Quando o sol entrava, de manhã, pelas três janelas da sala de visitas, as paredes muito claras e alegres encantavam-me. Aconchegava-me no cadeirão fofo, deixava-me estar assim, durante uns momentos, imóvel, para depois pegar num dos álbuns pesados sobre a mesinha coberta com uma toalha de rendas. Achava-os maravilhosos, os álbuns, com as suas capas de marfim e as letras floreadas que diziam, segundo o avô me explicava: "Álbum". Num havia as fotografias das pessoas de família, que, com poucas excepções, se apoiavam numa mesa oval e sorriam cordialmente. Usavam trajos de corte antiquado e chapéus que faziam lembrar fantochadas de Carnaval. Logo na primeira folha o retrato da bisavó Katarina, mãe do avô.
- Lindo nome, Katarina, dizia o avô. Queria que fosses também Katarina, mas a tua mãe tem preferência pelos nomes que estão na moda.
Eu tinha um nome que estava na moda, o que me agradava.
Mas o avô, teimosamente, chamava-me com frequência Katarina e eu, talvez por compreender o que havia nisso de intimidade entre nós os dois, gostava.
"O Mundo em que Vivi", Ilse Losa
(Ilse Losa nasceu no dia 20 de Março de 1913. Morreu em 2006.)
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