sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

O jogo do pau de... Cabeceiras de Basto

Dizia eu: E não. O jogo do pau não é "uma das maiores tradições do concelho" de Fafe, ao contrário do que diz, por outro lado, a néscia propaganda autárquica. É tão tradição em Fafe como em Lisboa, em Trás-os-Montes, no Ribatejo, na Estremadura, no Algarve ou na Galiza. O jogo do pau é tão tradição em Fafe como a sueca, o futebol ou a malha, a petanca, o esconde-esconde ou o dominó, que se jogam em todo o lado.
Não. O jogo do pau não foi inventado em Fafe, não deriva da Justiça de Fafe. A Justiça de Fafe é outra coisa.

Dizia eu, no texto "À justiça o que é da justiça" com que, a 3 de Agosto de 2022, abri o meu blogue Fafismos, então ainda denominado "De Fafe com muito gosto". E que se segue? Soube-se anteontem, o "Jogo do Pau de Cabeceiras de Basto" acaba de ser classificado como património cultural imaterial. Exactamente, o jogo do pau de Cabeceiras de Basto.

Como as cerejas

Os anos são como as cerejas. Vêm uns atrás dos outros. Até um dia...

Como os melões

Os anos são como os melões. Mas ao contrário. Só depois de fechados é que se sabe se são bons. 

Por ocaso

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

E eles a darem-lhe com o burnout

O burnout está na moda, os estrangeirismos vieram para ficar. Burnout para cá, burnout para lá, é burnout  por todos os lados, como se não tivéssemos uma palavra portuguesa, nossa, para significar isso, burnout. E temos, evidentemente temos. Temos a palavra tilt, como toda a gente sabe...

sábado, 23 de dezembro de 2023

A amante brasileira do Presidente

Foto Sérgio Freitas/O Minho

Eu não sabia que Ricardo Rio, presidente da Câmara de Braga, tinha uma amante brasileira e que isso era assunto. Nem sabia nem me interessava. Agora, mesmo sem querer, fiquei a saber que Ricardo Rio, presidente da Câmara de Braga, afinal não tem uma amante brasileira e que isso é assunto. O Presidente nega a amante, obviamente. Amante brasileira do Presidente com maiúscula, é falso! - é o próprio Presidente quem o garante numa extraordinária entrevista de Natal e fim de ano ao jornal O Minho. Até porque, "se fosse verdade, o Presidente não teria uma "amante". Ter-se-ia separado e teria uma relação com outra pessoa, o que (in)felizmente acontece em muitos casais. Acontece que a minha relação com a minha mulher continua com o vigor de sempre, com muito orgulho e alegria pelo percurso que trilhamos enquanto casal e enquanto família" - moralizou, muito a propósito, o Presidente.
E eu fiquei mais descansado. Afinal, falamos do Presidente que é presidente da Câmara de Braga, esse farol da moral e bons costumes, a Roma Portuguesa, a Cidade dos Arcebispos, a Capital do Barroco e o Penico do Céu, mas também a idolátrica, às vezes terra de libertinos passeadores e esplendorosos, como diria o Pacheco. Graças a Deus, não é o caso...

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Em sede própria

António Lacerda Sales, antigo secretário de Estado da Saúde, já tinha avisado, a propósito do seu alegado envolvimento no alegado caso das gémeas luso-brasileiras com atrofia muscular espinal: "Eu só responderei aos detalhes do processo em sede própria". Dito e feito. Respondeu ontem. Ao jornal Expresso.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Unicórnios e gazelas

"Existem 1.203 "empresas gazela" em Portugal, 85 das quais no distrito de Braga. Este tipo de empresa, assim designada, cria mais de 10 empregos nos primeiros cinco anos de atividade, representando um "elevado crescimento económico" para os padrões nacionais" - leio no jornal O Minho. Empresas gazela, que nome catita. Gazela. Para abater mais adiante...

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Fazer as pazes

"Esposende: Espancou ex-namorada por não aceitar separação e ameaçou-a com arma para se reconciliarem", proclama o título do jornal O Minho. Sim, reconciliação, paz, amor. É o Natal! É a força do Natal! Que bonito!...

