terça-feira, 7 de abril de 2020

Os cónegos dividem-se em três partes

Há coisa de quarenta anos, os cónegos não eram uma classe respeitada por aí além, mesmo ou principalmente no interior da Igreja. Naquele tempo, cónegos eram anedotas contadas por padres que não eram cónegos. Inveja? Sei lá eu. Parece que o tique vinha de trás e atiravam a culpa ao Eça.
Os cónegos que então conheci afiguravam-se-me criaturas patuscas, isso é certo. Geralmente baixinhos, barrigudos e corados, sebentos às vezes, os cónegos eram uns cromos, caricaturas deles próprios. Também não sei se ficaram assim depois e por causa de terem ido para cónegos ou se aqueles é que eram os requisitos necessários e critérios de selecção.
Uma vez, um padre recém-ordenado, mestre e amigo, ensinou-me que a classe dos cónegos se dividia em três categorias: "os cónegos de merda, a merda de cónegos e os cónegos a sério" - que seriam os da sé propriamente dita, eventualmente os cónegos com cargo no cabido. O meu mestre e amigo suponho que actualmente é cónego, mas não sei de que categoria.
Como funciona agora com os cónegos, confesso que desconheço. Mas acredito nisto: quarenta anos não dão para nada na Igreja instituição, não dão sequer para meter a chave à porta - quanto mais para puxar o autoclismo.

P.S. - Publicado originalmente no dia 11 de Julho de 2013. Os cónegos sempre me fizeram rir: olhem-lhes para as vestimentas cerimoniais e digam-me se não pensam logo no circo...

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