Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do Sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros.
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?
Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano?
Três entes respiram sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora;
Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos, filhos ambos da mesma terra selvagem.
A lufada intermitente traz da praia um eco vibrante, que ressoa entre o marulho das vagas:
- Iracema!...
O moço guerreiro, encostado ao mastro, leva os olhos presos na sombra fugitiva da terra; a espaços o olhar empanado por tênue lágrima cai sobre o jirau, onde folgam as duas inocentes criaturas, companheiras de seu infortúnio.
Nesse momento o lábio arranca d'alma um agro sorriso.
Que deixara ele na terra do exílio?
"Iracema", José de Alencar
(José de Alencar nasceu no dia 1 de Maio de 1829. Morreu em 1877.)
terça-feira, 30 de abril de 2013
Onomástico 6
Acho piada à palavra estratégia
O alegado Governo de Portugal aprovou hoje aquilo a que chama Documento de Estratégia Orçamental. DEO, para os amigos. O DEO seguiu imediatamente para a Assembleia da República, onde vai ser apresentado pelo ministro Vítor Gaspar - o que não acerta nos números. E é aqui que eu me rio da palavra estratégia.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Onomástico 5
Novo terminal de cruzeiros do Porto de Leixões
Foto Hernâni Von Doellinger |
Assim vai a construção do extraordinário edifício que acolherá a nova estação de passageiros do Porto de Leixões. As obras deverão estar concluídas "em meados do primeiro semestre de 2014", de acordo com informação ontem recolhida junto da APDL. Só ainda não há data para a inauguração.
Etiquetas:
APDL,
arquitectura,
Economia,
estação de passageiros,
mar,
Matosinhos,
navios,
obras,
Porto de Leixões,
terminal de cruzeiros,
turismo
Onomástico 4
domingo, 28 de abril de 2013
Guerra Colonial sobe ao palco no Porto
Criado a partir do livro "Não sabes como vais morrer", do jornalista Jaime Froufe Andrade, o espectáculo "Estórias do mato - a Guerra Colonial em palco" sobe à cena no Teatro Helena Sá e Costa, de 9 a 12 de Maio, sempre às 21h30. A peça, apresentada pelo TEatroensaio, tem dramaturgia e encenação de Pedro Estorninho e música original de José Mário Branco.
Antes. Na próxima sexta-feira, 3 de Maio, também pelas 21h30, a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto acolhe um evento paralelo de promoção do espectáculo: a conferência "Memórias de Guerra e de Futuro", com os jornalistas Froufe Andrade e Nuno F. Santos e o encenador Pedro Estorninho, director artístico do TEatroensaio.
Antes. Na próxima sexta-feira, 3 de Maio, também pelas 21h30, a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto acolhe um evento paralelo de promoção do espectáculo: a conferência "Memórias de Guerra e de Futuro", com os jornalistas Froufe Andrade e Nuno F. Santos e o encenador Pedro Estorninho, director artístico do TEatroensaio.
Etiquetas:
cultura,
Guerra Colonial,
Jaime Froufe Andrade,
José Mário Branco,
livros,
música,
Não sabes como vais morrer,
Pedro Estorninho,
teatro,
TEatroensaio
Jaime Cortesão
Quero-te, como quero ao ar e à luz
Porque não sou a ovelha do rebanho,
Nem vendi ao pastor a alma e a grei;
E onde não haja mais do que o redil,
És tua a minha pátria e a minha Lei.
Leva-me onde as estradas me pertençam.
Porque as vozes viris que me conduzem
Ninguém, melhor do que eu, sabe dizê-las;
Porque eu não temo as livres solidões,
Onde habitam os ventos e as estrelas.
Jaime Cortesão, "Ode à Liberdade", excerto
(Jaime Cortesão nasceu no dia 29 de Abril de 1884. Morreu em 1960.)
Porque não sou a ovelha do rebanho,
Nem vendi ao pastor a alma e a grei;
E onde não haja mais do que o redil,
És tua a minha pátria e a minha Lei.
Leva-me onde as estradas me pertençam.
Porque as vozes viris que me conduzem
Ninguém, melhor do que eu, sabe dizê-las;
Porque eu não temo as livres solidões,
Onde habitam os ventos e as estrelas.
Jaime Cortesão, "Ode à Liberdade", excerto
(Jaime Cortesão nasceu no dia 29 de Abril de 1884. Morreu em 1960.)
Sporting: o verdadeiro clube dos cem mil sócios
Depois de ter atingido os cem mil sócios em Novembro de 2009, após a eleição de José Eduardo Bettencourt, o Sporting acaba de atingir os cem mil sócios após a eleição de Bruno de Carvalho.
sábado, 27 de abril de 2013
Onomástico 3
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Onomástico 2
Onomástico
quinta-feira, 25 de abril de 2013
quarta-feira, 24 de abril de 2013
A propósito de um tal 25 de Abril
Foto Hernâni Von Doellinger |
O turismo
Visitar este país
até à última gota:
o porco e o Porto
a bola e a bolota
O que é como quem diz
itinerar a derrota.
