Foto Hernâni Von Doellinger |
terça-feira, 15 de abril de 2025
A pintura do Mané
A pintura do Mané não lhe dizia grande coisa. Asseguravam-lhe que o Mané era um grande artista, falavam-lhe do impressionismo francês, até do realismo, dos jogos de luz e de sombra, dos nus, mas ele não se deixava convencer. O Mané era um gajo porreiro, isso nem se discute, pagava umas cervejas quando chegava a sua vez e desenrascava satisfatoriamente o lugar de defesa-esquerdo nos jogos das manhãs de domingo na praia, mas, quer-se dizer, era apenas um trolha regular e à beira da reforma. Como ele...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Arte.
Desenhos mais ou menos
O maneirismo
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Arte.
Poesia a peso
- Era dois poemas de trinta gramas, se faz favor!
- Os dois?
- Cada.
- Sessenta gramas de poemas...
- Exactamente.
segunda-feira, 14 de abril de 2025
Corre, Caixinha, corre!
Foto Hernâni Von Doellinger |
"O português Pedro Caixinha é treinador do Santos, no Brasil, desde alturas do Natal. Neymar, a estrela cadente, vai voltar ao Santos, está prevista a apresentação para amanhã, e Caixinha diz que sabe muito bem "onde Neymar vai jogar e como vai chegar". Eu prevejo que os dois não vão ficar muito tempo juntos. E um por causa do outro. Escreve-se que Neymar só assinou ou vai assinar para 24 jogos, mas, ainda assim, parece-me que será o treinador o primeiro a sair."
domingo, 13 de abril de 2025
Dava-te um beijo, mas não tenho...
Dizemos "Beijinhos", dizemos "Abraço", dizemos olá de boca, e assim ficamos. Pelas palavras. Beijos e abraços são só vocábulos, paleio. Mantemos uma distância alegadamente higiénica entre nós, os alegados amigos uns dos outros. Amigos por computador. Dizemos. Enviamos. Remetemos. Aproveitamos a oportunidade para. Ao telefone, por escrito, ao vivo na pressa da rua, na patetice dos emojis. Dar a sério (à séria, se lido em Lisboa) é que não. Ninguém dá nada a ninguém - nem sequer beijos, nem sequer abraços. Fazemos votos de. "O que lhe estimo é um magnífico beijo", "Desejo-lhe um excelentíssimo abraço". E nisto estamos.
É. Olhem bem à volta: as palavras estão em alta, navegam de vento em popa. As palavras. O falatório. Nunca tanto se palavrou. Nunca se falou tanto, nunca se mentiu tanto. Isso. O que verdadeiramente está em crise é a palavra, a palavra singular e definitiva, essa vaga memória de uma honra démodée que se arrasta pelas ruas da amargura - abandonada, pobre, cega e nua. Mas isto, claro, sou eu a dizer e são apenas... palavras, palavras, palavras.
sábado, 12 de abril de 2025
"O Encantador de Sereias", de Augusto Baptista
sexta-feira, 11 de abril de 2025
A vida era uma fotonovela
Recuemos. À década de oitenta do século passado e ao cimo da mui portuense Rua de 31 de Janeiro, onde havia uma casa de jogos de máquinas de flippers e afins que tinha uma cave com um altifalante fanhoso que, de uns quantos em quantos minutos, gritava cá para fora a curiosa frase "Mudança de modelo". Lá em baixo parece que havia umas raparigas muito jeitosas e nuas a fazerem não sei o quê e umas cabinas individuais e sebentas com ranhura para a clientela meter a moeda como nas velhas jukeboxes de feira e espreitar por um vidro e fazer também não sei o quê. Sei muito pouco do assunto porque, palavra de honra, nunca lá pus os pés. Ou se calhar pus, lembro-me vagamente da situação, não juraria em tribunal, mas isso também não vem ao caso.
Informei-me. "Mudança de modelo", logo a seguir ao ding-dong de uma campainha de aeroporto, queria dizer, por exemplo, que a morena mamuda passava a pasta à loura pernalta e ia para os bastidores ler a Corín Tellado, e assim sucessivamente e vice-versa, mas decerto queria dizer também que os clientes tinham de fechar a braguilha e limpar as mãos o mais rapidamente possível e dar a vez a outros, que eram mais que as mães, sobretudo no intervalo de almoço. O speaker de serviço dizia "Mudaaaança de modeloooo" com um garbo só comparável ao do mestre-de-cerimónias do Circo Merito quando anunciava na Feira Velha de Fafe a sensacional "Maribelaaaa no seu rrrrrola-rolaaaa". Eu gostava: "Mudaaaança de modeloooo"! Parava em frente para ouvir, uma e outra vez, até à hora de voltar ao trabalho. E ria-me. Quase quarenta anos depois, leio e ouço a moderna lengalenga da "mudança de paradigma". "Mudança de paradigma" acima, "mudança de paradigma" abaixo. "Mudança de paradigma" para aqui, "mudança de paradigma" para ali. E também me faz rir, confesso, mas não me arrebita. Falta-lhe sustância, ao paradigma...
