Avarento
Puxando um avarento de um pataco
Para pagar a tampa de um buraco
Que tinha já nas abas do casaco,
Levanta os olhos, vê o céu opaco,
Revira-os fulo e dá com um macaco
Defronte, numa loja de tabaco,
Que lhe fazia muito mal ao caco!
Diz ele então
Na força da paixão:
- Há casaco melhor que aquela pele?
Trocava o meu casaco por aquele...
E até a mim... por ele.
Tinha razão,
Quanto a mim.
Quem não tem coração,
Quem não tem alma de satisfazer
As niquices da civilização,
Homem não deve ser;
Seja saguim,
Que escusa tanga, escusa langotim.
Vá para os matos,
Já não sofre tratos
A calçar botas, a comprar sapatos.
Viva nas tocas como os nossos ratos,
E coma cocos, que são mais baratos!
"Campo de Flores", João de Deus
(João de Deus nasceu no dia 8 de Março de 1830. Morreu em 1896.)
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