom som, do outro lado do Passeio Atlântico, em nome do meu desmesurado portismo e da minha família inteira, "Muito obrigado, Senhor Conceição!", e certa ocasião ganhei coragem e disse mesmo. A seguir a uma derrota que por acaso me dilacerou o coração, mas disse. Porque sei que Sérgio Conceição dá tudo. Porque Sérgio Conceição já me deu mais alegrias do que qualquer portista da boca para fora, como eu, merece. Porque, se sou regra geral feliz, devo-o muito a Sérgio Conceição. Portanto disse. É possível que daquela vez as minhas palavras possam ter sido, sei lá, deturpadas pelo barulho da rua e mal-entendidas como insulto ou boca foleira. Não. O que eu disse mesmo, o que eu quis dizer, foi e é: - Muito obrigado, Senhor Conceição!

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Cavando a própria sepultura

Passava o tempo a matar o tempo. Era uma ocupação criminosa e sem futuro.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Terapia Ocupacional.

O que é preciso é dar ao dedo!

Há que tempos que eu não via uma coisa assim: uma mulher, ainda nova, a fazer malha num transporte público. Descontraída, com um sorriso nos lábios e manuseando habilmente o frenético par de agulhas, como num duelo, ia dando forma ao novelo de lã que, aos arranques, se lhe esvaía do colo. Era uma camisola, pareceu-me. E, a cena, um delicioso anacronismo. O metro do Porto é sítio para tudo, já lhes digo, principalmente para tudo o que meta telemóvel, bisnagas amaciadoras e calhamaços do José Rodrigues dos Santos. Mas fazer tricô é que eu nunca tinha visto. E gostei.
Passaram-se dois dias. Num jardim fronteiro à praia de Matosinhos, um jovem casal gozava o sol de Inverno e aproveitava para ensinar a filhita a andar de bicicleta. O pai acompanhava a menina, dando-lhe as instruções elementares, mas a mãe sentou-se. Sentou-se, abriu a bolsa, rapou de um pequeno embrulho que eu primeiro não distingui e, com a agilidade de um experimentado bonecreiro, ela começou a bater-se com quatro-agulhas-quatro, tantas quantas são precisas para tricotar meias de lã. Era o que ela fazia, uma meia. E percebi.
Percebi que isto não é só gosto, moda ou revivalismo, terapia ocupacional. É sobretudo precisão, necessidade. Voltámos ao pior do tempo antigo. O Portugal democrático, da Europa, das auto-estradas, das universidades e do século XXI é afinal igual ao Portugal fascista e "orgulhosamente só", poeirento e obscurantista do tempo em que a minha mãe, por necessidade, fazia todas as minhas camisolas e as camisolas dos meus irmãos. (E que categoria que elas eram! Tenho uma comigo vai para quarenta anos, acreditam?)
Por outro lado, lembrei-me, pode estar exactamente aqui a salvação do País. Permitam-me que lance o desafio: porque não transformar o tricô num desígnio nacional? Porque não começarmos todos a fazer malha para fora? Porque não pôr este país de desempregados e falidos a dar ao dedo de norte a sul e ilhas, elas e eles, e apostar na internacionalização e exportação em barda das nossas peças de lã? Sim, porque não? Afinal, o que é que as natas e os pastéis de Belém são mais do que os barretes, os camisolões, os carapins e os coturnos genuinamente made in Portugal?...

Mobiliário urbano (propriamente dito) 237

Foto Hernâni Von Doellinger

O velho

Chegou aos 65 anos e reformou-se. Tirou o passe de terceira idade, comprou um capacete, um par de botas de biqueira de aço e um colete reflector, pôs as mãos atrás das costas e foi para as obras mandar palpites.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Pessoas estranhas

E há aquele aviso, aquele pendurado nas vedações dos estaleiros de obras. Um aviso cheio de segurança, com capacete e botas de biqueira de aço, nem percebo como é que os trabalhadores morrem como tordos. E diz assim: "Proibida a entrada a pessoas estranhas". Na verdade costuma dizer "Proíbida", com acento analfabeto no primeiro i, mas a pentelhice gramatical não é para aqui chamada. A questão é: pessoas estranhas!? Homens com três braços e apenas um testículo, será? Mulheres com duas cabeças e sentença nenhuma? Eduardo Cabrita? José Castelo-Branco? Velhos reformados com as mãos atrás das costas? Extraterrestres manetas em trânsito para Las Vegas? Cavaco Silva? Um escuteiro adulto? João Paulo Rebelo, boneco de ventriloquia que fazia de secretário de Estado da Juventude e do Desporto? Putin e seus oligarcas russos? Comunistas portugueses? Portistas satisfeitos? José Sócrates? José "Joe" Berardo? Lá está: pessoas estranhas.
Dá-me para pensar cada uma...

