quinta-feira, 25 de maio de 2017

Fábio Montenegro

A árvore

Hirta, negra, espectral, chora talvez. Responde 
Seu próprio choro, à voz do vento que a fustiga, 
Ela que ao sol floriu, floriu às chuvas, onde 
A paz é santa, o campo é doce, a noite é amiga...

Essa que esconde a chaga, essa que a história esconde,
Que conhece a bonança e a borrasca inimiga,
já foi flor, foi semente, e, sendo arbusto, a fronde
Ergueu para a amplidão às aves e à cantiga.

Que infinita tristeza o fim da vida encerra 
A quem já pompeou do Sol na própria luz. 
As flores para o céu e a sombra para a terra!

Foi semente, brotou... Árvore transformada, 
Sorriu em cada flor; e hoje, de galhos nus, 
Velha, aguarda a tortura estúpida do nada!

Fábio Montenegro

(Fábio Montenegro nasceu no dia 26 de Maio de 1892. Morreu em 1920.)

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