terça-feira, 9 de maio de 2017

Baptista-Bastos (1934-2017)

Quem vem do palácio real e desce a calçada vê à direita o carvalho com as raízes expostas e uma velhice tão antiga que nem a primavera rejuvenesce. Os adarves boleiam suavemente, pela erosão; ruas onde se encontra um sol leve; casas com azulejos, velhas mansões coloniais de grandes janelas e amplas salas, largos com chafarizes ao centro, gárgulas e dragões deitando água, cujo ruído é manso. Sebes de mióporos, muros com azebre de humidade, a telha-vã coberta de grumos da fuligem que se solta das chaminés da fábrica; um trecho de rio. Não direi que fique: as mãos recusam-se a ser oferentes, as criaturas varam os dias, os meses, usuais e sós, vêem-se ligeiramente, rumam discretas.

"Cão Velho Entre Flores", Baptista-Bastos

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