quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Samora Machel

Onde te encontrar?

Não te encontrei na casa.
  Mas no rosto de toda a gente,
    na machamba e na horta,
     Vi-te viva.

Encontrei-te nas crianças
  e nos velhos,
   nas mulheres,

    nos adultos e nos inválidos,

Encontrei-te na vida nova
  que cresce
    também

     pelo teu exemplo e sangue.

Não conheço a tua tribo,
  não conheço a tua região
   não conheço a escola que frequentaste.

Conheço-te
  e encontro-te em toda a gente que vive a transformação.

Tinha razão de te amar,
  que amei-te nas qualidades novas,
   os valores que criam a esperança de amanhã.

É doloroso assim
          perder a mulher

            que foi mãe nas crianças,
              irmã nos camaradas,
                 companheira nas armas
                    e ternura no amor.


É doloroso perdermos o quadro.
  É doloroso perdermos a mulher
    que soube na revolução emancipar-se.

É doloroso perdermos-te
  quando ainda somos tão poucos
   e tanto resta a fazer.

É doloroso perdermos
  aquela que combinou a inteligência
   com o matope para fazer crescer a planta nova.
É doloroso perdermos
  quem no mundo, na pátria,
   assumiu a nova mulher moçambicana.

É doloroso perder
    a força da tua juventude,
      a generosidade pela vida
        que desprezou o sacrifício
          até à morte.

É doloroso
   ver cair a árvore jovem.

É doloroso.
    Doloroso

       como o fogo
         que torna o ferro maleável
            para que este seja enxada.
Doloroso
    como a lâmina da enxada ferindo a terra
      para que a semente cresça.

Doloroso porque necessário.
     Doloroso.
        Por isso
         seremos mais e melhores
          e iremos mais longe,
           dolorosamente estimulados
            pelo teu exemplo. 
Como teu marido
     enraízo-me na tua recordação
         para encontrar a força de continuar
            a longa marcha
               até à vitória final.
 

Assim,
     na luta,
         na revolução,
             te encontro continuamente.
A minha vida pertence à revolução.

Samora Machel

(Samora Machel nasceu no dia 29 de Setembro de 1933. Morreu em 1986.)

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