Ao futuro
Saberás um dia que o amor nunca
nasce, nunca deve. O amor é,
sempre foi, sempre esteve.
Rigorosamente contemporâneo
da explosão cósmica
que, contam, declinou ao princípio
do escuro e da luz.
Seguiu-se o espontâneo ciclo
das épocas, das glaciares estações.
Os continentes são da mesma raça.
Os homens do mesmo barro.
Saberás que, para haver história,
os homens mataram e morreram,
morreram e mataram.
Explicaram, em orgias de palavras,
onde nada havia para explicar,
porque tudo se intuía,
o princípio foi só um
e a vida ligou-se à vida.
Saberás
que o amor é tudo
e o tudo nunca foi cognoscível.
Como o nada.
Nunca aceites ser mártir.
Ama o teu presente e o futuro
e, por certas tardes de sábado,
de olhos porventura humedecidos,
limpa docemente a minha tumba.
(Ou, por outra, deposita
as minhas cinzas na caixa
de sândalo: nosso diálogo
terá o sopro indistinto de Apolo
e o mágico da harmonia sem lágrimas!)
"Nos Joelhos do Silêncio", Heliodoro Baptista
(Heliodoro Baptista nasceu no dia 19 de Maio de 1944. Morreu em 2009.)
Sem comentários:
Enviar um comentário