Desconstrução civil

Perguntavam-lhe pela profissão e ele respondia, orgulhoso, "operário da desconstrução civil". Era um especialista, com efeito. Ele e mais dois camaradas chegavam, de marreta e pé-de-cabra, picareta pneumática e um ror de sonoras caralhadas, e num mês, mês e meio, escavacavam completamente uma casa, esvaziando-a de pavimentos, divisórias, tectos, portas, janelas, memórias e telhados. Só ficavam os alicerces ao baixo e as paredes exteriores ao alto. Depois vinham os outros, os da construção civil, e faziam mais um alojamento local.

O futuro está no teletrabalho

Tem sido um sucesso o apoio domiciliário em teletrabalho a idosos sozinhos e acamados. O Governo pretende alargar a experiência aos transportes públicos e à construção civil.

Um ano negro para os artistas

O mundo estremeceu de comoção. E, se o mundo estremece, Portugal abana. Que tragédia, que cataclismo, que ano negro! Foi em 2016. Morreram, entre outros famosos mais-ou-menos, Prince, David Bowie, Leonard Cohen, George Michael, a Princesa Leia, e Bob Dylan ganhou o Prémio Nobel da Literatura.
A comunicação social portuguesa ficou em choque: um annus horribilis para os artistas, Deus nos abençoe e guarde! E escreveu-se, e escreveu-se, e escreveu-se...
Ora, artistas - em bom e antigo português - são também os nossos trolhas, os nossos pedreiros e os nossos carpinteiros, por exemplo. Artistas, assim se dizia e eu continuo a dizer. Conversei na ocasião com Albano Ribeiro, o eterno presidente do Sindicato da Construção de Portugal, que me contou o seguinte:
Trinta e nove (39) operários da construção civil morreram a trabalhar, em Portugal, naquele ano. E, em quatro meses, morreram seis (6) trabalhadores portugueses em obras por essa Europa fora, número grande em tempo de drástica redução de empreitadas e ainda sem estádios para construir no Catar.
Albano Ribeiro queria falar com os senhores jornalistas acerca deste e de outros assuntos relativos aos nossos artistas. Convidou a comunicação social portuguesa para uma conferência de imprensa que deveria realizar-se numa sexta-feira a uma hora cómoda. Ninguém apareceu.

P.S. - Hoje é Dia do Trabalhador da Construção Civil. No Brasil.

Construtores de céus e arredores

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

As extraordinárias descobertas da ciência

Os cientistas descobriram: os neutrinos têm massa. Os portugueses, de uma forma geral, antes pelo contrário.

Massa ao quartilho

Um conto de Natal era geralmente uma seca. Já um conto de réis eram mil escudos. Uma pipa de massa naquele tempo, é preciso que se note.

O segredo está na pasta

Nem no molho, nem na massa. O segredo está na pasta. Uma pasta de segurança, diplomática, confidencial, fechada a sete chaves.

Testes em massa

O Governo anunciou e promoveu testes em massa. Sim, evidentemente testes em massa, estou absolutamente de concordo. Mas testes em arroz? E testes em batatas? Que é deles?... 

Um rosto revela o branco

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 23 de outubro de 2022

De bucho cheio (ou nem por isso)

Hoje é Dia Internacional do Bucho. Não se riam, por favor! Ou, se fizerem mesmo questão, riam-se à vontade! Mas hoje é Dia Internacional do Bucho. Pelo menos no Brasil é, embora eu não saiba se os brasileiros sabem. O bucho que serve para a nossa alimentação, como se dizia antigamente nas redacções da escola primária, reconheço-o arranjado de três maneiras diferentes. Estufado como se fosse tripas mas sem outro acompanhamento senão o molho, tipo moelas nomeadamente de coelho. Recheado, como no Florêncio, em Guimarães, mas aviso já os principiantes que pode ser uma tremenda desilusão e uma despesa escusada e chorada. Ou com molho verde, como eu prefiro guiá-lo cá em casa, embora não o faça há muito. E pronto. Sobre o Dia Internacional do Bucho, é o que se passa de momento.

Faziam-se homens e pronto

No meu tempo era mais fácil fazer homens. Levavam-se os rapazes às putas, mandavam-se os rapazes para a tropa, e estava o assunto resolvido. Hoje em dia a coisa exige outros mimos, ciência...

Missais terra-ar

O Exército português acaba de enviar missais para a Ucrânia. Pequenos missais de rito bracarense praticamente novos. As ordens eram para mandar mísseis, mas alguém da intendência fez confusão ao aviar a encomenda.

Para os dois lados

Entre os pupilos do exército e as pupilas do senhor reitor, ele não sabia bem... 

P.S. - Hoje é Dia do Exército Português.

Ó Lua, que vais tão alta e tão bela

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 22 de outubro de 2022

Sapo a sapo

O Sapo, primeiro motor de busca português, foi criado por cinco estudantes da Universidade de Aveiro, diz-se que no dia 23 de Outubro de 1995, faz hoje anos. Antes disso, mas em Penafiel, já era um famoso restaurante de enfarta-brutos e conceituado estabelecimento de compra e venda de árbitros de futebol.

