sábado, 25 de abril de 2020

Não sei quem sou por dentro de mim

Pensou, líquido: - Não sei quem sou por dentro de mim. Olho-me no espelho do elevador, não tenho por onde fugir, e vejo-me apenas por fora. O espelho do elevador é o meu espelho único. Tento ser sincero com ele, justo comigo mesmo, olho-me olhos nos olhos mas só vejo os olhos que olham para mim. Vejo que os olhos que me olham vêem um velho sem passado e, parece-me, com pressa de envelhecer ainda mais. Saio à rua e caminho sem saber quem sou por dentro de mim.
E concluiu, sólido: - Acho que tenho a mania de que sou filósofo amador e um bocado poeta. Uma coisa é certa, sou parvo.

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