Tudo tem lugar no mapa
Paris, Washington, Moscovo
Em Itália vê-se o papa
em Lisboa vê-se o povo.
Welcome Bienvenus Salud Willkommen Viva
A sífilis saúda-vos
saúda-vos a estiva
desta carga de heróis em carne viva
nociva mas barata
Vindes matar a sede com uva
beber o sumo de ócio que nos mata.
Desemborcais nos cais
Desembolsais de mais
mas não sabeis
as coisas viscerais
as coisas principais
deste país azul
com mais hotéis do que hospitais
talvez por ser ao sol
talvez por ser ao sul.
Aqui ao pé do mar
bordamos a tristeza
as toalhas de mão
as toalhas de mesa
que levais para casa
Souvenir
deste povo sem pão
que se cose a sorrir.
Aqui ao pé do rio
gememos a saudade
nosso fado submisso
nossa água a correr.
Canção de mal devir
Souvenir Souvenir
deste povo de trégua
que se canta a morrer.
Aqui ao pé do vento
forjamos o lamento
dum país que se vende a peso nos prospectos
tanto de sol ardente
tanto de cal fervente
e uma nódoa de céu nos xailes pretos.
Aqui ao pé do fel
gritamos o segredo
do que parece fácil neste país de luz:
é apenas a fome.
É apenas o medo.
É apenas o sangue.
É apenas o pus.
"Resumo", Ary dos Santos
Futebol e futebóis
Foto Hernâni Von Doellinger |
Futebol. O Barcelona foi à Alemanha e levou uma abada, o Real Madrid também foi à Alemanha e levou outra. O fenómeno presta-se a inumeráveis considerações filosóficas, psicotácticas e tibiotársicas. Há Messi e tiki-taka, Mourinho e Cristiano Ronaldo, o último terço do terreno e o quarto segredo de Fátima. E é disto que se vai escrever e falar por estes dias, chutando para canto o essencial. O essencial é Portugal - perdoem-me a heresia. Não o Benfica e o Porto. Portugal mesmo, a vida dos portugueses do rés-do-chão. Mas quanto mais precisamos de nós, mais nos distraímos com futebóis. Ainda por cima, com os futebóis dos outros.
Etiquetas:
25 de Abril,
austeridade,
Barcelona,
crise,
Cristiano Ronaldo,
desporto,
Fátima,
fome,
futebol,
José Mourinho,
Liga dos Campeões,
Messi,
política,
Portugal,
Praia de Matosinhos,
Real Madrid,
tiki-taka
O outro lado da Guerra Colonial
Orlando Castro e Paulo F. Silva são os autores de "A História na Primeira Pessoa", uma série de 16 livros sobre a Guerra Colonial que começa a ser
distribuída com o jornal i a partir de amanhã.
Os dois jornalistas, nascidos em Angola, recolheram e compilaram as memórias e os pensamentos de veteranos e de soldados da época, leram cartas e relatórios. E agora apresentam os testemunhos de um Ultramar sem vencedores ou vencidos.
Os dois jornalistas, nascidos em Angola, recolheram e compilaram as memórias e os pensamentos de veteranos e de soldados da época, leram cartas e relatórios. E agora apresentam os testemunhos de um Ultramar sem vencedores ou vencidos.
terça-feira, 23 de abril de 2013
Em Portugal trabalhamos com a verga
Um empresário britânico chamado James McCormick vendeu aparelhos semelhantes aos que ajudam a encontrar bolas de golfe como se fossem capazes de detectar explosivos. Os seus melhores clientes foram países como o Iraque, a Geórgia e a Bélgica. Sim, a Bélgica. McCormick tem 56 anos e é milionário. Com este negócio terá conseguido aumentar a sua fortuna em cerca de 59 milhões de euros e foi condenado por fraude.
Entre swaps e submarinos, confesso que demorei a perceber como é que Portugal não caiu nesta. Mas acabei por chegar lá: em Portugal, país de vedores, trabalhamos com a verga. E a varinha nos basta.
Entre swaps e submarinos, confesso que demorei a perceber como é que Portugal não caiu nesta. Mas acabei por chegar lá: em Portugal, país de vedores, trabalhamos com a verga. E a varinha nos basta.
Etiquetas:
água,
auto-suficiência,
Bélgica,
explosivos,
fraude,
Geórgia,
golfe,
Grã-Bretanha,
Iraque,
James McCormick,
Justiça,
milionário,
subsolo,
varinha,
vedores,
vigaristas
25 de Abril em Fafe
A peça de teatro "Diz-lhes que não falarei nem que me matem" vai amanhã à cena em Fafe, no âmbito das comemorações do 25 de Abril. Programa completo do Dia da Liberdade e outra informação relacionada, aqui.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
A remodelação na continuidade
É possível que hoje tomem posse mais quatro ou cinco novos secretários de Estado. E amanhã mais dois ou três. Ou quatro. Depende.
Valentín Paz-Andrade
Galegos, meus irmaos,
veño de ter co-a morte.
