quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024
Um bocadinho bissexto
quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024
O Ativista maiúsculo mas sem cê
Bola baixa, que o guarda-redes é anão
Por aquela altura, o meu Fafe padecia de um guarda-redes suplentíssimo que tinha o insuspeito nome de Queimado. E, diga-se em abono da verdade, o rapaz era realmente um frangueiro de créditos firmados. Era um acrobata voador, um contorcionista, um funambulista, um malabarista, um ilusionista até - guarda-redes é que não! O Queimado, que equipava muito bem, adelgaçado, exuberante, calção de licra comprido e justinho, à ciclista, e camisola verde dos pontos, voava de um poste ao outro leve como pluma em bico de pomba branca, pomba branca, inventava cabriolas impossíveis, pinchos sobejamente desnecessários, golpes de rins praticamente incapacitantes, e a bola, ignorada e ressentida, pimba!, sempre no fundo das redes. A baliza, com o Queimado, era um circo sem fundo.
Pois o inglês Clemence era exactamente como o nosso Queimado, mas ao contrário. Era esse o exemplo, era essa a comparação absurda que o David nos apresentava para explicar. Para ensinar. Clemence vestia à antiga. Na baliza, era elegante, fleumático, sóbrio, poupado e sobretudo eficaz. Simples. Tinha a bola sempre debaixo de olho, e nunca ninguém o viu voar para ela se ele podia dar um passo ao lado e agarrá-la definitivamente e sem outros sobressaltos. "Um passo ao lado", esta me ficou. Fácil, não é? E era assim que o David Alves ensinava.
Raymond Neal "Ray" Clemence pertence ao restrito clube dos grandes jogadores que fizeram mais de mil jogos oficiais durante a carreira. Morreu em 2020, tinha 72 anos. Lembrei-me dele e deram-me saudades do David Alves, que morreu estupidamente muito mais cedo na idade, numa idade em que devia ser proibido morrer. O David morreu e ficámos todos a perder. Portei-me mal com o David, e nunca lhe agradeci como devia todo o bem que ele me quis e fez, tudo o que me ensinou da vida, das vidas. É um dos meus maiores arrependimentos, e oh se tenho tantos! Ia escrever quatro linhas sobre o Clemence, e vejam no que isto deu...
Já disse. Qualquer dia, quando eu estiver pronto, espero escrever a sério sobre David Alves, o nosso David Alves, guru natural e sem querer de uma ou duas gerações de jovens fafenses. Fomos uns sortudos!
Pontapé de ressaca
terça-feira, 27 de fevereiro de 2024
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024
Eu vi Cubillas e ouvi Lucía
Eu vi Cubillas. Vi-o aqui à porta de casa, em Guimarães, fomos de Fafe o tio Américo, o tio Zé da Bomba e eu, de propósito para ver Cubillas, com merenda aprazada talvez no Batista da Cruz d'Argola. Podia ser que também víssemos o "nosso" Quim na baliza do FC Porto, mas foi Tibi quem tomou conta, se bem me lembro desse mês de Março de 1974, ainda o cravo estava fresco e nunca mais. Deu empate zero-zero e Cubillas falhou um penálti, mas isso o que é que importa?
É. Eu vi jogar Teófilo "Nene" Cubillas! Percebem a grandeza do que digo? Compreendem a minha incontida emoção? Talvez não, infelizes, e é pena. Aos incréus, aos que não tiveram a sorte que eu tive, aos que não viram nem foram ensinados, aos que não sabem do que falo, admito a ignorância e a dúvida: viste o Cubillas, e quê?, pensarão, coitados, e estão no seu direito. Mas mesmo a esses eu gostaria de tentar explicar. Reparem, por favor. Em toda a minha vida fui, por vontade própria e em meu perfeito juízo, a somente quatro concertos: Andràs Schiff (com as Variações Goldberg de Johann Sebastian Bach), Paco de Lucía, Rolling Stones e Bob Dylan. Quatro e apenas quatro, e uma vida inteira: Schiff com Bach, Lucía, Stones e Dylan. Estão a ver a exigência, o desejo de céu? E portanto Cubillas.
Sensibilidade e bom senso
- É pá, pensava que já tinhas morrido...
P.S. - O filme "Sensibilidade e Bom Senso", de Ang Lee, conquistou o Urso de Ouro do Festival de Berlim no dia 26 de Fevereiro de 1996.domingo, 25 de fevereiro de 2024
Artur Jorge e o jornalista que adivinhava
sábado, 24 de fevereiro de 2024
Os engolidores
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024
O sobrevivente
- E então como é que foi?