Já agora, sobre Corín Tellado, espanhola que se chamava Maria del Socorro Tellado Lopez e morreu no dia 11 de Abril de 2009, aos 82 anos. Escritora, autora mais lida na língua de Cervantes logo atrás do próprio, publicou mais de quatro mil romances cor-de-rosa ao longo de uma carreira de quase 56 anos, vendendo acima de 400 milhões de exemplares, o que lhe valeu a entrada no Guiness em 1994. Em Portugal, e pelo menos em Fafe, antes do 25 de Abril, a senhora Corín Tellado ficou famosa pela melosíssima revista de fotonovelas a que emprestava o nome. As revistas eram disputadas, partilhadas, emprestadas, trocadas, rompiam-se de mão em mão, iam de casa em casa como a Sagrada Família mas com outros interesses. A televisão era a RTP e o mais parecido com uma telenovela era o TV Rural do engenheiro Sousa Veloso, "despeço-me com amizade até ao próximo programa". Na rádio, o "Simplesmente Maria", folhetim radiofónico, chegou à Renascença apenas em Março de 1973, e o país desfez-se em lágrimas, como se houvera inundações. Já disse: era assim em Portugal e pelo menos em Fafe. A parte de Fafe do rés-do-chão, da esfregona e da costura. A parte de Fafe de que sou. Era triste mas era isto: a vida era uma fotonovela.
quinta-feira, 10 de abril de 2025
quarta-feira, 9 de abril de 2025
Um gajo para o escrete
"O treinador Mano Menezes foi despedido da selecção brasileira. O substituto deverá ser anunciado no início de Janeiro e entre os principais candidatos ao lugar parece que estão Muricy Ramalho (técnico do Santos), Tite (do Corinthians) e Luiz Felipe Scolari (sem clube, depois de ter mandado o Palmeiras para a segunda divisão).
Mas do que é que o Brasil está à espera para contratar um treinador português? Não percebo a hesitação. Os brasileiros são os melhores jogadores do mundo? Também os portugueses são os melhores treinadores do mundo, como Jorge Jesus ainda ontem voltou a dizer.
É certo que, quando assim fala, o míster do Benfica é para o espelho que olha, e nem é bem ele a falar, é apenas o umbigo, are you talking to me?, you talking to me? Mas o umbigo de Jesus não deixa de ter razão. E o Brasil só ganhava se se deixasse descobrir de novo."
Vistes? Exactamente, Novembro de 2012, ó santa clarividência! Sete anos depois, em Junho de 2019, Jorge Jesus foi contratado pelo Flamengo e teve o sucesso que se sabe. Foi Jorge Jesus, Abel Ferreira e agora são uns atrás dos outros, qualquer dia não há treinadores portugueses a treinar em Portugal, foram todos para o Brasil.
terça-feira, 8 de abril de 2025
Cuidado com as carteiras!
A munha e o munho
domingo, 6 de abril de 2025
Mistérios de Fafe, a desvendar
Como já aqui anunciei, desde o início do ano que tenho em funcionamento um novo blogue - Mistérios de Fafe, título que pedi emprestado à obra de Camilo Castelo Branco, quando se assinala o bicentenário do nascimento do escritor. É lá que estou a compilar, rever e "passar a limpo", com importantes acrescentos, versões optimizadas dos meus textos sobre Fafe, sobre vidas, pessoas, usos, falares e acontecimentos do meu tempo de Fafe e após, isto é, sobre o modo como o recordo ou quero recordar. Histórias e memórias pessoais, juvenis e profissionais, velhas amizades, cromos e admirações, cenas gagas ou desgraçadas, peripécias, é o que conto. Exclusivamente.
O bebé que era sedentário
Estacionaram o carro junto à praia. A mulher saiu, morena e roliça, num refrescante vestido branco comprido à mãe-de-santo. O homem foi ao banco de trás buscar o filho e pousou-o no chão. O miúdo não gostou. Era ainda um bebezinho dos primeiros passos que quase não se tinha em pé. Se calhar por isso, sentou-se no empedrado, abriu as goelas e chorou o seu protesto. A mãe procurou por quem passava, era eu, e ralhou pedagógica e mansamente ao petiz, naquele português doce do Brasil: - Rodinei Uaxinton, chega! Que sedentarismo, minino!...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Actividade Física.
sábado, 5 de abril de 2025
Ó Montenegro, e se fosses...
As misses do PS
Quando Ben-Hur foi impedido de entrar no Presépio
A sarça ardente
Lotário, príncipe e partenaire
Lotário era neto de Carlos Magno e, primeiro, foi o terceiro imperador do Sacro Império Romano-Germânico, isto pelos inícios do século nono. Só muitos muitos anos depois, exactamente em 1934, é que se tornou ajudante do mágico Mandrake dos livros aos quadradinhos.