Sin o agardar unha vez mais atopo
o ventureiro empalme con a vida.
Estóu na singladura do retorno,
con ollos recuncantes na alborada,
tímpano a se tremer en libres odas,
pernas reencanadas para andar
os camiños resucitados.
Veño da morte, irmaos, e no fardel,
pouco trouxen pra vos:
cicatrices de ferro nas palavras
Valentín Paz-Andrade, poema "Veño da morte"
(Valentín Paz-Andrade nasceu no dia 23 de Abril de 1898. Morreu em 1987.)
veño de ter co-a morte.
Sin o agardar unha vez mais atopo
o ventureiro empalme con a vida.
Estóu na singladura do retorno,
con ollos recuncantes na alborada,
tímpano a se tremer en libres odas,
pernas reencanadas para andar
os camiños resucitados.
Veño da morte, irmaos, e no fardel,
pouco trouxen pra vos:
cicatrices de ferro nas palavras
Valentín Paz-Andrade, poema "Veño da morte"
(Valentín Paz-Andrade nasceu no dia 23 de Abril de 1898. Morreu em 1987.)
sábado, 20 de abril de 2013
Hilda Hilst
Demora-te sobre a minha hora.
Antes de me tomar, demora.
Que tu me percorras cuidadosa, etérea
Que eu te conheça lícita, terrena
Duas fortes mulheres
Na sua dura hora.
Que me tomes sem pena
Mas voluptuosa, eterna
Como as fêmeas da Terra.
E a ti, te conhecendo
Que eu me faça carne
E posse
Como fazem os homens.
"Da morte. Odes mínimas", Hilda Hilst
(Hilda Hilst nasceu no dia 21 de Abril de 1930. Morreu em 2004.)
Antes de me tomar, demora.
Que tu me percorras cuidadosa, etérea
Que eu te conheça lícita, terrena
Duas fortes mulheres
Na sua dura hora.
Que me tomes sem pena
Mas voluptuosa, eterna
Como as fêmeas da Terra.
E a ti, te conhecendo
Que eu me faça carne
E posse
Como fazem os homens.
(Hilda Hilst nasceu no dia 21 de Abril de 1930. Morreu em 2004.)
Etiquetas:
cultura,
Da morte. Odes Mínimas,
Demora-te sobre a minha hora.,
Hilda Hilst,
literatura,
livros,
poesia,
poetas,
série Escritores
Matosinhos: a campanha está na rua
sexta-feira, 19 de abril de 2013
Rosa Lobato de Faria
Primeiro a tua mão
Primeiro a tua mão sobre o meu seio.
Depois o pé – o meu – sobre o teu pé.
Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.
É a onda do ombro que se instala
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia, de tão leve.
O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
A boca exige: quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
ímpeto que não ache um abandono.
Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
Somos a maré alta de quem ama.
Por fim o sono calmo, que não é
senão ternura, intimidade, enleio:
o meu pé descansando no teu pé,
a tua mão dormindo no meu seio.
"Poemas Escolhidos e Dispersos", Rosa Lobato de Faria
(Rosa Lobato de Faria nasceu no dia 20 de Abril de 1932. Morreu em 2010.)
Primeiro a tua mão sobre o meu seio.
Depois o pé – o meu – sobre o teu pé.
Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.
É a onda do ombro que se instala
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia, de tão leve.
O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
A boca exige: quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
ímpeto que não ache um abandono.
Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
Somos a maré alta de quem ama.
Por fim o sono calmo, que não é
senão ternura, intimidade, enleio:
o meu pé descansando no teu pé,
a tua mão dormindo no meu seio.
"Poemas Escolhidos e Dispersos", Rosa Lobato de Faria
(Rosa Lobato de Faria nasceu no dia 20 de Abril de 1932. Morreu em 2010.)
Etiquetas:
cultura,
literatura,
livros,
Poemas Escolhidos e Dispersos,
poesia,
poetas,
Primeiro a tua mão,
Rosa Lobato de Faria,
série Escritores
Jornadas Literárias de Fafe 2013
As 4.ªs Jornadas Literárias de Fafe arrancam hoje, prolongando-se até ao próximo dia 28 de Abril. Programa e outras informações, aqui.
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Manuel Bandeira
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Manuel Bandeira, "Libertinagem"
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Manuel Bandeira, "Libertinagem"
(Manuel Bandeira nasceu no dia 19 de Abril de 1886. Morreu em 1968.)
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Manuel Bandeira, "Libertinagem"
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Manuel Bandeira, "Libertinagem"
(Manuel Bandeira nasceu no dia 19 de Abril de 1886. Morreu em 1968.)
Etiquetas:
cultura,
Libertinagem,
literatura,
livros,
Manuel Bandeira,
Pneumotórax,
Poema tirado de uma notícia de jornal,
poesia,
poetas,
série Escritores
quarta-feira, 17 de abril de 2013
Monteiro Lobato
- A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. É, portanto, um pisca-pisca.
O Visconde ficou novamente pensativo, de olhos no teto.
Emília riu-se.
