O sol estava querendo sumir, quando eu encostei a porteira. Pulei da sela e amarrei, no moirão, o ruço pedrês - bicho malcriado, reparador, mas de espírito. No lombo desse pagão eu comia doze léguas, de uma assentada. Olhei a frente da casa, pus a mira no alpendre e não vi ninguém. - Uai, Joaquim, aí tem coisa! - Entrei bem sutil, reparando duma banda e outra.
"- Patrão velho, na hora em que eu estava arreando o pedrês, tinha chegado perto de mim, dizendo: - Olha lá, Mironga, não me vás sair um perrengue!
- Perrengando, perrengando, meu branco, eu entrei lá dentro. Vossemecê há de ver, com o favor de Deus."
- Olha o café, Joaquim, sem te cortar a conversa - disse um caboclo meão, de chapéu de couro e sisigola. E estendeu o coité fumarento, onde parecia ainda borbulhar o líquido.
Na varanda da frente, a gente do retiro estava reunida para ouvir o Joaquim. Era tempo de vaquejada e todo o dia havia um caso novo, uma chifrada de marruá, uma passagem bem feita com algum garrote bravo. A varanda era comprida, defendendo-a do mau tempo a grande cimalha, apoiada em colunas de madeira lavrada. Presas a estas, duas ou três redes, tecidas de seda de buriti, embalavam o sono da camaradagem, que ruminava o jantar depois de um dia fadigoso, em que o gado na verdade dera que fazer.
Demais, esse gado de beira do rio Preto não era caçoada. E nesse dia, no cerrado do Periquito, os vaqueiros toparam uma rês alevantada, que fez o diabo.
"Pelo Sertão", Afonso Arinos
(Afonso Arinos nasceu no dia 1 de Maio de 1868. Morreu em 1916.)
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