P.S. - Lotário I, o príncipe romano-germânico e não o príncipe e hércules africano, foi coroado rei de Itália pelo papa Pascoal I no dia 5 de Abril de 823.
sexta-feira, 4 de abril de 2025
O rato roeu a rolha
Revoltaram-se portanto os ratos. Organizaram-se. Chegada a horinha, meteram-se na fila, esperaram pela vez respectiva, marcaram o ponto e abandonaram ordeiramente o navio. Foram os últimos a sair. E apagaram a luz. Já em terra firme, os ratos dirigiram-se sem mais delongas à montanha que os pariu e roeram a rolha da garrafa do rei da Rússia. Todos, menos o Alcides, que era um rato de biblioteca e foi para o Café Avenida beber um dedal de rum e ler com todos os vagares "A Saga/Fuga de J.B.", de Gonzalo Torrente Ballester.
Reescrevendo a história
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Rato. E Dia Internacional da Ratazana Doméstica.
É de homem
Homem que é homem não teme leão. Os ratos são outro assunto...
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Rato. E Dia Internacional da Ratazana Doméstica.
quinta-feira, 3 de abril de 2025
Salgueiro Maia, por Sophia
respeitou o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu a paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite
Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício
Aquele que foi "Fiel à palavra dada à ideia tida"
como antes dele mas também por ele
Pessoa disse
Sophia de Mello Breyner Andresen
P.S. - Salgueiro Maia morreu no dia 3 de Abril de 1992. Aos 47 anos.
Canção do Salgueiro (Maia)
Esta recebi-a do Jaime Froufe Andrade. Foi num Abril, no tempo dela, e vale a pena lembrá-la hoje. E amanhã. E sempre! No blogue Campainha Eléctrica, li que "o tema "Canção do Salgueiro" tem música e letra de Carlos Tê, que também assegura a produção ao lado de Mário Barreiros e Pedro Vidal. Barreiros é responsável pela mistura e masterização, pela bateria, guitarra eléctrica e teclados, cabendo a Pedro Vidal, director musical de Jorge Palma e parceiro dos Blind Zero e Wraygunn, outra guitarra acústica e eléctrica e também o banjo. Na canção participam ainda Rui David na voz, Patrícia Lestre na voz e violino, Paulo Gravato, saxofonista de Pedro Abrunhosa ou dos Azeitonas, e Rui Pedro Silva no trompete. A voz principal é de Carlos Monteiro." A canção pode ser ouvida aqui. E a letra do Tê diz assim:
Canto agora ao salgueiro
Que um dia abriu os olhos
E viu reinar o vampiro
Sobre a lezíria cansada
De tanto choro e suspiro
E gente tão aviltada
Saiu em fúria da margem
E foi bradar ao terreiro
No seu cavalo de ferro
Pediu contas ao vampiro
E ali lhe fez o enterro
Sem disparar um só tiro
Ai ó meu velho salgueiro
Dá-me a tua sombra amiga
Se há bom tronco lusitano
És da cepa mais antiga
Ai ó meu velho salgueiro
Estás aí tão mudo e quedo
És filho dum ferroviário
Que fez um manguito ao medo
E depois voltou à margem
E ficou a salgueirar
Junto ao Tejo em Santarém
Onde as Tágides vão dançar
Quando a lua harpeja as águas
Certas noites de luar
No poleiro da capital
Cantiga logo esquecida
Mas tu estás de pedra e cal
Mesmo em terra batida
Alto é teu pedestal
Ai ó meu velho salgueiro
Dá-me a tua sombra amiga
Se há bom tronco lusitano
És da cepa mais antiga
Ai ó meu velho salgueiro
Estás aí tão mudo e quedo
És filho dum ferroviário
Que fez um manguito ao medo
Poema a Salgueiro Maia, de Manuel Alegre
E dentro dele uma voz
Ele ia de Santarém
Ele ia de Santarém
Era um cavaleiro andante
Manuel Alegre
quarta-feira, 2 de abril de 2025
A Esquiça e a efeméride
Ora bem. Andava eu, ontem, à procura das "Efemérides Lusa" para hoje, 2 de Abril, quando, por engano na busca, coisas da idade, dou de caras, no jornal Sol, com as "Efemérides de 2 de Março" de 2021. E para esse dia, no ano de 2017, o Sol aponta, resplandecente: "A taberna do pai de Jorge Ferreira, árbitro que tinha apitado o Estoril-Benfica, foi vandalizada há 4 anos, durante a noite."
Caramba! Fafe nas "Efemérides"! Eu não fazia ideia da importância para a Humanidade da ocorrência em questão, mas talvez mereça. Merece certamente. Não, de caras, no que diz respeito à façanha pífia da claque antiportista Super Dragões, mas, por outro lado, quanto à Esquiça instituição, a taberna do pai do filho, ela, sim, um acontecimento digno de registo, sobretudo derivado às tripinhas e à vitela, que já lá não vou há que tempos, caseiras, honestas e acessíveis, merecedoras realmente de figurarem nos anais da História. E, até à próxima, daqui vai um abraço para o Armindo!
