Chão de estrelas
Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado,
Palhaço das perdidas ilusões.
Cheio dos guizos falsos da alegria,
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações.
Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro.
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou.
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam estranho festival!
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional.
A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco,
Salpicava de estrelas nosso chão.
Tu pisavas os astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão.
Orestes Barbosa
(Orestes Barbosa nasceu no dia 7 de Maio de 1893. Morreu em 1966.)
Sem comentários:
Enviar um comentário