domingo, 15 de outubro de 2017

José da Cruz Filho 2

Soneto a Vulda

Viverei! Voltarei, belo Sol que me douras,
Inda a viver aqui, sobre o solo em que vivo:
Meu ser reintegrar-se-á reposto e redivivo,
Com cambiantes feições, pelas eras vindouras.

O cérebro, onde, ó Sol, flâmeos dons entesouras
É que em mim faz radiar o mundo subjetivo,
Inda após ter tornado ao telúrico arquivo,
Há de à luz ressurgir em pulcras fontes louras.

Hei de eterno vibrar na Natureza eterna.
Sempre a despir inquieto a forma transitória
E sempre a renascer, como a serpe de Lerna.

Mas, entre mutações, eclipses e lampejos,
Comigo levarei, ó Vulda, na memória,
Teus olhos, teu amor, teus espasmos, teus beijos...

José da Cruz Filho

(José da Cruz Filho nasceu no dia 16 de Outubro de 1894. Morreu em 1974.)

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