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segunda-feira, 11 de julho de 2022

A minha avó tinha negócios com São Bentinho

A minha avó de Basto tinha uma sociedade infalível com São Bento da Porta Aberta. Em questões de pele e outras coisas ruins, os dois juntos eram uma limpeza.
Aí pelos meus vintes, eu tinha uma plantação de cravos no meu braço direito, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha querida avó Emília ia pessoalmente, a pé, pequerricha e já velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. Os cravos desapareceram.
Anos depois, o meu filho era criança e apareceu-lhe um cravo numa pálpebra, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha doce avó Emília ia pessoalmente, a pé, ainda mais pequerricha e ainda mais velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. O cravo desapareceu.
Se eu puxasse pela cabeça, tenho a certeza de que me lembraria de um terceiro e definitivo milagre da minha avó em promessa com São Bentinho, mas não quero arranjar problemas ao Vaticano.
O Vaticano tem muito mais que fazer do que ocupar-se com a comezinha história da Bó de Basto, que, cada vez mais velhinha e e cada vez mais pequerricha, continuava a ir a pé entender-se pessoalmente com São Bentinho sempre que era preciso - até morrer. O Vaticano tem coisas muito mais importantes a tratar: por exemplo, convencer-nos de que João Paulo II é santo. Vai levar muitos anos, e eu mesmo assim nunca vou acreditar.

P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Maio de 2014. Hoje é dia de São Bento.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

A minha avó era uma santa, mas o Vaticano não sabe

A minha avó de Basto tinha uma sociedade infalível com São Bento da Porta Aberta. Em questões de pele e outras coisas ruins, os dois juntos eram uma limpeza.
Aí pelos meus vintes, eu tinha uma plantação de cravos no braço direito, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha querida avó Emília ia pessoalmente, a pé, pequerricha e já velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. Os cravos desapareceram.
Anos depois, o meu filho era criança e apareceu-lhe um cravo numa pálpebra, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha doce avó Emília ia pessoalmente, a pé, ainda mais pequerricha e ainda mais velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. O cravo desapareceu.
Se eu puxasse pela cabeça, tenho a certeza de que me lembraria de um terceiro e definitivo milagre da minha avó, mas não quero arranjar problemas ao Vaticano.
O Vaticano tem muito mais que fazer do que ocupar-se com a comezinha história da Bó de Basto, que, cada vez mais velhinha e pequerricha, ia a pé entender-se pessoalmente com São Bentinho sempre que era preciso. O Vaticano tem coisas muito mais importantes a tratar: por exemplo, convencer-nos de que João Paulo II é santo. Vai levar muitos anos, e eu não acredito.

P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Maio de 2014. O processo de beatificação de João Paulo II foi aberto pelo Vaticano no dia 28 de Junho de 2005.