Passadeira vermelha (para moscas)

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

É preciso saber estar

Era um bêbedo que realmente sabia estar. Cada vez que se urinava pernas abaixo, ele dizia, sem entrar em pânico: - Rebentaram-me as águas. Levem-me à maternidade, por favor!

E agora falando a sério. Hoje é Dia de Nossa Senhora do Ó, um dia que causa grande inveja em todo o restante abecedário e sobremaneira entre as vogais.

Pela luz que me alumia

Foto Hernâni Von Doellinger

domingo, 17 de dezembro de 2023

Quando o homem quiser

Se o Natal fosse todos os dias, decerto perdia a graça, seria talvez uma chatice. Uma canseira. E era uma despesa muito grande...

sábado, 16 de dezembro de 2023

E eu, bico calado

A minha sorte é que só encontro pessoas que têm certezas absolutas sobre tudo. Sabem tudo de tudo. Eu nem abro a boca. Tenho a vida muito facilitada...

Andante con moto

Foto Hernâni Von Doellinger

O segundo andamento da 5.ª Sinfonia de Beethoven, dita Sinfonia do Destino, ou, só para complicar, melhor chamada Sinfonia n.º 5 em Dó menor Op. 67, deve ser tocado em Andante con moto. Isto é, pede-se um ritmo lento, como se fôssemos nós apenas a caminhar, naturalmente, um passo e depois outro, mas com o cuidado de não adormecermos de pé. Andante, sim, porém con moto. E isto é apenas um por exemplo.
Por outro lado, se o enxame de tuk tuk (ou auto-riquexós) que, uberdissimulados, tomou conta das ruas do Porto e cidades adjacentes deixasse de ser só para turistas e fosse, não sei como, integrado no sistema de transportes públicos da chamada Área Metropolitana, e que jeito que daria, já tínhamos um nome para a coisa: Andante con moto, exactamente. Mas isto é apenas outro por exemplo cá dos meus.

P.S. - Ludwig van Beethoven nasceu no dia 16 de Dezembro de 1770, há quem diga. Mais consensual é que terá sido baptizado no dia seguinte, 17 de Dezembro de 1770.

Menos um posto de trabalho

Foto Hernâni Von Doellinger


sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O padre sexy e a burla

"Padre sexy de Valença alerta para burla em seu nome", dizem as notícias. E tem toda a razão. Não sei se a queixa é contra o Correio da Manhã, que certamente o rebaptizou, mas na verdade o rapaz sacerdote chama-se Ricardo Esteves. Isso, Ricardo José Carreira Esteves. Chamar-lhe "padre sexy" é realmente um embuste, um truque para vender jornais. Enfim, uma burla. Em seu nome. E em nome do pai, do filho e do espírito santo.

Pai duas vezes

E ao segundo filho, ele tornou-se avô. Pai duas vezes, é o que se diz, não é?...

