Antigamente o 1.º Maio era no dia 28 do mesmo. Quando digo antigamente
quero dizer antes do 25 de Abril de 1974, que já é antigamente que
chegue - que o confirmem os deputados da nação, cujos mais de um terço
ainda não tinham nascido quando a coisa se deu. Um por exemplo: o
estádio do SC Braga na Ponte, antes da extraordinária Pedreira do
arquitecto Souto Moura, chamava-se Estádio 28 de Maio. Por questões
políticas e não de calendário litúrgico, rito bracarense: chamava-se 28
de Maio glorificando o golpe militar que naquela data, em 1926, derrubou
a Primeira República e abriu caminho à ditadura do Estado Novo. De
corte fascista, o Estádio 28 de Maio, que ainda está de pé, tentava
aparentar-se e rivalizar com o Estádio Nacional, no Jamor, ou em
Oeiras, consoante a dor de cotovelo de cada qual, e foi inaugurado, em
1950, por Salazar e Carmona, que assim dito até parecem uma alegre
sociedade de costureiros. Veio a revolução dos cravos e o estádio mudou
de nome, passou a chamar-se Estádio 1.º de Maio, viva o Dia dos
Trabalhadores, viva a classe operária!, mais ajuizado seria que se
tivesse chamado sempre Campo da Quinta da Mitra.
Em todo o caso, como já escrevi aqui, mudar o nome do velho estádio de
Braga, de 28 de Maio para 1.º de Maio, só demonstra (num raciocínio
assumidamente palerma e suinamente fascistóide) que a Outra Senhora
levava 27 dias de avanço em relação a Esta Senhora e que as revoluções
cometem-se sobretudo e quase só para mudar os nomes das ruas, praças,
pontes, estádios e outro imobiliário.
Querem outro por exemplo? O Estádio 25 de Abril, de Penafiel. Antes da
"política", aquele terreiro chamava-se Campo das Leiras. Que mal é que
tinha o nome?
O 28 de Maio de 1926 foi praticamente como o 25 de Abril de 1974, mas em
versão fascista. Começou em Braga e chegou a Lisboa atrás do cavalo
branco de Gomes da Costa, uma espécie de chaimite daquele tempo.
Antes do 25 de Abril, os 28 de Maio eram celebrados com desfiles, por
assim dizer, militares: Mocidade Portuguesa, Legião Portuguesa,
certamente bombeiros e escuteiros, provavelmente ranchos folclóricos e
evidentemente soldados propriamente ditos. A Veneranda Figura lá estava,
mas o de Santa Comba se calhar não, porque constipava muito de saísse à
rua e o povo fazia-lhe espécie. Havia discursos, condecorações e
sobretudo muitas fanfarras, a bem da Nação. O bom povo português
assistia a tudo patrioticamente embebecido, se não me engano com
aguardente, porque as cerimónias eram de manhã.
Uma vez eu também lá fui. Estava no seminário, em Braga, e os padres
levaram-nos. Fomos portanto levados. Gostei muito, porque o meu tio Zé
de Basto era corneteiro na fanfarra do Regimento de Infantaria 8 e eu já
não o via há uma temporada. Pusemos a conversa em dia.
Resumindo e concluindo: Portugal continua a ser o mesmo, só o tio Zé é que já não anda na tropa...
sexta-feira, 30 de abril de 2021
Quando o 1.º de Maio era no dia 28 do mesmo
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