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terça-feira, 12 de agosto de 2025

A Póvoa agora é em Fafe

Vá ver a neve, hoje!
A melhor altura para ir ver a neve à serra da Estrela, acho eu, é agora, no Verão, em pleno Agosto, hoje por exemplo. Não há neve, mas pode-se passar.

É extraordinário o que se passa em Fafe por estes dias. Finalmente sem precisar da Póvoa de Varzim para nada, quem havia de dizer, Fafe tem a sua própria época balnear, de papel passado, reconhecida pelo notário, anunciada em edital, com bandeira e diploma, talvez até com batata frita à inglesa, bolas de Berlim, língua da sogra e caladinhos, nadadores-salvadores, mirones, pedintes e carteiristas. Serviço completo. Que coisa tão estranha para um tipo antigo como eu! Sobral de Monte Agraço teve, à altura, o seu parque infantil, que saiu no Tide e dava na televisão, e Fafe agora também tem época balnear, como os outros brasis e algarves da concorrência, sem lhes ficar atrás. Que sainete! Foi preciso esperar pelo século XXI, aguentar pacientemente as patifarias das alterações climáticas, inclusive correntes de ar, mas valeu a pena: Fafe está realmente mais fresco.
O meu irmão Nelo bem dizia, em pequeno, que, quando fosse grande, ia mandar construir uma praia em Fafe, uma praia com mar e tudo. E a verdade é só uma. Não foi o nosso Nelo, por acaso, mas alguém a construiu, e em boa hora, ela aí está, a praia da Barragem de Queimadela, ele aí está, o nosso mar, o sexto oceano, aberto ao expediente e em glorioso funcionamento. O nome "de Queimadela", para praia, se calhar não será o mais feliz, o mais acolhedor, por assim dizer, antes pelo contrário, mas, pronto, já constava, vinha de trás e, portanto, não havia volta a dar, esqueçamos o pormenor. Qualquer dia, estamos mas é a receber camionetas de poveiros, que vêm à procura do que é bom.
Para mim, no meu tempo, antes da construção do nosso mar, Fafe tinha três esplêndidas estâncias balneares: o Poço da Moçarada, em Docim, o Comporte, na Fábrica do Ferro, e Calvelos, em Golães, pelos campos de Sá, atravessando a linha do comboio. Três oásis que eu, na minha boa fé ou ingenuidade infantil, supunha longínquos, praticamente inacessíveis e secretos. Sítios de banhos, puros e duros, sem facilidades, só para homens de barba rija. E nós, os putos, sorrateiramente desenfiados, lingrinhas de pé descalço e pila ao léu, autoprojectos assumidos de futuros ecoturistas, hippies sem sequer fazermos ideia, íamos para lá treinar para a Póvoa de que ouvíamos falar, porque algum dia havia de ser. O pior era a minha mãe, que parecia que tinha radar e, uma desgraça nunca vem só, sabia sempre por onde é que eu andava e o que fazia. E, portanto, ia-me buscar. Pelas orelhas. Eu chorava e prometia que nunca mais, pelo menos até à tarde do dia seguinte.
Eu sou, aliás, especialista em épocas e instalações balneares. Não ouso colocar Fafe no topo da lista nacional de estâncias termais, seria porventura um exagero, e eu não sou disso, mas a verdade é que conheci muito bem os balneários do Campo da Granja e ainda cheguei a entrar nos balneários do Campo de São Jorge, então já oficialmente desactivado, mas funcional para jogos escolares ou de solteiros contra casados. Eu seria miúdo de escola primária. Três ou quatro anos depois, quando o Estádio começou a ser construído, nas vésperas da década de setenta, os vestiários foram provisoriamente montados na cave do quartel dos Bombeiros e eu passei a ser freguês diário do Senhor Zé Manquinho, o roupeiro dos roupeiros, numa amizade sem fim. Como decerto sabeis, eu era neto do quarteleiro, estava sempre ali de plantão, era só descer as escadas. Nas férias do seminário, não tínhamos água quente em casa, e era no balneário da AD Fafe que eu tomava banho duas ou três vezes por semana, antes dos jogadores chegarem para os treinos e sem estorvar o despacho. Levava toalhão, sabonete e roupa interior para mudar. Por sugestão do Senhor Zé Manquinho, eu era conhecido nas catacumbas como "o homem que adormece no chuveiro", tamanho era o prazer que o duche me dava e o tempo que eu lá passava, debaixo de água, nem sei como é que nunca engelhei. Era uma espécie de Homem da Atlântida ou Aquaman, mas às pinguinhas.
Com o banho, eu tinha direito a uma bebida. Isto é, não tinha direito a bebida nenhuma, mas fazia-me e ela. Inventava um ligeiro afrontamento, queixava-me de uma pontada de azia, e o Senhor Zé já sabia. Mandava-me esperar pelo João Americano, o massagista, o único que tinha a chave da "Farmácia", palavra escrita a esferográfica azul no adesivo colado na testa do pequeno armário branco e vidrado com três prateleiras que era a própria "Farmácia" e pouco maior do que uma mesinha-de-cabeceira. O João chegava da fábrica, gozava comigo, falava muito alto, esganiçado, parecia a cantadeira de um rancho folclórico, mas também já sabia: dava-me um copo de água com uma colher de "sais de fruto", Eno, se bem me lembro, eu adorava aqueles piquinhos, bebia regalado, uma, duas goladas sem deixar cair, arrotava com toda a categoria e, boa tarde e muito obrigado, estava pronto, estava feito.
Admito que foi ali que o João Americano, o Senhor Zé Manquinho e eu inventámos o spa com champanhe, conceito hoje em dia tão coisa e tal, mas evidentemente não sabíamos.