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

O mal de Paulo Raimundo

Foto Partido Comunista Português

O mal de Paulo Raimundo é ser parecido com ele próprio. Isto é, o grande defeito de Paulo Raimundo é não ser parecido com ninguém. E o que é que se segue? Para a imensa maioria dos portugueses, mais do que uma incógnita, o secretário-geral do PCP continua a ser um incógnito.
Ainda anteontem. Eu e o Lopes vínhamos a sair da Conga, em direcção à Câmara do Porto, e passámos por três indivíduos conversando, um dos quais, dissemos nós um ao outro praticamente ao mesmo tempo, "Olha um tipo parecido com o Paulo Raimundo...", rimo-nos um bocadinho com a coincidência, porque é uma coisa que gostamos muito de fazer, rir um bocadinho, e seguimos com a nossa vidinha, que naquela tarde era entrarmos no carro e o Lopes trazer-me a Matosinhos, à porta. 
À noite, em casa, varejando os títulos das notícias, é que eu dei fé que o líder comunista tinha andado de facto pela Invicta, o tipo parecido com o Paulo Raimundo era mesmo o Paulo Raimundo e os outros dois indivíduos afinal não eram indivíduos mas camaradas, evidentemente. E fiquei deveras aborrecido, porque faria muito gosto em ter-lhe dado uma mãozada, ao bom do Raimundo, até porque acho que o homem merece.
Merece, mas! Aquela aspecto de pessoa normal não o recomenda. Aquele ar mancebo, aquela cara de boa gente, aquele sorriso tímido e verdadeiro, aquela presença asseada, limpinha, aquela estampada honestidade, aquele porte de 16.º na lista de candidatos à assembleia de freguesia, aquele terra-a-terrismo, aquela normalidade toda, diria eu, só o desabonam. Invisibilizam-no. Apagam-no aos olhos e à memória dos demais. Na rua, Paulo Raimundo passa ao lado de si próprio, como se nada fosse. E, se for distraído, às tantas nem se reconhece. Paulo Raimundo devia ser parecido com outra pessoa qualquer, por exemplo Jerónimo de Sousa, para se saber imediatamente que aquele que ali está é o Paulo Raimundo em pessoa.
Ou então o secretário-geral do PCP devia ir muito mais às televisões e aos jornais e às chamadas redes sociais, montar lá banca, dizer uns tremendismos quaisquer, chamar nomes às pessoas, como os líderes do Chega e da Iniciativa Liberal (IL), que esses dois, assim, toda a gente sabe quem são.
Toda a gente, mas não é geral. Eu, por exemplo, se me pusessem o da IL numa fila de identificação policial, palavra de honra que não saberia apontá-lo. Assim de repente não faço ideia da cara dele, precisaria talvez de uma cábula, uma fotografia daquelas "Procura-se", porque, a verdade também é só uma, esse, o tal liberal, nem com ele próprio deve ser parecido.

Concerto para cinco pés e dois violinos

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

O galo do presépio

Este ano metemos o galo no presépio. Todos os anos experimentamos um melhoramento natalício, há muito que andávamos com o galo debaixo de olho, e foi este ano. Agora lá está ele, altaneiro e bico calado, mas imaginamo-lo todo kikirikiki como o Jerónimo do reclame da Compal, a anunciar o nascimento do Menino Jesus exactamente às 7h30, conforme muito bem podia constar da Bíblia.
O nosso galo do presépio é um galo de Barcelos, mas, atenção, não é o Galo de Barcelos. Nada de parolices, valha-nos Deus! É um galo de capoeira, obra de mestre barcelense, isso sim, 6x4 centímetros, a obra, um euro e meio, o preço. É arte.
Só presépios temos oito, para além de mais meia dúzia de Meninos Jesus avulsos, e nem as casas de banho escapam ao nosso Natal. Pusemos o galo novo no presépio principal, evidentemente. O nosso é um presépio inclusivo, ao contrário do presépio do falecido papa Bento XVI, que em 2012 resolveu expulsar a vaca e o burro, porque, sentenciou, no local do nascimento de Jesus "não havia animais". Portanto, concluí eu, também não havia ovelhinhas, o que quer dizer que também não houve pastorinhos do deserto. Sobravam, inequivocamente, os três reis magos. Gente fina, vinho de outra pipa. Reis. E magos (porque o champanhe ainda não tinha sido inventado). Esses, é certo, estiverem lá, em representação de toda a humanidade - segundo Ratzinger. Estiveram os reis magos e os anjos cantadores. Os anjos também estiveram.
Que se segue? Eu por acaso até era mais dado a acreditar no burro e na vaca do que na mirabolante história de Gaspar, Melchior e Baltasar, uma boa linha média para quem jogue em 4-3-3, mas que se há-de fazer? Na verdade, eu por acaso até sou capaz de acreditar mais no burro e na vaca do que nos anjos e no presépio completo, a começar pelo dogma da virgindade de Maria tal como está estabelecido. Mas quê? Mais de dois mil anos a aquecerem o Menino com os respectivos bafos, e foi este o pagamento que o burrinho e a vaquinha receberam.
Cá em casa, não. No nosso presépio entram todos. Sem excepção. Pastores, trolhas, cabrinhas, escafandristas, empregados de mesa, com e sem-abrigo, prostitutas, levandiscas, lambe-botas, grilos, reis magos e outros artistas de circo, polícias municipais, cães e gatos, sapos e ciganos, evidentemente o burro e a vaca, que se lixe o Vaticano!, e agora o galo, se calhar para o ano um porco e depois uma avestruz, o Ben-Hur, se também quiser, o He-Man, o Super-Homem, o homem-estátua, a Justiça de Fafe, a Barbie, o Nenuco, a Popota, a Irmã Lúcia, o Padre Cruz, o Zé Povinho e o Fradinho das Caldas, o Tutankhamon, Marcelo Rebelo de Sousa e até Bento XVI se entretanto sair em boneco.
Deus é grande, e o nosso presépio está cada vez maior.

