A voz era a mesma de vinte anos atrás, e a dor, desconforto prenunciando dor, que eu impeço, ficando uma inquietação indefinida que converto em retirada, o caminho coberto de fortificações e trincheiras verbais, uma obstrução de movimento.
"Howdy there. Victor here. Long time no see."
Falamos às vezes assim, alguns de nós, desmamados por Hollywood, quando nossos pais liam Anatole France, "ironia fina", e, ao percebermos, lemos Eliot e procuramos absolvição em Auden. Não reconhecemos Machado de Assis e não conhecemos de verdade Drummond e Rosa, ou só como "navios cruzando na noite", ou de escola, decoreba & cola.
Glauber pega porque é selvagem. Há nele o criminoso potencial que imitamos em pensamentos e nunca recriamos em atos.
Meu nome é Hugo Mann e emito um "oi" folclórico, sou convidado a beber no Ouro Verde, "assunto importante". Não há assunto ou importância possível entre nós. É um jeito da gente falar. Sim, já houve momentos partilhados, mas vivo no presente por assim dizer.
Não somos sérios o bastante para ter passado ou futuro.
"Cabeça de Papel", Paulo Francis
(Paulo Francis nasceu no dia 2 de Setembro de 1930. Morreu em 1997.)
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