Manicómicos
Foto Hernâni Von Doellinger |
Por falar nisso. O Hospital Júlio de Matos, em Lisboa, foi inaugurado no dia 2 de Abril de 1942. Ali estava, segundo a imprensa da época, um "manicómio", um lugar para "assistência a alienados", um "pavilhão para loucos", um sítio "esplêndido" e "simpático". E ainda bem. A imprensa da época vai entretanto ser corrigida com termos mais mansos, porque há coisas que hoje em dia realmente não se dizem. Nomeadamente "assistência", "pavilhão", "esplêndido" e sobretudo "simpático", que é uma palavra filha da mãe. Uma palavra, numa palavra, manifestamente suspeita e aliás indecente, direi até cancelável.
Branca e radiante
terça-feira, 1 de abril de 2025
Brincar em serviço
P.S. - Hoje é Dia Internacional da Diversão no Trabalho.
segunda-feira, 31 de março de 2025
Que se foda!...
O homenzarrão de calções de licra pelo joelho passou por mim no meu Passeio Atlântico, em Matosinhos, e naquele exacto momento despencou-se-lhe do extraordinário cinto multifunções um dos tais frasquinhos de plástico. Aos meus pés. Era novo e estava cheio. Eu, que só quero ajudar, gritei "Olhe, caiu-lhe um boião!", vergando-me para apanhar a garrafinha e levá-la ao dono, e bem me custou. O superatleta, talvez apenas cinco metros à minha frente, ouviu-me, sempre correndo, virou levemente a cabeça e sobretudo o braço direito num gesto redondo e grande, creio que metendo-nos no mesmo saco a mim e ao vasilhame perdido, para tonitruar, desportista até mais não:
- Que se foda!...
E continuou, a mil à hora, em busca do novo "recor".
domingo, 30 de março de 2025
Proibições que são convites
Foto Hernâni Von Doellinger |
Embora já andassem de Mercedes e/ou BMW, aqui há uns anos os senhores empreiteiros viam-se à rasca para perceberem onde podiam despejar o lixo que faziam nas demolições ou esburacamentos de início de obra. Não havia sítios de lei, largavam-no onde calhava, à noite, e fugiam. Atentas à insustentável situação e superpreocupadas com a defesa do ambiente e o bem-estar das populações, as autarquias portuguesas correram a criar uma rede de locais apropriados para o efeito nos montes à roda das vilas e cidades, de norte a sul do País. Em cada um desses locais jeitosos, os nossos preclaros autarcas mandaram colocar uma placa que avisava mais ou menos assim: "Proibido lançar entulho neste local - Coima até duzentos contos". E, pronto, os senhores empreiteiros ficaram a saber que era ali mesmo que podiam deitar o lixo.
Agora. Os meus amigos que batem umas cartas ali em baixo, naquela cantinho abrigado à beira-mar, têm uma preocupação naftalínica que eu compreendo. Arriscar bisca com cheiro a mijo deve ser uma merda. Por isso puseram um letreiro novo, melhoramento infelizmente sem inauguração pela senhora presidenta da Câmara de Matosinhos, mas sinalética em material nobre, upgrade como manda a sapatilha, passando do cartão canelado para a esferovite, e com uma mensagem indubitavelmente mais assertiva e acutilante. E no entanto, como na história dos senhores empreiteiros, "Atenção - Não urinar neste local - Obrigado", se formos a ver, só quer dizer, pelo contrário, WC...
sábado, 29 de março de 2025
À hora ou há ora?
sexta-feira, 28 de março de 2025
A diferença
A diferença entre os centros históricos e os centros histéricos está sobretudo na compostura. E na vogal do meio.
P.S. - Hoje é Dia Nacional dos Centros Históricos.
Centros históricos
P.S. - Hoje é Dia Nacional dos Centros Históricos.
quinta-feira, 27 de março de 2025
Sangue, suor e lágrimas
Ele era dador de sangue. De sangue, suor e lágrimas. Era realmente um dador esforçado e piegas.
P.S. - Hoje é Dia Nacional do Dador de Sangue.
Da velha escola
Sou realmente um tipo muito antigo. Eu sou do tempo, vede lá, em que os actores tinham cê!
P.S. - Hoje é Dia Mundial do Teatro.
quarta-feira, 26 de março de 2025
António Rebordão quê?...
Uma vez, há catorze ou quinze anos, eu tive a sorte de almoçar com o escritor António Rebordão Navarro. Eu e mais três amigos e velhos camaradas de ofício, dos jornais, num acidental e feliz reencontro à beira-Douro, lá na Ribeira de Gaia. Falámos sobretudo de banalidades risíveis, como convém à mesa, mas era fatal chegarmos aos livros. Meti conversa, como quem não quer a coisa:
- Sabe que fomos praticamente vizinhos durante alguns anos? O senhor doutor ainda mora lá para a nossa Foz?...
