O mundo vai acabar dentro de exactamente 59 minutos. Pelas contas do
pastor evangélico norte-americano Harold Camping, que se costuma enganar
muito, mas desta vez é que é, o Apocalipse chega daqui a um bocado: às
20 horas de sexta-feira na terra dele, uma da manhã de sábado em
Portugal continental. Foi o que ele disse aos seus discípulos. E eu só
espero que ninguém se aleije. Mas não ficou claro, pelo menos para mim,
se o fim do mundo é o fim da América, porque, para os americanos, a
América é o mundo, ou se nos toca a todos, incluindo o principado de
Sealand e essa pequena adjacência chamada China.
(Por
falar em China, falemos também na Hungria. O que é que deu aos chineses
e aos húngaros para julgarem que são mais infelizes do que os
portugueses? Nem uns nem outros tiveram o Sócrates e o Teixeira dos
Santos, não têm o Passos Coelho nem o Vítor Gaspar, não fazem ideia de quem é Cavaco Silva, queixam-se de quê? A que propósito é que
chineses e húngaros ficaram à frente de Portugal num inquérito da OCDE,
envolvendo 40 países, sobre os mais insatisfeitos com a vida?)
Antes
que o mundo acabe, quero, porém, esclarecer o seguinte: bacalhau à
espanhola não é caldeirada de bacalhau, tão-pouco ensopado de bacalhau.
Bacalhau à espanhola é um prato que pede azeite e não água. É quase um
guisado, de molho grosso e aveludado, e com o tempero apurado até aos
limites legais de sal, pimenta, alho, louro e salsa. Por
mim, também malagueta. Colorau, um nada só para dar cor. E, tomem nota, o pimento e
o tomate são duas desnecessidades usadas apenas por quem pensa, mas não
sabe, que só assim é que é "à espanhola". Erro crasso. O bacalhau à
espanhola é à portuguesa!
O bacalhau até pode ser de quarto,
daquele que, inteiro, não mede mais do que um palmo. E pode ser pouco.
Não faz diferença nenhuma. O importante é o gosto que o bacalhau
empresta, o equilíbrio do tempero geral, a consistência
da molhanga. Quando eu era pequeno e os tempos eram de pobreza como os
de agora, a minha mãe fazia um bacalhau à espanhola a que, honestamente, chamava batatas à espanhola. E vocês não fazem
ideia do que perderam por nunca terem provado as batatas à espanhola da
minha mãe...
E pronto, era isto. O mundo já pode acabar. Estou preparado, enfim de
consciência tranquila. Andava com esta espinha atravessada na garganta
desde o almoço da passada terça-feira, aí num sítio. E agora, se me dão
licença, vou à cozinha salgar uns ossinhos da suã para o jantar de
logo à noite.
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