Os engolidores

Engolidores, há-os. Como por exemplo engolidores de sapos, metaforicamente falando, engolidores de fogo, que na verdade não engolem mas borrifam, e engolidores de espadas. Engolidores de copas e engolidores de ouros não sei, mas engolidores de paus também há-os.

Posição de missionário

Com isto das denúncias e acusações de pedofilia, a posição de missionário já não é o que era. E pelo menos da fama não se livra.

P.S. - Hoje é Dia Mundial das Missões.

A concha

Perguntam-me: mas afinal o que é a concha? E eu respondo: concha pode ser colher para servir sopa, prato de balança, parte das chaves de instrumentos musicais de sopro, peça de lagar, espécie de puxador de gavetas, pavilhão auricular, couraça, invólucro calcário que protege o corpo de moluscos e braquiópodes, isto é, conchinha do mar. Mas não. Concha era tampa metálica das garrafas de cerveja e refrigerantes, era cápsula, sameira, carica, chapinha como se diz no Brasil. E era brinquedo de menino pobre. Em Fafe, evidentemente.

Desembarque

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Que culpa é que o vinho tem?

Dizer-se que alguém tem mau vinho é um insulto ao vinho e uma grande injustiça. Há quem seja filhodaputa mesmo em jejum e abstinência, e que culpa é que tem o vinho? Mau vinho é outra coisa, e ainda assim serve para vinagre...
(No próximo programa abordaremos as não menos fracturantes problemáticas do mau fígado, do mau-olhado e do mausoléu.)

Super Pop Limão Reserva 2017

Era um escanção com um paladar e um olfacto apuradíssimos, premiados. Até adivinhava o detergente que lavara os copos...

P.S. - Hoje é Dia do Enólogo. No Brasil.

Para, de pára-quedista...

Para

Para
paradigma
paradigmático
paradigmando

parabolizando paráfrases paradoxalmente paranóicas
parabenteando paranomásias paracronicamente parassigmáticas
parassintetizando parataxes parafernalmente paralexizadas
parangonando parágrafos paralelamente paramétricos

paragrama, paralelipípedo, paralelograma

(paragoge, parafonia)

paraliteratura paralógia, parabasicamente

paragonar paratitlos:
não paralambdacismarás!

parageusia
paraplasma, parapleura, paratiróide
parassiflítico, paratífico
parassimpático, parantipático
parafrenite, paraciesia, paracusia, parafimose
paralítico, paralisia
paraplexia, paraplégico, paralímpico, para todos
paramnésia, paraminia, paralalia, paracmástico
paracentese, paracelsismo
paramédico, paracetamol
paraldeído
paranormal
paracéfalo, parasceve, parasita, paramilitar
parapsicologia

parapeitando parasselenicamente a paralaxe

pára-raios, pára-fogo, pára-águas, pára-chuva, pára-sol
pára-vento, pára-brisas, pára-choques
Paralamas do Sucesso
pára-quedas, pára-quecas, párapente e escova dos dentes

Parafita, Paranhos
Paracleto, Paráclito, Paraíso
paramento, paraminto

parampumpum

Paramaribo, Paramos

parastática, paral
parafusaria, parafuso, parafusador, parafusação
parafina, paragrossa

paracanaxi, paracarpo, paracaúba, paracutaca, paracorola
parátipo, paraidrogénio, paramagnetismo, paraformismo, paraxial, paragénese
paráclase, paráfise
paralelinérveo, parápode, paramécia, palambulacrário, parátipo
Paradiseídeos, Paramecídeos, paradáctilo

pararaca, parati, um corneto para mim
parau, páralo, paravante, parálio
paraense, paraguaio, paranaense
paralheiro

páramo, parado, parança
parada
paradeiro, paradouro
paradela, paragem

paraninfo, paragão

para-quê

para a frente e para trás
para trás e para a frente
pára
pára Pedro, Pedro pára
stop.

P.S. - Hoje é Dia do Pára-quedista. No Brasil. Portanto hoje é Dia do Paraquedista.

Reservado

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Guia de marcha

Esquerdo direito ope dois
Esquerdo direito ope dois
Esquerdo
Esquerdo
Esquerdo
Esquerdo direito ope dois
Esquerdo direito ope dois
Erdo
Erdo
Erdo

Riminha

O caracol
leva a casa
a tiracol.

Caracol

Ca... ra... col... ... ... ...

A raiz ao pensamento

Quando o poeta disse "Não há machado que corte", levaram-lhe logo uma serra.

P.S. - Hoje é Dia do Poeta.

Não há projecto que resista

Atirava-se de cabeça a cada novo projecto. Foi acusado de bullying.

P.S. - Hoje é Dia Mundial de Combate ao Bullying.