- Ai tem o livro? Mas eu escrevi mais livros, escrevi para aí uns catorze... - cortou Rebordão Navarro, sem disfarçar o sorriso malandro como o arrozinho de feijão e legumes que lhe acompanhava os bolinhos de bacalhau com que se deliciava.
"A Praça de Liège" foi um sucesso tremendo aquando da sua publicação, em 1988. Era o livro da moda (pois se até eu o comprei!) e ganhou o Prémio Literário Círculo de Leitores. Na altura em que me encontrei com o autor, contou-me o próprio, no Círculo de Leitores já não sabiam quem ele era, quem era o escritor António Rebordão Navarro. Alguém do Círculo contactou a irmã do escritor por uma razão qualquer, a senhora falou do irmão e do famigerado prémio e obteve como resposta um lamentável
- Quem? Rebordão quê? Não conheço...
Pois é: a memória! As empresas enxotam quem sabe da poda, despedem os funcionários pelas mãos dos quais passaram os factos e as pessoas, preferem juniores renováveis e analfabetos, verdes como os recibos, fiam-se no Google e na inteligência artificial mas não vão lá. E depois ninguém sabe nada de nada, por manifesta estupidez natural.
Há anos que está a acontecer o mesmo nas redacções dos jornais portugueses e até se contam algumas saborosas anedotas a esse respeito. São de rir tanto, as anedotas, que às tantas até são verdade.
No que me diz respeito, e como penitência pela minha ignorância àquela data quanto à dimensão da obra literária de António Rebordão Navarro, que afinal era qualquer coisinha mais do que catorze títulos, aqui deixo o registo essencial, com sinceros votos de que faça também bom proveito à rapaziada do Círculo de Leitores: poesia - "Longínquas Romãs e Alguns Animais Humildes", 2005; "A Condição Reflexa", 1989; "27 Poemas", 1988; "Aqui e Agora", 1961; teatro - "Sonho, Paixão, Mistério do Infante D. Henrique", 1995; "O Ser Sepulto", 1972; crónica - "Estados Gerais", 1991; ensaio - "Juro Que Sou Suspeito", 2007; conto "Dante Exilado em Ravena", 1989; romance - "As Ruas Presas às Rodas", 2011; "A Cama do Gato", 2010; "Romance com o Teu Nome", 2004; "Todos os Tons da Penumbra", 2000; "Amêndoas, Doces, Venenos", 1998; "A Parábola do Passeio Alegre", 1995; "As Portas do Cerco", 1992; "Mesopotâmia", 1984; "A Praça de Liège", 1988; "O Parque dos Lagartos", 1981; "O Discurso da Desordem", 1972; "Um Infinito Silêncio", 1970; "Romagem a Creta", 1964.
P.S. - António Rebordão Navarro morreu no dia 22 de Abril de 2015. E Portugal adormecido parece que já não sabe quem é que ele foi, quem é que ele é, o que significa. Actualmente, acho isso mal. Para ignorante, bastava eu. Em todo o caso, hoje é Dia do Livro Português.
terça-feira, 25 de março de 2025
Funiculì, funiculà
segunda-feira, 24 de março de 2025
Turistas de natureza
domingo, 23 de março de 2025
Bastante desagradável
- Você também.
- Eu referia-me ao tempo.
- Eu não.
O agricultor excêntrico
Ele era um lavrador um bocadinho excêntrico. Semeava ventos e colhia tempestades. E depois vendia-as ao preço da chuva...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Meteorologia.
Os que dão o tempo
O que é que eles dão para hoje?
Os especialistas do tempo prevêem para hoje um dia com 24 horas.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Meteorologia.
sábado, 22 de março de 2025
O papel de uma vida
- Vou sair.
E saiu.
Os influentes
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Água.
sexta-feira, 21 de março de 2025
A n.º 10 de Tomás Ribeiro Street
Foto Hernâni Von Doellinger |
À porta do meu prédio tenho uma árvore, tenho uma árvore à porta do meu prédio. Nunca poderei esquecer este acontecimento, com licença de Carlos Drummond de Andrade. A minha árvore é a número 10. Não sei por que razão as árvores são agora numeradas e etiquetadas. Nem percebo como é que as florestas antigas conseguiram salvar-se sem serem numeradas e etiquetadas. Sou um simples: acredito que tudo tem o seu propósito e contento-me com as coisas conforme elas se me apresentam. Para além disso, o número 10 parece-me um bom número.
Ei, ei, vique, ei, vique, ei!
quinta-feira, 20 de março de 2025
O beijo
Hoje é Dia da Língua Francesa. É oficial, está no calendário. Como não aproveitar?
P.S. - Hoje é Dia da Língua Francesa.
