Desde a origem do mundo, o bem e o mal, em luta incessante e permanente, pleiteiam o seu domínio. Sem dúvida, os dois princípios opostos, inerentes à natureza do homem, andam sempre com ele de companhia; mas segundo as resistências e obstáculos, o favor e a indulgência que encontram, ora prepondera o mal, ora o bem, revelando-se sob aspectos diferentes, e sofrendo várias modificações, conforme os tempos e os lugares, as sociedades em massa, ou os indivíduos isolados sobre que atuam.
A história do gênero humano é a confirmação plena desta verdade.
O obscuro canto do mundo que habitamos não podia escapar à sorte comum, e a época, que nos coube atravessar, é uma daquelas em que o mal tem decidida preponderância; não principalmente o mal terrível e atroz, o sangue, o incêndio, as devastações e os extermínios, cuja narração enche tantas vezes as páginas mais grandiosas e formidáveis da história; sim o mal vil e desprezível, o lodo, a baixeza, a degradação, a corrupção, a imoralidade, toda a casta de vícios enfim, tormento inevitável dos ânimos generosos que os cegos caprichos do acaso designaram para espectadores destas cenas de opróbrio e de dor.
João Francisco Lisboa
(João Francisco Lisboa nasceu no dia 22 de Março de 1812. Morreu em 1863.)
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