Quando for pequeno

"Quando for pequeno, quero ser palhaço", disse o ancião, sonhador e triste. Com efeito, aquela sociedade funcionava às arrecuas: nascia-se velho e morria-se a chupar no dedo. Era naturalmente governada por garotos.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Adivinha

Quantos anos terá uma mulher que diz que tem cinquenta?

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Menopausa.

Lucas, evangelista e médio ofensivo

Lucas era talvez médico e talvez pintor e terá vivido na cidade grega de Antioquia, podendo ter sido um dos poucos cristãos originais que conviveram com os doze apóstolos. Admite-se que tenha emparceirado com Paulo e será, segundo a tradição, o autor dos Actos dos Apóstolos e do Evangelho de São Lucas, como o próprio nome indica, passando por isso a ser conhecido como Lucas Evangelista. Diz-se que se calhar foi o primeiro iconógrafo, tendo eventualmente pintado a Virgem Maria, São Paulo e São Pedro. Depois de ter passado em Portugal pelo Estoril e pelo Vitória de Guimarães, joga actualmente no Red Bull Bragantino do Brasil e é médio, não médico - e isto é certo.

P.S. - Hoje é Dia de São Lucas, padroeiro dos pintores, médicos e cirurgiões.

De ocasião

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 16 de outubro de 2022

Não estou aqui para enganar ninguém

Nos preguiçosos semáforos do frequentadíssimo cruzamento de Valença, na Nacional 13, como quem vai mas não vai para a estação da CP, dois indivíduos vestidos à empregado de mesa distribuem panfletos aos carros que param desprecatados e de vidros abertos. À empregado de mesa, quero dizer, sapatos desengraxados, calças pretas sebosas e camisas que parece que já foram brancas. São propagandistas. Os panfletos com letras azuis e tamanhos desaparelhados fazem reclame a um restaurante, a uma churrasqueira, ou mais concretamente a um "asador", como lá diz em título garrafal, e justamente "asador" ainda que o estabelecimento se localize em pleno território nacional, a largos três quilómetros da fronteira com Espanha e "com amplo parque de estacionamento", mas é assim que as coisas são.
Duas das principais especialidades da casa são o "pollo na brasa" e a "costilla de cerdo". Para além dos mais emblemáticos pratos da cozinha tradicional portuguesa, do cozido e da picanha aos diversos bacalhaus e pescada cozida com todos, passando pelo cabrito, pelo leitão, pela vitela, pelo arroz de tamboril e pelo polvo, e com capacidade para 400 - sim, quatrocentas - pessoas, tem também "francezinhas, pizzas e hamburguers". É a promessa de todo um mundo, posto que regional e com ar condicionado. A quem se apresentar com o papelinho na mão, o imenso restaurante diz que regala "una botella de viño para levar p/ casa".
Enquanto isso, duas da tarde, o sol a pique nos semáforos do cruzamento cosmopolita, um dos dois emissários do "asador" farto, generoso, climatizado, bilingue e extraordinário, por acaso o mais velho dos evangelizadores gastronómicos, abre um pequeno saco se papel castanho que trazia no bolso das calças e rapa de um lanche já encetado. Dá uma, duas dentadas e volta a guardar a sande pré-fabricada e dura no saco gorduroso e nas calças idem. Limpa a boca com as costas da mão, sacode as migalhas da camisa suada e continua a distribuir papéis. Assim, a seco.

P.S. - Hoje é Dia do Profissional da Propaganda. No Brasil.

E olé!...

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 15 de outubro de 2022

De cabeça perdida

Maria Antónia Josefa Joana de Habsburgo-Lorena ou, em alemão, Maria Antonia Josepha Johanna von Habsburg-Lothringen ou, em francês, Marie Antoinette Josèphe Jeanne de Habsbourg-Lorraine chamava-se Maria Antonieta. Nasceu em Viena, Áustria, no dia 2 de Novembro de 1755, foi rainha sem sorte de França e Navarra e perdeu a cabeça em Paris, tinha apenas 37 anos. Coisa de mulheres, houve quem dissesse na altura. Hoje é preciso ter muito cuidado com o que se diz.

P.S. - Maria Antonieta foi decapitada no dia 16 de Outubro de 1793.

Mobiliário urbano (propriamente dito) 236

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Mãe querida, mãe querida

Era uma mãe à moda antiga, pobre, viúva, severa e de mão lesta, e foi chamada à escola derivado ao filho do meio. Eram nove. Na escola ouviu o que não queria, enfunou, e ligou ao miúdo logo ali, à frente de quem de direito, para que soubessem, gritando, cheia de nervos: - Vais ver quando eu chegar a casa! O filho, que era cego, ficou todo contente.

P.S. - Agora a sério (à séria, se lido em Lisboa), hoje é Dia Mundial da Bengala Branca.