A táctica do duplo pivô
O problema da saúde oral
A questão é esta e é escusado vir agora com paninhos quentes. O problema da saúde oral, isto é, o verdadeiro problema da saúde oral, deixemo-nos de rodeios, porque, de uma vez por todas, é preciso dizer as coisas como elas são, quer-se dizer, é preciso chamar os bois pelos nomes, o problema da saúde oral, o verdadeiro problema da saúde oral é que a saúde oral, que ninguém me venha dizer o contrário, a saúde oral é só conversa. Exactamente! A saúde oral, e o que está dito está dito, a saúde oral é só conversa, paleio, treta, lábia, palavras, palavreado, saúde da boca para fora, saúde acima, saúde abaixo. Parlapiê e mais nada, não há meio de passar ao papel, e do papel aos actos. E assim estamos.
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Saúde Oral.
quarta-feira, 19 de março de 2025
Quem sai aos seus
O mundo é pequeno (e um bocado parvo)
- Sou, com efeito, um bocado parvo, mas como é que o caro senhor adivinhou?
- Um pressentimento. É que eu também sou...
- O caro senhor também é um pressentimento?
- Não, não, caro senhor: também sou um bocado parvo.
- Como o mundo é pequeno! Somos então praticamente família...
- Parentes, pelo menos...
- E, mal que lhe pergunte, o caro amigo é um bocado parvo por parte da senhora sua mãe ou por parte do senhor seu pai?
- Por parte do senhor meu pai.
- Mas isso é extraordinário, caro amigo, porque eu também sou...
- O caro amigo também é um bocado parvo por parte do senhor meu pai?
- Não, não, caro amigo: sou um bocado parvo mas por parte do senhor meu pai.
- Oh, que pena! De repente, quase que éramos irmãos, não é?...
terça-feira, 18 de março de 2025
segunda-feira, 17 de março de 2025
Acampado no multibanco
domingo, 16 de março de 2025
O meu banco mente-me
Levantamento das Caldas
sábado, 15 de março de 2025
Taxistas compram eléctricos
Foto Hernâni Von Doellinger |
"Um milhão de euros para ajudar taxistas a comprar elétricos", anuncia em título o jornal digital O Minho, a propósito de uma notícia da agência Lusa. Eu acho muito bem, é dinheiro muito bem empregue. E é património que se salva. Porque os eléctricos fazem parte das nossas vidas, da nossa memória colectiva, e era uma peninha perderem-se. Que os comprem, que os recuperem e que os metam a uso, com ou sem carris, que é sempre outra largueza para os passageiros.
Batem leve, levemente
Foto Hernâni Von Doellinger |
Fui ver o 25 de Abril ao Porto. Porque, para quem não tem mais nada que fazer e é teso, o Porto é um sítio porreiro para se ver 25 de Abris e não é preciso comprar bilhete. No Porto há milhões de camones de passagem, milhares de portugueses desempregados coçando colhões e esquinas, trezentos e cinquenta portuenses residentes e uma praça e uma avenida destinadas ao 25 de Abril, às greves gerais, ao 1.º de Maio, aos carteiristas e aos vadios em geral, as quais, praça e avenida, são emprestadas pelo Sr. Pinto da Costa quando o Futebol Clube se esquece de ser campeão - o que em democracia é raro e altamente suspeito.
O 25 de Abril correu muito bem. Vintecincodeabrilou-se ali com grande pertinácia e depois acabou. Acabou, mas eu, que sou de lágrima fácil, estava com uma vontade de mijar que já não era só vontade, era um estado de emergência, e desatei a correr como um tolinho para o WC sob as escadinhas da Rua 31 de Janeiro com a Estação de São Bento e com a polícia de choque atrás de mim como se eu levasse um engenho explosivo na braguilha. Não levava. Estava apenas à rasca. À rasquíssima. E a retrete estava de portas fechadas. Por causa do feriado.
Que se segue: eu bem não queria, mas tive de ir, com uma mão à frente e outra atrás, às casas de banho da estação propriamente dita. Às tais, às míticas, às suspeitíssimas. O que se passou lá dentro não interessa, apenas faço questão de garantir que saí daqueles apertos com a honra invicta. A polícia, entretanto, desinteressou-me de mim e passou a perseguir um casal de lavradores do Marco de Canaveses que tinha vindo a uma consulta de otorrinolaringologia, ela com a infelizmência de um xaile vermelho às costas e ele com um saco de plástico na mão, sotaque da terra e "cara de marroquino". Nas varandas (ou sacadas, como se diz em Fafe) cantava-se "Grândola, vila morena" com uma afinação de oficina de automóveis. O relógio exterior de São Bento batia as quinze e quinze. A polícia também. Bate leve, levemente. Após a sova da ordem, as autoridades verteram nos autos que o perigoso saco continha um cartucho com 250 gramas de sementes de pepino compradas sem guia de remessa na Casa Hortícola do velho Bolhão, um toquinho de chouriço de colorau, meia sêmea, um taparuere com uma cebola da monda rachada em quatro e metida em sal grosso e vinagre tinto e dois olhos de azeite, uma garrafa de cerveja quase vazia de vinho, duas pastilhas avulsas para o enjoo e um canivete belga com seis centímetros de lâmina. Os dois indivíduos, um do sexo masculino e o outro não, entre os sessenta e os setenta anos, foram detidos por posse de arma branca. Os peritos em minas e armadilhas fizeram explodir o resto.