domingo, 30 de maio de 2021

Os rapazes do Vaticano

Cada vez que há eleições para papa, nos tempos modernos, sai um velhinho na rifa. Um cardeal velhinho. Compreende-se: é preciso pôr na cúpula da Igreja Católica alguém com experiência, com a sabedoria da longa vida que carrega sobre os ombros, não vá repetir-se a triste história do inconsciente Jesus Cristo, que tinha apenas 33 anos e resolveu morrer por nós todos, dando origem a isto tudo. E o cardeal velhinho tem de ter muitos doutoramentos em muitas universidades gregorianas, que é só uma, mas podia ser pelo menos três, como a Santíssima Trindade, não vá sentar-se lá na praticamente infalível cadeira um pescador como Pedro ou um funcionário das Finanças como Mateus, dois burgessos que certamente escangalhariam isto tudo.
E já muito facilita o Vaticano, quedando-se pelos simpáticos septuagenários ou octogenários. Basta pensar que, biblicamente, Moisés viveu até aos 120 anos, Jacob até aos 147, Abraão até aos 175, Adão até aos 930, Noé até aos 950, e Matusalém, filho de Enoque, pai de Lameque e avô de Noé, faleceu inesperadamente aos 969 anos.
(Evidentemente também há João XII, que chegou a papa aos 18 anos, dormia com as prostitutas do pai, teve relações sexuais com a própria mãe, castrou um dos seus cardeais, cegou outro, torturou quem lhe desprazia e acabou por morrer com uma valente marretada na cabeça, gentilmente oferecida pelo marido cornudo de uma das suas incontáveis amantes. Mas isso não é desculpa.)
Não sei se sabem: todos os católicos são elegíveis para papa. Basta-lhes serem, obviamente, baptizados, maiores de idade e homens, embora depois devam vestir saias. Isto é, eu posso ser papa, um sétimo de toda a população mundial pode ser papa, depois, na questão das saias, cada um seria para o lado que der.
Só que as eleições no Vaticano não são directas e universais. Votam apenas os cardeais, lacrados no chamado conclave, onde, nas horas mortas, contam anedotas picantes uns aos outros e fazem malha. E se votam apenas os cardeais (120 no máximo, "em nome" de cerca de 1272 milhões de almas), porque é que os velhinhos haveriam de escolher para patrão o Silva dos Plásticos, que, sendo embora uma pessoa estimável e comerciante respeitado, não lhes pertence de lado nenhum?
É! É como na Caixa Geral de Depósitos, no Banco de Portugal ou nas direcções-gerais, secretarias de Estado ou sucessórios cargos dirigentes da nossa administração pública. É exactamente: quem tem o poder nas mãos, mete lá os seus rapazes, quer-se dizer, os boys...

P.S. - Publicado originalmente no dia 19 de Junho de 2016. No dia 30 de Maio de 1994, o papa João Paulo II proclamou um "não irrevogável e definitivo" à ordenação sacerdotal de mulheres.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Os rapazes do Vaticano

Cada vez que há eleições para papa, nos tempos modernos, sai um velhinho na rifa. Um cardeal velhinho. Compreende-se: é preciso pôr na cúpula da Igreja Católica alguém com experiência, com a sabedoria da longa vida que carrega sobre os ombros, não vá repetir-se a triste história do inconsciente Jesus Cristo, que tinha apenas 33 anos e resolveu morrer por nós todos, dando origem a isto tudo. E o cardeal velhinho tem de ter muitos doutoramentos em muitas universidades gregorianas, que é só uma, mas podia ser pelo menos três, como a Santíssima Trindade, não vá sentar-se lá na praticamente infalível cadeira um pescador como Pedro ou um funcionário das Finanças como Mateus, dois burgessos que certamente escangalhariam isto tudo.
E já muito facilita o Vaticano, quedando-se pelos simpáticos septuagenários ou octogenários. Basta pensar que, biblicamente, Moisés viveu até aos 120 anos, Jacob até aos 147, Abraão até aos 175, Adão até aos 930, Noé até aos 950, e Matusalém, filho de Enoque, pai de Lameque e avô de Noé, faleceu inesperadamente aos 969 anos.
(Evidentemente também há João XII, que chegou a papa aos 18 anos, dormia com as prostitutas do pai, teve relações sexuais com a própria mãe, castrou um dos seus cardeais, cegou outro, torturou quem lhe desprazia e acabou por morrer com uma valente marretada na cabeça, gentilmente oferecida pelo marido cornudo de uma das suas incontáveis amantes. Mas isso não é desculpa.)
Não sei se sabem: todos os católicos são elegíveis para papa. Basta-lhes serem, obviamente, baptizados, maiores de idade e homens, embora depois devam vestir saias. Isto é, eu posso ser papa, um sétimo de toda a população mundial pode ser papa, depois, na questão das saias, cada um seria para o lado que der.
Só que as eleições no Vaticano não são directas e universais. Votam apenas os cardeais, lacrados no chamado conclave, onde, nas horas mortas, contam anedotas picantes uns aos outros e fazem malha. E se votam apenas os cardeais (120 no máximo, "em nome" de cerca de 1272 milhões de almas), porque é que os velhinhos haveriam de escolher para patrão o Silva dos Plásticos, que, sendo embora uma pessoa estimável e comerciante respeitado, não lhes pertence de lado nenhum?
É! É como na Caixa Geral de Depósitos, no Banco de Portugal ou nas direcções-gerais, secretarias de Estado ou sucessórios cargos dirigentes da nossa administração pública. É exactamente: quem tem o poder nas mãos, mete lá os seus rapazes, quer-se dizer, os boys...