- Está vendo como é filosófica a minha ideia? O Senhor Visconde já está de olhos parados, erguidos para o forro. Quer dizer que pensa que entendeu... A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?
"Memórias da Emília", Monteiro Lobato
(Monteiro Lobato nasceu no dia 18 de Abril de 1882. Morreu em 1948.)
O Visconde ficou novamente pensativo, de olhos no teto.
Emília riu-se.
- Está vendo como é filosófica a minha ideia? O Senhor Visconde já está de olhos parados, erguidos para o forro. Quer dizer que pensa que entendeu... A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?
"Memórias da Emília", Monteiro Lobato
(Monteiro Lobato nasceu no dia 18 de Abril de 1882. Morreu em 1948.)
Antero de Quental
O Palácio da Ventura
Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
"Sonetos Completos", Antero de Quental
(Antero de Quental nasceu no dia 18 de Abril de 1842. Morreu em 1891.)
Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
"Sonetos Completos", Antero de Quental
(Antero de Quental nasceu no dia 18 de Abril de 1842. Morreu em 1891.)
terça-feira, 16 de abril de 2013
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Tribunal trava Menezes
Foto Hernâni Von Doellinger |
Luís Filipe Menezes está impedido de se candidatar à Câmara do Porto. Decisão do Tribunal, assinada pela juíza Cláudia Moreira Salazar, noticia o Público. Atenção: é favor colocar os capacetes - vem aí traulitada, e da grossa.
domingo, 14 de abril de 2013
Fernando Namora
Talvez o amanhecer ainda viesse longe. Mas não queria certificar-se pelo relógio. Ia esperar o novo dia junto da árvore a que se encostara horas antes (havia quanto tempo?), esperá-lo como a um acontecimento solene e infalível, mas do qual não se prevê de que lado surge nem a hora da chegada. No entanto, por cima do perfil desmantelado das casas, esboçava-se já uma levíssima claridade. Podia ser o alvorecer na sua silente caminhada ou qualquer outra coisa mais decisiva ainda. Ele queria imaginar que fosse outra coisa. O que viesse, porém, assim tão subtil e inevitável, vinha para purificá-lo. Vinha para decidi-lo.
Já não era noite, e ainda não era o amanhecer; nessa transição esvaziada a única coisa real e definitiva era a árvore. A árvore, as raízes. Tudo o mais pertencia a um espaço sem limites e distorcido, com a avenida, a cidade e as casas alongadas, feitas de uma pasta mole, esticada de um e outro lado por dedos oblongos; era um espaço sem espessura e sem contornos.
"O Homem Disfarçado", Fernando Namora
(Fernando Namora nasceu no dia 15 de Abril de 1919. Morreu em 1989.)
Já não era noite, e ainda não era o amanhecer; nessa transição esvaziada a única coisa real e definitiva era a árvore. A árvore, as raízes. Tudo o mais pertencia a um espaço sem limites e distorcido, com a avenida, a cidade e as casas alongadas, feitas de uma pasta mole, esticada de um e outro lado por dedos oblongos; era um espaço sem espessura e sem contornos.
"O Homem Disfarçado", Fernando Namora
(Fernando Namora nasceu no dia 15 de Abril de 1919. Morreu em 1989.)
sábado, 13 de abril de 2013
Aluísio Azevedo
Numa pequena mesa, coberta por um pedaço de chita, com o tinteiro ao lado da caixinha de papel, a menina escrevia, enquanto o dono ou dona da carta ditava em voz alta o que queria mandar dizer à família ou a algum mau devedor de roupa lavada. E ia lançando tudo no papel, apenas com algumas ligeiras modificações, para melhor, no modo de exprimir a idéia.
Pronta uma carta, sobrescritava-a, entregava-a ao dono e chamava por outro, ficando a sós com um de cada vez, pois que nenhum deles queria dar o seu recado em presença de mais ninguém senão de Pombinha. De sorte que a pobre rapariga ia acumulando no seu coração de donzela toda a súmula daquelas paixões e daqueles ressentimentos, às vezes mais fétidos do que a evaporação de um lameiro em dias de grande calor.
- Escreva lá, Nhã Pombinha! disse junto dela um cavouqueiro, coçando a cabeça; mas faça letra grande, que é pra mulher entender! Diga-lhe que não mando desta feita o dinheiro que me pediu, porque agora não o tenho e estou muito acossado de apertos; mas que lho prometo pro mês. Ela que se vá arranjando por lá, que eu cá sabe Deus como me coço; e que, se o Luís, o irmão, resolver de vir, que mo mande dizer com tempo, para ver se se lhe dá furo à vida por aqui; que isto de vir sem inda ter p’ronde, é fraco negócio, porque as coisas por cá não correm lá para que digamos!
E depois que a Pombinha escreveu, acrescentou:
- Que eu tenho sentido muito a sua falta dela; mas também sou o mesmo e não me meto em porcarias e relaxamento; e que tenciono mandar buscá-la, logo que Deus me ajude, e a Virgem! Que ela não tem de que se arreliar por mor do dinheiro não ir desta; que, como lá diz o outro: quando não há el-rei o perde! Ah! (ia esquecendo!) quanto à Libânia, é tirar daí o juízo! que a Libânia se atirou aos cães e faz hoje má vida na Rua de São Jorge; que se esqueça dela por vez e perca o amor às duas coroas que lhe emprestou!
