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sexta-feira, 11 de julho de 2025

Ia-se a São Bentinho

Para cima e para baixo
Para baixo, todos os Santos ajudam. Para cima, costumam ser os Antunes.

Ir a São Bentinho, era assim que se dizia em Fafe. E queria dizer: ir a pé ao Santuário de São Bento da Porta Aberta, considerado o segundo maior santuário português. Ia-se geralmente em promessa, em pequenos ou grandes grupos, numa peregrinação de uma noite, por estrada, carreiros, atalhos e montes. Havia sempre um guia. O "xerpa" do grupo do Santo Velho, que acolhia alegremente povo doutros lados - da Fábrica do Ferro, do Retiro, da Ponte do Ranha, da Cumieira, da Pegadinha ou da Granja, de onde calhasse, sem discriminação -, era o imprescindível Agostinho Cachada, que conhecia o melhor caminho, ele e só ele, e levava pistola. Saía-se de Fafe ao fim da tarde e chegava-se lá acima, ao São Bentinho, ao amanhecer do dia seguinte. Acertavam-se contas, velas, esmolas, orações, às vezes de joelhos à roda da igreja, e tornava-se a casa, naquele tempo, de camioneta de carreira, com o corpo feito num oito. Em Fafe havia e creio que ainda há, folclore à parte, uma grande e genuína devoção a São Bento da Porta Aberta. Havia quem lá fosse uma vez por ano, todos os anos. Havia quem lá fosse várias vezes por ano, todos os anos. Consoante as necessidades, os percalços da vida, os remedeios e o tamanho da gratidão de cada qual. E havia quem lá fosse apenas por turismo ou simplesmente por namoro, que decerto o santo também não levaria a mal...

A minha avó de Basto tinha uma sociedade infalível com São Bento da Porta Aberta. Em questões de pele e outras coisas ruins, os dois juntos eram uma limpeza. E há acontecimentos espantosos que são fáceis de explicar. Por exemplo. Ali pelos meus vinte anos, eu tinha uma plantação de cravos no cotovelo do braço direito, que até nem me incomodava grande coisa, mas uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha querida avó Emília ia pessoalmente, a pé, pequerricha e já velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. Os cravos desapareceram.
Anos depois, o meu filho era criança e apareceu-lhe um cravo numa pálpebra. Uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha doce avó Emília ia pessoalmente, a pé, ainda mais pequerricha e ainda mais velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. O cravo desapareceu.
A minha avó era uma santa. Se eu puxasse pela cabeça, tenho a certeza de que me lembraria de um terceiro e definitivo milagre da minha avó em promessa com o "glorioso" São Bentinho, mas não quero arranjar problemas ao Vaticano.
O Vaticano tem muito mais que fazer do que ocupar-se com a comezinha história da Bó de Basto, que, cada vez mais velhinha e e cada vez mais pequerricha, continuava a ir a pé entender-se pessoalmente com São Bentinho sempre que era preciso - até morrer. O Vaticano tem coisas muito mais importantes a tratar, e mesmo assim não trata, que faria se tivesse de tomar conta do assunto da minha avó...

P.S. - Versão revista e (bastante) aumentada, publicada do meu blogue Mistérios de Fafe. Hoje é Dia de São Bento. 

segunda-feira, 11 de julho de 2022

A minha avó tinha negócios com São Bentinho

A minha avó de Basto tinha uma sociedade infalível com São Bento da Porta Aberta. Em questões de pele e outras coisas ruins, os dois juntos eram uma limpeza.
Aí pelos meus vintes, eu tinha uma plantação de cravos no meu braço direito, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha querida avó Emília ia pessoalmente, a pé, pequerricha e já velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. Os cravos desapareceram.
Anos depois, o meu filho era criança e apareceu-lhe um cravo numa pálpebra, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha doce avó Emília ia pessoalmente, a pé, ainda mais pequerricha e ainda mais velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. O cravo desapareceu.
Se eu puxasse pela cabeça, tenho a certeza de que me lembraria de um terceiro e definitivo milagre da minha avó em promessa com São Bentinho, mas não quero arranjar problemas ao Vaticano.
O Vaticano tem muito mais que fazer do que ocupar-se com a comezinha história da Bó de Basto, que, cada vez mais velhinha e e cada vez mais pequerricha, continuava a ir a pé entender-se pessoalmente com São Bentinho sempre que era preciso - até morrer. O Vaticano tem coisas muito mais importantes a tratar: por exemplo, convencer-nos de que João Paulo II é santo. Vai levar muitos anos, e eu mesmo assim nunca vou acreditar.

P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Maio de 2014. Hoje é dia de São Bento.

domingo, 15 de julho de 2018

Anilda Leão 2

Promessas 

Eu farei do meu corpo
o arrimo suave para a tua canseira.
Eu darei um pouco da minha tranquilidade,
para amenizar as asperezas da tua vida.
Eu te embalarei nos meus braços
e reclinarei tua fronte cansada
de encontro ao meu peito.
As minhas mãos serão feitas de carícias
e repousarão de leve sobre tua cabeça.
Eu serei para ti, aquela que custou a chegar,
mas que surgiu no momento preciso,
em que procuravas uma sombra amiga,
para repousar o corpo cansado.
Dar-te-ei tudo quanto te foi negado na vida,
se me deres em troca o teu amor,


e as lições que aprendestes do mundo.

"Chão de Pedras", Anilda Leão

(Anilda Leão nasceu no dia 15 de Julho de 1923. Morreu em 2012.)

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Se não chover, ainda vai estar uma rica noite de sol

Há no Governo um secretário de Estado chamado Sérgio Silva Monteiro. Eu não sabia. É o secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, do superministério do mini-Álvaro. O Sr. Sérgio Silva Monteiro, que tem cara de boa pessoa, prometeu ontem, em Coimbra, que "todas as regiões que foram até agora desfavorecidas do ponto de vista da mobilidade e de investimento público vão ver-se beneficiadas no futuro, certamente". Pois certamente.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011