P.S. - Publicado originalmente no dia 19 de Junho de 2016. Há quem diga que hoje, 22 de Outubro, é Dia Nacional da Cidade-Estado do Vaticano. Certo é: a Cidade do Vaticano tornou-se estado independente no dia 11 de Fevereiro de 1929. Por outro lado, 22 de Outubro de 1978 é a data da entronização como papa do conservador João Paulo II. Proclamado santo em Abril de 2014, a sua festa litúrgica é celebrada exactamente hoje pela Igreja Católica. Quanto ao nosso desalinhado Francisco, que graças a Deus destoa para o bem, iniciou o seu refrescante pontificado a 19 de Março de 2013 e um dia destes, para mal dos nossos pecados, ainda deixa de tossir...

domingo, 26 de julho de 2020

A Bó era uma santa, mas disfarçava muito bem

A minha avó de Basto tinha uma sociedade infalível com São Bento da Porta Aberta. Em questões de pele e outras coisas ruins, os dois juntos eram uma limpeza.
Aí pelos meus vintes, eu tinha uma plantação de cravos no braço direito, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha querida avó Emília ia pessoalmente, a pé, pequerricha e já velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. Os cravos desapareceram.
Anos depois, o meu filho era criança e apareceu-lhe um cravo numa pálpebra, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha doce avó Emília ia pessoalmente, a pé, ainda mais pequerricha e ainda mais velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro, onde o santo morava. O cravo desapareceu.
Se eu puxasse pela cabeça, tenho a certeza de que me lembraria de um terceiro e definitivo milagre da minha avó, mas não quero arranjar problemas ao Vaticano.
O Vaticano tem muito mais que fazer do que ocupar-se com a comezinha história da Bó de Basto, que, cada vez mais velhinha e pequerricha, ia a pé entender-se pessoalmente com São Bentinho sempre que era preciso. O Vaticano tem coisas muito mais importantes a tratar: por exemplo, convencer-nos de que João Paulo II é santo. Vai levar anos, e eu não acredito.

P.S. - Publicado originalmente no dia 3 de Maio de 2014. Hoje, 26 de Julho, é Dia dos Avós. 

sábado, 3 de maio de 2014

A minha avó era uma santa

A minha bó de Basto tinha uma sociedade infalível com São Bento da Porta Aberta. Em questões de pele e outras coisas ruins, os dois juntos eram uma limpeza.
1 - Aí pelos meus vintes, eu tinha uma plantação de cravos no braço direito, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha querida avó Emília ia a pé, pequerricha e já velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro. Os cravos desapareceram.
2 - Anos depois, o meu filho era criança e apareceu-lhe um cravo numa pálpebra, uma vez a minha avó viu, pediu-me licença e disse que ia falar com São Bentinho sobre o assunto. Quando queria falar com São Bentinho, a minha doce avó Emília ia a pé, ainda mais pequerricha e ainda mais velhinha, desde Passos, Cabeceiras de Basto, até Rio Caldo, em Terras de Bouro. O cravo desapareceu.
3 - Se eu puxasse pela cabeça, tenho a certeza de que me lembrava de um terceiro e definitivo milagre da minha avó, mas não quero arranjar problemas ao Vaticano.

