O que fazer com este presépio?
Joseph Ratzinger tinha 85 anos quando, em 2012, escangalhou o presépio. Tirou a vaca e o
burro, porque - dizia o então Papa de serviço - no local do nascimento de Jesus "não havia
animais". Portanto também não havia ovelhinhas, o que quer dizer que
também não houve pastorinhos do deserto. Sobram, isso sim, os três reis
magos. Gente fina, vinho de outra pipa. Reis. E magos (porque o
champanhe ainda não tinha sido inventado). Esses, é certo, estiverem lá,
em representação de toda a humanidade - segundo Bento XVI. Estiveram os
reis magos e os anjos cantores.
Eu por acaso até era mais dado a acreditar no burro e na vaca do que na
mirabolante história de Gaspar, Melchior e Baltasar, uma boa linha média
para quem jogue em 4-3-3, mas que se há-de fazer? Mais de dois mil anos
a aquecerem o Menino com os respectivos bafos e é
este o pagamento que o burrinho e a vaquinha recebem.
Sempre atento às verdadeiras e mais urgentes necessidades do mundo e da
cristandade, Ratzinger resolveu escangalhar o presépio. Estava no seu
direito. Mas no meu não mexe!
Jardins que sobem pelas paredes
O jornal anunciou: em Lisboa há um jardim que sobe pelas paredes. Na Madeira havia outro.
O circo somos nós
Compreendia as bancadas vazias dos circos. Os circos eram, por aqueles dias
tristes e desesperançados, um luxo e uma redundância. Um anacronismo. A
magia e o sonho eram delito. A felicidade foi proibida por decreto. A
gargalhada, se fosse popular, era considerada um desperdício. A "escola
moderna" era aquela que ensinava que a "vida não é só alegria", dizia o então ministro da Educação Nuno Crato, que é desse tempo que falo. A escola moderna é aquela que fecha, dizia eu. Não há dinheiro, não há circo.
O circo somos nós - camelos, ursos, jacarés em camisolas, asnos e leões
mansos. Homens-bala de pólvora seca, malabaristas, contorcionistas,
ilusionistas, equilibristas, palhaços - somos nós, porque nos mandam e
porque somos o único circo a que temos direito. Vivemos na corda bamba
e sem rede. Tiraram-nos a rede, esticam-nos a corda, caímos que nem
tordos sem capacete. Por mim, deixo em testamento: quando já não houver
ninguém em cima dela, podem também levar a corda. Usem-na.
Por outro lado: o circo está na cidade. E eu vou-me rir, vou-me rir, vou-me rir...
Eu quero uma república das bananas. E do pão.
A questão foi pertinentemente colocada numa reportagem televisiva, aqui há coisa de cinco anos, portanto no tempo do Passos e do Cavaco.
Que República queremos ter? Se me perguntassem a mim - mas a mim só me
perguntam o caminho para o IKEA de Matosinhos -, eu tinha a resposta na ponta da
língua: quero uma república das bananas. E das maçãs e dos pêssegos, do
pão e do carapau, do frango de aviário e do leite, da massa de cotovelo e
da água. Uma república republicana, com comida na mesa, até na mesa dos trabalhadores. E com trabalho para os trabalhadores. E com gente séria no Governo. E com um presidente que seja da República e deste mundo (como parece que temos agora...).
É decerto por ter estas ideias malucas que ninguém me pergunta nada, a
não ser o caminho para o IKEA de Matosinhos. É. Só os galegos desorientados é que querem saber a minha
opinião...
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