sábado, 28 de outubro de 2017
O contador de anedotas
Levava um banquinho e sentava-se em Cima da Arcada, de guarda-sol, se fosse o caso, e um caderninho de folhas quadriculadas, sempre. Via sair, e tomava nota. Saíam do Mário da Louça, do Talho, da Caixa, do Martins da Avenida, da Câmara, do Casinhas, da Senhora Eufémia, do Alfredo Sapateiro, das Lobas, da Loja Nova, da Casa da Cera, dos Armazéns Cunha, do Banco. Saíam, e ele registava. Analfabeto de nascença, utilizava a técnica do Miguel Cantoneiro, ecumenicamente adaptada: uma cruzinha para os como ele, uma cruz para os menos mal e um cruzeiro para os cagões locais. À noite, em casa, depois da sopa e antes do terço, fazia a soma, por escalões, e comparava com os dias anteriores, as contas todas certinhas. Era um excelente contador de anedotas.
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