sábado, 18 de março de 2017

Microcontos & outras miudezas 22

E assim começou a Guerra dos Cem Anos
Era um encontro previsto para ser diplomático e discutido em três sets: quando Mister Cheddar, pela Inglaterra, e Monsieur Camembert, pela França, reuniram em Sherwood, sob os auspícios do Robin dos Bosques e a bênção de Frei Tuck, tendo sobre a mesa, já naquele tempo, a delicada questão das quotas leiteiras. Estava tudo a correr bem, entre uísques e champanhes bem bebidos, mas era um cheiro a chulé que não se podia. Foi então que o inglês, já com um grãozinho na asa e uma mola de roupa no nariz, não aguentou mais e questionou o francês, com a ajuda do Carlos Fino, que fazia as traduções: - Porque é que o caro amigo (old chap, no original) não vai mas é lavar os pés no Sena?
E foi assim que começou a Guerra dos Cem Anos. Até hoje.


Depois constas-me
- Vais ver o fogo-de-artifício?
- Não, vai tu. Depois contas-me... 


Coçando o escroto
Esse gesto tão masculino de coçar o escroto enquanto se conversa com o amigo. Aliás, coçam os dois, cada qual o respectivo, porque são ambos muito homens. E esse outro gesto tão masculino de, acabada a conversa e a coçadela, darem-se uma mãozada forte e bem abanada, machos até mais não, "um destes dias temos que ir jantar". Eu, se me dão licença, proponha um terceiro momento de afirmação varonil nestes (re)encontros entre velhos compinchas: findo o parlapiê, sossegados os tomates e despachado o cumprimento, que cada um cheire a mão do outro, e então, sim, "adeus e até à próxima"...

Lésbicas e sapatões
Confesso que sou um bocado lésbico. Sou lésbico naquela parte que diz respeito a gostar de mulheres. Por isso não compreendo as lésbicas que gostam de mulheres que fazem tudo para parecerem homens... 

O Imenso Adeus
O homem caminhava vagarosamente ao lado da mulher. Curvado pelo peso de, fiz as contas, setenta e tantos anos bem medidos, caminhava ainda assim com uma dignidade evidente. O homem velho, de casaco e digno, pé ante pé até ao café de praia e ao milagre do sol-pôr, levava as mãos atrás das costas. E nas mãos, reparei, um livrinho da Colecção Vampiro, a antiga: "O Imenso Adeus", de Raymond Chandler.
Caramba!, és cá dos meus - pensei. E apeteceu-me dar-lhe um abraço...

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