É o momento, o instante (e outros sinónimos assim)

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Os óculos são como os cornos

Os óculos são como as luvas, as calças, as meias, as botas, os patins, as jarras, os estalos, os cornos e outras coisas boas da vida - vêm aos pares. Ocorreu-me este acutilante pensamento porque precisei de mudar de óculos. E então: "Estes óculos fazem-me um bocado palerma", disse eu à menina da loja, mirando-me no espelho. "Não diga um coisa dessas, por acaso até lhe ficam muito bem", disse-me a menina da loja. "Exactamente, é isso que eu quero dizer: estes óculos favorecem-me. Normalmente sou palerma completo", esclareci.

P.S. - Hoje é Dia Mundial da Visão.

Salta aos olhos

Tinha mais olhos do que barriga. Isto é: tinha dois olhos e somente uma barriga, posto que as barrigas das pernas não contam para a questão em apreço. Era, portanto, uma pessoal normal.

Pontos de vista

Eu tenho uma certa maneira de ver as coisas, isso é verdade. Mas não possuo aquilo a que se possa chamar um prisma, uma óptica, sequer um ângulo que se diga. Tivesse-os eu, e vendia-os...

Navegar é preciso

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 11 de outubro de 2022

É fartar, vilanagem!

Quando a corneta, ou olifante, tocou para o tacho, eram mais de quatro mil cavaleiros, de faca e garfo em punho como se fossem para uma justa, mas sentados e com um apetite escancarado e lavajão, posto que estávamos na Idade Média, e higiene e boas maneiras não eram com eles naquele tempo. Manifestamente atónito e arreliado assim assim, o rei Artur fez contas à vida, pelos dedos, apaziguou a algazarra da turba colorida e apenachada com meia dúzia de flechas cirurgicamente colocadas e obviamente fatais, invocou o regimento e colocou um ponto de ordem à mesa. O seguinte: "Embora nunca tenhamos realmente existido, está historicamente provado que vocês não podem ser mais de doze, talvez 24, ou, para não me chamarem unhas de fome, temos sala para 150, fora as crianças, que pagam metade. Agora, famílias inteiras, 4.145 adultos e gordos, menos os seis que eu vindimei, já é uma escandalosa moinice. De onde é que me apareceu esta gente toda, que ainda por cima não traz o Magriço, que até nem dá despesa nenhuma, como o próprio nome indica? Por São Jorge, isto é a Távola Redonda, não é a gamela do PS"...

P.S. - O escritor britânico Roger Lancelyn Gren, autor de "Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda" e "Robin dos Bosques", morreu em Outubro de 1987, há quem diga que no dia 12, aos 68 anos.

A Guerra dos Cem Anos e os arredondamentos

Era um encontro previsto para ser diplomático e discutido em três sets: quando Mister Cheddar, pela Inglaterra, e Monsieur Camembert, pela França, reuniram em Sherwood, sob os auspícios do Robin dos Bosques e a bênção de Frei Tuck, tendo sobre a mesa, já naquele tempo, a delicada questão das quotas leiteiras. Estava tudo a correr bem, entre uísques e champanhes bem bebidos, mas era um cheiro a chulé que não se podia. Foi então que o inglês, já com um grãozinho na asa e uma mola de roupa no nariz, não aguentou mais e questionou o francês, com a ajuda do Carlos Fino, que fazia as traduções: - Porque é que o caro amigo (old chap, no original) não vai mas é lavar os pés no Sena?
E foi assim que começou a Guerra dos Cem Anos. Até hoje.

A Guerra dos Cem Anos chama-se Guerra dos Cem Anos porque durou cento e dezasseis anos, mas chamar Guerra dos Cento e Dezasseis Anos à Guerra dos Cem Anos não dava jeito nenhum aos historiadores e contabilistas bancários, e assim começaram os arredondamentos.

Mobiliário urbano (propriamente dito) 235

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 8 de outubro de 2022

A explicação do cobarde

Mais vale sê-lo que estampilha.

Entre o binómio e o perónio

Decerto já viram nas notícias: binómio é um polícia e um cão que são colegas de trabalho. Já um carteiro e um cão são um perónio. Um perónio partido e o fundilho das calças esgaçado.

Que nós bem, graças a Deus

A Polícia daquele tempo vestia uma farda de terilene cinzento, que era a cor da Autoridade e do País. Os carteiros também vestiam de cinzento, mas em cotim. A outra diferença é que os carteiros eram nossos amigos.

P.S. - Hoje é Dia Mundial dos Correios.

Espero que ao receberes esta

Foto Hernâni Von Doellinger

Isto não é como acaba, é como começa

Era o primeiro a arrancar e a assumir a liderança de todas as maratonas em que participava, às vezes duas ou três por fim-de-semana. Na meta, 42,195 km depois, tinha desistido 42,145 km antes.

Tácticas...

Ao contrário de todos os outros atletas, ele gostava de correr da frente para trás. Provocava muita confusão e inúmeros acidentes, realmente, mas cada um é como cada qual. É a liberdade individual...

What?

E diz o runner ao finisher: - O pacemaker hoje não vem?...

P.S. - Hoje é Dia do Atletismo. No Brasil.