E a menina escrevia tudo, tudo, apenas interrompendo o seu trabalho para fitar, com a mão no queixo, o cavouqueiro, à espera de nova frase.
"O Cortiço", Aluísio Azevedo
(Aluísio Azevedo nasceu no dia 14 de Abril de 1857. Morreu em 1913.)
Pronta uma carta, sobrescritava-a, entregava-a ao dono e chamava por outro, ficando a sós com um de cada vez, pois que nenhum deles queria dar o seu recado em presença de mais ninguém senão de Pombinha. De sorte que a pobre rapariga ia acumulando no seu coração de donzela toda a súmula daquelas paixões e daqueles ressentimentos, às vezes mais fétidos do que a evaporação de um lameiro em dias de grande calor.
- Escreva lá, Nhã Pombinha! disse junto dela um cavouqueiro, coçando a cabeça; mas faça letra grande, que é pra mulher entender! Diga-lhe que não mando desta feita o dinheiro que me pediu, porque agora não o tenho e estou muito acossado de apertos; mas que lho prometo pro mês. Ela que se vá arranjando por lá, que eu cá sabe Deus como me coço; e que, se o Luís, o irmão, resolver de vir, que mo mande dizer com tempo, para ver se se lhe dá furo à vida por aqui; que isto de vir sem inda ter p’ronde, é fraco negócio, porque as coisas por cá não correm lá para que digamos!
E depois que a Pombinha escreveu, acrescentou:
- Que eu tenho sentido muito a sua falta dela; mas também sou o mesmo e não me meto em porcarias e relaxamento; e que tenciono mandar buscá-la, logo que Deus me ajude, e a Virgem! Que ela não tem de que se arreliar por mor do dinheiro não ir desta; que, como lá diz o outro: quando não há el-rei o perde! Ah! (ia esquecendo!) quanto à Libânia, é tirar daí o juízo! que a Libânia se atirou aos cães e faz hoje má vida na Rua de São Jorge; que se esqueça dela por vez e perca o amor às duas coroas que lhe emprestou!
E a menina escrevia tudo, tudo, apenas interrompendo o seu trabalho para fitar, com a mão no queixo, o cavouqueiro, à espera de nova frase.
"O Cortiço", Aluísio Azevedo
(Aluísio Azevedo nasceu no dia 14 de Abril de 1857. Morreu em 1913.)
O Clube do Crachá
Foto ENRIC VIVES-RUBIO/PÚBLICO |
Dois ministros e quatro secretários de Estado tomaram posse. Um empossado e uma empossada já tinham direito ao crachá, eram da coisa: Marques Guedes lá compareceu em Belém de nacional pin na farpela; não sei se as senhoras do alegado Governo de Portugal também têm direito ao crachá e, se têm, onde é que o espetam, mas o de Teresa Morais não se viu. Poiares Maduro, Pedro Lomba, Emídio Guerreiro e Cardoso da Costa apareceram em público de lapela em branco. Compreende-se, estavam apenas a chegar à coisa, a partir de agora é que é de peito feito.
O cerimonial que deu na televisão foi seco e desnecessário - tal qual Cavaco Silva. O governo de Portugal é na Alemanha e as juras feitas em Lisboa, após vénia ao Presidente, valem tanto para os portugueses do rés-do-chão como promissória de operário no BPN. Melhor seria terem-nos mostrado o secreto rito da entrega do crachá, que infelizmente continua a ser realizado atrás das cortinas palacianas.
Deve ser emocionante. Para eles. Porque o que eles querem é pertencer ao Clube do Crachá. Pessoas notoriamente inteligentes como Maduro e Lomba, sabendo que não vão fazer nada, só se percebe que adiram à corja instalada porque desejam o crachá - e essa é a única notícia da tomada de posse, para além da ausência de Paulo Portas. O crachá é que é. Tão é que é que Miguel Relvas também lá foi mas já sem ele, quase nu. Perdeu o direito. Viva o crachá, viva, pin.
Etiquetas:
bandeira nacional,
BPN,
Cavaco Silva,
crachá,
Emídio Guerreiro,
governo,
Joaquim Cardoso da Costa,
Marques Guedes,
Passos Coelho,
Paulo Portas,
Pedro Lomba,
pin,
Poiares Maduro,
Teresa Morais
sexta-feira, 12 de abril de 2013
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Direito à existência e a um digno padrão de vida
E, ao nos dispormos a tratar dos direitos do homem, advertimos, de início, que o ser humano tem direito à existência, à integridade física, aos recursos correspondentes a um digno padrão de vida: tais são especialmente o alimento, o vestuário, a moradia, o repouso, a assistência sanitária, os serviços sociais indispensáveis. Segue-se daí que a pessoa tem também o direito de ser amparada em caso de doença, de invalidez, de viuvez, de velhice, de desemprego forçado, e em qualquer outro caso de privação dos meios de sustento por circunstâncias independentes de sua vontade.
