quinta-feira, 18 de maio de 2017

Mário de Sá-Carneiro 5

Último soneto
 
Que rosas fugitivas foste ali:
Requeriam-te os tapetes - e vieste...
- Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste -
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi...

Pensei que fosse o meu o teu cansaço -
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...

E fugiste... Que importa ? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste
Onde a minha saudade a Cor se trava?...

"Poemas Completos", Mário de Sá-Carneiro

(Mário de Sá-Carneiro nasceu no dia 19 de Maio de 1890. Morreu em 1916.)

1 comentário:

  1. Bela homenagem a Mário de Sá-Carneiro. Um vulto da literatura portuguesa que teve o azar de nascer no século dos poetas suicidas. Se cedo não pusesse termo à sua vida hoje seria tanto ou mais lembrado que Fernando Pessoa!!!

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