Maratonando

Foto Hernâni Von Doellinger

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Mal comparando

O polvo é um octópode. Dois linces da Malcata também.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Polvo.

Era um melro de ida e volta

A minha rua adoptiva, em Matosinhos-sur-Mer, é território de gatos e gaivotas. De umas pombas, vá lá, de uns pardejos lingrinhas e de uns cães abundantemente cagões e felizmente sem asas. Mas sobretudo, e historicamente, a minha rua é território de gatos e gaivotas, que vêm ao cheiro da comida que a minha vizinha lhes manda da varanda, besuntando de espinhas, patas de frango, gorduras várias e nojo a estrada e o passeio, mesmo por baixo do meu nariz. (Na minha rua passa bissextamente a procissão do Senhor de Matosinhos e estabeleceu-se há uns meses, colado aqui a casa, o Núcleo do Sporting - exigia-se portanto outro asseio.) A minha vizinha foi quem chamou as gaivotas, mas agora enxota-as a baldes de água fria, porque, não sei se mudou de religião, só quer conversa com os gatos.
Ora bem: há mais de trinta anos que moro na minha rua e foram precisos mais de trinta anos para que me aparecesse na rua um melro. Sim, um melro efectivamente, e apresenta-se todas as manhãs. Melro cantor que dá gosto, e lambão benza-o Deus, também vai à marmita dos gatos, um destes dias desaparece corrido a encharcado pela minha vizinha, se tiver a sorte de não ser cozinhado para alimentar os bichanos.
E eu, perante isto? Eu gostei muito que o melro tivesse dado com a minha rua e com a frente da minha casa. Grande melro! É porreiro, porque assim já somos dois...

P.S. - Publicado originalmente em Fevereiro de 2017. Entretanto o Sporting desamparou-me a loja, foi não sei para onde, se é que foi, e deu em campeão, o que é deveras lamentável e manifesto desperdício. O melro da minha rua, o meu melro, cantava sem parar o hino do FC Porto. E juro que não fui eu a ensiná-lo. Os melros, é o que têm, já nascem ensinados. Por outro lado, hoje é Dia Mundial das Aves Migratórias, que se assinala duas vezes por anos. E hoje é o segundo dia.

O mar enrola na areia...

Foto Hernâni Von Doellinger

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Profissional

- Então o que é que faz?
- Desempregado.
- E o que é que fazia?
- Nada.

Mais valia

Era o Mais-valia da empresa. Chamavam pelo Mais-valia e o Mais-valia vinha. E ia. E ia e vinha. E vinha e ia. E tornava a ir e tornava a vir. Chamavam-no a toda a hora e momento, por tudo e por nada, era Mais-valia para aqui, Mais-valia para ali, e ele, que acreditava no poder dos hífens, andava vaidoso e feliz. O trabalho do Mais-valia era ir e vir, vir e ir, o que lhe ocupava sobremaneira o dia. Sentia-se tão necessário! Não sabia que a alcunha lhe ficara porque toda a gente dizia que mais valia despedi-lo.

Os meus cromos 73: Pedro Caixinha

Foto Hernâni Von Doellinger

O Nobel de Lobo Antunes

Este ano também não. Era hoje, andava a roda do Prémio Nobel da Literatura 2022, número praticamente redondo e repetitivo, tão ao nosso feitio bissexto e esotérico, mas nem assim. António Lobo Antunes, nada, nem sequer a terminação. Cada vez mais acredito que os membros da Academia Sueca jogam muito bem às cartas mas não lêem, consomem briefings de modas políticas e tendências sociológicas, vêem séries na televisão, emborcam uns brännvins, e depois - bêbados, ensonados, de olhos vendados e de costas - atiram um dardo ao mapa-múndi e onde calhar calhou. Já disse que cada vez mais, não disse? Pois então repito: cada vez mais estou como o nosso Lobo Antunes - quero que o Nobel se foda. E se a puta da seta com o prémio, para o ano, acertar aos trambolhões na minha casa, eu não estou, eu não quero.

P.S. - A francesa Annie Ernaux, autora de "Os Anos", foi hoje anunciada pela Academia Sueca como Prémio Nobel da Literatura 2022.

O PS está farto do Governo

Já percebi tudo. O PS quer sair do Governo. O PS pretende perder as próximas eleições, e está a dar o seu melhor para que, se possível, sejam eleições antecipadas. O afã com que os socialistas exibem diariamente as suas mais íntimas imoralidades, umas atrás das outras, alardeando a impunidade e a arrogância das ditaduras, só pode ser isso. O PS não dá ponto sem nó. O PS está a fazer de propósito. Deseja passar a pasta. Este PS de António Costa faz trinta por uma linha para ser visto e julgado pelos portugueses como um bando de malfeitores, uma organização criminosa, uma família mafiosa. O PS exige ser despedido por indecente e má figura. E está no seu direito.

