quarta-feira, 22 de março de 2017

Guilherme Braga 2

9 de Julho

Troa um férvido rebate
Como sinal de combate
Dentro dos muros sagrados!
Sejamos dignos herdeiros
Dos indomáveis guerreiros
Dos nossos dias passados!
Rindo, afrontemos os crimes,
Como apóstolos, sublimes!
Valentes, como soldados!

Saudemos a ideia santa
Que aos pés dos livres suplanta,
Quebra, esmaga as gargalheiras!
A ideia que nestes muros
Acossa os corvos escuros,
Ergue as sagradas bandeiras,
E, ante um deus mentido e falso,
Riu do algoz no cadafalso,
Riu das balas nas trincheiras!

Sim! dessa ideia aos impulsos
Que o Porto desprenda os pulsos
Dos ferros da iniquidade!
Entremos na luta ardente,
Filhos da raça valente,
Filhos da heróica cidade!
Com frenético delírio,
Entre a glória, entre o martírio,
Saudemos a liberdade!

A liberdade! a estrela redentora,
Cheia de imensa luz,
Que fulgia, serena como a aurora,
Na fronte de Jesus!

A liberdade! a ideia tormentosa,
Mil vezes numa só,
Que rugia, tremenda e clamorosa,
Na voz de Mirabeau!

Se, à luz de mil granadas coruscantes,
Lhe ergueram novo altar
Nossos pais, ao saudá-la agonizantes,
Na serra do Pilar,

Sem medo aos sabres nus entre as espadas
Que ferem nossa mãe
Sobre estas velhas aras derrubadas,
Saudemo-la também!

Mas ah! Porque a seus pés a nova guarda assoma,
E altiva lhe consagra os hinos do futuro,
Tem nas veias o arder o torvo filtro impuro,
Dos Bórgias e veneno! O bálsamo de Roma!

O escudo umbra et nihil, que Roma tinha à porta,
Negreja agora aqui nas armas da cidade!
O altar é mausoléu! Filhos da liberdade,
Enramai de lauréis a campa dessa morta!

Guilherme Braga

(Guilherme Braga nasceu no dia 22 de Março de 1845. Morreu em 1874.)

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