P.S. - Contava-se que havia um padre, famoso pregador, que fazia sempre o mesmo sermão. Só mudava o nome do santo. Ora bem: o grosso do texto acima foi publicado originalmente no dia 23 de Março de 2012 e para uma greve geral. Já o adaptei a um 1.º de Maio, pus-lhe depois o 25 de Abril e palpita-me que não vou ficar por aqui. Mas hoje? Hoje, 15 de Março, é Dia Internacional Contra a Violência Policial.
sexta-feira, 14 de março de 2025
Matematicamente
Eram números primos. Direitos. Por parte das mães.
P.S. - Hoje é Dia Internacional da Matemática.
Consanguinidade
O dia em que envelheci
quinta-feira, 13 de março de 2025
Falar pouco e bem, é raro quem
Em trinta palavras exactas, a senhora condutora disse tudo o que era necessário ser dito naquele momento, com objectividade, sem eufemismos nem semânticas, num português escorreito, directo, universalmente compreensível, eficaz. Responsável. A assunção do "erro de sinalização" e da "paragem brusca", a preocupação imediata com os passageiros. Mas ninguém se magoou.
Pensei: que exemplo extraordinário para os nossos comunicadores da treta, em tempos de crise política - governantes, ex-governantes, candidatos a governantes, candidatos a candidatos a governantes, políticos de uma forma geral, altos irresponsáveis, baixos responsáveis, autoridades civis, militares e religiosas, minhas senhoras e meus senhores, telecomentadores, radiofloricultores, trolhas conversadores, politólogos, peritos encartados, periquitos amestrados, vendedores de retroescavadoras com luzinhas, taxistas, barbeiros, enchedores de chouriços, especialistas em sarrabulho e fumeiro, jornalistas tremendistas e endrominadores para todo o serviço, que falam, falam, falam, não fazem nada (como diria o Ricardo Araújo Pereira), e eu percebo tudo o que eles dizem, mas nunca sei do que é que falam...
quarta-feira, 12 de março de 2025
Querem é sexo
Há outros leitores, igualmente solitários e amantes dos trabalhos
manuais, porém de hábitos um pouco mais arejados e produtivos (a
jardinagem ou a culinária, por exemplo), que contactam comigo através de
senhas como "Alberto João", "o seringador", "arroz de polvo carolino ou
agulha", "esquerda caviar", "onde comer sardinhas", "Anthony Bourdain",
"ah faneca!", "tomates" e "moelas de coelho".
Sobretudo "moelas de coelho". Percebo também que fiquem desconsolados
com o que tenho para lhes dar e não posso levar a mal o raspanete que
achem por bem,
embora eu não lhes faça caso. Já agora: para o polvo,
arroz carolino. Foda é o cordeiro assado no forno em Monção. E é claro
que os coelhos não têm moelas, mas o meu amigo
Peixoto, em Fafe, cozinhava-as muito bem.
Quase que só sobram então os americanos, os russos e os alemães, que são
sempre os primeiros a chegar e, honra lhes seja, não me largam. E
é muito fácil mantê-los interessados. Basta-me meter um texto
qualquer com uma ou mais destas inocentes palavras: "terrorismo", "EUA",
"Putin", "Trump", outro que o que quer é sexo, "Obama", "Biden", "Saddam Hussein", "Al-Qaeda", "Estado
Islâmico", "Israel", "Afeganistão", "Irão", ainda que do verbo ir,
"Merkel", "Papa", "armas" ou "Bomba", ainda que seja eu ou o meu avô, e
meia dúzia de segundos depois já cá estão eles a bater-me à porta. É
automático.
O que eles querem sei eu. No fundo, anda tudo ao mesmo: querem sexo,
como os das "mamas" e das "prostitutas". Querem ver se me fodem, com
licença da palavra. Mas também vêm ao engano.
(E depois há os casos que podem ser sérios. Como ainda aqui atrasado, quando alguém cai no Tarrenego! com a terrível conjugação de palavras-chave "quero denunciar o meu pai que me maltrata". Peço desculpa pela inadvertida pista falsa e espero sinceramente que quem estava aflito, se assim era, tenha encontrado noutro sítio, nos sítios certos, que os há, a ajuda de que precisava.)