(Publicado no meu blogue Mistérios de Fafe)

domingo, 15 de junho de 2025

Fafe já tem época balnear

Foto Hernâni Von Doellinger

Leio no Facebook do Município de Fafe que a "época balnear abriu oficialmente hoje e a Albufeira da Queimadela está pronta para receber a visita de todos", e dou por mim a sorrir. Fafe tem a sua própria época balnear sem precisar de ir para a Póvoa, quem havia de dizer, que coisa tão estranha para um tipo antigo como eu! Sobral de Monte Agraço teve, à altura, o seu parque infantil, que saiu no Tide, e Fafe agora também tem época balnear, como os outros brasis e algarves. Que extraordinário!
O meu irmão Nelo bem dizia, em pequeno, que, quando fosse grande, ia mandar construir uma praia em Fafe, com mar e tudo. Não foi ele, por acaso, mas alguém a construiu, e em boa hora, ela aí está, a nossa praia, ele aí está, o nosso mar, o sexto oceano, como já aqui expliquei, e já aberta ao expediente, a praia, afinadíssima "para receber a visita de todos", tal e qual como, por exemplo, a congénere ali do retrato supra, a Praia de Matosinhos, mesmo debaixo do meu nariz e eu nem lá ponho os pés, tenho medo de me afogar no areal. Quem dera que "todos", na nossa Barragem, nunca sejam assim tantos...
Para mim, no meu tempo, antes da construção do nosso mar, Fafe tinha três esplêndidas estâncias balneares: o Poço da Moçarada, o Comporte e Calvelos. Eu sou, aliás, especialista em balneários. Conheci muito bem os balneários do Campo da Granja e ainda cheguei a entrar nos balneários do Campo de São Jorge, então já oficialmente desactivado, mas funcional para jogos escolares ou de solteiros contra casados. Eu seria miúdo de escola primária, se tanto, e era a minha época balnear. Quando o Estádio começou a ser construído, os balneários da AD Fafe foram atamancados na cave do quartel dos Bombeiros e passei a ser freguês diário das instalações, numa amizade sem fim com o Senhor Zé Manquinho. Nas férias do seminário, não tinha água quente em casa, e era ali que eu tomava banho duas ou três vezes por semana, antes dos jogadores chegarem para os treinos e sem estorvar o despacho. Mas isto já são histórias para contar um destes dias no meu blogue Mistérios de Fafe...

(Publicado ontem no meu blogue Fafismos)

sábado, 15 de dezembro de 2012

O bispo que não gosta do nome da barragem

Há coisa de 20 anos, Fafe fez o milagre de construir uma barragem a partir de um rio que era tudo menos um rio. Só visto na altura: era um ribeiro. Mas nasceu a Barragem de Queimadela, com onze hectares de albufeira e espaço verde a fartar para quem gosta da natureza e do desporto que dá saúde.
A Barragem de Queimadela passou a ser um justificado motivo de orgulho fafense, um chamariz de visitantes, um ponto de encontro de famílias piqueniqueiras ou campistas, dos amantes das caminhadas, dos praticantes de actividades mais ou menos náuticas e não poluentes, tipo pesca, windsurf, slide, rappel ou parapente, segundo leio. Creio que não me engano se acrescentar que foi na Barragem de Queimadela que os bombeiros de Fafe se fizeram mergulhadores.
Que se segue: fiquei hoje a saber que o nome da Barragem de Queimadela é "um abuso", "uma confusão geográfica, histórica e administrativa". D. Joaquim Gonçalves, bispo emérito de Vila Real, garante que a Barragem de Queimadela está localizada em território da freguesia de Revelhe. E mais diz: que "nunca houve ali nenhum terreno ou povoação com o nome de «queimadela»" e que "manter as coisas como estão será prolongar uma fraude e uma violência que não honra ninguém, nomeadamente as autoridades". Uma fraude. Uma violência...
É preciso que se note: Queimadela é (até ver) outra freguesia de Fafe, confinante com Revelhe, e D. Joaquim será um revelhense dos sete costados, pelo menos agora que está reformado e tem vagar para isso.
Não sei em que circunstâncias ou a que propósito o prelado falou e disse (ou escreveu). Cinjo-me ao que acabo de ler na capa do jornal Notícias de Fafe, que anda com Revelhe debaixo de olho, e na sinopse adiantada online por Jesus Martinho.
E não sei mais isto: se a Barragem de Queimadela fica mesmo em Queimadela ou em Revelhe. Até hoje eu pensava que fosse em Queimadela, como o próprio nome indica, mas também acreditava que o Menino Jesus nasceu entre o burrinho e a vaquinha e afinal o Papa desfez-me o presépio no outro dia. Agora, estragar um cartaz turístico de vinte anos, passar a chamar Barragem de Revelhe à Barragem de Queimadela é que não lembraria ao diabo, com perdão do senhor bispo. Portanto
(antes que a Câmara Municipal tenha a brilhante ideia de colocar à discussão pública a localização ou deslocalização daquela água toda e arredores)
proponho o seguinte: para que D. Joaquim Gonçalves não se amofine com miudezas e, como bispo da Igreja Católica, possa enfim concentrar-se nas verdadeiras violências deste mundo, quando lá formos passamos a dizer:
- Vou a Revelhe. Queres vir?
- A Revelhe?
- Sim. À Barragem de Queimadela.