A carne
Carne mimosa, carne cor de rosa
Nada mais sois, oh anjos, na poesia
Dos vates dissolutos de hoje em dia,
Nos romances de amor, hedionda prosa.
A vossa alma gentil, ideal, mimosa,
Nestas idades de descrença ímpia,
Como escondida numa estátua fria,
Sonha e não voa, de voar medrosa!
Anjos, chorai o Amor! Com voz dolente
Dizei-lhe adeus! Bronco recife
Se apruma entre ele e vós, cruel, ingente:
Que por mais que de vinhos o borrife,
Ninguém gosta de ver, continuamente,
Diante de si, fatal, o mesmo bife!
"Novas Rimas", João Penha
(João Penha nasceu no dia 29 de Abril de 1838. Morreu em 1919.)
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