Pela calçada da Maria da Fonte
Pela calçada da Maria da Fonte
manhã cedo, muito cedo,
a caminho da Baixa,
desce um formigueiro negro de povo.
É um rio novo que avança;
rostos duros, olhos mortiços,
deixaram ficar no Musseque
as histórias da noite que dura.
Pela calçada da Maria da Fonte
seis e meia. Os sonhos regressam
com a noite que desce. Pelos caminhos
há olhares, promessas de beijos
e ritmos quentes a transbordar...
Rostos duros, olhos de álcool
lentamente o formigueiro negro de povo
desagua Musseque em fora.
Pela calçada da Maria da Fonte
o povo desce, caminha, rumoreja,
lembra por ora um mar tranquilo
a vencer distâncias antigas.
"Poemas de Circunstância", António Cardoso
(António Cardoso nasceu no dia 8 de Abril de 1933. Morreu em 2006.)
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