Etiquetas:
Cavaco Silva,
Concílio Vaticano II,
doutrina social da Igreja,
encíclica,
Igreja Católica,
João XXIII,
Pacem in Terris,
Papa,
Passos Coelho,
Vaticano,
Vítor Gaspar
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Comida, carros e gajas
terça-feira, 9 de abril de 2013
Lugares-comuns 69
Etiquetas:
Dar Mlodziezy,
mar,
Matosinhos,
navio-escola,
navios,
Polónia,
Porto de Leixões,
série A ver navios,
série Lugares-comuns,
veleiro
segunda-feira, 8 de abril de 2013
Rali de Portugal: o regresso do filho pródigo
Fala-se de que o Rali de Portugal vai regressar ao Norte do País, de onde nunca deveria ter saído. Fala-se. Já se falava no ano passado e nestas coisas não faz mal nenhum ser como São Tomé, que era desconfiado e mesmo assim foi para o Céu. Mas vamos supor que sim, que isto não é só tesão à pala do enorme êxito do WRC Fafe Rally Sprint de anteontem. Duas edições, dois sucessos retumbantes - é preciso que se note. Vamos então supor que é a sério (à séria, se lido em Lisboa).
Diz-se que pode ser já para o ano. O Rali de Portugal com centro de operações e sessão-espectáculo no Porto e disputado a doer nas míticas classificativas das zonas de Fafe e Arganil. E porquê este regresso às origens? Porque, resumindo, parece que a FIA descobriu que afinal ter espectadores também dá jeito. No ano passado, a antiga piloto Michèle Mouton esteve no show da Lameirinha, na qualidade de manager do Mundial de Ralis, e ficou varada com a moldura humana que encontrou. Este ano, o próprio Jean Todt, presidente do organismo que tutela o desporto automóvel, fez questão de vir a Fafe ver para crer. Foi recebido em apoteose pela multidão e ficou encantado e convencido - rezam as crónicas.
Visivelmente entusiasmado com a paixão do povo do Norte pelos ralis, Todt terá levado que contar - decerto umas caixas do melhor verde da região e a marmita cheia de bolinhos de bacalhau e vitela assada como não há, mas sobretudo levou esta ideia, que fez muito bem em deixar também por cá: "Fafe é um bom exemplo do que devem ser os ralis".
Pois é. Mas isso já se sabia, há que anos. E que o público dos ralis é cá em cima. De Fafe e de todo o Norte, litoral e interior, da irmã Galiza e doutros sítios da Espanha mais próxima. Então porque é que levaram o Rali de Portugal ao engano para o Algarve? E porque é que Pedro Almeida, director da prova, ainda no ano passado invocava "todo um conjunto de condições imposto pela FIA [...] e questões técnicas relacionadas com o próprio campeonato" para classificar como improvável o retorno ao passado que agora se anuncia? O que é que mudou? Quem é que mudou de opinião? No fundo, quem foi que tirou o rali ao povo: a FIA ou... o ACP?
Mas pronto, o bom filho a casa torna, faça-se a festa. Hoje não tenho a menor dúvida de que o Rali de Portugal regressa ao Norte por causa de Fafe. Fafe que persistiu e investiu. Cerca de 200 mil euros, só para a edição deste ano do Rally Sprint, de acordo com José Ribeiro, presidente da autarquia. Não percebo de dinheiro, não sei se é muito ou se é pouco, mas devo admitir que julgava que fosse mais. Fafe fez bem.
Consta, portanto, que o Rali de Portugal será devolvido ao povo e ao Norte já em 2014. Consta que irá ao Porto e andará por Arganil. Se for verdade, agradeçam a Fafe.
(Ler mais em O desnorte do ACP)
Diz-se que pode ser já para o ano. O Rali de Portugal com centro de operações e sessão-espectáculo no Porto e disputado a doer nas míticas classificativas das zonas de Fafe e Arganil. E porquê este regresso às origens? Porque, resumindo, parece que a FIA descobriu que afinal ter espectadores também dá jeito. No ano passado, a antiga piloto Michèle Mouton esteve no show da Lameirinha, na qualidade de manager do Mundial de Ralis, e ficou varada com a moldura humana que encontrou. Este ano, o próprio Jean Todt, presidente do organismo que tutela o desporto automóvel, fez questão de vir a Fafe ver para crer. Foi recebido em apoteose pela multidão e ficou encantado e convencido - rezam as crónicas.
Visivelmente entusiasmado com a paixão do povo do Norte pelos ralis, Todt terá levado que contar - decerto umas caixas do melhor verde da região e a marmita cheia de bolinhos de bacalhau e vitela assada como não há, mas sobretudo levou esta ideia, que fez muito bem em deixar também por cá: "Fafe é um bom exemplo do que devem ser os ralis".
