Foto ADRIANO MIRANDA |
Ora aqui é que bate o ponto. Se bem que se veja em apertos para descalçar a bota dos 497 (números assim exactos) despedimentos com mútuo acordo, por entre silêncios e algum comprometimento, a Comissão de Trabalhadores da empresa (mais uns do que outros) sempre vai barafustando acerca da forma como as coisas foram feitas. Como outros mineiros que ouvimos individualmente, os da Comissão não negam que tenha sido feito um rigoroso diagnóstico da situação, apresentam é razões de queixa dos medicamentos ao dispor, e até de uma certa negligência no tratamento, por assim dizer...
Que se trata de um caso de "falta de vontade política do Governo", já estamos conversados, mas que, principalmente: um, "a formação profissional que tem sido dada não é a adequada, os formadores não são habilitados, os formandos não saem formados, os cursos (como os de carpintaria, pichelaria, electricista) não têm saída no mercado - o que se faz é só para gastar o dinheiro que vem de lá para cá"; dois, "onde está o parque industrial e onde páram as acessibilidades prometidas?"; três, "por onde anda o gabinete técnico de apoio? - montaram agora uma coisa com esse nome ou parecido, mas ninguém nos sabe ajudar na criação de novas empresas"; quatro, "ninguém ligou ao sistema que propusemos de reformas antecipadas, que até nem abrangia tanta gente assim e que, por exemplo, incluía o caso de prescindirmos de quatro meses de indemnização"; cinco, "e nós todos, agora, o que é que vamos fazer ao fim dos dois anos de subsídio de desemprego, o quê?" E a angústia que aperta: - tenho 34 anos, vou gozar o fundo de desemprego e andar à biscatada no trabalho dos computadores, tenho só o antigo quarto ano e incompleto...; - aos 46 anos, não sei, está para aí tanta gente a lançar-se, mas isto está muito mau, ninguém nos ajuda ou orienta; - isto aqui não há nada, a única riqueza eram as minas, como é que, pelo salário mínimo, vou poder deslocar-me para trabalhar numa fábrica fora do concelho, em Espinho ou na Feira, e manter a família?; - ainda por cima, quantos serão os de nós que não estão já minados pela doença ou marcados por acidentes de trabalho; - olhe, dos despedimentos mais atrasados já há aí muito caso de miséria, de fome e de doença...
(Continua amanhã)
P.S. - As minas do Pejão fecharam no final de 1994. Na ocasião andei por lá e escrevi este "Requiem" para a revista Anégia.