sexta-feira, 10 de abril de 2020

Microcontos & outras miudezas 201

O flato mágico
O peido é uma insofismável verdade da vida, tal como a morte e dois mais dois serem quatro, e quem disser o contrário é néscio. Ou mentiroso. Ou néscio e mentiroso. Ou mentiroso e néscio. E infeliz.
Infelizes, sim, os que nunca ouviram o Moisés a peidar-se pelo soleno da noite, ali para os lados da Feira das Galinhas, hoje parece-me que parque de estacionamento e Praceta Egas Moniz. Aquilo é que era um artista, um verdadeiro predestinado. O Moisés. Os peidos do Moisés, impõe-se que aqui se diga, eram poderosos como pragas, abriam mares, incendiavam sarças, escreviam lei na pedra, abanavam os alicerces da Igreja Nova, mesmo em frente, Deus nos perdoe. Os peidos do Moisés seriam hoje considerados e explorados e exportados como energia alternativa. Mas também eram mansos, melodiosos, trinados, sin-co-pa-dos, contidos, meditabundos, quase confidenciais. O Moisés solfista trabalhava, com efeito, em vários registos, um dos quais, de execução particularmente exigente, mezzo piano, chamava-se "rasgar chita" e costumava encerrar o concerto, com mais dois ou três encores. (O Moisés aceitava pedidos.) Os peidos do Moisés eram um tremendo êxito, embora infelizmente nunca tenha gravado e apenas actuasse para plateias restritas e altamente seleccionadas. Cumpre-me finalmente fazer notar que o sintetizador, tal como actualmente o conhecemos, ainda não tinha sido inventado...

Constâncio Cloro vs. Constâncio Flúor
Caio Flávio Valério Constâncio ou Constâncio I, mais conhecido como Constâncio Cloro, derivado à sua proverbial palidez, nasceu no dia 31 de Março de 250 e foi imperador romano do Ocidente entre 305 e 306. Não confundir com Constâncio Flúor, referido também como Vítor Constâncio, que foi praticamente líder do PS, ministro das Finanças e governador do Banco de Portugal sem memória, abastecendo-se actualmente como vice-presidente do Banco Central Europeu. 

A Guerra de 68-48
No dia de hoje, em 1572, no âmbito da Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648), que se verificou não sem alguns sobressaltos entre os futuros holandeses e Espanha, os Watergeuzen (Mendigos do Mar) capturaram Brielle aos espanhóis, e ali estabeleceram a primeira base de apoio em terra para o que viria a ser a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos. A Guerra dos Oitenta Anos ostenta este curioso e inusitado nome, Guerra dos Oitenta Anos, para não ser confundida com a Guerra dos Dez Anos, entre cubanos e espanhóis evidentemente, com a Guerra dos Treze Anos, entre prussianos e teutónicos, com a Guerra dos Trinta Anos, entre a Alemanha e quem lhe aparecesse à frente, com a Guerra dos Sete Anos, entre França mais aliados e Inglaterra mais aliados (incluindo Portugal), com a Guerra dos Cem Anos, outra vez entre ingleses e franceses, com a Guerra dos Seis Dias, entre árabes e israelitas, e até com a Guerra das Audiências, entre a SIC e a TVI. A História, assim maiusculada, não se compadece realmente com confusões.

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