Pois é. Mas isso já se sabia, há que anos. E que o público dos ralis é cá em cima. De Fafe e de todo o Norte, litoral e interior, da irmã Galiza e doutros sítios da Espanha mais próxima. Então porque é que levaram o Rali de Portugal ao engano para o Algarve? E porque é que Pedro Almeida, director da prova, ainda no ano passado invocava "todo um conjunto de condições imposto pela FIA [...] e questões técnicas relacionadas com o próprio campeonato" para classificar como improvável o retorno ao passado que agora se anuncia? O que é que mudou? Quem é que mudou de opinião? No fundo, quem foi que tirou o rali ao povo: a FIA ou... o ACP?
Mas pronto, o bom filho a casa torna, faça-se a festa. Hoje não tenho a menor dúvida de que o Rali de Portugal regressa ao Norte por causa de Fafe. Fafe que persistiu e investiu. Cerca de 200 mil euros, só para a edição deste ano do Rally Sprint, de acordo com José Ribeiro, presidente da autarquia. Não percebo de dinheiro, não sei se é muito ou se é pouco, mas devo admitir que julgava que fosse mais. Fafe fez bem.
Consta, portanto, que o Rali de Portugal será devolvido ao povo e ao Norte já em 2014. Consta que irá ao Porto e andará por Arganil. Se for verdade, agradeçam a Fafe.
(Ler mais em O desnorte do ACP)
Etiquetas:
ACP,
Algarve,
Arganil,
automobilismo,
desporto,
Espanha,
Fafe,
fafenses,
FIA,
Galiza,
Jean Todt,
José Ribeiro,
Michèle Mouton,
Norte,
Pedro Almeida,
Porto,
Rali de Portugal,
WRC Fafe Rally Sprint
domingo, 7 de abril de 2013
Almada Negreiros
E vós ó gentes que tendes patrões,
autómatos do dono a funcionar barato!
Ó criadas novas chegadas de fora p'ra todo o serviço!
Ó costureiras mirradas,
emaranhadas na vossa dor!
Ó reles caixeiros, pederastas do balcão,
a quem o patrão exige modos lisonjeiros
e maneiras agradáveis pròs fregueses!
Ó Arsenal fadista de ganga azul e coco socialista!
Ó saídas pôr-do-sol das Fábricas d'Agonia!
E vós também, ó toda a gente, que todos tendes patrões!
E vós também, nojentos da Política
que explorais eleitos o Patriotismo!
Maquereaux da Pátria que vos pariu ingénuos
e vos amortalha infames!
E vós também, pindéricos jornalistas
que fazeis cócegas e outras coisas
à opinião pública!
E tu também roberto fardado:
Futrica-te espantalho engalonado,
apeia-te das patas de barro,
larga a espada de matar
e põe o penacho no rabo!
Ralha-te mercenário, asceta da Crueldade!
Espuma-te no chumbo da tua valentia!
Agoniza-te Rilhafoles armado!
Desuniversidadiza-te da doutorança da chacina,
da ciência da matança!
Groom fardado da Negra,
pária da Velha!
Encaveira-te nas esporas luzidias de seres fera!
Despe-te da farda,
desenfia-te da Impostura, e põe-te nu, ao léu
que ficas desempregado!
Almada Negreiros, "A Cena do Ódio", excerto
(Almada Negreiros - poeta sensacionalista, Narciso do Egipto, futurista e tudo - nasceu no dia 7 de Abril de 1893. Morreu em 1970.)
autómatos do dono a funcionar barato!
Ó criadas novas chegadas de fora p'ra todo o serviço!
Ó costureiras mirradas,
emaranhadas na vossa dor!
Ó reles caixeiros, pederastas do balcão,
a quem o patrão exige modos lisonjeiros
e maneiras agradáveis pròs fregueses!
Ó Arsenal fadista de ganga azul e coco socialista!
Ó saídas pôr-do-sol das Fábricas d'Agonia!
E vós também, ó toda a gente, que todos tendes patrões!
E vós também, nojentos da Política
que explorais eleitos o Patriotismo!
Maquereaux da Pátria que vos pariu ingénuos
e vos amortalha infames!
E vós também, pindéricos jornalistas
que fazeis cócegas e outras coisas
à opinião pública!
E tu também roberto fardado:
Futrica-te espantalho engalonado,
apeia-te das patas de barro,
larga a espada de matar
e põe o penacho no rabo!
Ralha-te mercenário, asceta da Crueldade!
Espuma-te no chumbo da tua valentia!
Agoniza-te Rilhafoles armado!
Desuniversidadiza-te da doutorança da chacina,
da ciência da matança!
Groom fardado da Negra,
pária da Velha!
Encaveira-te nas esporas luzidias de seres fera!
Despe-te da farda,
desenfia-te da Impostura, e põe-te nu, ao léu
que ficas desempregado!
Almada Negreiros, "A Cena do Ódio", excerto
(Almada Negreiros - poeta sensacionalista, Narciso do Egipto, futurista e tudo - nasceu no dia 7 de Abril de 1893. Morreu em 1970.)
sábado, 6 de abril de 2013
E o Relvas vai para...