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

O mordomo do Papa e os filhos da púrpura

Já não bastava a indecência de o Papa ter mordomo. Agora saem-me em fascículos as histórias do mordomo, que está a ser julgado por ter posto ao léu as poucas-vergonhas da Igreja de púrpura. Algumas. O mordomo é o homem que tem por "funções vestir o Papa e viajar à sua frente no papamóvel". Coça-lhe as costas, chega-lhe os chinelos, conta-lhes as últimas, faz-lhe a cabeça, dá-lhe uns palpites e saca ao velho informações a bem dizer de confessionário, tudo exactamente como Jesus Cristo recomendou a São Pedro quando lhe entregou as chaves do Vaticano. Está na Bíblia.
Isto de o Papa ter mordomo e de o mordomo vestir o Papa e passear no papamóvel com o Papa e de tomar o pequeno-almoço com o Papa e de intrigalhar com o Papa e de o Papa intrigalhar com o mordomo, eles os dois no serrote, de xícara na mão e mindinho espetado, filhos da púrpura acima, filhos da púrpura abaixo, faz-me lembrar o nosso José Castelo Branco, Deus me perdoe. O "Conde" também tinha mordomo e também acabaram mal. Por amor da santa! A minha Igreja só me dá desgostos.

P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Outubro de 2012. O Papa era Bento XVI. Três dias depois, faz hoje exactamente dez anos, o mordomo Paolo Gabriele, julgado por "roubo agravado" de documentos confidenciais, foi condenado a 18 meses de prisão pelo Tribunal do Vaticano.

Mr. DeMille, I'm ready for my close-up!

Foto Hernâni Von Doellinger

terça-feira, 4 de outubro de 2022

De mestre

"Pinocar ou pinoquiar?", perguntou o jovem mestrando em Carpintaria & Outras Artes Sexuais. "Depende", respondeu o velho professor de nariz adunco e face testicular.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Professor.

Sereias trá-las o mar

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O amigo dos animais

É veterinário porque gosta muito de animais. Coelhos, perdizes, tordos, javalis e sobretudo toiros. E só lamenta que em Portugal não sejam de morte.

Os bois chamam-se pelos nomes

O porco é Ruço. A porca Vadia. A vaca Amarela. O boi Bonito. O touro Osborne. A turina Malhada. O cão Bobi. O elefante Branco. A cadela Laika. A Santa preguiça. O cachorro Kent. O gato Maltês. A gata Borralheira. A cabra Cega. A ovelha Dolly. O cabrito Montês. O cavalo Silva. O burro Velho. O rato Mique. O coelho Anão. O macaco Adriano. O leopardo Negro. A chinchila Mila. O furão Furão. A tartaruga Ninja. A mulher Alheia. O homem Erecto. O peixe Dourado. O surfista Prateado. A sardinha Biba. A pita Arisca. A periquita Alegre. O pombo Armando. O crocodilo Dundee. A lontra Badocha. O pato Patola. O galo Badalo, a galinha Balbina, o pinto Jacinto e o peru Gluglu.
Assim se chamam os bois pelos nomes.

Provavelmente a melhor vitela assada do mundo

Foto Município de Fafe

Os domingos tinham esse pequeno problema, e quem for de Fafe e antigo sabe do que falo: tripas ou vitela assada? Era a verdadeira questão, o dilema do almoço dominical. Os fafenses, gente de bom comer e satisfatório beber, resolveram facilmente o assunto, há muito, muito tempo: isto é, em vez de tripas "ou" vitela assada, o almocinho de domingo passou a ser tripas "e" vitela assada. Nem Salomão, no seu ancestral e sábio critério, tomaria decisão mais acertada.
vitelinha guiava-se em casa, com vagar e carinho, com as voltinhas todas, se possível em forno ou fogão de lenha, e as tripas, regra geral, iam-se buscar num tachinho à Esquiça ou à Pacata, consoante a ideia que cada um tinha acerca da sua própria posição social - o que agora até dá para rir, vendo-se assim a coisa à distância...
Começava-se portanto pelas tripas, e a seguir vinha a vitela. O apetite era gerido ao milímetro, mais ou menos um bocadinho daquelas, mais ou menos um bocadinho desta - porque, como determina o princípio da impenetrabilidade da matéria, dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo, e as vacas é que têm felizmente quatro estômagos. Ora bem: a malta nova, pouco dada à tripalhada, reservava-se para a chicha com batatinha de ouro e arroz seco e solto. Mas de quando em quando reservava-se mal. Como daquela vez em que o nosso Zé não tocou no feijão. Perguntaram-lhe se estava doente, se tinha fastio, se queria um caldinho branco, se queria meter o termómetro. Que não, que não, que não e que não, respondeu respectivamente, e explicou todo gaiteiro: - Estou a guardar-me para a vitela!
Naquele domingo não havia vitela. E as tripas já tinham saído da mesa...

