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| Foto Hernâni Von Doellinger | 
Areia macia e morna, água, o sal da terra, cheiro a argaço, sol quando 
Deus quer, a brisa nas ventas, o falar das ondas, o silêncio do 
horizonte a ganhar de vista, madrugadas de pés molhados, ocasos de fogo,
 Apúlia, um fino bem tirado, pescadores, peixeiras, surfistas, 
parassurfistas, ciclistas e todos os tipos de nudistas, a Foz, 
Matosinhos, a ver navios, os números do Porto de Leixões, camarão da 
costa, gambas no Peixoto de Fafe, cracas em São Mateus, alcatra de peixe
 no Boca Negra, lapas em casa do Victor e da Ana, ilha Terceira, ilha 
Terceira, ilha Terceira, ecos de Nemésio, mexilhões de vinagreta, 
masoquistas esturricando agosto e areando os entrefolhos, amêijoas à 
Bulhão Pato no portinho de Âncora, o bacalhau assado na brasa do Senhor 
Álvaro em Valença, o bacalhau assado no forno pela minha mãe, o bacalhau
 de quarto da minha avó de Basto, os bolinhos de bacalhau da minha avó 
da Bomba, a punheta de bacalhau do meu cunhado Álvaro, as trutas "do 
Coura" do querido amigo Vilaça Pinto, que, palavra de honra, era como se
 fossem marítimas, polvo de molho-verde, as lulas recheadas da minha 
sogra, as sardinhas da Dona Dina, navalhas na chapa, arroz de tomate com
 petinga, ou com jaquinzinhos, ou arroz de grelos com, ou arroz de 
feijão com, mas malando, malandro, malandro, ou, supra-sumo dos 
supra-sumos, o arroz de feijão vermelho com grelos e bacalhau frito da 
minha cunhada Isabel, fanecas, biqueirão, marmotinha de rabo na boca, 
filetes de peixe-galo, a raia frita do Salta o Muro aqui à porta, a 
lagosta da ilha de São Jorge comida à ganância e à moina, as percebes da
 ilha do Sal, as 
bandejas das rias galegas, carapaus grelhados no
 quintal do meu sogro, ostras de Setúbal degustadas em Bordéus, a mastodôntica cabeça de pescada que vou cozer para o jantar, os 
tremoços da Marrequinha da Recta. Isto são delícias do mar. Outra coisa 
não:
Fitas de nastro tingidas de cor-de-rosa gomitado, cortadas em palitos 
empacotados em vácuo e refrigerados não são, por mais que lhes chamem, 
delícias do mar! Não, não e não!