- Matei-os.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
Contra fatos
Sou esbraguilhado por opção. Ao longo de quase quarenta anos, usei o meu fato mais quatro ou cinco vezes nos casamentos de mais quatro ou cinco amigos, sobrinhos e primos, num par de ocasiões solenes em Fafe, para agradar à minha mãe, numa excursão copofónica a Lisboa para acompanhar a entrega do Prémio Gazeta ao nosso Agostinho Santos e numa ida à televisão por dever de ofício. É, portanto, um fato praticamente novo, mas ando preocupado: quando eu morrer, o casaco de trespasse estará outra vez na moda?...
P.S. - Para quem se interesse por estatísticas: também tenho um par de sapatos. Um. E quatro bonés e três mochilas.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
Aí para as curvas
Foto Tarrenego! |
Uma vez, em 1991, Basílio Horta foi candidato à Presidência da República e fazia frio em Portugal, porque era Janeiro e o tempo naquela altura não era ainda tão tolo e incerto como é agora. O tempo. O Doutor Horta, que já vai nos oitenta e, entre outros afazeres, é um filósofo, quero dizer, um filósofo praticamente como eu, acaba de explicar em entrevista ao Expresso que realmente "há quem olhe para a vida como uma linha reta", mas ele não. "Eu não abdiquei das curvas", enfatizou o ex-União Nacional, fundador do CDS e actual militante do PS, ministro em quatro governos, pela direita, conselheiro de Estado, deputado, embaixador na OCDE, presidente da AICEP, pela esquerda, e agora presidente da Câmara de Sintra, dizia eu, enfatizou, como quem não quer a coisa, como quem oferece o título para a prosa e não se fala mais nisso.
sábado, 17 de fevereiro de 2024
O Pedro e Ação
Foto Hernâni Von Doellinger |
O Pedro mais Ação, mas não só Ação (Ação que me desculpe). Também Aju, Azé, Agui e Ami, Alu, Abé, Adi e Adé, Abia, Alena, Alina e Atina, Ananda, Atita, Axana e Abela, Aquina, Alela, Aberta e Aminda, Amila, Alaide, Amira e Amina, Anilde, Adora, Amela e Alice, Abecas, Alisa, Amicas e Aguida, Amilu, Amizé, Amicá e Arora, Agusta, Anela, Anô e Anor, Ané, Alinda, Adina, Azeza, Agina e assim sucessivamente. Malandro! Este Pedro Nuno Santos nunca me enganou...
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024
Já me tinhas dito
De resto, dos "agentes da PJ à paisana" aos "carros da PJ descaracterizados", passando pelos suspeitos que "tapam a cara com o rosto" e pelo "corpo do morto que já se encontrava cadáver", tem sido um fartote. E o que sente neste momento?...
P.S. - Hoje é Dia do Repórter. No Brasil.
Tempo e resultado
Era duas vezes...
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024
Eram outros carnavais
Foto Hernâni Von Doellinger |
Na minha terra, naquele tempo, festividades assim familiares e praticamente religiosas como por exemplo o Entrudo tinham as suas normas, liturgia própria. Exigiam pompa e circunstância. Em Fafe, pelo Carnaval, a grande tradição eram, se me dão licença, os peidos-engarrafados lançados no Cinema. Uma lixeira de confetes e serpentinas, alguns pares de estalos, encontrões, ameaças e correrias tolas, mas sobretudo peidos-engarrafados, um fedor que não se podia mas uma grande risota, ou se calhar um grande risoto, como hoje em dia será mais fino dizer. Peidos-engarrafados e pimenta. Exactamente, pimenta culinária sacudida dos camarotes para cima da plateia. Enquanto isso, o filme. De preferência uma coboiada, com muitos tiros e estrondosas cavalgadas, mas normalmente não, porque o "programador" tinha uma ideia morcona de divertimento e folia, em nome de Deus, Pátria e Família. Anos sessenta e setenta do século passado - Portugal era assim, regra geral. Um país a bem da Nação. E há por aí uns que tais que querem esta merda de volta.
No nosso Carnaval havia corso pelas ruas do centro da vila. E o rei momo era o Tónio da Legião, bonacheirão, afavelmente decilitrado, com coroa, manto e barbas a condizer, e só podia mesmo ser ele, no trono, lá do alto do carro alegórico, palácio ou castelo, olhando de lado para o mundo. Não me lembro se lhe deram rainha. O Tónio da Legião tinha uma queda tremenda para a amizade e para a cozinha, mas isso não vem hoje ao caso. E o Aristides Carteiro, que era um senhor e praticava humorismo nas horas vagas, abria o cortejo mascarado de ciclista, realmente um disfarce à altura do seu insuspeito porte atlético.