Agora, muita atenção: onde escrevi "tripas" e "vitela assada", deve falar-se "tripasss" e "bitela assada". À moda de Fafe. A vitela assada à moda de Fafe, quando bem trabalhada, é provavelmente a melhor vitela assada do mundo. A confraria da dita não veio ajudar nada, antes pelo contrário, mas, diga-se já agora em abono da verdade, veste e desfila que é uma categoria.
E tome nota, porque vale a pena: de quarta-feira até domingo, dando bom proveito ao feriado da implantação da República, está aí mais uma edição do Festival da Vitela Assada à Moda de Fafe. A famosa vitela assada em forno de lenha, regra geral, vinho verde, pão-de-ló e doces de gema, tudo a preço de combate. Produtos regionais, animação de rua, muita música, passeatas e actividades tradicionais. Mais informação e programa completo, aqui.
Também estava a guardar-se para a vitela? Então vá lá! Aproveite, vá a Fafe, antes que se acabe! Antes que seja crime.

Quatro paredes caiadas

Foto Hernâni Von Doellinger

Só nos primeiros seis meses de 2019 foram apresentados 166 novos projectos de hotéis em Portugal, contavam então os jornais e são os números mais actualizados e credíveis que sei, porque depois meteu-se a pandemia. Cento e sessenta e seis, repito e por extenso, que a enormidade do número faz por merecer. Dezoito investimentos em carteira para o Porto e treze para Lisboa. Vila Nova de Gaia vai ter a maior obra do País e a minha rua, em Matosinhos, já é ela por ela entre indígenas e alojamento local.
Nos princípios de 2018 havia 450 mil casas sobrelotadas e 2,5 milhões de casas subaproveitadas. Havia mais de 735 mil casas vazias, umas caindo de velhas, outras ainda por estrear. Em Portugal havia - e há - cada vez mais portugueses sem dinheiro para pagarem ao banco a prestação da casa. Os portugueses devolvem a casa ao banco, sem ondas e sem suicídios, às vezes. Em Portugal não há dinheiro para ajeitar a vida dos portugueses. E há cada vez mais portugueses morando no olho da rua. É. O País constrói-se para as visitas. Visitas gold, é preciso que se note.
Portugal de luxo, Portugal de lixo. Um site oficial do Governo exultava: "A Pousada do Porto, instalada no Palácio do Freixo, acabou de entrar na prestigiada e exclusiva rede The Leading Hotels of the World. Só os mais luxuosos, prestigiados e sofisticados hotéis são admitidos na referida listagem de apenas 430 unidades em todo o mundo."
Prestigiada e exclusiva, luxuosa, outra vez prestigiada e sofisticada. A Pousada. Um mundo...
Portugal tinha então cinco hotéis na lista dos 100 melhores do mundo, e em 2012 era português o melhor hotel da Península Ibérica e o melhor pequeno hotel de luxo da Europa era em Lisboa. Em Portugal havia mais de 40 hotéis de luxo. Hoje em dia devem ser mais que as mães.
E há também mais de três milhões de pobres, meio milhão de trabalhadores a salário mínimo, um milhão e meio de desempregados ou mais, entre os registados e os desarriscados, milhares e milhares e milhares de sem-abrigo, ninguém sabe ao certo quantos, e um imenso número calado de trabalhadores imigrantes tratados como escravos, ignorados farisaicamente pelo país em peso, quando não lançados sem dó nem piedade para o redondel dos cães fascisto-racistas.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Habitat.

domingo, 2 de outubro de 2022

A táctica do duplo pivô

- Ora muito bem: vamos jogar com dois pivôs, quatro caninos, três incisivos e um molar, e sobretudo com muito siso - disse o treinador aos seus rapazes. Era um treinador em part-time, dentista encartado a tempo inteiro.

P.S. - Hoje é Dia Mundial do Dentista. Pelo menos no Brasil.

Tenho sonhos marinheiros

Foto Hernâni Von Doellinger

sábado, 1 de outubro de 2022

O nosso homem no terreno

Quando ela falava do seu homem no terreno, havia logo quem imaginasse histórias de espiões, acção, aventura e romance. Mas não. Ela falava do marido e da hortazita que o desgraçado fabricava nas traseiras da casa em horário pós-laboral.

P.S. - O escritor inglês Graham Greene, autor de "O Nosso Agente em Havana", nasceu no dia 2 de Outubro de 1904.

O bom, o mau e o sermão

"Não oponhais resistência ao mau; se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra", ensinou Jesus no Sermão da Montanha (Mt 5, 39). Ora isto de querer fazer de nós bonzinhos à força parece-me um perigoso incitamento à violência. À violência do outro, do mau. Que ainda por cima vai ser mais mau pela segunda vez, e por nossa culpa, nossa tão grande culpa.

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Não Violência.

Animais de quinta

O azar dos animais de quinta são os outros dias da semana.

P.S. - Hoje é Dia Mundial dos Animais de Quinta.

At the beach, praticamente

Foto Hernâni Von Doellinger