(Publicado originalmente no meu blogue Fafismos)

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

O sermão da montanha

Era uma alma sensível e só. Comovia-se com a natureza, conversava com o vento. Gostava de subir ao monte para ver as vistas. E ouvir as audições. E cheirar os olfactos.  

P.S. - Hoje é Dia Internacional da Montanha.

Tangando

Lembram-se do futebol de salão? O que é que nos vinha à cabeça quando se falava de futebol de salão? O salão. Uns cavalheiros vestidos de fraque e com um número nas costas e umas cavalheiras despidas nas costas e no resto, agarrados um ao outro e rodopiando pelo rinque árabe do Palácio da Bolsa como Fred Astaire e Ginger Rogers e uma bola pequenina no meio, um árbitro e o apito, um júri e tabuletas. Para evitar confusões, o futebol de salão passou a chamar-se futsal. E é o sucesso que se sabe...

P.S. - Hoje é Dia Internacional do Tango.

Chegou a vez deles

Foto Hernâni Von Doellinger

Começava o ano de 2009 e o grupo Controlinveste, de Joaquim Oliveira, perpetrou o despedimento colectivo de 122 trabalhadores, mais de 50 dos quais eram jornalistas. A Controlinveste era dona do Diário de Notícias (DN), do Jornal de Notícias (JN), do 24horas e do desportivo O Jogo, além da rádio TSF, da revista Volta ao Mundo e dos canais televisivos SportTV. Desde os anos oitenta que não acontecia uma razia assim em Portugal, quando fecharam títulos como O Diário, o Diário Popular e o Diário de Lisboa.
Em Janeiro de 2009 eu era jornalista do 24horas no Porto e o 24horas no Porto acabou. O DN no Porto ficou reduzido ao osso e o JN passou mais ou menos incólume pelos pingos da chuva, fora o azar de uns poucos que decerto tinham a mania de desagradar às chefias, as quais, nestas coisas do salve-se quem puder, geralmente são piores do que os patrões.
Fez-se greve. Uma greve coitadinha, isto é, fizeram greve os que iam morrer, e poucos mais, embora tenha sido tentada uma coisa em grande, testicular, greve geral do grupo, num plenário que foi uma desgraça. Os jornalistas do JN, sobretudo os promissores jornalistas do JN, evidentemente na rampa de lançamento para voos que afinal nunca alcançaram, avisaram logo que não, que era preciso ver o quadro completo, não vamos agora prejudicar uns por causa dos outros, que já estão condenados e estão, as coisas são como são, sejamos realistas, é uma chatice, isso é, pá, acontece, solidariedade, sim, obviamente, para isso cá estamos, força!, mas uma palmadinha nas costas também já chega.
Eu disse: "para palermas não estais nada mal, meus refinados filhosdeputa, e ainda me vou rir quando chegar a vossa vez", e vim-me embora a meio da coisa. Vim-me mesmo embora. Literalmente. Definitivamente. Tiveram de me procurar, se quiseram "despedir-me"...
Termina o ano de 2023. A Controlinveste, de Joaquim de Oliveira, chama-se agora Global Media Group (GMG), detém os títulos JN, DN, TSF, O Jogo, Dinheiro Vivo, Notícias Magazine, Delas, N-TV, Motor24, Men's Health, Women's Health e Açoriano Oriental, e vai desempregar mais 150 trabalhadores, parece que 40 só na redacção do JN. Ó caralho! Aqui-d'el-rei, que isto agora é connosco, gritou-se ali para os lados do Monte dos Burgos, que a Torre foi vendida para hotel, o JN fez mesmo greve, e logo dois dias, viva o luxo!, não saiu à rua "pela primeira vez em 35 anos" e foi um sucesso.
Ou por outra, chegou a vez dos palermas de 2009 e eu, devo confessar, afinal não acho piada nenhuma...

