A negra
Negra gentil, carvão mimoso e lindo
Donde o diamante sai,
Filha do Sol, estrela requeimada,
Pelo calor do Pai.
Encosta o rosto, cândido e formoso,
Aqui no peito meu,
Dorme, donzela, rola abandonada
Porque te velo eu.
Não chores mais, criança, enxuga o pranto
Sorri-te para mim,
Deixa-me ver as pérolas brilhantes,
Os dentes de marfim.
No teu divino seio existe oculta
Mal sabes quanta luz,
Que absorve a tua escurecida pele,
Que tanto me seduz.
Eu gosto de te ver a negra e meiga
E acetinada cor,
Porque me lembro, ó Pomba, que és queimada
Pelas chamas do amor;
Que outrora foste neve e amaste o lírio,
Pálida flor do vale,
Fugiu-te o lírio: um triste amor queimou-te
O seio virginal.
Não chores mais, criança, a quem eu amo,
Ó lindo querubim,
O amor é como a rosa, porque vive
No campo ou no jardim.
Tu tens o amor ardente, e basta
Para ser feliz;
Ama a violeta que a violeta adora-te
Esquece a flor-de-lis.
Caetano da Costa Alegre
(Caetano da Costa Alegre nasceu no dia 26 de Abril de 1864. Morreu em 1890.)
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