Pelo Entrudo, em Fafe, queimava-se o Pai das Orelheiras, velha tradição popular, de afirmação de rua, que andou perdida durante anos e que a Câmara Municipal resgatou em 2017, se não me engano. No nosso Santo Velho nós fazíamos a fogueira e queimávamos o figurão. Era o ponto alto do dia, que por acaso era à noite. As nossas mães diziam-nos para não brincarmos com o fogo, porque senão, quando fôssemos dormir, iríamos mijar na cama. Nós brincávamos na mesma e ao entrarmos em casa para dormir levávamos logo o ensaio do costume, mesmo antes de se saber se mijávamos ou não, e eu achava isso muito injusto e provavelmente ilegal.
Não me vou armar em Freud, mas naquele dia elas vestiam-se deles e eles vestiam-se delas. Era uma ocasião muito esperada. Uma oportunidade. Adultos, casados e afins, saíam para a rua aos pares com as roupas ao contrário e as caras tapadas com caretas de papelão compradas no Rates, que tinha tudo mesmo antes de terem sido inventadas as lojas que têm tudo, farmácias à parte e hoje em dia os talhos. Assim disfarçados e de boca calada, os pares de foliões metiam-se com os vizinhos, e o grande divertimento era tentar descobrir quem seriam os tratantes, desconfiando-se sempre deste ou daquela, tu a mim nunca me enganaste...
A coisa às vezes acabava à pancada, mas quê, era Carnaval e ninguém levava a mal. Além disso, estávamos em Fafe e tínhamos os peidos. Os peidos-engarrafados, quero dizer.
É, bons tempos: pobretes mas alegretes. Fafe tinha belas tradições. Era tudo muito bonito e os peidos eram o nosso escape natural, o epítome do divertimento que se podia.
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024
Eles levam o telemóvel a almoçar
Eu não percebo porque é que ele leva a namorada a almoçar. Ele também leva o telemóvel. Eu não percebo porque é que ela leva o namorado a almoçar. Ela também leva o telemóvel. Ele e ela, à mesa, ignorantes um do outro, calados um contra o outro, passam o almoço de mãos dadas. Mãos dadas ao telemóvel, ele ao dele, ela ao dela. E nem sequer ligam um ao outro.
P.S. - Hoje é Dia dos Namorados. E dos telemóveis, certamente.
On Valentine's day
Foto Tarrenego! |
Os meus dias de Valentim eram porreiros. Sempre. Recebesse ele quem recebesse, Presidente da República, primeiro-ministro, ministros disto ou daquilo, fossem quiçá o Papa, Cicciolina ou até a rainha de Inglaterra, ele, Valentim Loureiro, em funções de presidente da Câmara de Gondomar ou da Metro do Porto, ultrapassava tudo e todos, tomava conta do protocolo e das operações, comandava as tropas e... armava barraca. Sempre. Era um regalo para mim e para o meu jornal de então, o 24horas, que me mandava atrás do Major à procura das partes gagas. Eu era o enviado-especial, o especialista em Valentim Loureiro, e o homem nunca me deixou ficar mal. Ele era, como eu então lhe chamava, o meu cromo da sorte. Trabalhávamos a meias. O meu papel consistia em transformar depois a notícia em anedota, e creio que também não me saía nada mal.
terça-feira, 13 de fevereiro de 2024
A vida sem internet
Os jovens criativos da Rádio Renascença, e devem ser mesmo muito pequeninos, perguntam, num anúncio de promoção a um programa: - Já imaginou a vida sem internet? E quer-se dizer: eu já, isto é, sou desse tempo, lembro-me muito bem, e por acaso até nem se estava mal...
A fama tem um preço
Na rádio, Renascença por acaso, o reclame a uma telenovela da SIC avisa: - A fama tem um preço! Pois tem. E o arroz carolino também. E a massa-cotovelo e as batatas e os alhos e o azeite, que está pela hora de morte. As próprias pessoas, diz-se, também têm um preço. Algumas, melhor colocadas na vida, têm dois ou três...
P.S. - Hoje é Dia Mundial da Rádio.