P.S. - O Sindicato dos Jornalistas propõe uma paralisação de uma hora no próximo dia 6 de Janeiro em todas as redacções de Portugal continental e ilhas, "num abraço solidário a estes camaradas", isto é, aos jornalistas do GMG, isto é, aos "corajosos" jornalistas do JN. O que é porreiro e, por outro lado, não deixa de ser irónico.

domingo, 10 de dezembro de 2023

sábado, 9 de dezembro de 2023

Querido Pai Natal

Aviso com tempo. No Natal de 2022 ofereceram-me catorze livros. Está certo: gosto muito de ler e parece que toda a gente que gosta de mim sabe que eu gosto muito de ler. Mas, valha-me Deus, eu também preciso de peúgas, cuecas e pijamas, como as outras pessoas...

Ocorreu esta semana o Dia de São Nicolau, que dizem que é o Pai Natal, mas não é. Porque São Nicolau, isto é, São Nicolau de Mira também conhecido como São Nicolau de Bari, existiu mesmo no século III, foi bispo e é padroeiro da Rússia, da Grécia, da Noruega e de Beit Jala, na Palestina. É patrono dos guardas-nocturnos na Arménia e dos ajudantes de missa na cidade italiana de Bari. E é também padroeiro dos estudantes, como muito bem se aprende em Guimarães, mas nunca trabalhou para a Coca-Cola. Já quanto ao Pai Natal, não quero com isto escangalhar certas e determinadas crenças infanto-comerciais, mas eu prefiro o Menino Jesus!

(Publicado originalmente no meu blogue Fafismos)

