segunda-feira, 14 de maio de 2018

Ganymédes José

A casa era baixa, não rebocada. Vista de longe, parecia achatada no chão. O pé de bucha subia verde seco pela cerca de bambu do jardim, cobrindo parte do telhado do alpendre.
Quase todas as casas na Vila Santa Cecília eram parecidas - menos o sobrado que o Zé estava construindo. O Zé era jovem, animado, pedreiro, e os outros tinham inveja dele. Existia pouca beleza na vila. O pessoal não podia se dar o luxo de coisas bonitas; quase tudo era de segunda ou mesmo material aproveitado de construções demolidas. Por isso, certas casinhas tinham janela pequena de um lado, janelão de outro, portinha baixa e até portãozinho de ferro em cerca de bambu. Também as ruas eram abandonadas, a prefeitura nunca mandava passar a máquina nem fechar os buracos que as enxurradas abriam durante as chuvas. Na época da seca, a poeira subia fina, provocando resfriado em todo mundo. E, durante o ano inteiro, a água usada em pias e tanques empoçava por ali, porque na vila não existia esgoto. Nem água encanada. Quando muito tinha luz e uma fileira de postes sem lâmpadas. Porque os próprios moleques da vila viviam quebrando-as.


"Super G", Ganymédes José

(Ganymédes José nasceu no dia 15 de Maio de 1936. Morreu em 1990.)

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