P.S. - Publicado originalmente no dia 27 de Março de 2012 e posteriormente acrescentado e actualizado. Hoje é Dia Mundial Contra a Censura na Internet ou Dia Mundial Contra a Cibercensura, o que teria muito que se lhe dissesse.
terça-feira, 11 de março de 2025
No que respeita à canalização
E havia necessidade?
segunda-feira, 10 de março de 2025
A cor da lei 2
A lei é muito clara. E é disso que se queixam as organizações anti-racistas.
P.S. - Hoje é Dia Internacional das Juízas ou Dia Internacional das Mulheres Juízas.
A cor da lei
- A lei é muito clara! - declarou o juiz. E mandou pintar num tom um bocadinho mais abaçanado.
P.S. - Hoje é Dia Internacional das Juízas ou Dia Internacional das Mulheres Juízas.
Naturalmente platinado
domingo, 9 de março de 2025
Hoje é um dia muito importante e amanhã ainda mais
sábado, 8 de março de 2025
As mulheres e eu
Mulheres e raparigas que, se por acaso me apanham a caminhar com a minha mulher, de mão dada, deitam de antecedência os olhos ao chão, zapam por nós como se não nos vissem, comprometidas, como se não me conhecessem de lado nenhum, como se eu fosse ninguém.
Quer-se dizer: o que é que elas pensam? O que é que elas pensavam? De que é que estavam à espera? Eu sou apenas o velho simpático, porra!
sexta-feira, 7 de março de 2025
Mais valia
P.S. - Hoje é Dia de Apreciação do Empregado.
O silêncio de Deus
- Não, Deus nunca me disse nada.
- É portanto ateu, agnóstico talvez, ou digamos indiferente...
- Por acaso até sou crente, religioso e bastante praticante.
- Mas diz que Deus nada lhe diz...
- Pois é. Falo muito para o boneco...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Oração.
Amem em vez de amém
No fundo, o Papa apela aos cardeais, bispos e padres para que metam na devida ordem as suas próprias urgências pastorais, para que se organizem em bondade e misericórdia, para que (re)aprendam a distinguir o essencial do acessório, para que se deixem de cinismos. O Papa acorda-os para o mundo e para Deus. Pede-lhes que sobretudo amem - tão simples como isto.
O Papa quer que os cardeais, bispos e padres saiam das suas zonas de conforto, das cadeirinhas de fiscais de consciências e julgadores de comportamentos e práticas onde boloram há que séculos. E que amem o próximo, como foram ensinados a pregar aos outros. Mas podem ficar descansadas as almas mais conservadoras e sacristas. As palavras de Francisco não são senha para a revolução. Parecem-me até declarações retrógradas, reaccionárias sem sombra de dúvida: devolvem-nos ao princípio, aproximam-nos de Deus - que é Amor -, mandam-nos de volta ao que Jesus nos ensinou.
Isto foi há onze anos, o Papa está às portas da morte, e eu ainda não vi nada.
quinta-feira, 6 de março de 2025
O campeão
Chamam-lhe "bloco baixo"
quarta-feira, 5 de março de 2025
Somos pó
Católico, abstinente e automortificante
E na Quaresma? Quarta-Feira de Cinzas e todas as sextas-feiras, de castigo, come bife com batatas fritas ao almoço e bife com batatas fritas ao jantar. É que ele gosta mais de peixe. Com batatas cozidas...
terça-feira, 4 de março de 2025
Já não há mulheres com bigode
Foto Hernâni Von Doellinger |
Cuidado. Antes de me soltarem os cães, façam o favor de perceber que eu não disse que as mulheres limianas são bigodadas e feias. Não. O que eu digo é que, sobretudo aos fins-de-semana e feriados, elas, as bigodadas e feias, concentram-se todas ali, à beira-Lima, como se fosse um congresso de camafeus ou um concurso de feieza. Numa dessas ocasiões, eu próprio fui confundido com a cantadeira de um rancho folclórico derivado às minhas barbas. De resto, não sei de onde elas vêm, as mulheres abigodadas, nunca perguntei.
Vou a Ponte de Lima desde pequenino, desde o tempo das excursões ao Alto Minho organizadas pelo meu avô da Bomba, sobrevivente dos sete ofícios. Aqui atrasado tornei lá todo contente e tive um desgosto muito grande. A vila mais antiga de Portugal, Ponte de Lima monumental e histórica, bela, tradicional, está mais pobre. As mulheres continuam particularmente feias, honra lhes seja, mas deitaram abaixo os bigodes. Sentei-me no banco do costume, junto à vendedeira de castanhas, queimei os dedos a comê-las, mas bigodes de mulheres, que era ao que eu ia, nem um para amostra. É lamentável. Os cremes depilatórios estão a dar cabo do nosso património.
Não sei se volto a Ponte de Lima. Ainda por cima, o arroz de sarrabulho também não estava grande coisa. Mas as castanhas eram bem boas.
P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Novembro de 2011. Ponte de Lima festeja hoje os seus 900 anos de vila. Muitos parabéns!