quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Microcontos & outras miudezas 53

O que fazer com este presépio?
Joseph Ratzinger tinha 85 anos quando, em 2012, escangalhou o presépio. Tirou a vaca e o burro, porque - dizia o então Papa de serviço - no local do nascimento de Jesus "não havia animais". Portanto também não havia ovelhinhas, o que quer dizer que também não houve pastorinhos do deserto. Sobram, isso sim, os três reis magos. Gente fina, vinho de outra pipa. Reis. E magos (porque o champanhe ainda não tinha sido inventado). Esses, é certo, estiverem lá, em representação de toda a humanidade - segundo Bento XVI. Estiveram os reis magos e os anjos cantores.
Eu por acaso até era mais dado a acreditar no burro e na vaca do que na mirabolante história de Gaspar, Melchior e Baltasar, uma boa linha média para quem jogue em 4-3-3, mas que se há-de fazer? Mais de dois mil anos a aquecerem o Menino com os respectivos bafos e é este o pagamento que o burrinho e a vaquinha recebem.
Sempre atento às verdadeiras e mais urgentes necessidades do mundo e da cristandade, Ratzinger resolveu escangalhar o presépio. Estava no seu direito. Mas no meu não mexe!

Jardins que sobem pelas paredes
O jornal anunciou: em Lisboa há um jardim que sobe pelas paredes. Na Madeira havia outro.

O circo somos nós
Compreendia as bancadas vazias dos circos. Os circos eram, por aqueles dias tristes e desesperançados, um luxo e uma redundância. Um anacronismo. A magia e o sonho eram delito. A felicidade foi proibida por decreto. A gargalhada, se fosse popular, era considerada um desperdício. A "escola moderna" era aquela que ensinava que a "vida não é só alegria", dizia o então ministro da Educação Nuno Crato, que é desse tempo que falo. A escola moderna é aquela que fecha, dizia eu. Não há dinheiro, não há circo.
O circo somos nós - camelos, ursos, jacarés em camisolas, asnos e leões mansos. Homens-bala de pólvora seca, malabaristas, contorcionistas, ilusionistas, equilibristas, palhaços - somos nós, porque nos mandam e porque somos o único circo a que temos direito. Vivemos na corda bamba e sem rede. Tiraram-nos a rede, esticam-nos a corda, caímos que nem tordos sem capacete. Por mim, deixo em testamento: quando já não houver ninguém em cima dela, podem também levar a corda. Usem-na.
Por outro lado: o circo está na cidade. E eu vou-me rir, vou-me rir, vou-me rir...

Eu quero uma república das bananas. E do pão.
A questão foi pertinentemente colocada numa reportagem televisiva, aqui há coisa de cinco anos, portanto no tempo do Passos e do Cavaco. Que República queremos ter? Se me perguntassem a mim - mas a mim só me perguntam o caminho para o IKEA de Matosinhos -, eu tinha a resposta na ponta da língua: quero uma república das bananas. E das maçãs e dos pêssegos, do pão e do carapau, do frango de aviário e do leite, da massa de cotovelo e da água. Uma república republicana, com comida na mesa, até na mesa dos trabalhadores. E com trabalho para os trabalhadores. E com gente séria no Governo. E com um presidente que seja da República e deste mundo (como parece que temos agora...).
É decerto por ter estas ideias malucas que ninguém me pergunta nada, a não ser o caminho para o IKEA de Matosinhos. É. Só os galegos desorientados é que querem saber a minha opinião... 

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