O Vaticano tem muito mais que fazer do que ocupar-se com a comezinha história da minha bó de Basto, que, cada vez mais velhinha e pequerricha, ia a pé entender-se com São Bentinho sempre que era preciso. O Vaticano tem coisas muito mais importantes a tratar: por exemplo, convencer-nos de que João Paulo II é santo. Vai levar anos, e eu não acredito.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Carisma

Uma vez era campanha eleitoral e saí do trabalho, em Santa Catarina, para apanhar o 37 nos Lóios. E quando cheguei aos Aliados, que é a meio caminho, esbarrei num enorme ajuntamento que rodeava e seguia um Carocha de tecto de abrir. Era muito povo, agitando bandeiras e gritando palavras de ordem tão desordenadas que eu não percebia o que as pessoas diziam. Aproximei-me, chamado pela curiosidade ou não sei por quê, furei pelo meio daquele fervor todo e consegui chegar ao carro. Quem é que lá estava de cabeça de fora e braço pré-presidencial em aceno à multidão? Mário Soares em pessoa. Era ele!
Eu fiquei a um metro do homem. E deixei-me ficar. O Volkswagen careca andava devagar. E eu deixei-me ir. Mas só percebi depois, muito depois. O cortejo desceu à Praça, subiu a Rua dos Clérigos, passou pelos Leões e pelo Hospital de Santo António, entrou na Rua D. Manuel II e quando dou fé Mário Soares está em frente ao Palácio de Cristal. O esquisito, o inexplicável, é que eu também lá estava. A um metro do homem. Eu fui atrás dele e não sabia.
Foi no ano de 1986 e é a história que eu costumo contar quando quero explicar o que é o carisma. Carisma é aquilo: aquele íman, aquele poder sobre as massas, mesmo sem abrir a boca, aquela força invisível que uns poucos têm de aglutinar e empolgar tudo e todos à sua volta, até a mim, que sou um cínico. Para se perceber melhor o meu ponto de vista, costumo recomendar também que se olhe para Cavaco Silva. Olhem bem! Estão a ver? Pois é: não tem, pois não?
João Paulo II é outro caso exemplar. Vamos esquecer os anos de atraso que o papa superstar deu à Igreja, a marcha-atrás que ele impôs à verdadeira linha inovadora saída do Concílio Vaticano II, e concentremo-nos apenas no poder impressionante que a figura de Wojtyla exercia sobre as multidões que o viam ao longe ou sobre aqueles que conseguiam aproximar-se dele. Um poder tão extraordinário que o vai transformar no primeiro turbossanto da milenar história do catolicismo. Um poder tão eucalíptico que eu acho que não habemus papam desde que o pontífice polaco morreu. A sério, eu ainda não reconheci Bento XVI, acho que ele não está lá, por mais que se esforce por estar. Falta-lhe qualquer coisa, que eu sei muito bem o que é. O carisma é assim: ou se tem ou não se tem.

Por isso é que eu digo que Vítor Pereira não tem futuro no FC Porto. E peço desculpa por esta descida tão brusca à terra, e ainda por cima ao futebol nacional, que descer mais era impossível. Vítor Pereira não tem o carisma de José Mourinho, o carisma de André Villas-Boas ou até o carisma de Jesualdo Ferreira. Lamentavelmente, também não tem o seu próprio carisma. E o carisma não se ensina nem se aprende. É um dom especial, inato, pessoal e intransmissível.
O actual técnico dos dragões é uma personalidade insegura, rígida, tensa, cinzenta, uma excelente pessoa. Falta-lhe a chama dos líderes, carece de umbigo. O treinador Vítor Pereira não é natural, não sorri, não ri, não cativa, não empolga, não leva ninguém com ele. Na hora da batalha final, vai olhar para trás, para as suas tropas, e estará sozinho.
Vítor Pereira poderá saber muito de futebol (já me disseram que sim), poderá ser um profissional sério e esforçado (acredito que é), poderá até ser campeão (Deus me ouça), mas é um mero entre parênteses no FC Porto.