A pega

Foto Hernâni Von Doellinger

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

O meu primeiro Natal

O primeiro Natal que eu conheci em pessoa chamava-se Higino. Natal Higino. Ou por outra, chamava-se e chama-se, felizmente sobretudo para ele, mas também para nós todos que tivemos a fortuna de o herdar sem mais nem menos. O nosso Natal veio directamente de África, no tempo em que Fafe era o fim do mundo. Acabar em Fafe era obrigatório, não havia mais linha, batia-se com o nariz na parede que aguenta até hoje a velha Rua do Retiro. Muito tratante desaguou assim em Fafe, para mal dos nossos pecados, mas o Gino é vinho de outra pipa.
O Natal chegou a Fafe, Natal Higino recordo, instalou-se nos Bombeiros, na Bomba, e tornou-se "como se fosse da família", que, como já expliquei noutro sítio, é muito mais e melhor do que ser mesmo da família. Creio não estar a dizer grande asneira quando afirmo que, na nossa terra, o mais forte laço "familiar" que nos une acaba por ser esse mesmo, o de sermos uns para os outros como se fôssemos da família. A família sanguínea não passa de um que remédio, é uma fatalidade. A esse respeito, devo ressalvar que a minha tia Laura e o meu irmão Nelo saberiam falar do Gino com muito mais propriedade do que eu, mas o Nelo, por recato, sei que nunca o faria, e a querida tia deixou-nos infelizmente há três anos e meio, mas conto um destes dias trazê-la outra vez aqui. A tia Laura é que encarrilou o Gino para a vida.
O Natal chegou a Fafe, Natal Higino repito, e, sobre ter algum jeito para jogar a bola, batia umas palmas que eram um assombre, como se dizia em fafês, palavra inventada pelos músicos antigos da Banda de Revelhe. Um assombre! Umas palmas que, quando bem batidas, ouviam-se da Cumieira a Santo Ouvídio e da Fábrica do Ferro à Ponte do Ranha. Como se fossem duas rijas tábuas de soalho saídas da máquina da serração e lançadas violentamente uma contra a outra e ligadas aos altifalantes, um estrondo assim, uma coisa nunca ouvista! Lembram-se do PA-SSA A BO-LA! do tonitruante Aníbal Carriço? Era quase. Em todo o caso, um extraordinário melhoramento sonoro para Fafe, e sem despesa para a Câmara ou para o Governo. Para além disso, Natal Higino que veio de África soube fazer-se fafense excelentíssimo. Que é! Acrescentem-no à lista, se fazem o favor.
O Natal, o nosso, trouxe um apenso de alegria e bondade a Fafe. O Higino é isso, um homem alegre, bom, generoso, honrado, companheiro. Para o Gino, toda a gente tinha a categoria de Você. Era o meu tempo de seminário, e o Gino chamava-me Sacerdote. Suponho, aliás, que ainda hoje me chama Sacerdote. Éramos, somos, amigos. A minha mulher sabe quem é o Gino, conhece-o, e isso é o topo no meu barómetro de amizades, prenda tão rara.
Eu não sei se Fafe já se apercebeu da sorte que teve por causa do comboio acabar obrigatoriamente ali e dele ter saído por acaso o Gino. Eu tenho noção. Ao longo da vida vim a conhecer outros Natais, não muitos, porque o nome também não é assim tão popular, mas não me lembro de outro que me tenha verdadeiramente impressionado. E acho que sei porquê. Porque, como noutras encomendas da vida, não há Natal como o primeiro. E o meu chamava-se Higino.

(Publicado originalmente no meu blogue Fafismos)

Apresentação de "Eu e a UNITA", de Orlando Castro


O novo livro do jornalista Orlando Castro, "Eu e a UNITA", é lançado amanhã, quinta-feira, pelas 17h30, na Casa de Angola, em Lisboa, Travessa da Fábrica das Sedas, 7. A apresentação da obra estará a cargo de William Tonet, que também prefacia, e Sedrick de Carvalho. Sobre si próprio e o que o move, diz Orlando Castro: "Ao longo dos anos defendo aquilo que considero o mais correcto para a minha terra, Angola. Consigo não agradar nem a gregos (MPLA) nem a troianos (UNITA)".

Anda, abraça-me, beija-me

Foto Hernâni Von Doellinger

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Dia do Pedicuro

Foto Hernâni Von Doellinger

Quer-se dizer, mete um bocado de nojo, parece-me, mas é apenas para assinalar condignamente a efeméride. Hoje é Dia do Pedicuro. Isso, do Pedicuro. No Brasil.

sábado, 2 de dezembro de 2023

Fafe não liga à família?

Onze municípios do Minho são amigos da família. Eu não sei o que é que isso quer dizer, mas Fafe, a minha terra, não consta dessa lista, o que pode significar, logo à cabeça, que o município de Fafe não é amigo da família. De acordo com o jornal O Minho, de onde recolho esta informação, Amares, Arcos de Valdevez, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Basto, Monção, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Famalicão, Ponte da Barca e Valença tiveram direito este ano à "bandeira verde", atribuída pelo Observatório das Autarquias Familiarmente Responsáveis, e Fafe não, o que, por exclusão de partes, parece indiciar que a autarquia fafense não é familiarmente responsável.
Este ano, no total, foram distinguidos 108 municípios por todo o país, mais 13 do que no ano passado, e nem assim Fafe lá chegou. Insisto: eu não sei o que é que isto quer dizer, limito-me a ser eco da notícia, eventualmente omissa na quase sempre faustosa comunicação municipal.

(Publicado originalmente no meu blogue Fafismos)

Bicicletando

Foto Hernâni Von Doellinger