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Operando minhas rugas, eu poderia depois pensar sem que outras rugas nascessem, ou a operação me proibiria, cassaria meu direito a pensar? A quem estaria enganando sem rugas, a mim ou aos outros? E se depois da operação plástica eu ficasse com uma cara imbecil se bem que formosa? Se eu me procurasse e não me encontrasse? Pensei em minha mãe muito jovem ensinando que o importante é ter sempre saúde mental, física e moral. Pensei em George Sand dizendo: - "Quando me examino vejo que as duas químicas paixões de minha vida foram a maternidade e a amizade." Com essas duas paixões quantas rugas terão nascido naquela tão fabulosa mulher?
De qualquer modo, cumprimentemo-nos: dentro em breve, neste país, com as operações plásticas a preço módico - cinquenta mil cruzeiros -, não mais haverá brotinhos, balzacas ou coroas. Infelizmente a divisão de classes continuará por algum tempo, e por isso no Brasil daqui a pouco só serão velhas as mulheres trabalhadoras como eu e centenas de outras, e as mulheres operárias, aos milhares.
Manteremos as rugas: elas contam nosso destino.
"Aruanda", Eneida de Moraes
(Eneida de Moraes nasceu no dia 23 de Outubro de 1904. Morreu em 1971.)
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