sábado, 6 de maio de 2017

Orestes Barbosa

Chão de estrelas

Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado,
Palhaço das perdidas ilusões.
Cheio dos guizos falsos da alegria,
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações.

Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro.
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou.

Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam estranho festival!
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional.

A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco,
Salpicava de estrelas nosso chão.
Tu pisavas os astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão.

Orestes Barbosa

(Orestes Barbosa nasceu no dia 7 de Maio de 1893. Morreu em 1966.)

Sem comentários:

Enviar um comentário