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024
A mãozinha encarnada
domingo, 11 de fevereiro de 2024
Até que a morte
Fazendo pela vida
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024
Uma questão de potência
Mr. Bean estampou-se contra uma árvore. A cena tem piada, mas não é para rir. O comediante britânico Rowan Atkinson teve mesmo um acidente, em Agosto de 2011, e quase desfez o carro, que por acaso não era o Mini 1976 amarelo com volante removível e aloquete (cadeado, se lido em Lisboa) da famosa série de televisão, mas um McLaren F1 que, segundo leio, é caro que eu sei lá e dá mais de 380 à hora. Tento imaginar que 380 à hora deve ser muito à hora, à hora demais, mas não consigo, não faço ideia. A reparação do automóvel - se é que se pode chamar automóvel a este avião de calças curtas - custou à companhia de seguros mais de um milhão de euros. E eu também não sei quanto é um milhão de euros. Não faço ideia, por mais que tente imaginar.
A história tem muito que se lhe diga e realmente já tem barbas, mas a problemática que lhe subjaz está outra vez na ordem do dia, como adiante se verá.
A inveja é uma cena que não me assiste. Mr. Bean que tenha o carro que quiser e os jogadores de futebol também. Ganham bom e merecido dinheiro, melhor para eles. Que o gastem como quiserem e que gastem muito, que é óptimo para nós todos, até para as oficinas, seguradoras e outros intermediários - que eles espetam-se como tordos. Do fundo do coração, o que lhes estimo é o que lhes desejo. E que, com a graça de Deus, seja sempre só chapa. Mas, tenho de confessar, não percebo a queda desta gente para carros de mil à hora só para ir de casa ao café e do café para casa. Sabem o que se diz, aparentemente comprovado por estudos científicos: grande bomba, pila pequena? Pois se calhar. Não estudei para isso nem fui estudado, não faço a mínima. E mais até estou à vontade para falar sobre o assunto: não tenho carro e nem sequer sei conduzir...
P.S. - O primeiro jornal humorístico português foi lançado, em Lisboa, no dia 9 de Fevereiro de 1856. Chamava-se "Asmodeu" e há quem diga que afinal foi o segundo jornal humorístico português, a seguir ao "Suplemento Burlesco de O Patriota".
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024
Foi-se embora o melro
Foto Hernâni Von Doellinger |
Ora bem: há mais de trinta anos que moro na minha rua e foram precisos mais de trinta anos para que me aparecesse na rua um melro. Sim, um melro efectivamente, e apresentava-se todas as manhãs. Melro cantor que dava gosto, e lambão benza-o Deus, também ia à marmita dos gatos da vizinha, até que um dia.
Na minha rua passa bissextamente a procissão do Senhor de Matosinhos e naquela altura, isto é, no tempo do melro, estava aqui estabelecido, mesmo na porta ao lado, o Núcleo do Sporting, assiduamente visitado pelo então presidente Bruno de Carvalho, que também é um senhor, não desfazendo, e teve igualmente a sua cruz, ninguém pode dizer o contrário. Exigia-se portanto outro asseio.
Não sei se era para meter raiva aos sportinguistas locais ou se derivado a outro insondável motivo, a verdade é que o melro da minha rua, o meu melro, cantava sem parar o hino do FC Porto. E juro que não fui eu a ensiná-lo. Os melros, é o que têm, já nascem ensinados. Os melros e os macacos, há quem diga.
E eu, perante isto? Eu, que vim de Fafe habituado a melros com fartura, gostei muito que o estupor do melro tivesse dado com a minha rua adoptiva e com a frente da minha casa. Grande melro! Foi porreiro, porque assim já éramos dois. Mas quê? De repente o melro foi-se embora e Bruno de Carvalho também. Ao Bruno ainda o vejo de vez em quando a fazer figuras na televisão e leio-lhe os amores e os humores na imprensa cor-de-rosa, que é hoje em dia toda a comunicação social portuguesa. Ao outro melro é que nunca mais. Agora sou só eu.
P.S. - Bruno Miguel Azevedo Gaspar de Carvalho, gestor, comentador desportivo, artista de televisão, dizem que DJ e ex-presidente do Sporting, faz hoje anos. Então, parabéns!
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024
A vidinha a andar para trás
terça-feira, 6 de fevereiro de 2024
segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024
Ai, margarina, se eu te desse a minha vida
Sei é isto: há exactamente dois anos, na Póvoa de Varzim, icónica Rua da Junqueira, uma excelentíssima bola tipo berlim com creme normal custava um euro e a merda de uma bola tipo berlim com nutella custava um euro mais vinte cêntimos. Meto-me no metro e vou lá um destes dias ver em que param as modas, e se as bolas com nutella forem este ano mais baratas, ou até dadas, compro na mesma das de creme normal...