Os candidatos são: Caixa Geral de Depósitos, EDP, PT, Galp e Mota-Engil. (E também o Banco de Portugal, a Refer, a CMVM, a CP, a Santa Casa da Misericórdia, os CTT, a Iberdrola, o Teatro Nacional de São Carlos, a Administração dos Portos do Douro e Leixões, a RTP, a Estradas de Portugal, a ERC, o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, o Metro de Lisboa, a Lusoponte, a Academia Portuguesa de História, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, a Pousada da Juventude de Braga, o SIEV - que ninguém sabe onde mora e o que faz -, e o Conselho de Ministros, como o outro). E o Relvas vai para...
O homem do boletim meteorológico
Na sexta-feira, Cavaco Silva disse ao País que o Governo "tem toda a legitimidade para governar". Hoje, sábado, Cavaco Silva escreveu ao País dizendo que o Governo "dispõe de condições para cumprir o mandato democrático em que foi investido". Claro que era muito melhor termos Presidente da República, mas, à falta disso, cá estarei atento ao boletim meteorológico de amanhã, domingo.
Etiquetas:
boletim meteorológico,
Cavaco Silva,
crise,
governo,
Miguel Relvas,
Passos Coelho,
Presidente da República,
Tribunal Constitucional
sexta-feira, 5 de abril de 2013
quinta-feira, 4 de abril de 2013
terça-feira, 2 de abril de 2013
Lugares-comuns 68
Etiquetas:
Dar Mlodziezy,
mar,
Matosinhos,
navio-escola,
navios,
Polónia,
Porto de Leixões,
série A ver navios,
série Lugares-comuns,
veleiro
Maria Clara Machado
Velha medonha, de faca na mão,
voando sentada no vassourão!
Olha a bruxa, olha a bruxa, iê, iê, iê...
A velha quer pegar criança pra fazer sabão...
Narrador - E chegou o dia do exame! O próprio Bruxo Belzebu III, chefe de bruxaria da floresta, cuidaria de escolher a terrível ganhadora da vassoura a jato.
Bruxa-chefe - Bruxinhas, silêncio! O Bruxo está chegando!
Bruxo - Com licença, Bruxa-chefe?
Bruxa-chefe - Entre, senhor Bruxo Belzebu III, único senhor desta floresta, rei de todas as feitiçarias, imperador das maldades, hã, hã, hã...
Bruxo - Chega, chega, Bruxa-chefe! Meninas, vocês sabem que a floresta anda cheia de fadas, de risos, de crianças, de musiquinhas... É preciso acabar com tudo isso. Estão faltando feiticeiras, maldades, gênios do mal... A floresta tem que ser nossa novamente! E eu conto com vocês!
Se a floresta, se a floresta fosse minha...
Eu mandava, eu mandava povoar
de feitiços, de feitiços e maldades,
para o meu, para o meu Bruxo passar!
"A Bruxinha Que Era Boa", Maria Clara Machado
(Maria Clara Machado nasceu no dia 3 de Abril de 1921. Morreu em 2001.)
voando sentada no vassourão!
Olha a bruxa, olha a bruxa, iê, iê, iê...
A velha quer pegar criança pra fazer sabão...
Narrador - E chegou o dia do exame! O próprio Bruxo Belzebu III, chefe de bruxaria da floresta, cuidaria de escolher a terrível ganhadora da vassoura a jato.
Bruxa-chefe - Bruxinhas, silêncio! O Bruxo está chegando!
Bruxo - Com licença, Bruxa-chefe?
Bruxa-chefe - Entre, senhor Bruxo Belzebu III, único senhor desta floresta, rei de todas as feitiçarias, imperador das maldades, hã, hã, hã...
Bruxo - Chega, chega, Bruxa-chefe! Meninas, vocês sabem que a floresta anda cheia de fadas, de risos, de crianças, de musiquinhas... É preciso acabar com tudo isso. Estão faltando feiticeiras, maldades, gênios do mal... A floresta tem que ser nossa novamente! E eu conto com vocês!
Se a floresta, se a floresta fosse minha...
Eu mandava, eu mandava povoar
de feitiços, de feitiços e maldades,
para o meu, para o meu Bruxo passar!
"A Bruxinha Que Era Boa", Maria Clara Machado
(Maria Clara Machado nasceu no dia 3 de Abril de 1921. Morreu em 2001.)
Etiquetas:
A Bruxinha Que Era Boa,
actores,
Brasil,
cultura,
escritores,
literatura,
livros,
Maria Clara Machado,
peças infantis,
teatro,
teatro infantil
Um clássico dos mares
Etiquetas:
cruzeiros,
Discovery,
mar,
Matosinhos,
navios,
paquetes,
passageiros,
Porto de Leixões,
série A ver navios,
série Lugares-comuns
Com os copos não há meias medidas
Há duas posições fundamentais nos copos: o copo cheio e o copo vazio. Ao copo cheio dá-se-lhe um beijinho e o copo vazio deve ser escorropichado. O resto é conversa.
Subscrever:
Mensagens (Atom)